Investimentos em soluções baseadas na natureza precisam triplicar até 2030
- “A perda de biodiversidade já está custando à economia global 10% de sua produção a cada ano. Se não financiarmos suficientemente as soluções baseadas na natureza, impactaremos as capacidades dos países de fazer progresso em outras áreas vitais, como educação, saúde e emprego”, afirma a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen.
É necessário um investimento de 8,1 trilhões de dólares na natureza entre agora e 2050 – enquanto o investimento anual deve chegar a 536 bilhões de dólares – para enfrentar com sucesso as crises interligadas de clima, biodiversidade e degradação da terra, de acordo com o relatório Estado das Finanças para a Natureza, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e parceiros nesta quinta-feira (27).
O relatório aponta que os investimentos anuais em soluções baseadas na natureza terão que triplicar até 2030 e quadruplicar até 2050 em relação aos investimentos atuais em soluções baseadas na natureza, que é de 133 bilhões de dólares (utilizando 2018 como ano base).
O relatório – produzido pelo PNUMA; o Fórum Econômico Mundial (WEF, da sigla em inglês); e a Iniciativa Economia da Degradação da Terra (ELD, da sigla em inglês), por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) em colaboração com a Vivid Economics – encoraja governos, instituições financeiras e empresas a superar a lacuna de investimento. O documento enfatiza a necessidade de acelerar rapidamente os fluxos de capital para soluções baseadas na natureza, tornando a natureza central para a tomada de decisões relacionadas aos desafios da sociedade nos setores público e privado, incluindo enfrentar as crises climáticas e de biodiversidade.
Liberando o potencial de soluções baseadas na natureza - São necessárias transformações estruturais para fechar a lacuna de financiamento de 4,1 trilhões de dólares entre agora e 2050, promovendo uma reconstrução mais sustentável após a pandemia de COVID-19, mas também redirecionando subsídios agrícolas e de combustíveis fósseis prejudiciais e criando outros incentivos econômicos e regulatórios. Investir na natureza favorece a saúde humana, animal e planetária, melhora a qualidade de vida e cria empregos. No entanto, a natureza atualmente é responsável por apenas 2,5% dos gastos de estímulo econômico projetados pós-COVID-19. O capital privado também terá que ser ampliado dramaticamente para fechar a lacuna de investimento.
O desenvolvimento e a ampliação de fluxos de receita dos serviços ecossistêmicos e o uso de modelos de financiamento combinado como meio de atrair capital privado estão entre o conjunto de soluções necessárias para que isso aconteça, o que também requer compartilhamento de risco de entidades do setor privado.
“A perda de biodiversidade já está custando à economia global 10% de sua produção a cada ano. Se não financiarmos suficientemente as soluções baseadas na natureza, impactaremos as capacidades dos países de fazer progresso em outras áreas vitais, como educação, saúde e emprego. Se não salvarmos a natureza agora, não seremos capazes de alcançar o desenvolvimento sustentável”,
Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA
“O relatório é um alerta para governos, instituições financeiras e empresas investirem na natureza – incluindo reflorestamento, agricultura regenerativa e a restauração do nosso oceano”, afirma, acrescentando que os países e as lideranças da indústria terão a oportunidade de fazer isso nas próximas cúpulas relacionadas ao clima, biodiversidade, degradação da terra e sistemas alimentares, e no contexto da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030).
Reimaginar, recriar, restaurar - Soluções baseadas em florestas por si só, incluindo manejo, conservação e restauração, exigirão 203 bilhões de dólares em despesas anuais totais em todo o mundo, de acordo com o relatório. O equivalente a pouco mais de 25 de dólares por ano para cada cidadão e cidadã em 2021. O relatório apela para a associação de investimentos em ações de restauração com financiamento de medidas de conservação. O que poderia resultar em aumentos de área florestal e agroflorestal (combinação de produção de alimentos e cultivo de árvores) de aproximadamente 300 milhões de hectares até 2050, em relação a 2020.
As próximas cúpulas sobre clima, biodiversidade, degradação da terra e sistemas alimentares, bem como o lançamento da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas em 5 de junho de 2021 oferecem uma oportunidade de aproveitar o impulso político e empresarial para alinhar a recuperação econômica com o Acordo de Paris e o Quadro Global para a Biodiversidade Pós-2020 antecipado e, portanto, consistente com a limitação do aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, bem como com a redução e reversão da perda de biodiversidade.
Tornar a natureza um investimento - O relatório aponta que o investimento anual do setor privado em soluções baseadas na natureza foi de 18 bilhões de dólares em 2018. O financiamento privado representa apenas 14%, incluindo o capital mobilizado por meio de cadeias de suprimentos agrícolas e florestais sustentáveis, investimentos de capital privado, compensações de biodiversidade financiadas por setores privados, capital filantrópico, financiamento privado alavancado por organizações multilaterais e florestas e outros mercados de carbono relacionados ao uso da terra.
No financiamento climático, o investimento do setor privado é responsável pela maioria dos fluxos de capital (56% de acordo com a Climate Policy Initiative). A ampliação do capital privado para soluções baseadas na natureza é um dos desafios centrais dos próximos anos, com foco específico no investimento na natureza para apoiar o crescimento econômico sustentável no século 21.
Investidores, desenvolvedores, fabricantes de infraestrutura de mercado, clientes e beneficiários podem desempenhar papéis na criação de um mercado no qual as soluções baseadas na natureza acessem novas fontes de receita, aumentem a resiliência das atividades comerciais, reduzam custos ou contribuam para a reputação e o propósito.
Embora várias iniciativas lideradas pelo setor privado já tenham surgido, o relatório enfatiza a necessidade de empresas e instituições financeiras fazerem cada vez mais parte da solução, compartilhando o risco e se comprometendo a impulsionar o financiamento e o investimento em soluções baseadas na natureza de forma ambiciosa e com metas claras e com limite de tempo. Embora os investimentos em soluções baseadas na natureza não possam substituir a profunda descarbonização de todos os setores da economia, podem contribuir para o ritmo e a escala de mitigação e adaptação às mudanças climáticas necessários.
ELD - A Iniciativa Economia da Degradação da Terra (ELD, na sigla em inglês) é uma iniciativa global estabelecida em 2011 pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, o Ministério Federal Alemão para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e a Comissão Europeia. É apoiado por uma ampla rede de parceiros em diversos campos do conhecimento.
PNUMA - O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) é a principal voz mundial sobre o meio ambiente. Ele proporciona liderança e incentiva a parceria no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorar sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
WEF - O Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) é a Organização Internacional para Cooperação Público-Privada. Envolve as principais lideranças políticas, empresariais, culturais e outras lideranças sociais para moldar as agendas globais, regionais e industriais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário