sábado, 17 de dezembro de 2011

Occupy Wall Street - como os seres humanos distribuem as riquezas produzidas no mundo

   Seria possível aos seres humanos terem do ponto de vista socioambiental um mundo apenas ? Por que então continuarmos dividindo o mundo em primeiro mundo, “países emergentes” (aliás estão “emergindo” para onde ?), os G8, G20 ... ? Haverá condição de nossa espécie humana distribuir as riquezas produzidas no mundo de forma mais justa e igualitária ? Quais são os custos socioambientais desta desigualdade onde 1% da população possui 40% das riquezas produzidas no mundo ? Essa injusta distribuição de riquezas é sem dúvida um dos mais graves problemas de meio ambiente que nossa espécie tem a enfrentar. Qual é sua opinião ? Segue reportagem de Frederico Rampini sobre o movimento Occupy Wall Street.:

  Um por cento da população mundial possui 40% das riquezas do planeta. Eis como vive, onde vive, o que faz e como ele gasta o seu dinheiro aquela parte da humanidade contra a qual (e em nome dos 99% restantes) o movimento Occupy Wall Street está lutando.
  A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 06-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Mãe, o que fazem todas essas pessoas no nosso avião?". O filho de Jacqueline Siegel não conseguia dar uma explicação a si mesmo, na primeira vez que se encontrou na fila de embarque (primeira classe, obviamente) com tantos desconhecidos, ele que estava acostumado a viajar com o seu pai no jato particular da empresa. Bem-vindos ao mundo do 1%.
   Uma categoria social que acabou ficando sob os holofotes da atenção pública graças ao movimento Ocuppy Wall Street: aquele que se autodefine como "os 99%" e denuncia os privilégios da oligarquia. Se você mora em Manhattan, isto é, no coração do protesto, por meio de quais sinais pode-se perceber se você pertence ao vituperado ou invejado 1%?
  Eis 12 mandamentos que traçam a linha de demarcação na vida diária. É um teste empírico, a prova da verdade que trai os verdadeiros privilegiados.
• Primeiro: você se veste rigorosamente made in Italy (com exceção dos sapatos Louboutin), comprando na Bergdorf Goodman da Quinta Avenida.
• Segundo: janta no Masa (o japonês com menus sem preços), Per Se, Marea, Babbo, e pelo menos uma vez por ano você se concede o personal chef com catering de três estrelas.
• Terceiro: mensalidade fixa da Metropolitan Opera, mais doação fiscalmente dedutível.
• Quarto: voa apenas na BusinessFirst, se o Gulfstream não estiver acessível.
• Quinto: nunca anda de metrô, nem mesmo que esteja nevando.
• Sexto: presença assídua em um spa-fitness, com massagista e personal trainer.
• Sétimo: assina o Wall Street Journal.
• Oitavo: férias de verão na Toscana, em Aspen para esquiar, fins de semana na casa nos Hamptons.
• Nono: seus filhos estudam em uma escola privada do tipo Waldorf (pedagogia progressista, mas competitiva), mensalidade a partir dos 30 mil dólares por ano.
• Décimo: nada de conta corrente, mas sim um telefone direto com o serviço personalizado Wealth Management de um grande banco.
• Décimo primeiro: a mansão onde você mora deve ter porteiros uniformizados.
• Décimo segundo: você gosta de cães de raça, mas é o dog sitter que os leva todas as manhãs ao Central Park.
   Essas regras de vida do 1% mudam pouco se você estiver na China, país que recém cruzou o limiar de um milhão de milionários: foi na República Popular que a Burberrys viu suas vendas crescer em 34% em seis meses, que a Zegna inaugurou a sua 70º loja, que a casa de leilões Christie's vendeu por 4 milhões de euros um par de pistolas da era Qing com cabo de ouro incrustado de pedras preciosas.
   Não varia muito no Brasil, onde o poder de compra dos ricos é tão próspero que a Louis Vuitton cobra um ágio de 100% em comparação com os mesmos produtos da sua loja nos Champs-Elysées.
   Estamos falando de uma exígua minoria de extrarricos? São os banqueiros de sempre, magnatas da indústria, estrelas do espetáculo? Não apenas. Nos EUA, os indivíduos com um patrimônio líquido de 1 a 5 milhões – é o limiar acima do qual os gestores patrimoniais os classificam como "altos patrimônios" – são 26,7 milhões. Outros 2 milhões de norte-americanos têm um patrimônio entre 5 e 10 milhões líquidos. Um milhão de pessoas estão sentadas em um ninho de ovos de ouro de 10 a 100 milhões. Por fim, 29 mil estão sentado em cima de 100 milhões de dólares. Todos juntos fazem mais da metade da população italiana.
   Se quisermos ficar com a definição precisa do 1%, isto é, apenas três milhões de norte-americanos, o limite de ingresso é medido com base na renda. Os dados do Internal Revenue Service (a Receita Federal norte-americana) marcam a fronteira exata: é preciso receber uma renda de, pelo menos, 506 mil dólares brutos anuais (375 mil euros) para entrar no círculo dos três milhões de pessoas que são o 1% da população norte-americana.
  Em nível global, para isolar o 1% que está no topo da pirâmide, é preciso voltar às estatísticas sobre o patrimônio, por serem mais homogêneas. O Global Wealth Report do Credit Suisse indica que eles controlam 38,5% da riqueza mundial, e que os seus bens cresceram 29% em apenas um ano: é uma velocidade dupla com relação ao crescimento da riqueza total do planeta.
   Portanto, o Occupy Wall Street denuncia um fenômeno real, aqueles que estão "lá em cima" alçaram voo, distanciando-se cada vez mais da maioria da população. Um fascinante estudo dos historiadores Peter Lindert e Jeffrey Williamson demonstra que nunca na história passada o 1% teve uma cota tão grande da riqueza nacional. Em 1774, quando ainda havia o colonialismo inglês e, portanto, a aristocracia, o 1% dos privilegiados na New England controlavam apenas 9% do total. A nobreza da época vivia em condições menos distantes da média, com relação às novas oligarquias do terceiro milênio.
   Na história norte-americana, a dilatação enorme das desigualdades tem uma data de nascimento: 1982. Não por acaso, é o início da era de Ronald Reagan, marcada por um sistemático ataque ao welfare state, ao poder dos sindicatos, juntamente com políticas fiscais cada vez menos progressivas. É desde 1982 que o 1% se separa do resto, sobe para a estratosfera, amplia as distâncias: no quarto de século posterior, a sua cota da renda nacional mais do que dobrou, subindo acima dos 20%. A parcela de riqueza sobe ainda mais, superando os 33%.
   É a trajetória que última capa da revista The Nation mostra: "Wall Street inventou a luta de classes". Quando esse conceito já havia se tornado um tabu no debate político norte-americano, os ricos se apropriaram dele, e o conflito social sobre a distribuição dos recursos foi vencido por eles.
   Mas também há aqueles que convidam a se compadecer deles. Robert Frank, no seu livro The High-Beta Rich relata a história da família Siegel, aquela do filho que não entende por que tem que subir no avião com desconhecidos. Depois de ter feito sua fortuna no setor imobiliário e ter construído "a Versalhes dos Estados Unidos", em Orlando, na Flórida (23 banheiros, uma garagem para 20 carros, duas salas de cinema), a família teve a sua mansão penhorada pelos bancos quando o mercado entrou em colapso. "Os extrarricos jamais sofreram uma volatilidade tão exasperada da sua fortuna, ligada aos mercados financeiros", explica Frank.
   Portanto, o 1% é uma categoria em risco, de alta mobilidade. Nela se entra e dela se sai com a porta giratória em alta velocidade. Por isso, em 2008, foi aprovado o welfare dos banqueiros: 600 bilhões apenas para salvar Wall Street.

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