Fonte: ONU - BRASIL
Durante a Semana Mundial da Água, realizada de 23 de agosto a 1º de setembro, em Estocolmo, os países foram incentivados a fazer mais para proteger seus lagos, rios e pântanos, que muitas vezes são negligenciados quando se trata de conservação.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) defende que proteger estes ecossistemas de água doce deveria ser uma prioridade máxima ao redor do globo, visto seus impactos no clima, na biodiversidade e até na economia.
A situação atual, enquanto isso, é alarmante, com uma em cada cinco bacias hidrográficas do mundo tendo experimentado flutuações nas águas superficiais fora de sua faixa natural nos últimos cinco anos.
Na China, em partes do rio mais longo da Ásia, o Yangtse, foram registrados recordes nos baixos níveis de água, causando perturbações na energia hidrelétrica, interrompendo a navegação e forçando as principais empresas a suspenderem as operações. Milhões de pessoas já enfrentaram cortes de energia. Enquanto isso, na Alemanha, o nível anormalmente baixo do Reno tem afetado a navegação e a economia.
Em 2022, vimos em várias partes do planeta os efeitos colaterais da crise climática nos ecossistemas de água doce, com períodos secos cada vez mais frequentes e intensos, intercalados por enchentes e precipitações extremas. Nos últimos cinco anos, uma em cada cinco bacias hidrográficas experimentou flutuações nas águas superficiais fora de sua faixa natural.
Especialistas ambientais afirmam que tais exemplos destacam os perigos de se considerar os ecossistemas de água doce como um bem garantido. Durante a Semana Mundial da Água, realizada de 23 de agosto a 1º de setembro, em Estocolmo, os países foram incentivados a fazer mais para proteger seus lagos, rios e pântanos, que muitas vezes são negligenciados quando se trata de conservação.
“Os ecossistemas de água doce trazem benefícios de grande escala para a sociedade, o clima, a natureza, a biodiversidade e as economias, portanto, protegê-los é uma prioridade máxima”, destaca o chefe da Unidade de Ecossistemas de Água Doce do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Joakim Harlin.
Poluição - Uma outra ameaça aos habitats de águas superficiais — lar de 10% de todas as espécies conhecidas, com 55% de todos os peixes dependendo dos ecossistemas de água doce para sua sobrevivência — é a poluição. Pesquisas do PNUMA mostram que cerca de um terço de todos os rios da América Latina, África e Ásia sofrem de grave poluição patogênica. A poluição orgânica severa é encontrada em aproximadamente um em cada sete rios, e a poluição severa e moderada por salinidade em cerca de 10% de todos os rios.
Segundo um estudo global recém publicado pelo PNUMA, a tendência da humanidade de desvalorizar o meio ambiente provocou uma crise global de biodiversidade que está levando um milhão de espécies à extinção.
Uma das conclusões do relatório indica que as decisões políticas e econômicas são frequentemente baseadas em um conjunto restrito de valores de mercado que não levam em consideração os valores intrínsecos, espirituais, culturais e recreativos dos ecossistemas.
Zonas úmidas - As zonas úmidas, por exemplo, têm um enorme valor cultural, inclusive para os povos indígenas, e são um refúgio para todos, desde observadores de pássaros até aventureiros. Mas elas, em particular, têm sido desvalorizadas há muito tempo. Durante a maior parte dos últimos 200 anos, as turfeiras e pântanos têm sido vistos como zonas improdutivas. Cerca de 85% delas foram perdidas desde 1700, sendo que muitas foram drenadas.
Entretanto, ciências emergentes sugerem que as turfeiras absorvem o dióxido de carbono que aquece o planeta e armazenam duas vezes mais carbono do que todas as florestas do mundo.
Harlin diz que este último relatório demonstra que “alcançar um futuro sustentável e justo exige que reconheçamos e integremos as contribuições das áreas úmidas para as pessoas e seu bem-estar”. Ele afirma que há cinco fatores cruciais para a preservação dos ecossistemas de água doce.
“Devemos parar de destruir e começar a restaurar as zonas úmidas; parar de extrair dos rios e aquíferos em excesso; assegurar a conectividade para peixes e outras espécies aquáticas ao longo dos caminhos da água; lidar com a poluição e limpar as fontes de água doce, usar com sabedoria as zonas úmidas e integrar a água e as zonas úmidas nos planos de desenvolvimento e gestão de recursos.”
Preservação - A salvaguarda de áreas úmidas requer monitoramento, proteção, restauração, melhor gerenciamento, finanças e priorização do governo. O PNUMA tem alcançado progresso nesta área ao se envolver com governos e legisladores para melhorar a gestão de recursos hídricos, destacar questões emergentes e trabalhar com parceiros para coletar e analisar dados dos corpos d'água, incluindo sua extensão e qualidade ao longo do tempo.
Um exemplo é a Global Peatlands Initiative (Iniciativa Global pelas Turfeiras, em tradução livre), liderada pelo PNUMA, uma parceria que enfrenta a crise ambiental e climática através da colaboração sul a sul para a restauração e manejo sustentável das turfeiras.
Plataformas como o Freshwater Ecosystems Explorer (Buscador de Ecossistemas de Água Doce, em tradução livre) e a colaboração com cientistas, pesquisadores e analistas de dados em todo o mundo apoiados pelo Centro PNUMA-DHI sobre Água e Meio Ambiente permitem fluxos de informação atualizados e confiáveis para os legisladores e para a outras partes que trabalham com recursos hídricos.