quinta-feira, 10 de setembro de 2020

MUDANÇAS CLIMÁTICAS - TEMPERATURA MÉDIA GLOBAL 2016-2020


A TEMPERATURA MÉDIA GLOBAL PARA 2016-2020

DEVE SER A MAIS ALTA JÁ REGISTRADA

FONTE:: ONU - Brasil


As concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes; as emissões que tiveram declínio temporário devido à pandemia estão caminhando para níveis pré-COVID-19, enquanto as temperaturas globais continuam atingindo novos picos, de acordo com um novo relatório da ONU.

O documento "United in Science 2020", lançado na quarta-feira (9), destaca os impactos crescentes e irreversíveis das mudanças climáticas em geleiras, oceanos, natureza, economias e seus custos para as pessoas em todo o mundo; manifestam-se cada vez com mais frequência por meio de desastres, como ondas de calor recordes, incêndios florestais, secas e inundações.

Falando no lançamento do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que "não há tempo a perder" se o mundo pretende abrandar a tendência dos impactos devastadores das alterações climáticas e limitar o aumento das temperaturas a 1,5 grau Celsius.

"Quer estejamos enfrentando uma pandemia ou a crise climática, é claro que precisamos de ciência, solidariedade e soluções decisivas", disse Guterres.

"Temos uma escolha: continuar como sempre, levando a mais calamidades; ou podemos usar a recuperação da COVID-19 para fornecer uma oportunidade real de colocar o mundo em um caminho sustentável", acrescentou.

O secretário-geral delineou seis ações relacionadas ao clima para moldar a recuperação da COVD-19, a fim de garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

As seis ações incluem: gerar novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde; tornar os resgates públicos condicionantes de empregos verdes e crescimento sustentável; migrar da economia cinza para a economia verde, tornando as sociedades e as pessoas mais resilientes; canalizar investimentos de fundos públicos para setores e projetos sustentáveis ​​que ajudem o meio ambiente e o clima; levar em  consideração os riscos e oportunidades do clima no sistema financeiro, bem como na formulação de políticas públicas e infraestrutura; e trabalharmos juntos como uma comunidade internacional.

"Enquanto trabalhamos para enfrentar a pandemia de COVID-19 e a crise climática, exorto os líderes a prestarem atenção aos fatos deste relatório, unirem-se por trás da ciência e tomarem medidas urgentes no clima",   acrescentou Guterres, instando os governos a prepararem planos climáticos nacionais ambiciosos, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), antes da COP26.

"É assim que construiremos um futuro mais seguro e sustentável."

A mudança climática continua inabalável

 

Em uma de suas principais descobertas, o relatório afirma que as concentrações  atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) "não mostraram sinais de terem chegado ao pico" e continuaram a atingir novos recordes.

Estações de referência na rede WMO Global Atmosphere Watch relataram concentrações de CO2 acima de 410 partes por milhão (ppm) durante o primeiro semestre de 2020, com Mauna Loa (Havaí) e Cape Grim (Tasmânia) em 414,38 ppm e 410,04 ppm, respectivamente, em julho 2020, acima dos 411,74 ppm e 407,83 ppm no mesmo mês do ano passado.

"As concentrações de gases de efeito estufa — que já estão em seus níveis mais altos em 3 milhões de anos — continuaram a aumentar”, disse Petteri Taalas,  secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), no prefácio do relatório.

Enquanto isso, grandes áreas da Sibéria viram uma onda de calor prolongada e  notável durante o primeiro semestre de 2020, o que teria sido muito improvável  sem a mudança climática antropogênica. E agora 2016-2020 deve ser o período de cinco anos mais quente já registrado, ele continuou.

"Embora muitos aspectos de nossas vidas tenham sido interrompidos em 2020, a mudança climática continuou inabalável", acrescentou Taalas.

Conclusões

 

De acordo com o relatório, as emissões de CO2 em 2020 cairão entre 4% e 7% em 2020 devido às políticas de distanciamento social impostas pela pandemia de COVID-19. O declínio exato dependerá da trajetória contínua da pandemia e das respostas dos governos para enfrentá-la.

Em abril de 2020, no auge dos lockdowns relacionados à COVID-19, as emissões globais diárias de CO2 caíram 17% em comparação com o ano anterior, uma queda sem precedentes. No entanto, no início de junho, as emissões haviam retornado a um patamar 5% inferior aos níveis de 2019.

O relatório observa que, embora a lacuna de emissões — a diferença entre o que precisamos fazer e o que estamos realmente fazendo para enfrentar as mudanças climáticas — seja ampla, ela ainda pode ser superada com ações urgentes e concertadas de todos os países e setores.

Sobre o estado do clima global, o relatório indica que a temperatura média global para 2016-2020 deve ser a mais quente já registrada, cerca de 1,1 grau Celsius acima de 1850-1900 (período de referência para a mudança de temperatura desde os tempos pré-industriais) e 0,24 grau Celsius mais quente do que a temperatura média global para 2011-2015.

Impacto da COVID-19 nas observações do sistema terrestre

 

O relatório também documenta como a pandemia de COVID-19 impediu a capacidade de monitorar as mudanças no clima por meio do sistema de observação global, o  que por sua vez afetou a qualidade das previsões e outros serviços relacionados ao  tempo, clima e oceano.

Observações baseadas em aeronaves tiveram grandes reduções, medições manuais em estações meteorológicas e de rios foram gravemente afetadas e quase todos os navios de pesquisa oceanográfica estão nos portos, devido ao impacto direto ou  secundário da pandemia.

Os impactos no monitoramento das mudanças climáticas são de longo prazo, de acordo com o relatório. Eles provavelmente impedirão ou restringirão campanhas de medição do balanço de massa das geleiras ou da espessura do pergelissolo (tipo de solo encontrado na região do Ártico), geralmente conduzidas no final  do período de degelo.

Sobre o relatório

 

O relatório United in Science 2020, o segundo da série, é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM), com  contribuições do Global Carbon Project, do Painel Intergovernamental sobre  Mudanças Climáticas, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do UK Met Office.

O relatório reúne as últimas atualizações relacionadas à ciência do clima de  um grupo de organizações parceiras globais importantes. Apresenta os mais  recentes dados científicos e descobertas relacionadas às mudanças climáticas  para informar a política e a ação global.


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

CEPAL PROPÕE UNIVERSALIZAR ACESSO ÀS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA PANDEMIA


CEPAL propõe ‘cesta básica’ para universalizar acesso às tecnologias digitais na pandemia

por ONU Brasil

A escala e a velocidade dos fechamentos de escolas e universidades representa um desafio sem precedentes para o setor da educação, que tem adotado o ensino a distância. Foto: UNICEF/Raoni Libório

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) fez nesta quarta-feira (26) um apelo para garantir e universalizar a conectividade e a acessibilidade às tecnologias digitais para enfrentar os impactos causados pela pandemia do coronavírus (COVID-19) na região.

Para isso, propôs cinco linhas de ação que incluem construir uma sociedade digital inclusiva, impulsionar a transformação produtiva, promover a confiança e a segurança digital.

A proposta também inclui fortalecer a cooperação digital regional e avançar em direção a um novo modelo de governança para assegurar um ‘Estado de bem-estar digital’ que promova a igualdade, proteja os direitos econômicos, sociais e do trabalho da população, garanta o uso seguro dos dados, e gere a mudança estrutural progressiva.

A secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, divulgou em uma coletiva de imprensa o Relatório especial COVID-19 N⁰ 7 da Instituição, intitulado: Universalizar o acesso às tecnologias digitais para enfrentar os efeitos da COVID-19, em que propõe aos países da região garantirem uma cesta básica de tecnologias de informação e comunicação composta por um laptop, um smartphone, um tablet e um plano de conexão para os domicílios não conectados, com um custo anual inferior a 1% do PIB.

O relatório destaca que as tecnologias digitais têm sido essenciais para o funcionamento da economia e da sociedade durante a crise provocada pela pandemia.

Apesar dos avanços dos últimos meses, as dificuldades de acesso às tecnologias digitais permanecem, condicionando os direitos a saúde, educação e trabalho, ao mesmo tempo em que podem aumentar as desigualdades socioeconômicas.

“Os países da América Latina e do Caribe têm adotado medidas para impulsionar o uso das soluções tecnológicas e garantir a continuidade dos serviços de telecomunicações. Entretanto, o alcance dessas ações é limitado pelas dificuldades no acesso e uso dessas tecnologias e as velocidades de conexão”, afirmou Bárcena durante a apresentação do relatório.

Segundo o documento, em 2019, 66,7% dos habitantes da região possuíam conexão à Internet. O terço restante tinha acesso limitado ou não contava com acesso às tecnologias digitais, devido à sua situação econômica e social, particularmente sua idade e localização.

Em 12 países da região, o número dos domicílios do quintil de renda mais alta (quintil V) que têm conexão à Internet é de 81%, em média; os números correspondentes para os domicílios do primeiro e do segundo quintil é de 38% e 53%, respectivamente.

As diferenças na conectividade entre a área urbana e a rural são significativas. Na região, 67% dos domicílios urbanos estão conectados à Internet, enquanto nas áreas rurais apenas 23% estão conectados. Em termos de faixas etárias, os jovens e os idosos são os que têm menor conectividade: 42% dos menores de 25 anos e 54% dos maiores de 66 anos não têm conexão à Internet.

O documento acrescenta que a baixa acessibilidade consolida a exclusão dos domicílios de menores rendas. O custo do serviço de banda larga móvel e fixa para a população do primeiro quintil de renda chega a 14% e 12% de sua renda, respectivamente. Isso é cerca de seis vezes o limite de referência de 2% da renda recomendada pela Comissão de Banda Larga das Nações Unidas.

O estudo revela que os dados de mobilidade durante os primeiros meses de quarentena mostram um mundo paralisado no ambiente físico, mas não no virtual. O tráfego nos sites e o uso de aplicativos de teletrabalho, educação online ou ensino a distância e compras online revelam um aumento significativo no uso de soluções digitais. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, a utilização de soluções de teletrabalho aumentou 324% e o ensino a distância mais de 60%.

Entretanto, a utilização de soluções de educação online só é possível para quem tem conexão à Internet e dispositivos de acesso, e na América Latina 46% das crianças entre 5 e 12 anos vivem em domicílios que não estão conectados.

O acesso dos domicílios aos dispositivos digitais é também desigual na região: enquanto entre 70% e 80% dos estudantes nos níveis socioeconômicos mais elevados têm laptops em suas casas, somente entre 10% e 20% dos estudantes pertencentes aos quintis de menores rendas contam com esses dispositivos.

 “A diferença entre os estratos econômicos mais altos e os mais baixos condiciona o direito à educação e aprofunda as desigualdades socioeconômicas. Para garantir uma educação inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo de todo o ciclo educacional, deve-se aumentar não somente a conectividade e a infraestrutura digital, mas também, as habilidades digitais de professores, bem como a adequação dos conteúdos educacionais para o âmbito digital”, enfatizou a secretária-executiva da CEPAL.

Com relação à porcentagem de empregos que podem migrar para o teletrabalho, o relatório especifica que está positivamente vinculada ao nível do PIB per capita e aos menores graus de informalidade. Na Europa e nos Estados Unidos, quase 40% dos trabalhadores podem trabalhar em casa, enquanto, no caso da América Latina, a CEPAL estima que cerca de 21,3% dos ocupados poderiam utilizar o teletrabalho.

O documento destaca que a Internet mitiga o impacto da crise nas empresas. Especifica que, entre março e abril de 2020, o número de sites empresariais aumentou 800% na Colômbia e no México e cerca de 360% no Brasil e no Chile. Em junho de 2020, a presença online de empresas do comércio varejista aumentou 431% com relação a junho de 2019.

Finalmente, o relatório indica que a pós pandemia será caracterizada por uma nova demanda baseada em canais online que implicará em um esforço dos países e do setor privado para oferecer um melhor serviço. A nova oferta será baseada na flexibilidade, na proximidade local e na capacidade de reação.

“A produtividade e a mudança estrutural continuarão sendo fatores inevitáveis para o desenvolvimento. A região deve avançar para sistemas produtivos mais diversificados, homogêneos e integrados para aumentar a produtividade e a inclusão produtiva, o que se traduziria em maiores níveis de emprego e salários”, concluiu Alicia Bárcena.

Mais informações:

POLIOMIELITE É ELIMINADA NA ÁFRICA SEGUNDO OPAS


OPAS comemora a eliminação 

da poliomielite na África

por ONU Brasil

47 países da região africana estão livres da poliomielite. Foto: OPAS

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) comemora nesta terça-feira (25) a certificação de que 47 países da região africana da Organização Mundial da Saúde (OMS) já estão livres da poliomielite, após quatro anos sem nenhum caso. Com essa conquista, cinco das seis regiões da OMS têm sua certificação de livre da pólio selvagem.

“Nas Américas, compartilhamos a alegria de milhares de profissionais de saúde, tomadores de decisão e parceiros estratégicos que contribuíram para a eliminação da pólio na África, uma grande conquista”, disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne. “Mais uma vez, as evidências científicas, a colaboração internacional e o trabalho árduo no terreno conseguiram derrotar uma doença para o benefício de toda a humanidade”.

As Américas foram a primeira região da OMS a ser certificada como livre da pólio em 1994. O último caso relatado de poliovírus selvagem nas Américas foi em 1991.

“Acabar com o vírus selvagem da poliomielite na África é uma das maiores conquistas de saúde pública de nosso tempo e é uma inspiração poderosa para todos nós terminarmos o trabalho de erradicação da poliomielite no mundo”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Os recursos e conhecimentos usados para eliminar a poliomielite selvagem contribuíram significativamente para a saúde pública e os sistemas de resposta a surtos na África e países ao redor do mundo. O programa da poliomielite oferece benefícios de saúde de longo alcance às comunidades locais, desde o apoio à resposta dos países à COVID-19 até o fortalecimento da vacinação de rotina contra outras doenças evitáveis por vacinas.

Américas: abrindo caminho para erradicar a pólio

Como a primeira região da OMS a eliminar a pólio, a Região das Américas ajudou a pavimentar o caminho para a erradicação global da pólio. As lições aprendidas nas Américas sobre vigilância epidemiológica e iniciativas voltadas para a sustentabilidade dos programas de imunização por meio do Fundo Rotatório para Vacinas da OPAS foram compartilhadas com programas de imunização em todo o mundo.

Entre os principais elementos para alcançar a eliminação da poliomielite nas Américas, estiveram o compromisso político de governos, envolvimento da comunidade, forte colaboração de agências governamentais e internacionais e da Rotary Internacional, coordenação entre agências em cada país e gestão adequada dos recursos disponíveis.

Desde então, a OPAS continuou a trabalhar com seus Estados Membros para promover o acesso universal às vacinas, fortalecer os programas nacionais de imunização, promover o intercâmbio técnico entre os países e documentar boas práticas para compartilhar com outras regiões do mundo.

A Região das Américas também compartilhou suas experiências na realização de campanhas de vacinação em situações adversas, emergências ou após desastres naturais, inclusive durante conflitos armados e guerras civis.

Ao negociar o cessar-fogo e estabelecer “dias de tranquilidade” no plano “Saúde como ponte para a paz” na América Central e no Panamá – parte do processo de paz de Esquipulas – e ao trazer vacinação e outros serviços de saúde essenciais para populações vulneráveis, mesmo em zonas de conflito, a região das Américas demonstrou que a imunização é um bem comum que pode ajudar a superar os principais obstáculos no caminho para a erradicação.

Reta final

Embora o poliovírus selvagem já esteja fora das Américas há 29 anos, a região ainda não pode baixar a guarda, alertaram os especialistas da OPAS. A queda nas taxas de cobertura de vacinação e o fato de que o poliovírus selvagem continua a circular no Afeganistão e no Paquistão significa que a poliomielite continua a ser um risco para crianças em todo o mundo.

A pandemia de COVID-19 criou barreiras adicionais para os programas de imunização, levando a OPAS a enfatizar a importância de manter a imunização como um serviço essencial no contexto da pandemia. Desde o início da pandemia, a OPAS tem pedido aos países que continuem a vacinar e realizar a vigilância epidemiológica das doenças evitáveis por vacinação.

“Em breve, todos os países do mundo enfrentarão um novo desafio: quando tivermos uma vacina, a aplicação do legado de erradicação da pólio será fundamental durante as campanhas de vacinação contra a COVID-19”, disse Etienne. “As vacinas representam uma esperança, uma forma de fazer o bem e um direito para todos os cidadãos do mundo. Devemos continuar promovendo vigorosamente a vacinação”, concluiu.

FAMÍLIAS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO MAIS AFETADAS PELA PANDEMIA NO BRASIL


Famílias com crianças e adolescentes 

são mais afetadas pela pandemia 

no Brasil,

 diz pesquisa do UNICEF

por ONU Brasil
Brasileiros que vivem em domicílios com crianças e adolescentes foram os mais impactados pela redução da renda, pela insegurança alimentar e pela fome. Foto: UNICEF/Elias Costa

Brasileiros que vivem em domicílios com crianças e adolescentes foram os mais impactados pela redução da renda, pela insegurança alimentar e pela fome. Foto: UNICEF/Elias Costa

Famílias com crianças ou adolescentes foram as mais afetadas pela crise provocada pela COVID-19 no Brasil. É o que revela a pesquisa Impactos Primários e Secundários da COVID-19 em Crianças e Adolescentes, lançada na terça-feira (25) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Realizada pelo Ibope em todo o país, a pesquisa mostra que os brasileiros que vivem com pessoas menores de 18 anos em casa foram a maioria entre aqueles que tiveram redução de rendimentos, ficaram sujeitos à insegurança alimentar e, inclusive, à fome, entre outros desafios.

“Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados diretamente pela COVID-19, a pesquisa deixa claro que eles são as grandes vítimas ocultas da pandemia", afirma Paola Babos, representante adjunta do UNICEF no Brasil.

"Suas famílias tiveram as maiores reduções de renda, a qualidade da alimentação que recebem piorou, e muitos de seus direitos estão em risco. É fundamental entender esses impactos e priorizar os direitos de crianças e adolescentes na resposta à pandemia."

A pesquisa revela, também, que grande parte das crianças e dos adolescentes — tanto de escolas particulares quanto públicas — continuou tendo acesso à aprendizagem na pandemia.

No entanto, 9% não conseguiram continuar a aprendizagem em casa, ampliando a exclusão no país. Entre os 91% das crianças que seguiram com acesso à educação, uma percentagem significativa não consegue estudar de maneira regular.

“Os resultados deixam claro que o acesso a direitos ocorre de forma desigual no Brasil. Com a pandemia, as disparidades podem se agravar, impactando fortemente quem já estava em situação de vulnerabilidade”, explica Paola.

Diante desse cenário, o UNICEF reforça o apelo para que o país dê prioridade às crianças e aos adolescentes na resposta à COVID-19. Isso significa destacar e priorizar os direitos e necessidades de meninas e meninos nos orçamentos, programas e projetos, visando mitigar os impactos da crise — em curto, médio e longo prazos — na vida de crianças, adolescentes e suas famílias.

Confira, a seguir, os principais pontos da pesquisa:

Impactos na renda familiar

A crise provocada pela COVID-19 afetou diretamente a renda dos brasileiros. Segundo a pesquisa, 55% afirmam que o rendimento de seus domicílios diminuiu desde o início da pandemia. Os impactos foram maiores nas famílias com crianças e adolescentes. Dessas, 63% viram sua renda diminuir.

A redução também está mais presente nas camadas mais pobres: 67% daqueles com renda familiar de até um salário mínimo tiveram redução de rendimentos, contra 36% daqueles com renda familiar de mais de 10 salários.

O auxílio emergencial foi pedido por 46% dos brasileiros entrevistados. Entre quem vive com crianças e adolescentes, o percentual chegou a 52%. Dos que pediram o auxílio, 25% não foram considerados elegíveis ou ainda não receberam o auxílio. O desemprego também foi maior entre famílias com crianças e adolescentes.

“A pesquisa deixa claro que os impactos econômicos e sociais da pandemia afetam mais crianças, adolescentes e suas famílias. Para além dos benefícios temporários, é importante que os programas regulares de proteção social incluam, de maneira sustentável, todas as famílias vulneráveis", afirma Liliana Chopitea, chefe de políticas sociais, monitoramento e avaliação do UNICEF no Brasil.

"Por isso, precisam ser focalizados nas que mais precisam, aquelas com crianças que já apresentavam altos índices de vulnerabilidades, acentuadas pela pandemia. Em momentos de planejamento fiscal e orçamentário, é fundamental olhar a proteção social não como um gasto e sim como um investimento no presente e no futuro do país."

Segurança alimentar e nutricional

A pandemia tem afetado a segurança alimentar e nutricional no país. Quase metade da população brasileira (49%) reportou mudanças nos hábitos alimentares desde o início da pandemia da COVID-19. Entre as famílias que residem com crianças e adolescentes, o impacto foi ainda maior: 58%.

Entre as mudanças alimentares, o aumento do consumo de alimentos não saudáveis foi fortemente citado. Segundo a pesquisa, 31% das famílias com crianças e adolescentes passaram a consumir mais alimentos industrializados, tais como macarrão instantâneo, bolos, biscoitos recheados, achocolatados, alimentos enlatados, entre outros.

Entre as famílias que não residem com crianças e adolescentes, esse aumento no consumo foi de 18%. Outro destaque foi o aumento do consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas e do consumo de alimentos preparados em restaurantes fast-food (hambúrgueres, esfirras ou pizzas).

Ao mesmo tempo, o cenário de insegurança alimentar e nutricional no país ficou acentuado. Segundo a pesquisa, um em cada cinco brasileiros (21%) passou por algum momento em que os alimentos acabaram e não havia dinheiro para comprar mais.

Novamente, a situação é mais preocupante entre aqueles que residem com crianças e adolescentes, em que o percentual chegou a 27%. Além disso, 6% disseram que tiveram fome e deixaram de comer por falta de dinheiro para comprar comida (9% entre quem vive com crianças e adolescentes).

“Estamos diante de um cenário preocupante de má nutrição. Por um lado, percebemos o aumento do consumo de alimentos não saudáveis, que contribui significativamente para o aumento do excesso de peso e das doenças crônicas não transmissíveis", afirma Cristina Albuquerque, chefe de Saúde do UNICEF no Brasil.

"Por outro lado, vemos o aumento da insegurança alimentar e nutricional que pode levar à desnutrição e deficiência de micronutrientes. A má nutrição tem impactos preocupantes no desenvolvimento das crianças, em especial nos primeiros anos de vida."

"Essa situação impacta prioritariamente as populações mais vulneráveis com efeitos a longo prazo. É fundamental atuar imediatamente para reverter esse cenário e garantir o acesso de meninas e meninos a uma alimentação adequada e saudável."

Direito à educação

Na educação, a pandemia mudou a rotina de crianças, adolescentes e famílias. Com o fechamento das escolas, o UNICEF estima que 44 milhões de meninas e meninos ficaram longe das salas de aula no país.

O cenário, no entanto, não quer dizer que todos ficaram sem aulas. Segundo a pesquisa, 91% dos brasileiros que moram com crianças ou adolescentes de 4 a 17 anos que estavam matriculados na escola antes da pandemia afirmaram que eles continuaram realizando, em casa, as atividades escolares durante a pandemia (sendo 89% dos matriculados em escolas públicas e 94% nas particulares).

Há, no entanto, 9% de crianças e adolescentes que estavam na escola antes da pandemia e não conseguiram continuar as atividades em casa — ficando excluídos da escola.

Entre quem conseguiu, a maioria dos estudantes (87%) passou a realizar as atividades pela internet — 97% entre estudantes em escolas particulares e 81% nas escolas públicas. No entanto, o nível de frequência mostra divergências significativas. Nos cinco dias da semana anteriores à pesquisa, 63% dos estudantes receberam tarefas e atividades escolares, enquanto 12% não receberam tarefa nenhuma e 6% somente em apenas um dia — ficando assim à margem do processo de aprendizagem.

Tanto nas escolas públicas quanto nas escolas privadas, a comunicação com as famílias se manteve ativa. Segundo a pesquisa, 68% afirmam ter recebido contatos da escola para informar progressos das crianças nas atividades (71% nas particulares e 65% nas públicas). Além disso, 48% afirmam que a escola entrou em contato para saber como estava a situação da casa e das crianças e dos adolescentes. Nesse ponto, o contato foi maior para quem tem filhos em escolas públicas, 51%, versus particulares, 44%.

“A pesquisa reflete o esforço das escolas e redes de ensino em manter o direito de aprender. Mesmo com a pandemia, a maioria das escolas manteve o contato com as famílias, o que é fundamental para entender a situação dos estudantes e aprimorar as atividades oferecidas de forma remota", afirma Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.

"Por outro lado, a pandemia aumentou as desigualdades. Isso se reflete nos percentuais de meninas e meninos que não conseguiram manter a aprendizagem em casa. Diante da crise provocada pela COVID-19, há que se ter um esforço ainda maior para que a exclusão escolar não aumente no país."

Sobre a pesquisa

A pesquisa Impactos primários e secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes foi realizada pelo Ibope para o UNICEF. A amostra contou com 1.516 entrevistas, representativas da população do País. As entrevistas foram realizadas por telefone, de 3 a 18 de julho de 2020. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

sábado, 22 de agosto de 2020

INDÍGENAS BRASILEIROS MINISTRAM AULAS - ENSINAM COMO TRATAR A TERRA E SEUS RECURSOS

 

Indígenas brasileiros ensinam como tratar a Terra e seus recursos

por ONU Brasil
Evento online teve conversa entre a educadora e ativista indígena Célia Xakriabá e o ator e humorista Paulo Vieira sobre a identidade indígena no Brasil. Foto: PNUMA
              Evento online teve conversa entre a educadora e ativista indígena Célia Xakriabá e o ator e humorista Paulo Vieira sobre a identidade indígena no Brasil. Foto: PNUMA

Os povos Indígenas compõem mais de 5% da população mundial (cerca de 350 milhões de pessoas), segundo a ONU. Com uma cultura de relação profunda e equilibrada com a natureza, os indígenas do Brasil nos propõem importantes reflexões sobre como tratamos a Terra e seus recursos.
Na última sexta-feira (14), o Museu do Amanhã e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) promoveram uma conversa entre a educadora e ativista indígena Célia Xakriabá e o ator e humorista Paulo Vieira sobre a identidade indígena no Brasil.
A sensibilidade do ator e a carga poética das falas de Célia deram o tom do bate-papo, que incluiu questões sobre sustentabilidade, alimentação, educação, religião e ancestralidades. Célia abordou as lutas indígenas, principalmente em meio à pandemia da COVID-19.
“Somos um povo que resiste pela força da ancestralidade. Entendemos o que vem de dentro, isso sim é sustentabilidade, é o que fazemos com o corpo-território. Cada vez que tentam nos arrancar nossos territórios, inventamos novos", declarou.
"Porque nosso território também é história, narrativa, memória, conhecimento, é a ciência que nasce do útero da terra. O fogo que queima a Amazônia e o Cerrado jamais vai queimar a força da nossa palavra e não vai acabar com a nossa espiritualidade.”
Paulo, com simplicidade, respeito e pitadas de humor que o caracterizam, colocou-se no papel do público, trazendo dúvidas e inquietações que estão na mente dos espectadores - e fazendo a ponte com a realidade indígena. “É tribo ou aldeia? Pode casar com qualquer pessoa? Pode chamar de índio?”.
Essas e outras questões foram ponto de partida para um bate-papo informal, rico e permeado por reflexões profundas. Para o ator, a sociedade deve exercitar mais o papel de escuta dos povos indígenas.
“Nesse momento em que a gente passa por uma pandemia que não pode deixar de ser vista como um desastre ambiental, não podemos passar por isso de maneira cega. Olhar para os povos originários é entender o que está acontecendo e saber onde nós erramos”, frisou o ator.
Ao falar sobre educação escolar, Célia ressaltou que é muito importante para os indígenas “aprender sem se prender”. Também comentou sobre a importância de ter professores indígenas nas escolas indígenas e de mudar as narrativas das instituições de ensino sobre a história do país: “precisamos parar de replicar a primeira fake news: que Cabral descobriu o Brasil”.
A diversidade foi tema recorrente em sua fala. “É importante reconhecer os 305 povos indígenas, na diversidade brasileira. Eu tenho medo da monocultura, pra mim toda monocultura mata. Essa ideia de ‘monoculturação’ mata o pensamento, mata a terra."

"Todo mundo fala que um prato que tem sustança é um prato colorido, diverso. Mas ninguém pensa assim para um projeto de sociedade”, disse. Ao ser perguntada sobre a primeira coisa que ensinaria aos não indígenas, voltou ao tema: “a diversidade cura. A diversidade alimenta”.
Paulo e Célia também se encontram na arte. Apesar da trajetória com o humor, ele disse que quando está muito triste tenta fazer arte. Já Célia contou que não houve um momento de se descobrir poeta. "Talvez eu tenha capacidade de fazer da luta melodia."

                             

O encontro encerrou a semana em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data para reforçar a luta pelos direitos e a valorização de todas as etnias nativas.

O bate-papo, que teve tradução em libras e um canal no Telegram disponível para que a comunidade de surdos pudesse enviar perguntas, está disponível no canal do Youtube das duas organizações (@museudoamanha / @PNUMABRASIL) e sela mais uma parceria entre o Instituto de Desenvolvimento e Gestão, responsável pela gestão do Museu do Amanhã, e o PNUMA.

“As lives que fizemos com Sebastião Salgado, Rosiska Darcy e Lenine durante o Dia Mundial do Meio Ambiente, em junho, foram experiências extremamente ricas para ambas as instituições. Há muita sinergia entre os nossos valores, missão e propósito", afirmou Denise Hamú, Representante do PNUMA no Brasil.

"Juntos queremos potencializar nosso alcance; envolver outros públicos, e não apenas especialistas, na construção de entendimentos e caminhos para sociedades mais sustentáveis."

“A parceria marca a troca de conhecimento, informações e programas, além de permitir que juntemos forças para continuar estimulando o debate público sobre as mudanças que precisamos empreender nesse momento de pandemia", declarou Ricardo Piquet, diretor-presidente do IDG - Instituto de Desenvolvimento e Gestão, responsável pela gestão do Museu do Amanhã e do Fundo da Mata Atlântica.

"Queremos continuar pautando a importância da diversidade, do respeito aos povos, da convivência sustentável de todos entre si e com o planeta”, complementou.

O próximo bate-papo virtual será em setembro. Para saber mais, acompanhe as redes sociais do PNUMA (@pnuma_pt) e do Museu do Amanhã (@museudoamanha).


DIRETRIZES PARA A DÉCADA DO OCEANO NO BRASIL

 

Sociedade é convocada a construir diretrizes 

para a década do oceano no Brasil

por ONU Brasil

A Década do Oceano foi proposta pela ONU para conscientizar a população sobre a importância dos oceanos e para mobilizar atores em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares. Foto: Jeremy Bishop / Pexels

A partir desta quarta-feira (19), brasileiros de todas as regiões estarão envolvidos em uma agenda de eventos que seguirá até o final do ano para construir de forma colaborativa o Plano Nacional para a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável.

As diretrizes traçadas ajudarão o Brasil a planejar ações a favor do ecossistema marinho-costeiro para serem executadas no período de 2021 a 2030. A participação e o engajamento de diferentes setores da sociedade é parte essencial para desenvolver um plano nacional, que contemple as necessidades, os desafios e as particularidades de todas as regiões do país.

A série de eventos para traçar o Plano Nacional para a Década do Oceano é uma iniciativa do MCTI, Marinha do Brasil, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Unifesp, Fundação Grupo Boticário e Rede ODS Brasil.

A Década do Oceano foi proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar a população global sobre a importância dos oceanos e para mobilizar atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares.

“A partir do engajamento da sociedade como um todo, buscamos gerar conhecimentos e inovações para conservar os oceanos. É a ciência que precisamos para o oceano que queremos”, ressaltou o oficial de projetos da UNESCO no Brasil, Glauco Kimura.

No Brasil, alguns eventos ocorridos desde o ano passado já trouxeram a Década para a pauta das discussões. Agora, várias entidades promovem uma série de eventos on-line, com participação gratuita, com o intuito de conhecer mais e melhor a relação de cada região brasileira com os mares – até mesmo as localidades do interior. O objetivo é reunir diferentes percepções e integrar processos.

“O oceano provê serviços essenciais para a sobrevivência de todos e regula o clima do planeta. Nós precisamos conhecer mais sobre esse assunto, por isso, fazemos o convite à sociedade para reunirmos informações e conhecimentos de cada uma das regiões do Brasil e garantir o futuro sustentável para as próximas gerações”, destacou a coordenadora-geral de Oceanos, Antártica e Geociência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Karen Silverwood-Cope.

A série de eventos começou nesta quarta-feira (19) com o primeiro webinário nacional “Onde estamos?”, que reuniu vários especialistas para falar sobre o cenário atual da costa e da vida marinha brasileira.

A programação seguirá até novembro com cinco oficinas subnacionais – uma para cada região do Brasil. “Buscamos uma participação diversificada, inclusiva e representativa em todas as regiões brasileiras. Com isso, queremos entender de que forma o ambiente marinho está relacionado com a economia, o bem-estar social, a resiliência costeira e a cultura de povos tradicionais em todo o país”, explicou o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Robson Capretz. Cada oficina regional terá até 105 participantes, selecionados a partir de inscrições, divididos em sete grupos de trabalho.

O calendário termina em dezembro com o segundo webinário nacional “O que temos e para onde vamos”, que trará os resultados de todos os encontros regionais, com um panorama nacional. Para o professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Ronaldo Christofoletti, a oportunidade de unir o conhecimento de cada uma das regiões é o principal diferencial da iniciativa. “É uma Década da ciência, mas que ao mesmo tempo é construída por todos os setores da sociedade. Precisamos que todos deixem a sua contribuição. Dado o tamanho continental do Brasil, precisamos ouvir as vozes das pessoas que vivem em cada uma dessas regiões”.

A programação completa e o formulário de inscrição estão disponíveis no site http://decada.ciencianomar.mctic.gov.br/.