Chegamos as oitavas de final da copa. O sucesso
do futebol entre os seres humanos está relacionado ao fato de que o futebol
exige dos jogadores uma socialização. É um esporte coletivo, onde o objetivo de
vencer está associado à união do conjunto de jogadores. Os torcedores por sua
vez se identificam com esta socialização e há uma correspondência entre torcida
e jogadores. Tanto que a motivação das torcidas fazem com que eles se empenhem
por um bom resultado nas partidas. Mesmo que em uma equipe alguns jogadores
sejam diferenciados, os chamados craques, e façam a diferença em muitos
resultados, marcar gols e evitar gols só é possível com o chamado
"espírito de equipe", o sucesso do coletivo, do conjunto, da união de
esforços.
A copa 2014 no Brasil
deve bater o recorde de público, segundo os organizadores, está projetada para
ter mais de três milhões e trezentos mil torcedores que compraram ingressos e
estão assistindo as partidas nos estádios.Todo este investimento econômico, de
infra-estrutura material e humana na organização da copa transmitida para
bilhões de telespectadores em todo mundo, dando ênfase a esta socialização,
entra em conflito com o individualismo e propaganda dos patrocinadores, que
apelam para que as pessoas sejam felizes adquirindo bens individualmente,
através da competição desenfreada da sociedade. Uma ideologia que identifica
até na religiosidade, na fé das pessoas, que prosperidade na vida é resultado,
sinônimo, de sucesso apenas na aquisição de bens materiais.
O que não se nega é que somos seres
sociais. O aparecimento do "menino
selvagem" de Aveyron, encontrado em 1797 na floresta de Lacaune, na
França, perambulando seminu apresentando hábitos "selvagens",
reforçou a tese de muitos estudiosos, povos, culturas, e o que Aristóteles (384
- 322a.C.) também afirmou de que por excelência, o ser humano é um animal
social. Nossa vida adquire sentido na relação com os outros seres humanos. Esta
nossa essência vivenciada proporciona felicidade que se comprova na festa das
torcidas de todos os Países durante a copa.
Este ser social é que vem ganhando uma
conotação socioambiental. Há uma consciência ambiental das pessoas em todo
mundo crescente, ainda que tímida, no sentido da urgência de soluções imediatas
que é preciso as sociedades tomarem para solucionar os problemas ambientais
ocasionados pela ação humana.
Família mexicana na Copa 2014 - em BH - pai e filho - Foto: Jornal O Ecoambiental |
Diante um mundo que
sofre com as desigualdades e conflitos socioambientais, eram previsíveis as manifestações
na copa das confederações questionando-se os gastos rapidamente mobilizados
para serem revertidos para uma instituição que acumula rendimentos maiores que
orçamentos de vários Países, em detrimento da morosidade de recursos escassos
investidos em áreas vitais para a sobrevivência dos seres humanos como a saúde,
alimentação de qualidade, educação, moradia, transporte e políticas públicas no
Brasil, bem como solucionar problemas como a fome, a miséria e péssima
qualidade de vida da maioria dos bilhões de seres humanos em todo mundo.
Sabendo que os conflitos poderiam ganhar
proporções em grande escala, não foi por acaso a escolha do símbolo da copa no
Brasil ser uma representação do meio ambiente através de um animal ameaçado de
extinção: o tatu-bola.
Festa de milhares de torcedores brasileiros após vitória sobre o Chile - Savassi - BH- Foto: Jornal O Ecoambiental |
Os conflitos socioambientais estão presentes
em todo mundo como atesta a história e conferências como a Rio + 20 e Cúpula
dos Povos realizada no Rio de Janeiro. O mundo precisa mudar, transformar a
forma como vem lidando com os recursos naturais
do planeta, a forma como vem produzindo sociedades. Um dado sobre esta
realidade ambiental local chama atenção aqui em Minas Gerais , a
chamada "caixa d'água" do Brasil: a falta de água. A represa de
Furnas vive hoje a maior escassez de água em 13 anos, devido às mudanças climáticas
que trazem vários problemas socioambientais em todo mundo. O mundo não pode
mais ser expectador da degradação humana, ambiental.
Um questionamento diante tanta riqueza
produzida para poucos através da copa 2014 poderia ser feito: mas qual a
relação das questões ambientais com o futebol ? Se os organizadores da copa optaram
em aprovar um mascote que simboliza o "futebol, a amizade e a
ecologia" batizando-o de fuleco, no mínimo, queriam "despoluir"
o desgaste das contradições de como uma copa do mundo se organiza. Contudo, não
estão cumprindo os organizadores, com sua parte de divulgarem que esta copa tem
um patrocínio de uma mensagem de conscientização sobre os problemas ambientais
para o mundo. A socialização e a alegria
do futebol em contraposição ao individualismo e não valorização das
individualidades, as formas insustentáveis de produzir, consumir, distribuir
riquezas, continua questionando as sociedades.
A escolha do tatu-bola
como símbolo ambiental se relaciona com todas as espécies ameaçadas de extinção,
inclusive a espécie humana e são indicadores da ação predatória dos seres humanos,
através da caça e mesmo dos desequilíbrios do habitat naturais destes animais,
intensificados pelo desmatamento e pela ocupação desordenada sobre o meio
ambiente como um todo. Muitos animais protegem os seres humanos, porque microorganismos
parasitam estes animais ao invés de trazerem doenças aos seres humanos. Nossa
espécie não suportaria a quantidade de doenças que nos infectariam. A microbiologia nos ensina que a maioria dos
microorganismos que mantêm a Terra como um organismo vivo, não pode ser vistos
a olho nu. Em um meio ambiente que sofre a ação predatória dos seres humanos,
ficamos mais vulneráveis inclusive a vários microorganismos, bactérias, fungos
e até ao contato com vários animais por causa de mutações genéticas. O corpo
humano abriga bilhões de microorganismos. Estima-se que cada centímetro de
nosso corpo seja o lar de mais de 10 bilhões de micróbios. Nossa espécie humana
ainda é totalmente ignorante sobre a biodiversidade e a maioria dos seres vivos
da Terra. Não podemos destruir outras espécies que significam o equilíbrio ecológico da vida na Terra.
Podemos nos unir na direção de nossa
humanização que é a valorização de nossas comunidades, de nossas culturas
locais, da alegria que este esporte coletivo: o futebol nos transmite, porque
nos socializam. Isto independente de se construir estádios que custam bilhões.
Nas periferias do Brasil e acreditamos, no mundo, podemos assistir partidas
emocionantes de futebol em pequenos campos, várzeas, muitas vezes improvisados.
O Brasil possui milhares de Neymares, com certeza, vivenciando o mesmo
"espírito coletivo" e felicidade nas periferias, vilas e favelas
esquecidas pelo poder público. Estão nas manchetes da grande mídia, na grande
maioria das vezes como vilões por questões políticas, econômicas,
socioambientais.
Por que
desmatar florestas que abrigam plantas que podem trazer a cura de várias
doenças ? Quando agimos extinguindo outras espécies, a biodiversidade, estamos na verdade ameaçando a sobrevivência
de nossa própria espécie. A grande questão é que se é dada ênfase através da
grande mídia de que futebol é simplesmente consumo de produtos, estamos despendendo energias opostas e nos
alienando ainda mais, nos distanciando das forças que precisamos ter para
vencermos os problemas socioambientais que se agravam. A falta de compromisso
de quem propôs e não vem realizando a divulgação da conscientização ecológica
na copa 2014 pode acarretar ainda mais estresse
pós copa e novos conflitos socioambientais. Tanta energia, recursos e tempo
gasto na ênfase ao super consumo trará conseqüências à população e a todo meio
ambiente. O aumento do alcoolismo, da
prostituição, do endividamento da população pós copa é o oposto da qualidade de
vida que merecemos ter como coletividade, como sociedade. Quem está assistindo os jogos ao vivo é uma
classe economicamente mais rica. Só que este "conforto" para poucos
nos estádios custa recursos econômicos e o trabalho e impostos da maioria da
população que assiste sua exclusão socioambiental pela tv em HD.
Já alertamos para o fato dos organizadores da
copa não respeitarem e não divulgarem na
grande mídia, nas aberturas pela tv dos jogos da copa a imagem do fuleco, do
tatu-bola, do meio ambiente. Esta atitude de não divulgarem devidamente a
imagem do tatu-bola e de seu significado sobre o meio ambiente para os
torcedores e toda população é o resultado do descaso dos seres humanos com os
próprios seres humanos e todo meio ambiente. Isto explica os conflitos
socioambientais das manifestações antes da copa 2014 alertando ao mundo de que
é preciso edificarmos com urgência sociedades sustentáveis.
POR QUE DURANTE A COPA
AS MANIFESTAÇÕES ESTÃO SENDO MENORES ?
O verdadeiro caráter das manifestações antes
da copa no Brasil tinha fundamento pacífico e uma característica de atitude
espontânea de muitos jovens. Eles questionam a falta de perspectivas que as
sociedades estão produzindo ao constatarem que os seres humanos estão agindo na
direção da insustentabilidade e no caminho oposto ao que as sociedades poderiam
seguir. Os jovens estão enfrentando este estresse socioambiental produzido pela
ganância de poucos adultos, que lucram bilhões de dólares e euros à custa da
degradação do meio ambiente. Não é por acaso que o consumo de drogas está
crescendo, e as bebidas, inclusive, estão patrocinando boa parte da copa.
Sobre
as manifestações durante a copa, podemos dizer: diminuíram, segundo alguns
segmentos, porque foi dado um aviso de que haveria intensa repressão.
Consideramos que também há o fato de que com a massiva divulgação pela grande
mídia dos jogos da copa, as manifestações coletivas, estão retratadas nas
partidas, que expressam a emoção das pessoas que simbolicamente representam a
socialização expressa na união dos jogadores por bons resultados, apoiados pela
felicidade dos torcedores de cada País. Uma socialização que não deixa de ser
conflitiva e dialética. Quando há oportunidade dos países se unirem para
conversarem e agirem coletivamente para a solução dos problemas ambientais
aquelas pessoas que detém o poder econômico e político na sociedade age ao
contrário, não divulgam o patrocínio da consciência ambiental da copa ao mundo. A população brasileira está fazendo sua parte
de acolher o mundo com amizade e a proposta de união socioambiental dos Países
está colocada pela sociedade civil. Sabemos que os Países presentes e telespectadores da copa ainda não se unem
como poderiam para vencermos a crise socioambiental. O salto de qualidade da sociedade para que
possamos levar esta felicidade momentânea para melhorar as relações humanas e com
todo o meio ambiente ainda é um desafio para os seres humanos. Ao invés de
sermos transformados em meras mercadorias de consumo, vencermos nossa ignorância
com relação à preservação de toda biodiversidade; sermos mais respeitados como
seres que merecemos melhor qualidade de socialização e conseguirmos conquistar
esta consciência socioambiental necessária para que nossa espécie não seja
extinta da Terra. Dialeticamente o futebol está retratando o "espírito
coletivo" das sociedades ávidas de
mais dignidade, valorização humana, ambiental, onde construamos caminhos em que
todos nós seres humanos possamos conquistar melhor qualidade de vida,
sociedades sustentáveis, com um meio ambiente mais saudável para todos.
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