terça-feira, 19 de julho de 2016

PAMPULHA - PATRIMÕNIO CULTURAL DA HUMANIDADE

Lagoa da Pampulha BH - Igreja de São Francisco - Foto: divulgação
   O Brasil conquistou mais um patrimônio cultural da humanidade pela Unesco: o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
   Depois de muita mobilização da sociedade civil de BH e dos movimentos ambientalistas para recuperação ambiental da Pampulha, em 2013 a Prefeitura manifestou o interesse pela candidatura do Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Título que foi concedido ontem,  dia 17 de julho de 2016, em Istambul, Turquia em uma reunião dos membros da Unesco.
    A manutenção da despoluição da Lagoa da Pampulha está ligada a uma melhor gestão socioambiental da região e das cidades próximas que despejam resíduos na Lagoa. Ou seja,  para a Pampulha ser revitalizada o meio ambiente de BH e da Região Metropolitana de BH necessita de uma melhor gestão e monitoramento ambiental.
   Esperamos que BH adquira também uma melhor consciência ambiental e não promova o desmatamento urbano que temos assistido nas últimas décadas, como acontece com a Mata do Planalto, região próxima ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha, uma das poucas regiões remanescentes da Mata Atlântica. Bem como outras regiões da cidade como na Av. Bernardo Monteiro, onde os Ficus, árvores centenárias de BH estão sofrendo sem uma atitude de revitalização e replante de novos Ficus. Ou mesmo a destruição da Serra do Curral como tem acontecido por causa da mineração predatória. Temos muitos desafios socioambientais a vencer na cidade.

  Além do Complexo Arquitetônico da Pampulha tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, temos regiões como: Ouro Preto,as Reservas da Amazônia,  o Centro Histórico de Salvador, O Parque Nacional do Iguaçu, O Plano Piloto de Brasília. 

    O Conjunto Arquitetônico da Pampulha foi projetado por Oscar Niemeyer, na gestão do Prefeito Juscelino Kubitschek. Faz parte do projeto do conjunto de edifícios em torno do lago artificial da Pampulha: um cassino, uma igreja, uma casa de baile, um clube e um hotel. Inaugurado em 16 de maio de 1943, com exceção do hotel.   O cassino foi transformado em museu.
    Arquitetura e meio ambiente buscam se harmonizar na região da Pampulha, desde a sua inauguração. Com o crescimento urbano de Belo Horizonte temos mais um motivo para a região ser despoluída a região, preservada e presenteada ao lazer da população.


quarta-feira, 13 de julho de 2016

OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E AS MAIORIAS

EDITORIAL

Os conflitos socioambientais e as maiorias

   A sociologia que foi constituída como ciência após duas grandes revoluções no século XVIII e XIX a revolução francesa (1789) e a revolução industrial na Inglaterra multiplicaram na história das sociedades, suas abordagens sobre a produção de conhecimentos das relações humanas e sociais. Na medida em que as ações humanas estão interferindo de forma agravante sobre as condições do meio ambiente (socioambientais), podemos afirmar que um vasto campo de análise, pesquisa e produção de conhecimentos hoje das ciências sociais é sua inserção nos conflitos socioambientais do século XXI. Levando-se em conta que há um grande acúmulo de produção de conhecimentos sobre a existência humana e a forma como nos organizamos em grupos, comunidades, sociedades, a sociologia e sua abordagem socioambiental têm um papel importante a cumprir visando contribuir na melhoria da qualidade de vida e meio ambiente.
     Os pioneiros da sociologia procuravam compreender de maneira científica as transformações que ocorriam na sociedade com o advento do mundo capitalista. As transformações que ocorriam nas relações de trabalho, propriedade e produção. Tendo o francês Augusto Comte (1798-1857) utilizado a expressão “física social” e pela primeira vez a palavra “sociologia”, esta ciência tem desde então, uma gama muito vasta de teóricos, pensadores e intelectuais engajados em compreender como as ações humanas estão interagindo com as estruturas sociais e os modos de produção da sociedade.  Estas teorias formam uma diversidade de abordagens e refletem os conflitos existentes nas relações socioambientais de produção. O sociólogo Antony Guiddens (1938-) afirmou que questões que estes precursores procuravam responder ainda perduram nos dias atuais, como:       “o que é a natureza humana? Por que a sociedade é estruturada na forma que é? Como e porque as sociedades mudam?” (Guiddens A. - O que é sociologia –pág.28) . Para Guiddens a sociologia fornece uma compreensão das diferenças culturais; as pesquisas científicas das ciências sociais ajudam a avaliar a implantação de políticas públicas; auxiliam os seres humanos em um aspecto importante que é um autoconhecimento sobre a humanidade e a sociedade.
   Vivemos hoje no século XXI o ápice das conseqüências e conflitos que o modo de produção resultante da revolução industrial está causando na relação ser humano e meio ambiente. A apropriação desigual de muitas das tecnologias desenvolvidas pela humanidade está trazendo graves problemas socioambientais e necessitam ser reavaliadas sob um ponto de vista da ética ambiental. Produzir novas tecnologias e saberes sempre foi uma aspiração da humanidade. A grande questão no século XXI é produzir novas tecnologias e saberes de forma sustentável.  O século XXI é o século da transformação das sociedades de insustentáveis a sustentáveis. Economias do mundo como a Européia e das Américas estão se apropriando de canais políticos  e tecnológicos para promoverem “ajustes” na economia que são questionáveis.  Vários autores das ciências sociais debatem novos caminhos sustentáveis em contraposição a reformas ainda balizadas em referências econômicas, políticas e socioambientais do século passado.  Falar em “ajustes’ numa linguagem cartesiana, dentro dos moldes de uma racionalidade econômica que desprezam as maiorias é aprofundar crises socioambientais em todo o mundo. A temática socioambiental das maiorias é buscar sociedades onde a miséria, a fome, os problemas étnicos, a degradação humana e socioambiental  seja vencida.
   Guiddens citou em seus estudos o sociólogo Wrigth Mills (1916-1962) como um exemplo de que o ser humano pode vir a desenvolver, segundo Mills, a “imaginação sociológica” (1959). Hoje com o advento da construção de sociedades sustentáveis, poderíamos argumentar que a sociedade está desenvolvendo um autoconhecimento socioambiental. Uma forma de compreendermos como as ações humanas estão repercutindo  no meio ambiente. Estas ações dividem hoje no século XXI as sociedades, numa abordagem estruturante em minorias e maiorias socioambientais. Uma vez que a hegemonia da propriedade dos meios de produção e tecnologias é  controlada pelas minorias super consumistas, as maiorias que sequer possuem o consumo mínimo necessário a uma vida digna,  possuem um papel protagonista na busca de soluções dos conflitos causados pelas desigualdades econômicas, políticas, sociais, culturais, étnicas, éticas ou socioambientais.  Dentro desta perspectiva, podemos citar Giddens e sua abordagem sobre a ação humana e as estruturas: “Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encontramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso comportamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas atividades tanto estruturam - modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao mesmo tempo, são estruturadas por este mundo social.” (Guiddens A. – O que é sociologia pág. 26). Nesta visão de Guiddens as sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação.

   O saber ambiental ou socioambiental que possui uma formulação histórica está de fato sendo compreendido nas sociedades do século XXI. Como afirma Enrique Leff (2001): “A sociologia ambiental do conhecimento estuda, pois a transformação das ciências ao serem problematizadas pelo saber ambiental, mas inclui também toda uma gama de saberes práticos, sintonizados com os princípios e objetivos, com os valores e os meios instrumentais da racionalidade ambiental” (Leff, E. – “Saber Ambiental” – págs. 157-158).   A compreensão deste saber é tão ou mais importante para os seres humanos do que foi a busca da compreensão do advento das transformações estruturais da sociedade industrial. 

XXXIII BH ITINERANTE


quarta-feira, 6 de julho de 2016

ALGUNS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DA SUSTENTABILIDADE - EDITORIAL




















EDITORIAL

ALGUNS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DA SUSTENTABILIDADE

   A crise de civilização que o Brasil e o mundo enfrentam traz questionamentos da necessidade de construção de novos paradigmas para que a humanidade seja sustentável. Temas que conflitam nas ciências sociais como a questão da subjetividade e da razão são parte dos fundamentos filosóficos da sustentabilide. Uma razão que alimente uma “ética” do trabalho que oprime o ser humano merece ser questionada. Ao concordarmos que o meio ambiente sadio é vital para a existência de nossa espécie é preciso que a sociedade implante o trabalho sustentável. O trabalho que destrói o meio ambiente em uma sociedade sustentável filosoficamente não é ético. Inclua-se no meio ambiente o ser humano e as sociedades por nós construídas. Quais estruturas sociais estão levando os seres humanos a não se perceberem iguais em natureza?
   Dois séculos e cinqüenta e quatro anos nos separam das idéias do fílósofo precursor da sociologia Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra Contrato Social (1762) sua filosofia argumenta que a natureza humana é essencialmente boa. Para ele nós humanos nascemos “naturalmente bons e iguais” e a vida em sociedade nos corrompe e nos faz diferentes. Este debate percorre as teorias das ciências sociais há séculos sobre as contradições entre as estruturas sociais e a ação dos indivíduos. Ainda estas questões não foram solucionadas pela humanidade. Que caminhos vêm percorrendo a humanidade que ainda edifica estruturas sociais onde bilhões de seres  humanos vivem em condições de miserabilidade e precariedade e poucos ostenta luxo e riqueza? Podemos argumentar a hipótese de que alguns povos indígenas e comunidades tradicionais são sustentáveis porque há uma coesão socioambiental de valorização do ser humano e de sua comunidade que procura se harmonizar com o meio ambiente. São exemplos que comunidades sustentáveis são possíveis.
   Refletindo que toda ação humana é subjetiva ela está inscrita em um meio socioambiental. Somos resultado das relações socioambientais que construímos. Acha-se “natural” cobrar juros abusivos, porque a estrutura econômica fomenta esta atitude, por que não achar “natural” agirmos pela nossa essência de considerarmos que todos os seres humanos possuem “naturalmente” o direito de viver com dignidade, saúde, educação, cultura, lazer, meio ambiente saudável? O mundo chegou a um ponto tão irracional que questionar o mercado que instiga o “super  consumo ilimitado” é uma heresia. É um pecado.
   Argumentar que para vencer “a crise”  é preciso implantar medidas que penalizam ainda mais os excluídos de uma qualidade vida e meio ambiente saudável é utilizar uma razão sem uma ética sustentável. Dizer que uma empresa é ética e possuiu uma gestão ambiental exemplar e, no entanto, na sua gestão de recursos humanos mantêm critérios racistas quando da avaliação de desempenho de seus funcionários é não ser sustentável.  Afinal quais os interesses econômicos, socioambientais de se fomentar esta “crise”? Onde está a sua subjetividade e a razão? Podemos argumentar que esta “crise” brasileira possuiu mais de quinhentos anos, pois aqui havia quatro milhões de índios e os recursos naturais que fomentam o “desenvolvimento” e as “tecnologias” de última geração em todo mundo, boa parte foram e são retirados de nosso território desde que descobriram por aqui as árvores que deram origem ao nome ao nosso País.  Quem vai apurar as vidas perdidas e os desvios destes recursos naturais que mantêm a maioria do povo brasileiro na miséria? A história do País-Árvore chamado Brasil traz consigo a história da opressão predatória que a civilização insustentável vem construindo há séculos.
   Razão e subjetividade eis aí um dilema. Havendo uma concordância com Rousseau de que o ser humano é essencialmente, ou “naturalmente” bom, a sociedade poderia ser melhor  uma vez que somos nós que edificamos estas sociedades? Haveria possibilidade do ser humano construir sociedades onde o valor da pessoa humana, do meio ambiente fosse prioridade? Não é isso que presenciamos na gestão das políticas públicas de saúde, educação, esportes, cultura, étnica, economia, comunicação, gestão das terras,  lazer, trabalho e meio ambiente.
  A liberdade de imprensa e manifestação, por exemplo, que é condição universal dos direitos humanos  deve ser respeitada. A democratização dos meios de comunicação é um direito socioambiental fundamental para a construção de um Brasil e um mundo melhor.  
   A nossa consciência socioambiental está pautada pelos objetivos de nossas ações, pelo trabalho que a vida em sociedade nos impulsiona. Milhões de pessoas no mundo hoje percebem que lutar pela melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de todos nós seres humanos traz um sentido a nossas vidas. Qual o lugar socioambiental que ocupamos? Se um ser humano vive em situação degradante não é estranho eu me preocupar com esta pessoa. Pois a situação de um ser humano degradado é fruto e responsabilidade de todos nós. É o espelho da sociedade e do que nossa atitude socioambiental provoca. Se não percebo um ser humano de minha espécie degradado, como posso perceber que o meio ambiente vem sendo destruído pelas sociedades insustentáveis?  Fica um questionamento: o que me aliena afinal da minha condição de sujeito que age e transforma esta realidade? No “Contrato Social” Rousseau lembra que alienar é dar ou vender.  Ele argumenta: “Ora um homem que se escraviza ao outro não se dá, vende-se, pelo menos em troca da subsistência; mas um povo porque se vende ele”? (Contrato Social – pág.15). A maioria da população brasileira está escravizada nesta pressão política, econômica, socioambiental de nos colocar como objeto que só sabe consumir, consumir, consumir... ódio e tristezas? Muito oportuno lembrar as palavras de Mahatma Gandhi “todo aquele que possui mais do que precisa para viver é um ladrão”. Mandiba, Nelson Mandela sintonizado com nossa essência “natural” trouxe sabedoria, “se o ser humano aprendeu a odiar ele pode aprender a amar seu semelhante.”
     Rosseau poderia ser lembrado pela forma como algumas emissoras de TV e grande mídia disputam à audiência divulgando a maldade, a violência, as péssimas ações dos seres humanos em sociedade e não as boas ações e bons frutos que nossa espécie pode colher  edificando comunidades e sociedades mais felizes e menos predadoras dos próprios seres humanos e do meio ambiente. Ser realista não é apenas reafirmar o mal é, sobretudo valorizar o que temos de bom. Não se vê questionamentos sobre como as riquezas produzidas pela humanidade estão sendo apropriadas de forma tão desigual em tantos séculos de história e suas conseqüências de outras inúmeras violências contra os seres humanos e o meio ambiente do qual fazemos parte. E diga-se,  muito menos em canais de mídia que angariam contribuintes para algumas religiões pela falta de perspectivas das sociedades insustentáveis se vêem estes questionamentos.

    Concordando com a sabedoria de alguns  seres humanos, nossa espécie pode evoluir e vencer a barbárie das atuais sociedades insustentáveis. Caminhos para construirmos a sustentabilidade a partir da união dos melhores saberes que resgatam nossa essência humana mais feliz e saudável é possível.