terça-feira, 17 de maio de 2011

PROJETO DE TIJOLO ECOLÓGICO DE PROFESSOR DA UFMG GANHA PRÊMIO INTERNACIONAL

       No lugar de cimento ou barro, amido de milho, vinagre, água, restos de colheita e glicerina. Misture, aqueça e, em aproximadamente uma hora e meia, está pronto. Em seguida, coloque na fôrma, deixe secar ao sol e pronto: surge um tijolo que, além de não agredir o meio ambiente, tem a proposta de substituir os tradicionais blocos de concreto e criar uma nova era no saneamento básico.

   Um projeto simples, barato, prático e ecologicamente correto que fez o professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Ávila, 49 anos, tornar-se o segundo brasileiro da história a ser agraciado pela Grand Challenge Exploration, da Fundação Bill e Melinda Gates, que distribui, duas vezes por ano, US$ 100 mil a cada iniciativa que apresente soluções inéditas para problemas mundiais de saúde.
   De 2.500 trabalhos inscritos, foram premiados 88 cientistas de 25 países. Eles desenvolveram pesquisas em vários temas. A do professor mineiro, na área de saneamento básico, propõe um sistema de fossas sépticas usando material 100% biodegradável. Os tijolos que vão compor a latrina, em vez de serem feitos de cimento ou barro, levam na fórmula ingredientes triviais e que são descartados, como o resto de plantações e colheitas. Para facilitar na hora de construir a fossa, os blocos têm o formato de um brinquedo infantil de encaixar muito conhecido, o Lego. “É um material simples, fácil de ser fabricado, manuseado e montado por qualquer comunidade, por isso tem essa técnica em que um vai se encaixando no outro. Além disso, os ingredientes são encontrados em qualquer lugar e não custam caro”, comenta Ávila, que vai desenvolver a proposta com mais cinco alunos.
   O projeto vai ser implantado no Quênia, país do continente africano, por ser uma região de extrema pobreza e com sérios problemas de saneamento básico. Entretanto, o professor acredita que sua solução possa ser aplicada em vários lugares, inclusive, no Brasil. “Eu, como brasileiro, pretendo entrar em contato com o governo, seja estadual ou federal, para apresentar essa minha proposta. Temos vários lugares por aí que ainda usam o sistema de fossas e seria bem interessante que isso fosse aproveitado. O projeto é viável economicamente, rápido e tranquilo para quem vai executá-lo”, frisa o pesquisador, que é engenheiro mecânico de formação e tem doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos em mecânica de compósitos. “Compósitos são o resultado da mistura de vários materiais para obter um produto com propriedades melhores. Trabalho com isso desde 1997, então foi uma consequência natural chegar à fórmula que resultou nesses tijolos”, acrescenta.

Vantagens


   As fossas são um recurso utilizado em locais desprovidos de rede de esgoto. O tamanho padrão costuma ser de 1m de diâmetro por três de profundidade. Quando o buraco é totalmente tomado pelas fezes — geralmente isso ocorre em um ano, caso a fossa seja usada por uma família de seis pessoas — fica inutilizado. Sendo assim, é necessário construir uma nova fossa. “E aquele terreno vai ficando sem função. Porque sempre vai se fazer mais uma fossa. Assim que ela fica cheia, as pessoas a abandonam e constroem outra. As fezes viram adubo natural, mas o concreto fica debaixo da terra. Ele não pode ser incorporado ao terreno”, explica.
   Seu projeto de tijolos ecológicos propõe justamente aproveitar tudo. Como os blocos que compõem a parede da fossa são feitos de material biodegradável, em dois anos, eles vão se transformar em adubo e também podem ser reaproveitados. “O tijolo se degrada e não gera nenhum tipo de resíduo. Em dois anos, esse material já vai estar incorporado às fezes para virar um adubo no local onde estiver. Se a pessoa quiser, ela pode usar aquele espaço onde ela construiu a fossa, para um novo emprego, como uma horta ou um pomar. É um ciclo. Sai da natureza e volta para a natureza”, resume.


Inscrições abertas


   Duas vezes ao ano, a Fundação Bill e Melinda Gates distribui apoios no valor de US$ 100 mil para financiar a fase inicial dos projetos escolhidos e entre aqueles que obtêm maior sucesso são selecionados alguns para receber recursos de US$ 1 milhão ou mais. “Nessa etapa, teremos que passar de um a dois anos na África para implantar o projeto, acompanhar tudo”, adianta o pesquisador mineiro.
   A organização está com processo seletivo até o próximo dia 19 para cientistas enviarem propostas inovadoras na área de saúde e desenvolvimento. Entre os tópicos que devem ser estudados estão a erradicação da poliomelite, tecnologias sanitárias de última geração, formas de erradicação dos reservatórios do HIV no organismo, soluções de baixo custo para uso de telefones celulares nas questões de saúde global e criação de tecnologias para melhorar a saúde de mulheres e recém nascidos. Para se inscrever, é preciso preencher o formulário na internet (www.gatesfoundation.org) e apresentar o projeto em duas páginas, não sendo necessários dados preliminares.


Aprenda a fazer o tijolo sustentável


1 - Pegue os ingredientes: amido de milho, vinagre, água e glicerina, e misture


2 - Aqueça a uma temperatura de 90ºC


3 - Mexa novamente e espere por cerca de uma hora e meia até ganhar uma consistência fluida


4 - Pegue restos de colheita de milho, mandioca ou outro vegetal, triture até virar um pó


5 - Misture o pó com a consistência fluida e coloque na fôrma


6 - Deixe secar durante um dia sob o sol até o material ficar rígido

domingo, 15 de maio de 2011

MOBILIZAÇÃO NO CEARÁ EM DEFESA DO CÓDIGO FLORESTAL

Recebemos essa mensagem de  Fernanda Rodrigues:

  Estamos nos mobilizando para impedir a aprovação do PL 1876/99, que altera o Código Florestal. O Código Florestal é o conjunto de leis que ordena a ocupação e a preservação de florestas e outras áreas naturais no país. O relatório de autoria do Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP) que está sendo discutido em Brasília enfraquece as leis que protegem as florestas e incentiva a ocupação de encostas de morros e margens de rios nas cidades brasileiras, colocando mais gente em áreas de risco.
   A coalizão SOS Florestas, formada por ONGs e entidades de todo o país, é contra essa mudança na legislação porque o desmatamento vai aumentar, provocando mais emissões de gases que causam as mudanças climáticas e perda de biodiversidade. O Brasil é um dos cinco maiores poluidores do planeta, cerca de 70% dessa poluição vem do desmatamento e do mau uso do solo no país. Na zona urbana, a mudança no Código Florestal vai acarretar problemas no abastecimento de água, além de agravar problemas de deslizamentos de terra e enchentes.
   No dia 15 de maio, estaremos nas ruas de Fortaleza para mostrar ao Congresso Nacional que queremos a proteção das florestas e o cumprimento da lei.

  A saída será as 07:30 da praça da gentilândia no Benfica.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

FRANCIS HIME, CHICO BUARQUE E A AULA EM DEFESA DA BIODIVERSIDADE

Enquanto no Congresso Nacional
em Brasília, o Código Florestal é ameaçado, precisamos nos unir
cada vez mais e agirmos para que nosso país possa valorizar e cuidar melhor de todos brasileiros e brasileiras e de toda a biodiversidade que nos cerca. Que a riqueza produzida no Brasil possa ser distribuída com justiça para todos brasileiros. Que conquistemos saúde, educação públicas de qualidade para todos. Que haja respeito à pessoa humana e todo ambiente. Dias melhores virão com a força de nossa união em defesa da vida.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

CÓDIGO FLORESTAL EM DEBATE

"O Código do Desflorestamento


Wilmar da Rocha D’Angelis
Linguista e indigenista, é professor no Instituto de Estudos da Linguagem na Unicamp

Adital

   O Deputado Aldo Rebelo (PCdoB) tem buscado, por todos os meios, explicar algumas inaceitáveis (e, talvez mesmo, inexplicáveis) concessões ao agronegócio, no que se refere ao novo Código Florestal, no que ele qualifica como "o equilíbrio possível”.
   A argumentação de Rebelo é da mais pura retórica. Em primeiro lugar, quer nos fazer crer que todo o seu esforço é tão só e simplesmente por salvar da falência – que viria por conta das multas por transgressão do código florestal – a milhares de pequenos agricultores. O fato é que centenas de grandes e poderosos fazendeiros e empreendimentos de agro-negócio efetivamente se beneficiarão (em prejuízo do bem comum), mas o Deputado parece considerar isso um pequeno e desprezível efeito colateral.
   O deputado também abusa da retórica quando sugere que alguém gostaria de enquadrar na legislação atual propriedades abertas ao tempo de Tomé de Souza. Alguém precisa avisar o deputado que, sendo o foco dos problemas ambientais no Brasil atual, sobretudo as terras de cerrado e da Amazônia, Tomé de Souza ou qualquer outro Governador Geral nada tem a dizer. Mas é importante para a argumentação de Rebelo misturar e confundir os fatos. Pelo mesmo motivo ele sugere que o reconhecimento, como Áreas de Preservação, das terras acima de 1.800 metros, inviabilizaria a ocupação dos altiplanos no Peru e na Bolívia. Só faltou, como máximo exagero, dizer que o melhor a fazer, para atender aos ambientalistas, é devolver o Brasil aos índios.
   O outro foco da argumentação de Aldo Rebelo está na insistência de que "nenhum” país do mundo possui qualquer legislação que trate de Reserva Legal ou algo equivalente. Sequer a mata ciliar estaria legalmente protegida naqueles que ele referiu como "países ditos ‘civilizados’”. A pergunta, ora explícita, ora implícita, que o Deputado nos dirige é: por que nós temos que fazer isso, se os "concorrentes” (o termo é dele) dos nossos produtores não o fazem?
   Não é preciso ouvir ou ler mais nada do que diz o Deputado para que se revele o que ele entende por "princípios” ou "códigos éticos” de conduta. O raciocínio dele, pobre, mas cristalino, é esse: se os outros não fazem, por que é que nós vamos fazer?
   Como todos sabemos, esse é o raciocínio que justifica toda sonegação fiscal, toda corrupção, todo superfaturamento de obras, todo aumento absurdo de proventos de Parlamentares em todos os níveis. Em resumo: o raciocínio do tipo "se ninguém faz, por que nós vamos fazer?” é o argumento dos sem princípio.
   O último tipo de argumento, também falacioso, do deputado comunista, sugere que a manutenção da exigência de um grande percentual da propriedade rural como reserva legal (na Amazônia, sobretudo) significa abrir mão de território, de solo, de subsolo e de recursos hídricos que, de outro jeito, estariam contribuindo para "elevar o padrão de vida material e espiritual” da população brasileira (as palavras entre aspas são do artigo do deputado no Estadão, em 30 de abril último). Será que o Deputado prestou atenção, há algumas décadas atrás, quando se propalava aos quatro ventos que o ouro e os minérios de Carajás pagariam nossa dívida externa? Será que o Deputado não sabe que a exploração do minério em Carajás, ao contrário, aumentou nossa dívida externa (pela construção de uma ferrovia e de um novo porto no Maranhão) e, ao final, a riqueza que continua sendo produzida lá não enriquece ao povo brasileiro, mas àqueles que já são ricos? Será que o deputado acredita, sinceramente, que as enormes plantações de soja que destroem floresta amazônica, áreas de pantanal e de cerrado, e comprometem nossos recursos hídricos, para produzir a alimentação do gado no 1º mundo, estão "elevando” nosso padrão de vida material e espiritual?
   Será que o deputado acredita na teoria da conspiração que propala por aí, de que os países ricos "usam o meio ambiente para nos bloquear o acesso a uma vida melhor”? Será o Deputado Aldo Rebelo uma pessoa tão obtusa e de raciocínio tão confuso? Ou terá ele se tornado apenas mais um subserviente dos acordos com o agro-negócio, jogando no lixo as bandeiras históricas daqueles que construíram, no passado, alguns dos mais importantes partidos de esquerda no Brasil?
   Há alguns anos o deputado Aldo Rebelo ganhou certa notoriedade ao tentar legislar sobre a língua portuguesa. Escreveu absurdos, fruto de uma péssima assessoria e do mau hábito de parlamentares de julgarem-se peritos em qualquer coisa. Na época, aliás, ninguém alertou ao Deputado Rebelo que em "nenhum país do mundo” se legisla sobre língua; ao menos, isso não acontece em países ditos "civilizados”. Lembrei-me, com alguma nostagia, daquela iniciativa ingênua do deputado. Se aprovada aquela sua lei anti-estrangeirismo (era disso que se tratava), ela seria inócua, isto é, não produziria efeitos sobre a realidade lingüística, como não produziu efeito a revogação da Lei da Gravidade, por aquele prefeito do interior, segundo uma antiga piada. Mas, se aprovada sua versão negociada do Código Florestal, o futuro condenará nossa geração por essa opção lesa-pátria. E ninguém, no futuro, nos concederá a desculpa da ingenuidade, muito menos para o Deputado Aldo Rebelo.
   Registra a memória brasileira dos tempos da ditadura, que um dos generais ditadores do Brasil, indagado sobre o que achava de Chico Buarque, teria dito que gostava muito da "fase romântica” do compositor. Chamado a comentar a resposta do general, Chico Buarque teria respondido: "Também me agradava a fase romântica do General”.
   Lembro dessa história aqui, para dizer que, apesar de ingênua e equivocada, lembro com alguma saudade da fase de "gramático” e "normatizador a língua” do Deputado Aldo Rebelo." ( Fonte: Adital)