quarta-feira, 13 de julho de 2016

OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E AS MAIORIAS

EDITORIAL

Os conflitos socioambientais e as maiorias

   A sociologia que foi constituída como ciência após duas grandes revoluções no século XVIII e XIX a revolução francesa (1789) e a revolução industrial na Inglaterra multiplicaram na história das sociedades, suas abordagens sobre a produção de conhecimentos das relações humanas e sociais. Na medida em que as ações humanas estão interferindo de forma agravante sobre as condições do meio ambiente (socioambientais), podemos afirmar que um vasto campo de análise, pesquisa e produção de conhecimentos hoje das ciências sociais é sua inserção nos conflitos socioambientais do século XXI. Levando-se em conta que há um grande acúmulo de produção de conhecimentos sobre a existência humana e a forma como nos organizamos em grupos, comunidades, sociedades, a sociologia e sua abordagem socioambiental têm um papel importante a cumprir visando contribuir na melhoria da qualidade de vida e meio ambiente.
     Os pioneiros da sociologia procuravam compreender de maneira científica as transformações que ocorriam na sociedade com o advento do mundo capitalista. As transformações que ocorriam nas relações de trabalho, propriedade e produção. Tendo o francês Augusto Comte (1798-1857) utilizado a expressão “física social” e pela primeira vez a palavra “sociologia”, esta ciência tem desde então, uma gama muito vasta de teóricos, pensadores e intelectuais engajados em compreender como as ações humanas estão interagindo com as estruturas sociais e os modos de produção da sociedade.  Estas teorias formam uma diversidade de abordagens e refletem os conflitos existentes nas relações socioambientais de produção. O sociólogo Antony Guiddens (1938-) afirmou que questões que estes precursores procuravam responder ainda perduram nos dias atuais, como:       “o que é a natureza humana? Por que a sociedade é estruturada na forma que é? Como e porque as sociedades mudam?” (Guiddens A. - O que é sociologia –pág.28) . Para Guiddens a sociologia fornece uma compreensão das diferenças culturais; as pesquisas científicas das ciências sociais ajudam a avaliar a implantação de políticas públicas; auxiliam os seres humanos em um aspecto importante que é um autoconhecimento sobre a humanidade e a sociedade.
   Vivemos hoje no século XXI o ápice das conseqüências e conflitos que o modo de produção resultante da revolução industrial está causando na relação ser humano e meio ambiente. A apropriação desigual de muitas das tecnologias desenvolvidas pela humanidade está trazendo graves problemas socioambientais e necessitam ser reavaliadas sob um ponto de vista da ética ambiental. Produzir novas tecnologias e saberes sempre foi uma aspiração da humanidade. A grande questão no século XXI é produzir novas tecnologias e saberes de forma sustentável.  O século XXI é o século da transformação das sociedades de insustentáveis a sustentáveis. Economias do mundo como a Européia e das Américas estão se apropriando de canais políticos  e tecnológicos para promoverem “ajustes” na economia que são questionáveis.  Vários autores das ciências sociais debatem novos caminhos sustentáveis em contraposição a reformas ainda balizadas em referências econômicas, políticas e socioambientais do século passado.  Falar em “ajustes’ numa linguagem cartesiana, dentro dos moldes de uma racionalidade econômica que desprezam as maiorias é aprofundar crises socioambientais em todo o mundo. A temática socioambiental das maiorias é buscar sociedades onde a miséria, a fome, os problemas étnicos, a degradação humana e socioambiental  seja vencida.
   Guiddens citou em seus estudos o sociólogo Wrigth Mills (1916-1962) como um exemplo de que o ser humano pode vir a desenvolver, segundo Mills, a “imaginação sociológica” (1959). Hoje com o advento da construção de sociedades sustentáveis, poderíamos argumentar que a sociedade está desenvolvendo um autoconhecimento socioambiental. Uma forma de compreendermos como as ações humanas estão repercutindo  no meio ambiente. Estas ações dividem hoje no século XXI as sociedades, numa abordagem estruturante em minorias e maiorias socioambientais. Uma vez que a hegemonia da propriedade dos meios de produção e tecnologias é  controlada pelas minorias super consumistas, as maiorias que sequer possuem o consumo mínimo necessário a uma vida digna,  possuem um papel protagonista na busca de soluções dos conflitos causados pelas desigualdades econômicas, políticas, sociais, culturais, étnicas, éticas ou socioambientais.  Dentro desta perspectiva, podemos citar Giddens e sua abordagem sobre a ação humana e as estruturas: “Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encontramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso comportamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas atividades tanto estruturam - modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao mesmo tempo, são estruturadas por este mundo social.” (Guiddens A. – O que é sociologia pág. 26). Nesta visão de Guiddens as sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação.

   O saber ambiental ou socioambiental que possui uma formulação histórica está de fato sendo compreendido nas sociedades do século XXI. Como afirma Enrique Leff (2001): “A sociologia ambiental do conhecimento estuda, pois a transformação das ciências ao serem problematizadas pelo saber ambiental, mas inclui também toda uma gama de saberes práticos, sintonizados com os princípios e objetivos, com os valores e os meios instrumentais da racionalidade ambiental” (Leff, E. – “Saber Ambiental” – págs. 157-158).   A compreensão deste saber é tão ou mais importante para os seres humanos do que foi a busca da compreensão do advento das transformações estruturais da sociedade industrial. 

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