terça-feira, 7 de agosto de 2012

O BRASIL NAS OLIMPÍADAS DE LONDRES





   Os poucos brasileiros que conquistam medalhas de ouro para o Brasil em Londres realizam atos mais que olímpicos: são atos heróicos. O Brasil não oferece à maioria de sua população a qualidade de vida que traduza numa olimpíada, conquistas olímpicas na maioria das modalidades de esportes. Enquanto alguns economistas tentam esconder a verdade socioambiental do Brasil, os esportes denunciam quanto ainda estamos longe de conquistarmos medalhas na valorização real do povo brasileiro. Nós que trabalhamos na área socioambiental, constatamos as desigualdades sociais no Brasil. Temos através de nossos artigos, editoriais, entrevistas, comentários, buscado refletir a má qualidade de vida da maioria dos brasileiros. A brutal concentração de renda no Brasil (a terceira pior do mundo) e a péssima qualidade da educação, saúde, transporte públicos é evidente. Só mesmo a grande imprensa que insiste em dizer apenas o que os grandes patrocinadores querem não vê o quanto ainda temos que lutar para que o Brasil seja de fato um país mais justo socioambientalmente falando. Enquanto em alguns países incentiva-se a prática de esportes nas escolas já na infância e mesmo o Estado remunera sua população para estudar, no Brasil, em estados como Minas Gerais um professor de escola pública recebe salário líquido de menos de mil reais. A necessidade das reformas historicamente adiadas: agrária, política, fiscal onera os mais pobres e beneficia os mais ricos. Na China que até o momento lidera o quadro de medalhas em Londres, a profissão mais valorizada e das mais bem remuneradas é a de professor.
   A qualidade da alimentação no Brasil está cada dia mais comprometida, fato que foi apresentado na Rio + 20 – Cúpula dos Povos, no painel onde se constatou em pesquisa que o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos na agricultura. Segundo a pesquisadora Lia Giraldo da Silva Augusto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em média, cada brasileiro consome 5 Kg de agrotóxicos por ano. Dados que fazem parte de um estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), baseado em informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segue link da matéria divulgada na Rio + 20: http://oecoambiental.blogspot.com.br/2012_06_01_archive.html
  Nosso país necessita urgente não apenas de melhorar a qualidade da educação em todos os níveis, mas de alfabetizar-se na forma de se alimentar. Podemos ficar ainda tentando explicar os motivos de o Brasil ser desclassificado na maioria das modalidades de esportes ainda na fase inicial de disputa. Não se trata apenas de uma explicação psicológica, o peso que estes atletas carregam porque as próximas grandes competições mundiais de futebol e olimpíadas acontecerão no Brasil. A constatação é que não há uma base formada. Uma estrutura socioambiental justa e que valorize toda a população brasileira. Talvez a antropologia brasileira pudesse explicar porque os próprios brasileiros não valorizam a maioria dos brasileiros. Mesmo que digamos isso continuamente: “brasileiro não desiste nunca”. São mais de 500 anos de opressão.  
     As medalhas de ouro nas olimpíadas de Londres são feitas de prata e levemente banhadas a ouro (valem cerca de mil e quatrocentos reais cada uma). Porém, sabemos que as medalhas de ouro  avaliadas na classificação do ranking entre países,  nos permitem argumentar de certo modo, as relações socioambientais que os países estão estabelecendo. Como cada país se prepara, investe na promoção de esportes e na valorização e qualidade de vida de sua população. Como sociológica e  historicamente este "ranking" vem sendo estabelecido.  
   Mas para que não fiquemos sentindo que o nosso país é só de futebol. Uma metáfora histórica poderia ser utilizada para dizer que cada medalha de ouro que cada atleta e país vem recebendo nas olimpíadas de Londres tem um pouco de Brasil. Quem sabe se procurarmos explicação na história constate que as medalhas de ouro, banhadas em Londres nestas olimpíadas, lembram o ouro tirado aqui das Minas Gerais, no Brasil no século XVIII, que foram para a nobreza de Portugal e este passou então para a burguesia da Inglaterra. O ouro do Brasil possibilitou a Inglaterra levar a cabo a revolução industrial. Que teve nos EUA seu modelo econômico capitalista em expansão.    Seguindo sua trajetória este sistema possibilitou que a economia norte americana implantasse empresas como a Monsanto, que vem quimicamente poluindo a agricultura brasileira e mundial com seus agrotóxicos. O Estado brasileiro ainda hoje permite que isto aconteça. E a grande imprensa faz vistas grossas em mais este crime socioambiental contra a população brasileira.  Para que nós brasileiros não nos sintamos derrotados fica este registro de que a dita revolução industrial que engendrou o atual sistema político, econômico global continua dando ouro para poucos no mundo.
   Quem sabe assim aprendamos esta lição e não oprimamos tanto nossa própria população. E não continuemos destruindo nossas riquezas, concentrando estas riquezas nas mãos de poucos em detrimento da exclusão da maioria da população. Pois a Vale do Rio Doce está aqui em Minas rezando nesta cartilha. Tirando nossas riquezas na mineração que quer realizar em cima de nossas nascentes da Serra da Gandarela. Minas Gerais ainda é o estado que mais produz ouro no Brasil, que nunca foi distribuído com justiça ambiental para a maioria dos brasileiros. E que agora nas Olimpíadas de Londres desnuda a gravidade das desigualdades socioambientais do Brasil: um PIB nacional da exclusão socioambiental. A sociedade civil brasileira pode sim reivindicar que este ouro seja distribuído aqui internamente para a maioria dos brasileiros. Afinal todos nós brasileiros produzimos há séculos esta riqueza.
   O judô – esporte da cultura oriental é onde mais conquistamos medalhas na história olímpica do Brasil. Nosso diálogo com o oriente está estabelecido. Mas lembrando Darcy Ribeiro, a civilização brasileira, que vem dando ouro ao mundo, tem direito histórico de fazer o mundo conhecer e reconhecer nosso valor. Para isso é fundamental que todos nós brasileiros elevemos nossa auto-estima. Que valorizemos o povo brasileiro. Não para que sejamos exaltados como donos do mundo, mas para que possamos levar à todos nossa alegria de celebrar o valor da vida.
   Quem sabe se lançarmos uma campanha para a valorização dos esportes e da cultura brasileira possamos conquistar nas próximas olimpíadas no Brasil uma grande medalha de ouro: o direito de transformarmos a capoeira em esporte olímpico. O esporte que mais divulga o Brasil no exterior juntamente com o futebol é a capoeira, para quem ainda não sabe. Para isto, nas escolas brasileiras a capoeira deveria já fazer parte da educação física. Como o judô é valorizado nos países do oriente. Esta seria a grande contribuição brasileira ao esporte mundial, porque na roda de capoeira todos os seres humanos são diferentes ("cada um é cada um" como disse o sábio Mestre Pastinha) e iguais, porque apesar de nossas diferenças ninguém é melhor que ninguém. Tudo que o mundo clama hoje é que haja um só mundo, onde as diferenças culturais de todos os países sejam de fato respeitadas. Onde a justiça socioambiental traga melhor qualidade de vida e meio ambiente sadio para todos.
  Por Luiz Cláudio dos Santos - sociólogo.

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