segunda-feira, 3 de maio de 2010

PARQUE DA LAGOA SECA

 Imposição do bom senso


   Ganha corpo o movimento liderado por ambientalistas e associações comunitárias em favor da criação do Parque da Lagoa Seca em área situada entre a Praça JK e o Belvedere. O local é um importante elo do corredor ecológico que une o Parque da Baleia, o Parque das Mangabeiras, a Mata do Jambreiro, o Parque do Paredão da Serra, a Mata das Borboletas, a Estação Ecológica do Cercadinho e o Parque do Rola Moça. Será um passo decisivo para ligar importantes unidades de conservação e permitir o fluxo de genes e o movimento da biota, ou seja, o conjunto de todos os seres vivos da região. A flora e a fauna são interdependentes e necessitam, para a sobrevivência, de conexão espacial. Se permanecerem isoladas, correm o risco de extinção devido aos cruzamentos entre indivíduos aparentados, o fenômeno da endogamia. O biólogo Francisco Mourão publicou interessante estudo sobre o tema, em agosto de 2008.
   A criação do parque ensejará ganhos ambientais relevantes para Belo Horizonte, garantindo a preservação do conjunto da Serra do Curral, com nascentes e matas de galeria. Não se concebe que as minerações, ao atingirem o esgotamento de suas reservas, queiram partir para a verticalização das áreas mineradas, em lugar de devolvê-las, transformadas em parques, para a população. A concretização do movimento será uma maneira de compensar a cidade, após décadas de exploração com todas as conseqüências ambientais negativas na forma de explosões, poeira e tráfego pesado de caminhões.
   É importante enfatizar que as regiões altas são protegidas pela legislação como áreas de preservação ambiental. Nelas, é vedada a construção de prédios para não prejudicar a ventilação, a iluminação solar, as nascentes de diversos córregos, as matas existentes e para evitar as enxurradas agravadas pelas altas declividades. Mas, são justamente essas áreas as mais ambicionadas pelos empreendimentos imobiliários pelo glamour que apresentam e maior poder de sedução nas vendas. O desrespeito a princípios básicos traz a formação de bolhas de calor e temperaturas crescentes, já insuportáveis para os moradores da cidade, além das enchentes freqüentes pela impossibilidade de infiltração da água das chuvas em locais, antes com cobertura vegetal e, agora, impermeabilizados pelas construções.
    A atividade imobiliária, sem dúvida importante para a economia e a geração de empregos, não pode ficar insensível à questão ambiental. O lucro é a mola propulsora do progresso, mas é um meio e não um fim em si mesmo e não pode ficar acima da vida e sacrificar a sua qualidade. Seus agentes não devem pressionar o poder público municipal, seja o executivo ou o legislativo, para a elaboração de projetos de lei que liberem as áreas altas da cidade. Acima da lei oportunista dos homens, está a lei natural que deve ser observada, sob pena de calamidades como as ocorridas com os deslizamentos em São Paulo e no Rio de Janeiro.


Marcelo Marinho Franco - Presidente


União das Associações de Bairros da Zona Sul

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