sexta-feira, 2 de setembro de 2011

EDITORIAL

     "NOVOS CONSUMIDORES"  EMPOBRECIDOS 

  Agregar “novos consumidores" a economia sem distribuir renda de fato é aprofundar a crise socioambiental no Brasil. Qualidade de vida não é por si só conquistada no consumo. A questão é: o que é fundamental consumir ? Há uma apologia do sistema que busca no Brasil uma saída para a crise internacional. Cada dia mais temos notícias de corrupção nas obras para a Copa do Mundo. Constroem-se estádios de futebol às pressas mas a maioria do país continua com fome de tudo: de respeito, de comida, de valorização de nossa cultura nacional, de educação, saúde, moradia, transporte público de qualidade.   O governo continua dizendo que o Brasil está preparado, contudo, se aferirmos as principais notícias sobre como anda a vida da maioria da população brasileira, vamos constatar a super exploração pela qual passa a maioria de nós brasileiros. Homem e mulher consumidores são antes de tudo competidores e não companheiros que se unem para gerarem vidas e construírem um ambiente sadio para seus filhos. As relações humanas mediadas pela vantagem: “ o que eu levo nisso?” - ficam cada dia mais tensas. O auto índice de alcoolismo e de uso de drogas agrava essa situação. E quem disse que as drogas estão apenas clandestinas ? Estão nas farmácias com as tarjas pretas, na alimentação, nos agrotóxicos dos sacolões.  A maioria da população assalariada ainda vai ao supermercado pelo menor preço. E o menor preço é o pior produto. De alimentos a celulares tudo que atrai consumidores são produtos chamativos de péssima qualidade. Aos poucos os seres humanos são tragados pelo sistema que vai engordando o capital de bancos, grandes empresas de telefonia, bebidas. A saúde, educação, transporte públicos estão, por sua vez, cada dia mais sucateados.
    Na lógica da ideologia dos “bons gerentes” do capital não há lugar para a valorização da pessoa humana e sim dos resultados da indiferença.
   Empobrecida, com baixa auto-estima e destituída de dignidade humana a população brasileira fica a mercê das seitas fundamentalistas carismáticas que fazem da tristeza alheia circo para sua propaganda da difusão do espírito do capitalismo. O bom fiel é aquele que não pensa.
   A situação dos professores da rede estadual em MG diz tudo. Se tomarmos por base o direito sagrado a educação pública, vamos constatar que o professor de MG na rede estadual está a mercê dessa falta de respeito por parte de governantes ao negar-se um piso salarial digno para a categoria. Um piso salarial de pouco mais de mil reais não garante sequer esse “consumo”. Se o professor é desvalorizado e desrespeitado dessa maneira em MG, qual é o estado das famílias ? Por onde anda a qualidade de vida de pais, mães e filhos ?
    Dizer-se que há novos consumidores é o mesmo que dizer-se que há nova mercadoria barata no mercado. Muito porque os empregos que exigem mão-de-obra especializada são ocupados, em boa parte, por estrangeiros nas estatais e multinacionais.
   Ou seja, nunca se concentrou tanta renda em tão poucos em detrimento da péssima qualidade de vida da maioria da população brasileira.
   Faz tempo que a imprensa noticia o aumento do número de mães que estão abandonando filhos. Sendo que os pais não existem e sim os “novos consumidores” o que dizer dessa lógica empobrecedora ? Este é outro sinal da gravidade da crise socioambiental onde há uma dívida social, um empobrecimento criminoso de milhões de brasileiros. Aqui prendem-se mães e liberam-se os juros e lucros exorbitantes dos capitalistas vorazes no lucro a qualquer preço.
   Os conflitos socioambientais estão aí por toda parte. A dívida externa que o Brasil diz estar pagando, quem vem pagando é a maioria da classe trabalhadora. A lógica que constrói elefantes brancos como a Usina de Belo Monte na Amazônia é a mesma que constrói shopping centers como sinal de “desenvolvimento” e endividamento das maiorias empobrecidas.
   A saída ? Bem, sem dúvida é uma conjuntura muito perversa esta. Você sabia que o salário mínimo necessário do Diesse de julho de 2011 deveria ser: R$ 2.212,66 ? Isso para uma família de 4 pessoas ? Um homem, uma mulher e duas crianças ? Setenta por cento da população brasileira recebe de zero a três salários míninos vigentes: ou seja 3x R$545,00. Faça-se esta pergunta, quem está consumindo sua qualidade de vida ? Uma trincheira de luta sem dúvida é os consumidores se defenderem. Buscarmos nossos direitos de sermos respeitados. Sem distribuição de renda não há democracia de fato no Brasil. Pois “não há democracia política sem democracia econômica”. A mobilização e organização da sociedade civil nunca foi tão urgente no Brasil.

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