quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ARTIGO DE DÉBORA CRISPIM


Dinheiro no lixo 

*Débora Crispim Soares

   Hoje eu devo ter produzido pelo menos um saco de lixo, e você também. Você sabe pra onde ele vai? E sabe quanto a prefeitura gasta com toda a estrutura que precisa para destinar esse lixo? Não? Nem eu! Só sei que o governo abocanha de 8 a 11% dos salários mensais dos trabalhadores como eu (e isso dá um bocado de dinheiro do nosso salário). E uma parte desse dinheiro, vai para “cuidar” desse lixo que produzo todos os dias. Então, eu jogo lixo fora e depois gasto, forçadamente, o meu dinheiro pra cuidar do lixo que descartei.
    Belo Horizonte tem uma área enorme (na BR 040) onde depositou nosso lixo durante anos e agora precisa gastar com sua manutenção, durante alguns anos, sem poder utilizá-la para outros fins. E está usando outra área em Sabará para os atuais descartes. É muito espaço desperdiçado. É muito dinheiro jogado no lixo.
   Mas você sabia que existe gente tentando se organizar para viver dignamente do material que você descarta? E com isso contribuem para diminuir o gasto com a estrutura para destinar o lixo? São os catadores. Muitas vezes discriminados pela sociedade. Não, eles não são contratados pelo governo para limpar a nossa cidade e também não são mendigos. São trabalhadores que estão se organizando em cooperativas e possuem direitos trabalhistas. Os mesmos direitos que nós possuímos.
    No dia 31 de julho de 2012, nós, membros da comissão de coleta seletiva da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, participamos do debate “A Realidade do Mercado de Recicláveis na Região Sudeste”, no Centro Mineiro de Referência em Resíduos, onde foram tratados os seguintes temas:
·     Comercialização Direta entre as Associações de Catadores e a Indústria Transformadora de Materiais Recicláveis,
·     A Reciclagem do Papel,
·     Panorama da Cadeia Produtiva da Reciclagem no Brasil
·     A Visão da Indústria sobre o Mercado de Recicláveis.
   Lá aprendemos que as cooperativas de catadores contribuem para atenuar essa estrutura, comprovado por dados de pesquisas de universidades e ONG de pesquisa cientifica. Também descobrimos que para se definir como o plástico será reciclado depende de como ele foi produzido se por extrusão, injeção ou sopro. E que o padrão de triagem afeta a qualidade final do produto e nessa parte nós também participamos, quando sabemos a maneira correta de segregar os materiais. Nem imaginávamos que existiam tantos detalhes.
    Em pesquisa da UFMG sobre resíduos, através do Departamento de Engenharia Sanitária, descobriu-se que o lixo urbano é composto por 25% de papéis e papelões, 6% plástico, 5% metais ferrosos e não ferrosos, 3% de vidros e 52% orgânicos.
   Inúmeras famílias dependem de um processo que inclui eu e você, mesmo que não façamos pesquisa sobre o tema, nem sejamos lixeiros ou catadores. Nós somos parte do ciclo desse processo. Nós consumimos, escolhemos o que, e quanto consumimos. Dependendo de nossas escolhas podemos incentivar ainda mais a produção de materiais. Também optamos por separar ou misturar o lixo orgânico molhado com lixo seco que contém, por exemplo, papel branco que pode chegar a R$ 400,00 por tonelada e a lata de alumínio que pode chegar a 10 vezes mais que o valor do papel. Assim estamos impossibilitando várias famílias de se sustentarem. A cada reciclável que vemos passando nos rios, são oportunidades jogadas fora. É dinheiro que vai embora, isso sem falar da poluição do meio ambiente.
    Infelizmente sabemos que o processo de Coleta Seletiva em BH ainda é ínfimo. Apenas 14 % da população em cerca de 30 bairros são atendidos. E menos de 3% do material reciclado descartável vai para a coleta seletiva. Falta o incentivo para a população fazer a coleta seletiva e falta investimento em estrutura para a coleta desse material.
  Nós podemos cobrar a coleta seletiva em nossas portas. Podemos participar da coleta seletiva em nossos trabalhos e acionar as cooperativas para coletarem esse material. Mas devemos, antes de tudo, repensar nossos hábitos e pensar a forma que consumimos e melhorar a nossa estrutura social a partir do início do ciclo de vida do produto.

*Débora Crispim Soares - Técnica em Planejamento Urbano/Ambiental e Sérgio Rodrigo de Abreu - Assistente Administrativo da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano - SMAPU - membros da Comissão de Coleta Seletiva da SMDE (Secretaria Municipal de Desenvolvimento)

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