Semiáridos latino-americanos trocamconhecimentos para se adaptar àsmudanças climáticaspor ONU Brasil |
Regiões semiáridas da América Latina e Central poderão compartilhar
conhecimentos e identificar práticas de sucesso que promovam uma
agricultura resiliente às mudanças climáticas em novo projeto financiado
pelas Nações Unidas.
O Semiárido do Nordeste brasileiro, o Grande Chaco Americano —
compartilhado por Argentina, Bolívia e Paraguai — e o Corredor Seco da
América Central participam do DAKI-Semiárido Vivo, iniciativa financiada
pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da ONU.
A ação é executada pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), a Fundação Argentina para o Desenvolvimento pela Justiça e pela Paz (FUNDAPAZ) e
pela Fundação Nacional para o Desenvolvimento de El Salvador (FUNDE).
Em agosto (18), representantes dessas organizações reuniram-se em evento
online para o lançamento do projeto, cujo foco são territórios de áreas
secas que enfrentam crescentes processos de desertificação e são
afetadas pelo aumento da temperatura do planeta e pela ocorrência de
eventos climáticos extremos.
"Esta tarde damos outro passo importante na articulação e intercâmbio de
conhecimentos que envolvem dinâmicas sociais, culturais, econômicas e
políticas nas regiões semiáridas de toda a América Latina", disse no lançamento Alexandre Pires, da coordenação nacional da ASA.
"Espero que este projeto possa aproximar ainda mais a aliança da
Plataforma Semiáridos da América Latina e a ASA com os governos
locais e nacionais, com o FIDA e outras agências multilaterais, em
defesa de um enfoque político que tenha em seu centro a proposta da
convivência com o Semiárido."
Segundo Gabriel Seghezzo, da Plataforma Semiáridos e da Fundação
para o Desenvolvimento da Justiça e Paz, o conceito de Semiáridos adotado
no projeto é "político, climático, social, econômico e cultural."
"(O conceito de) Semiáridos expressa um nome emblemático porque não
evidencia apenas regiões com semelhanças climáticas e de paisagens. Há
também outras semelhanças mais profundas: diversidade cultural, que nos
orgulha; diversidade biológica que dá à região um potencial de desenvolvimento; o histórico de trabalho social e organizativo que gera uma massa crítica institucional impressionante", disse.
Há ainda milhares de organizações indígenas e campesinas com lutas semelhantes, diagnósticos e soluções que podem debater e pensar em direção ao futuro,
afirmou, "para juntos, vencerem a exclusão e a marginalização, que também são características comuns em nossas regiões".
De acordo com dados citados pela ASA, das 800 milhões de pessoas em
situação de fome no mundo, metade são agricultores e agricultoras que vivem
em regiões semiáridas, cuja realidade se agrava com o fenômeno da crise
climática. A emergência do clima torna ainda mais crítica a dificuldade no
acesso à água de qualidade, bem como à segurança alimentar e a outros direitos humanos básicos.
O Projeto DAKI-Semiárido Vivo e os programas da ASA atuam no estoque de
água para a produção de alimentos e de sementes crioulas, tendo como um
de seus princípios de ação a valorização do conhecimento dos povos do Semiárido.
"Mas o projeto não só propõe reconhecer e valorizar. Sua proposta é construir metodologias para que este conhecimento popular sistematizado ganhe força
para impulsionar a criação de políticas públicas de diferentes âmbitos
governamentais", declarou Antônio Barbosa, coordenador do Projeto
Daki-Semiárido Vivo.
"Queremos destacar a importância do conhecimento tradicional, que respeitado
e em diálogo com o conhecimento acadêmico podem enfrentar as mudanças
climáticas e seus impactos na vida e nos territórios semiáridos da América Latina",
disse.
Para Claus Reiner, gerente de programas do FIDA para o Brasil, "são diversos
os sistemas de que (as famílias rurais) necessitam para sobreviver". "Estas práticas agrícolas resilientes ao clima são muito importantes, e é o que o
projeto vai fazer: identificar, analisar e documentar, através de diferentes formas, as práticas agrícolas resilientes ao clima."
A moderadora do evento, Zulema Burneo, coordenadora da Coalizão
Internacional pela Terra (ILC) para América Latina e Caribe, salientou que projetos
como o DAKI-Semiárido Vivo são parte de um processo maior capaz de gerar
capital social e humano a partir de relações sustentáveis entre organizações
sociais e agricultores, indígenas, campesinos e quilombolas.