EDITORIAL
O século XXI tem
uma especificidade de integrar a questão ambiental às esferas: política,
econômica, social, cultural (socioambiental).
No cenário político
os problemas ligados a natureza, em grande parte, ainda compreendidos na
perspectiva do século XX, estão nas manchetes da mídia através da escassez de
água. O meio ambiente tomado como natureza, é protagonista no cenário político
das eleições 2014. Muito porque as chuvas esperadas ainda não acontecem na
intensidade que seria necessário para modificar o cenário da influência da água
nas eleições.
Ocorre que mesmo não
havendo uma explicitação nas campanhas eleitorais de que hoje no século XXI o
ser humano é parte integrante do meio ambiente e a ação humana modifica as
condições socioambientais da população e de todo meio ambiente a influência das
condições socioambientais que hoje o Brasil enfrenta pode explicar muito sobre
este segundo turno.
A água ou a falta de
água em um País considerado uma potência hídrica no mundo é sinal agravante dos
conflitos socioambientais. Seja por má gestão de governos, seja pelas mudanças
climáticas, e/ou aquecimento global a importância de se buscar solução aos
problemas ambientais é um desafio para qualquer futuro Governo no Brasil e no
mundo.
As campanhas onde se arrecadam tanto dinheiro
para a disputa do melhor marketing, onde a mídia, as pesquisas possuem um papel
político cada dia maiores reduzem os seres humanos quase que a meros espectores
do jogo midiático eleitoral. A escassez
de água está questionando o discurso distante das candidaturas dos problemas
socioambientais que não serão resolvidos apenas por um partido ou por candidaturas,
mas por uma conscientização da sociedade civil, dos governos, das empresas sobre
a urgência da construção da sustentabilidade.
Do ponto de vista da
sustentabilidade de valorização da pessoa humana o debate dos presidenciáveis
deveria focar as questões cruciais que afligem a qualidade de vida da maioria
da população brasileira, quais sejam: como distribuir renda (o salário mínimo
de setembro de 2014 vigentes: R$ 724,00 - o salário mínimo necessário neste
mesmo mês para uma família sobreviver com dignidade mínima, como prevê a
Constituição, deveria ser R$ 2.862,73) – mais de 70% da população recebe de
zero a três salários mínimos vigentes, ou seja, a maioria do povo brasileiro
precisa trabalhar muito mais para buscar sobreviver e cuidar de sua família; trabalhar
mais significa maior desgaste de energia, saúde; sendo que o sistema público de
saúde no Brasil ainda é desumanizante; trabalhando muito mais em grande parte das
famílias, jovens trabalham e estudam ainda em condições precárias; professores
continuam sendo mal remunerados; a evasão das escolas públicas é crescente; esta
classe trabalhadora, cobiçada nas campanhas eleitorais ainda sofre com o
péssimo transporte público; o BRT - MOVE instalado em BH como obras para a “copa”
oferecem a população ônibus lotados, só que agora com “ar condicionado”; uma
solução paliativa que não resolve o problema da mobilidade urbana. Cidades
congestionadas de automóveis, ônibus lotados e os seres humanos oprimidos. Em
termos de moradia uma grande preocupação é com o êxodo rural. A população rural
no Brasil está decrescendo e as cidades cada vez mais agregando inúmeros
conflitos socioambientais; a produção de alimentos com agrotóxicos e químicos comprometem
a qualidade de vida.
Este Brasil real das
soluções dos problemas ligados as condições socioambientais da maioria da
população brasileira não se vê nos debates televisivos. A política é o grande
instrumento que pode tanto produzir miséria, fome, opressão ou uma população
sadia, com qualidade de vida saudável para todos. O que se vê nas ruas são pessoas dizendo como
estão estressadas com o nível das campanhas eleitorais. A sociedade insustentável produz campanhas
eleitorais insustentáveis do ponto de vista qualitativo.
A oportunidade de se
aproveitar o horário eleitoral de propaganda dos partidos e candidatos para
educar, instruir e elevar a cultura política do povo brasileiro acaba sendo
transformado em um mero duelo de marketing, onde o poder econômico dita às
regras dos “vencedores”.
A contribuição da
educação socioambiental para a sociedade brasileira evoluir em qualidade de
vida, precisa vencer as pesquisas meramente qualitativas. A sustentabilidade está diretamente relacionada
a metodologias qualitativas que vão muito além de meras estatísticas apresentada pelos candidatos.
Uma questão que passa longe é: o que falta ser feito diante este quadro de
péssima distribuição de riquezas no Brasil.
A paternidade ou
maternidade do lumpem proletariado nunca foi tão disputado. Para o Brasil, onde o ouro e os recursos
naturais pagaram dívidas externas de outros Países como Portugal, que através
de nossa matéria prima, dos minérios das Minas Gerais, continua impulsionando
economias externas, ver o povo brasileiro reduzido a “bolsas – famílias,
cultura, educação”, demonstram apenas a gravidade da opressão da maioria de nós
brasileiros. A pobreza do Brasil é
disputada pelas candidaturas e a riqueza
continua sendo para poucos. Seria estas eleições uma vitória do “social
liberalismo” onde o marketing eleitoral determina o resultado das urnas ?
O que se espera
das eleições é que possamos valorizar mais a nós brasileiros. Elevarmos mais
o significado de se fazer política. O
que nos preocupa é que a juventude não veja a política apenas como um show de
marketing e sim como um dos mais nobres espaços para se promover a justiça
socioambiental. A política se faz também
como sociedade civil, nos partidos, mas não apenas nos partidos, política se
faz no dia a dia, no questionamento de nossos deveres e direitos como no Artigo
225 da Constituição que trata do meio ambiente. A mobilização da sociedade
civil continua cada vez mais protagonista e decisiva para implantarmos a
sustentabilidade.
Despoluir um rio
como o Tietê ou uma Lagoa como a da Pampulha em BH é o mesmo desafio para se
despoluir a política nacional. Os rios, lagos, cursos d’água estão poluídos
e falta água, é o reflexo da poluição da própria sociedade. As propagandas
eleitorais levam a população ao stress, a ausência de sintonia com as aspirações
da maioria da população. Se estamos reduzidos a telespectores da mídia
eleitoral, do marketing e das pesquisas qualitativas é reflexo do nível da
opressão de cultura política que o Brasil vive.
Nós acreditamos no
Brasil e na sustentabilidade porque sabemos que o caminho do diálogo ainda é
melhor que o bélico. Ou o Brasil e o mundo constroem a sustentabilidade, uma relação mais harmônica dos seres humanos entre si e com todo meio ambiente, ou a promoção de guerras continuará destruindo nossa espécie e todo meio ambiente. A natureza está questionando esta insustentabilidade e alterando a qualidade de vida das sociedades. O Brasil por abrigar a Amazônia, uma biodiversidade
das mais ricas e fundamentais para nossa espécie humana, e uma população multicultural e étnica, é capaz
de evoluir para a construção de uma sociedade sustentável. Podemos nos
valorizar muito mais como seres humanos, enfrentando os conflitos
socioambientais com sabedoria. O Brasil pode contribuir de forma decisiva para
que o mundo encontre o caminho do diálogo, da paz e da sustentabilidade. Este
modelo de sustentabilidade não precisamos importar dos Países do norte porque
os melhores recursos naturais estão aqui e a possibilidade de País megadiverso
tem nossa identidade brasileira. Um ponto de partida para este caminho é o
Brasil valorizar mais o povo brasileiro nossa identidade brasileira. Nossa
diversidade étnica é uma possibilidade de diálogo com o mundo para um século
XXI sustentável. Para isto é preciso que
a democracia política seja sinômino de democracia econômica, cultural, étnica,
socioambiental.