EDITORIAL
Os conflitos
socioambientais e as maiorias
A sociologia que foi constituída como
ciência após duas grandes revoluções no século XVIII e XIX a revolução francesa
(1789) e a revolução industrial na Inglaterra multiplicaram na história das
sociedades, suas abordagens sobre a produção de conhecimentos das relações
humanas e sociais. Na medida em que as ações humanas estão interferindo de
forma agravante sobre as condições do meio ambiente (socioambientais), podemos
afirmar que um vasto campo de análise, pesquisa e produção de conhecimentos
hoje das ciências sociais é sua inserção nos conflitos socioambientais do
século XXI. Levando-se em conta que há um grande acúmulo de produção de
conhecimentos sobre a existência humana e a forma como nos organizamos em
grupos, comunidades, sociedades, a sociologia e sua abordagem socioambiental
têm um papel importante a cumprir visando contribuir na melhoria da qualidade
de vida e meio ambiente.
Os
pioneiros da sociologia procuravam compreender de maneira científica as
transformações que ocorriam na sociedade com o advento do mundo capitalista. As
transformações que ocorriam nas relações de trabalho, propriedade e produção.
Tendo o francês Augusto Comte (1798-1857) utilizado a expressão “física social”
e pela primeira vez a palavra “sociologia”, esta ciência tem desde então, uma
gama muito vasta de teóricos, pensadores e intelectuais engajados em compreender
como as ações humanas estão interagindo com as estruturas sociais e os modos de
produção da sociedade. Estas teorias
formam uma diversidade de abordagens e refletem os conflitos existentes nas
relações socioambientais de produção. O sociólogo Antony Guiddens (1938-)
afirmou que questões que estes precursores procuravam responder ainda perduram
nos dias atuais, como: “o que é a natureza humana? Por que a
sociedade é estruturada na forma que é? Como e porque as sociedades mudam?” (Guiddens
A. - O que é sociologia –pág.28) . Para Guiddens a sociologia fornece uma
compreensão das diferenças culturais; as pesquisas científicas das ciências
sociais ajudam a avaliar a implantação de políticas públicas; auxiliam os seres
humanos em um aspecto importante que é um autoconhecimento sobre a humanidade e
a sociedade.
Vivemos hoje no século XXI o ápice das
conseqüências e conflitos que o modo de produção resultante da revolução
industrial está causando na relação ser humano e meio ambiente. A apropriação
desigual de muitas das tecnologias desenvolvidas pela humanidade está trazendo
graves problemas socioambientais e necessitam ser reavaliadas sob um ponto de
vista da ética ambiental. Produzir novas tecnologias e saberes sempre foi uma
aspiração da humanidade. A grande questão no século XXI é produzir novas
tecnologias e saberes de forma sustentável. O século XXI é o século da transformação das
sociedades de insustentáveis a sustentáveis. Economias do mundo como a Européia
e das Américas estão se apropriando de canais políticos e tecnológicos para promoverem “ajustes” na economia
que são questionáveis. Vários autores
das ciências sociais debatem novos caminhos sustentáveis em contraposição a
reformas ainda balizadas em referências econômicas, políticas e socioambientais
do século passado. Falar em “ajustes’
numa linguagem cartesiana, dentro dos moldes de uma racionalidade econômica que
desprezam as maiorias é aprofundar crises socioambientais em todo o mundo. A
temática socioambiental das maiorias é buscar sociedades onde a miséria, a fome,
os problemas étnicos, a degradação humana e socioambiental seja vencida.
Guiddens citou em seus estudos o sociólogo
Wrigth Mills (1916-1962) como um exemplo de que o ser humano pode vir a
desenvolver, segundo Mills, a “imaginação sociológica” (1959). Hoje com o
advento da construção de sociedades sustentáveis, poderíamos argumentar que a
sociedade está desenvolvendo um autoconhecimento socioambiental. Uma forma de
compreendermos como as ações humanas estão repercutindo no meio ambiente. Estas ações dividem hoje no
século XXI as sociedades, numa abordagem estruturante em minorias e maiorias
socioambientais. Uma vez que a hegemonia da propriedade dos meios de produção e
tecnologias é controlada pelas minorias
super consumistas, as maiorias que sequer possuem o consumo mínimo necessário a
uma vida digna, possuem um papel
protagonista na busca de soluções dos conflitos causados pelas desigualdades
econômicas, políticas, sociais, culturais, étnicas, éticas ou socioambientais. Dentro desta perspectiva, podemos citar
Giddens e sua abordagem sobre a ação humana e as estruturas: “Embora sejamos influenciados pelos
contextos sociais em que nos encontramos, nenhum de nós está simplesmente
determinado em nosso comportamento por aqueles contextos. Possuímos e criamos
nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar as conexões
entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. Nossas
atividades tanto estruturam - modelam – o mundo social ao nosso redor como, ao
mesmo tempo, são estruturadas por este mundo social.” (Guiddens A. – O que é
sociologia pág. 26). Nesta visão de Guiddens as sociedades humanas estão
sempre em processo de estruturação.
O saber ambiental ou socioambiental que
possui uma formulação histórica está de fato sendo compreendido nas sociedades
do século XXI. Como afirma Enrique Leff (2001): “A sociologia ambiental do conhecimento estuda, pois a transformação
das ciências ao serem problematizadas pelo saber ambiental, mas inclui também
toda uma gama de saberes práticos, sintonizados com os princípios e objetivos,
com os valores e os meios instrumentais da racionalidade ambiental” (Leff,
E. – “Saber Ambiental” – págs. 157-158).
A compreensão deste saber é tão
ou mais importante para os seres humanos do que foi a busca da compreensão do
advento das transformações estruturais da sociedade industrial.
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