terça-feira, 21 de agosto de 2012

WORKSHOP MEIO AMBIENTE - MG

SUSTENTABILIDADE


  O Jornal Oeccoambiental dentro de nosso trabalho na área de meio ambiente de contribuir na solução dos problemas socioambientais locais, publica trechos do Capítulo 2 do livro “Sustentabilidade:o que é: o que não é” de Leonardo Boff (Editora Vozes-2012) – Para agirmos buscando soluções aos problemas socioambientais de nossas comunidades é preciso fundamentarmos nossas ações. Como a questão da sustentabilidade está no centro das ações de vários segmentos sociais, consideramos oportuno divulgar uma pequena parte do livro de um dos maiores escritores sobre meio ambiente do Brasil e do mundo que é Leonardo Boff. Segue uma parte destes textos.


As origens do conceito de sustentabilidade
 * Leonardo Boff


    A grande maioria estima que o conceito de “sustentabilidade” possui origem recente, a partir das reuniões organizadas pela ONU dos limites do crescimento que punha em crise o modelo vigente praticado, em quase todas as sociedades mundiais.
   Mas o conceito possui já uma história de mais de 400 anos que poucos conhecem. Convém recapitular brevemente esse percurso. Entretanto importa antes esclarecer o conteúdo do conceito sustentabilidade. Encontromo-lo já numa rápida consulta aos dicionários, no caso, ao Novo Dicionário Aurélio e ao clássico Dicionário de Verbos e Regimes de Francisco Fernandez de 1942. Na raiz de “sustentabilidade” e de “sustentar” está a palavra latina sustentare com o mesmo sentido que possui em português.
   Ambos os dicionários referidos nos oferecem dois sentidos: um passivo e outro ativo. O passivo diz que “sustentar” significa segurar por baixo, suportar, servir de escora, impedir que caia, impedir a ruína e a queda. Neste sentido “sustentabilidade” é, em termos ecológicos, tudo o que fizermos par que um ecossistema não decaia e se arruíne. Para impedi-lo podemos, por exemplo, criar expedientes de sustentabilidade como plantar árvores na encosta da montanha, que servem de escora contra a erosão e os deslizamentos.
   O sentido positivo enfatiza o conservar, manter, proteger, nutrir, alimentar, fazer prosperar, subsistir, viver, conservar-se sempre à mesma altura e conservar-se sempre bem. No dialeto ecológico isto significa: sustentabiliade representa os procedimentos que se tomam para permitir que um bioma se mantenha vivo, protegido, alimentado de nutrientes a ponto de sempre se conservar bem e estar sempre à altura dos riscos que possam advir. Esta diligência implica que o bioma tenha condições não apenas de conservar-se assim como é, mas também que possa prosperar, fortalecer-se e coevoluir.
   Estes sentidos são visados quando falamos hoje em dia de sustentabilidade, seja do universo, da Terra, dos ecossistemas e também de inteiras comunidades e sociedades: que continuem vivas e se conservem bem. Somente se conservam bem caso mantiverem seu equilíbrio interno e se conseguirem se autorreproduzir. Então subsistem ao londo do tempo.

* Leonardo Boff, 1938, é formado em Teologia e Fisolofia, autor de mais de oitenta livros nas mais variadas áreas humanísticas. Participou da redação da Carta da Terra. É autor da DVD }As quatro ecologias e do DVD Ética e ecologia.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

AS CIÊNCIAS SOCIAIS E O MEIO AMBIENTE


EDITORIAL

    As Ciências Sociais utiliza metodologias para explicar os problemas da sociedade e tem uma preocupação não só de compreender estes problemas, mas procurar solucioná-los. Nos grandes conflitos do mundo contemporâneo inscrevem-se os problemas de meio ambiente. O Jornal Oecoambiental foi fundado com o propósito de buscar democratizar a informação e a difusão da comunicação socioambiental para toda população, dentro dos princípios do Artigo 225 da Constituição brasileira, da Agenda 21 e da economia solidária. Realiza um trabalho de pesquisa diante estes problemas e busca organizar ações abrindo caminhos de soluções possíveis para os mesmos.
   Participamos das duas últimas Conferências Nacionais de Meio Ambiente, da Conferência Nacional de Comunicação - defendendo a comunicação socioambiental (todas realizadas em Brasília) e em junho deste ano de 2012 participamos da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - a Rio + 20 e Cúpula dos Povos - no Rio de Janeiro. Foram mais de três mil painéis, debates, palestras, eventos no maior encontro socioambiental que o mundo já realizou para analisar, buscar conhecer melhor as realidades locais e globais e apontar soluções aos graves problemas socioambientais que atingem o Brasil e o mundo.  O saldo da Rio + 20 é a certeza de que,  em grande maioria,  a sociedade civil tem uma força que vem aqui e ali brotando nas comunidades locais no Brasil e no mundo. Afinal dos Estados fazem parte a sociedade civil. Os acordos então tão esperados entre nações e cúpulas ficam para serem testados em uma máxima conhecida: as ações de cada ser humano que diz se preocupar com o meio ambiente continuam a fazer a diferença. Nossa capacidade de sentirmos que fazemos parte dos Estados podem de fato construir uma sociedade mais justa e ambientalmente mais saudável.
   Nosso Jornal Oecoambiental realiza um trabalho de mobilização permanente, dialogando com a população, organizando seminários, feiras, palestras junto a universidades, escolas, sindicatos, instituições públicas e privadas, sempre abertos à participação popular.
   Um dos grandes problemas brasileiros na área de meio ambiente que obteve grande repercussão na Rio + 20 e Cúpula dos Povos e que a grande imprensa não deu a devida divulgação, foi à palestra da professora Lia Giraldo da Silva Augusto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - confira neste link: http://oecoambiental.blogspot.com.br/2012_06_01_archive.html
 postado pelo Jornal Oecoambiental. O Brasil é um dos países que mais contamina seus alimentos com produtos químicos. Consideramos que é um direito da população brasileira conhecer e se informar sobre esta situação, para que possamos nos unir na busca de uma solução efetiva na melhoria da qualidade de vida de todos os brasileiros. É preciso que a população tenha direito econômico - socioambiental de consumir produtos orgânicos de boa qualidade; que estas informações cheguem de fato às pessoas; que os preços dos orgânicos sejam mais acessíveis à população e que haja em todos os supermercados, sacolões, feiras, esta opção de oferta dos produtos orgânicos. Ter saúde não é apenas malhar em academia, dançar, praticar esportes, fazer exercícios. Saúde é ter alimentação de qualidade, sem esta criminosa contaminação química no Brasil. O equilíbrio de corpo e alma se alcança pela alimentação de qualidade.
   A grande questão é que os problemas de meio ambiente atingem a coletividade, são milhões, bilhões de seres humanos que sofrem hoje com as conseqüências desta crise socioambinetal, chamada na Rio + 20 e Cúpula dos Povos de "Crise de Civilização" onde os problemas econômicos fundem-se aos problemas ambientais e sociais. A saída para solucionarmos esta crise passa pela união da sociedade civil. Estamos divulgando em nosso Jornal Oecoambiental, blog, facebook os conteúdos destas Conferências. Sabemos que a informação socioambiental salva vidas e protege todo meio ambiente.
   Precisamos resgatar a auto-estima de nossa própria espécie humana. Não podemos conviver e aceitar a destruição dos seres humanos e de todo meio ambiente como vem acontecendo. Todas as pessoas de todas as profissões, culturas, comunidades precisam agir de forma imediata. Precisamos nos unir cada vez mais. Acreditar na defesa da vida, na conquista de melhor qualidade de vida e meio ambiente sadio para todos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O BRASIL NAS OLIMPÍADAS DE LONDRES





   Os poucos brasileiros que conquistam medalhas de ouro para o Brasil em Londres realizam atos mais que olímpicos: são atos heróicos. O Brasil não oferece à maioria de sua população a qualidade de vida que traduza numa olimpíada, conquistas olímpicas na maioria das modalidades de esportes. Enquanto alguns economistas tentam esconder a verdade socioambiental do Brasil, os esportes denunciam quanto ainda estamos longe de conquistarmos medalhas na valorização real do povo brasileiro. Nós que trabalhamos na área socioambiental, constatamos as desigualdades sociais no Brasil. Temos através de nossos artigos, editoriais, entrevistas, comentários, buscado refletir a má qualidade de vida da maioria dos brasileiros. A brutal concentração de renda no Brasil (a terceira pior do mundo) e a péssima qualidade da educação, saúde, transporte públicos é evidente. Só mesmo a grande imprensa que insiste em dizer apenas o que os grandes patrocinadores querem não vê o quanto ainda temos que lutar para que o Brasil seja de fato um país mais justo socioambientalmente falando. Enquanto em alguns países incentiva-se a prática de esportes nas escolas já na infância e mesmo o Estado remunera sua população para estudar, no Brasil, em estados como Minas Gerais um professor de escola pública recebe salário líquido de menos de mil reais. A necessidade das reformas historicamente adiadas: agrária, política, fiscal onera os mais pobres e beneficia os mais ricos. Na China que até o momento lidera o quadro de medalhas em Londres, a profissão mais valorizada e das mais bem remuneradas é a de professor.
   A qualidade da alimentação no Brasil está cada dia mais comprometida, fato que foi apresentado na Rio + 20 – Cúpula dos Povos, no painel onde se constatou em pesquisa que o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos na agricultura. Segundo a pesquisadora Lia Giraldo da Silva Augusto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em média, cada brasileiro consome 5 Kg de agrotóxicos por ano. Dados que fazem parte de um estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), baseado em informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segue link da matéria divulgada na Rio + 20: http://oecoambiental.blogspot.com.br/2012_06_01_archive.html
  Nosso país necessita urgente não apenas de melhorar a qualidade da educação em todos os níveis, mas de alfabetizar-se na forma de se alimentar. Podemos ficar ainda tentando explicar os motivos de o Brasil ser desclassificado na maioria das modalidades de esportes ainda na fase inicial de disputa. Não se trata apenas de uma explicação psicológica, o peso que estes atletas carregam porque as próximas grandes competições mundiais de futebol e olimpíadas acontecerão no Brasil. A constatação é que não há uma base formada. Uma estrutura socioambiental justa e que valorize toda a população brasileira. Talvez a antropologia brasileira pudesse explicar porque os próprios brasileiros não valorizam a maioria dos brasileiros. Mesmo que digamos isso continuamente: “brasileiro não desiste nunca”. São mais de 500 anos de opressão.  
     As medalhas de ouro nas olimpíadas de Londres são feitas de prata e levemente banhadas a ouro (valem cerca de mil e quatrocentos reais cada uma). Porém, sabemos que as medalhas de ouro  avaliadas na classificação do ranking entre países,  nos permitem argumentar de certo modo, as relações socioambientais que os países estão estabelecendo. Como cada país se prepara, investe na promoção de esportes e na valorização e qualidade de vida de sua população. Como sociológica e  historicamente este "ranking" vem sendo estabelecido.  
   Mas para que não fiquemos sentindo que o nosso país é só de futebol. Uma metáfora histórica poderia ser utilizada para dizer que cada medalha de ouro que cada atleta e país vem recebendo nas olimpíadas de Londres tem um pouco de Brasil. Quem sabe se procurarmos explicação na história constate que as medalhas de ouro, banhadas em Londres nestas olimpíadas, lembram o ouro tirado aqui das Minas Gerais, no Brasil no século XVIII, que foram para a nobreza de Portugal e este passou então para a burguesia da Inglaterra. O ouro do Brasil possibilitou a Inglaterra levar a cabo a revolução industrial. Que teve nos EUA seu modelo econômico capitalista em expansão.    Seguindo sua trajetória este sistema possibilitou que a economia norte americana implantasse empresas como a Monsanto, que vem quimicamente poluindo a agricultura brasileira e mundial com seus agrotóxicos. O Estado brasileiro ainda hoje permite que isto aconteça. E a grande imprensa faz vistas grossas em mais este crime socioambiental contra a população brasileira.  Para que nós brasileiros não nos sintamos derrotados fica este registro de que a dita revolução industrial que engendrou o atual sistema político, econômico global continua dando ouro para poucos no mundo.
   Quem sabe assim aprendamos esta lição e não oprimamos tanto nossa própria população. E não continuemos destruindo nossas riquezas, concentrando estas riquezas nas mãos de poucos em detrimento da exclusão da maioria da população. Pois a Vale do Rio Doce está aqui em Minas rezando nesta cartilha. Tirando nossas riquezas na mineração que quer realizar em cima de nossas nascentes da Serra da Gandarela. Minas Gerais ainda é o estado que mais produz ouro no Brasil, que nunca foi distribuído com justiça ambiental para a maioria dos brasileiros. E que agora nas Olimpíadas de Londres desnuda a gravidade das desigualdades socioambientais do Brasil: um PIB nacional da exclusão socioambiental. A sociedade civil brasileira pode sim reivindicar que este ouro seja distribuído aqui internamente para a maioria dos brasileiros. Afinal todos nós brasileiros produzimos há séculos esta riqueza.
   O judô – esporte da cultura oriental é onde mais conquistamos medalhas na história olímpica do Brasil. Nosso diálogo com o oriente está estabelecido. Mas lembrando Darcy Ribeiro, a civilização brasileira, que vem dando ouro ao mundo, tem direito histórico de fazer o mundo conhecer e reconhecer nosso valor. Para isso é fundamental que todos nós brasileiros elevemos nossa auto-estima. Que valorizemos o povo brasileiro. Não para que sejamos exaltados como donos do mundo, mas para que possamos levar à todos nossa alegria de celebrar o valor da vida.
   Quem sabe se lançarmos uma campanha para a valorização dos esportes e da cultura brasileira possamos conquistar nas próximas olimpíadas no Brasil uma grande medalha de ouro: o direito de transformarmos a capoeira em esporte olímpico. O esporte que mais divulga o Brasil no exterior juntamente com o futebol é a capoeira, para quem ainda não sabe. Para isto, nas escolas brasileiras a capoeira deveria já fazer parte da educação física. Como o judô é valorizado nos países do oriente. Esta seria a grande contribuição brasileira ao esporte mundial, porque na roda de capoeira todos os seres humanos são diferentes ("cada um é cada um" como disse o sábio Mestre Pastinha) e iguais, porque apesar de nossas diferenças ninguém é melhor que ninguém. Tudo que o mundo clama hoje é que haja um só mundo, onde as diferenças culturais de todos os países sejam de fato respeitadas. Onde a justiça socioambiental traga melhor qualidade de vida e meio ambiente sadio para todos.
  Por Luiz Cláudio dos Santos - sociólogo.