quarta-feira, 6 de julho de 2016

ALGUNS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DA SUSTENTABILIDADE - EDITORIAL




















EDITORIAL

ALGUNS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DA SUSTENTABILIDADE

   A crise de civilização que o Brasil e o mundo enfrentam traz questionamentos da necessidade de construção de novos paradigmas para que a humanidade seja sustentável. Temas que conflitam nas ciências sociais como a questão da subjetividade e da razão são parte dos fundamentos filosóficos da sustentabilide. Uma razão que alimente uma “ética” do trabalho que oprime o ser humano merece ser questionada. Ao concordarmos que o meio ambiente sadio é vital para a existência de nossa espécie é preciso que a sociedade implante o trabalho sustentável. O trabalho que destrói o meio ambiente em uma sociedade sustentável filosoficamente não é ético. Inclua-se no meio ambiente o ser humano e as sociedades por nós construídas. Quais estruturas sociais estão levando os seres humanos a não se perceberem iguais em natureza?
   Dois séculos e cinqüenta e quatro anos nos separam das idéias do fílósofo precursor da sociologia Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra Contrato Social (1762) sua filosofia argumenta que a natureza humana é essencialmente boa. Para ele nós humanos nascemos “naturalmente bons e iguais” e a vida em sociedade nos corrompe e nos faz diferentes. Este debate percorre as teorias das ciências sociais há séculos sobre as contradições entre as estruturas sociais e a ação dos indivíduos. Ainda estas questões não foram solucionadas pela humanidade. Que caminhos vêm percorrendo a humanidade que ainda edifica estruturas sociais onde bilhões de seres  humanos vivem em condições de miserabilidade e precariedade e poucos ostenta luxo e riqueza? Podemos argumentar a hipótese de que alguns povos indígenas e comunidades tradicionais são sustentáveis porque há uma coesão socioambiental de valorização do ser humano e de sua comunidade que procura se harmonizar com o meio ambiente. São exemplos que comunidades sustentáveis são possíveis.
   Refletindo que toda ação humana é subjetiva ela está inscrita em um meio socioambiental. Somos resultado das relações socioambientais que construímos. Acha-se “natural” cobrar juros abusivos, porque a estrutura econômica fomenta esta atitude, por que não achar “natural” agirmos pela nossa essência de considerarmos que todos os seres humanos possuem “naturalmente” o direito de viver com dignidade, saúde, educação, cultura, lazer, meio ambiente saudável? O mundo chegou a um ponto tão irracional que questionar o mercado que instiga o “super  consumo ilimitado” é uma heresia. É um pecado.
   Argumentar que para vencer “a crise”  é preciso implantar medidas que penalizam ainda mais os excluídos de uma qualidade vida e meio ambiente saudável é utilizar uma razão sem uma ética sustentável. Dizer que uma empresa é ética e possuiu uma gestão ambiental exemplar e, no entanto, na sua gestão de recursos humanos mantêm critérios racistas quando da avaliação de desempenho de seus funcionários é não ser sustentável.  Afinal quais os interesses econômicos, socioambientais de se fomentar esta “crise”? Onde está a sua subjetividade e a razão? Podemos argumentar que esta “crise” brasileira possuiu mais de quinhentos anos, pois aqui havia quatro milhões de índios e os recursos naturais que fomentam o “desenvolvimento” e as “tecnologias” de última geração em todo mundo, boa parte foram e são retirados de nosso território desde que descobriram por aqui as árvores que deram origem ao nome ao nosso País.  Quem vai apurar as vidas perdidas e os desvios destes recursos naturais que mantêm a maioria do povo brasileiro na miséria? A história do País-Árvore chamado Brasil traz consigo a história da opressão predatória que a civilização insustentável vem construindo há séculos.
   Razão e subjetividade eis aí um dilema. Havendo uma concordância com Rousseau de que o ser humano é essencialmente, ou “naturalmente” bom, a sociedade poderia ser melhor  uma vez que somos nós que edificamos estas sociedades? Haveria possibilidade do ser humano construir sociedades onde o valor da pessoa humana, do meio ambiente fosse prioridade? Não é isso que presenciamos na gestão das políticas públicas de saúde, educação, esportes, cultura, étnica, economia, comunicação, gestão das terras,  lazer, trabalho e meio ambiente.
  A liberdade de imprensa e manifestação, por exemplo, que é condição universal dos direitos humanos  deve ser respeitada. A democratização dos meios de comunicação é um direito socioambiental fundamental para a construção de um Brasil e um mundo melhor.  
   A nossa consciência socioambiental está pautada pelos objetivos de nossas ações, pelo trabalho que a vida em sociedade nos impulsiona. Milhões de pessoas no mundo hoje percebem que lutar pela melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de todos nós seres humanos traz um sentido a nossas vidas. Qual o lugar socioambiental que ocupamos? Se um ser humano vive em situação degradante não é estranho eu me preocupar com esta pessoa. Pois a situação de um ser humano degradado é fruto e responsabilidade de todos nós. É o espelho da sociedade e do que nossa atitude socioambiental provoca. Se não percebo um ser humano de minha espécie degradado, como posso perceber que o meio ambiente vem sendo destruído pelas sociedades insustentáveis?  Fica um questionamento: o que me aliena afinal da minha condição de sujeito que age e transforma esta realidade? No “Contrato Social” Rousseau lembra que alienar é dar ou vender.  Ele argumenta: “Ora um homem que se escraviza ao outro não se dá, vende-se, pelo menos em troca da subsistência; mas um povo porque se vende ele”? (Contrato Social – pág.15). A maioria da população brasileira está escravizada nesta pressão política, econômica, socioambiental de nos colocar como objeto que só sabe consumir, consumir, consumir... ódio e tristezas? Muito oportuno lembrar as palavras de Mahatma Gandhi “todo aquele que possui mais do que precisa para viver é um ladrão”. Mandiba, Nelson Mandela sintonizado com nossa essência “natural” trouxe sabedoria, “se o ser humano aprendeu a odiar ele pode aprender a amar seu semelhante.”
     Rosseau poderia ser lembrado pela forma como algumas emissoras de TV e grande mídia disputam à audiência divulgando a maldade, a violência, as péssimas ações dos seres humanos em sociedade e não as boas ações e bons frutos que nossa espécie pode colher  edificando comunidades e sociedades mais felizes e menos predadoras dos próprios seres humanos e do meio ambiente. Ser realista não é apenas reafirmar o mal é, sobretudo valorizar o que temos de bom. Não se vê questionamentos sobre como as riquezas produzidas pela humanidade estão sendo apropriadas de forma tão desigual em tantos séculos de história e suas conseqüências de outras inúmeras violências contra os seres humanos e o meio ambiente do qual fazemos parte. E diga-se,  muito menos em canais de mídia que angariam contribuintes para algumas religiões pela falta de perspectivas das sociedades insustentáveis se vêem estes questionamentos.

    Concordando com a sabedoria de alguns  seres humanos, nossa espécie pode evoluir e vencer a barbárie das atuais sociedades insustentáveis. Caminhos para construirmos a sustentabilidade a partir da união dos melhores saberes que resgatam nossa essência humana mais feliz e saudável é possível. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário