A esperada Encíclica do Para
Francisco sobre o meio ambiente chega em um momento crucial para a humanidade. A
COP 21, ou Conferência do Clima – Paris 21 no final deste ano, está em cheque. Os Países precisam
se comprometer em ações concretas e urgentes para deter as mudanças climáticas
e os conflitos socioambientais que se multiplicam em todo o mundo. A sociedade civil continua a ser protagonista
na construção da sustentabilidade.
Esta Encíclica é mais um alerta
ambiental para as sociedades civis e governos de todo o mundo. A “revolução cultural” em defesa da “nossa
casa comum” proposta pelo Papa Francisco, diz respeito à valorização da vida, dos seres
humanos e de todo o meio ambiente.
Faz-se
necessário na atual conjuntura ambiental global, que haja mais solidariedade
entre nós seres humanos. Uma melhor distribuição de renda, mais justa entre pessoas e Países, seja
condição de uma ética socioambiental para todos os povos, pois todos os seres humanos têm
direito de viver com dignidade e qualidade de vida. As mudanças climáticas, os
conflitos socioambientais atingem principalmente os mais pobres, os seres
humanos e os Países que sofrem com a exclusão socioambiental a uma vida digna.
Este é o maior desafio tecnológico do mundo: acabar com a fome, a miséria, os
conflitos étnicos, a falta de democratização do acesso aos recursos naturais
disponíveis. É preciso deter a ação predatória humana sobre nossa própria espécie
e em todo o meio ambiente.
Temos o desafio de edificar sociedades com
mais qualidade de vida, acesso à água potável e saneamento básico para todos.
Melhores condições de saúde e educação públicas, alimentação sem agrotóxicos,
moradia, mobilidade urbana, valorização da biodiversidade, da água, dos Povos
Indígenas e Populações Tradicionais, das culturas e etnias, bem como respeito a
todas as crenças que valorizam a pessoa humana e todo meio ambiente.
Segue trechos da encíclica
sobre o meio ambiente do Papa Francisco e o link da íntegra do documento:
TRECHOS DA ENCÍCLICA DO PAPA FRANCISCO SOBRE O MEIO AMBIENTE:
"SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM"
“13. O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a
preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento
sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não
nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter
criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da
nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos,
nos mais variados sectores da atividade humana, estão a trabalhar para garantir
a proteção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que
lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação
ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma
mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem
pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.”
Poluição e mudanças climáticas
Poluição, resíduos e cultura do descarte
“20. Existem formas de poluição que afectam diariamente as
pessoas. A exposição aos poluentes atmosféricos produz uma vasta gama de
efeitos sobre a saúde, particularmente dos mais pobres, e provocam milhões de
mortes prematuras. Adoecem, por exemplo, por causa da inalação de elevadas
quantidades de fumo produzido pelos combustíveis utilizados para cozinhar ou
aquecer-se. A isto vem juntar-se a poluição que afeta a todos, causada pelo
transporte, pelos fumos da indústria, pelas descargas de substâncias que
contribuem para a acidificação do solo e da água, pelos fertilizantes, inseticidas,
fungicidas, pesticidas e agrotóxicos em geral. Na realidade a tecnologia, que,
ligada à finança, pretende ser a única solução dos problemas, é incapaz de ver
o mistério das múltiplas relações que existem entre as coisas e, por isso, às
vezes resolve um problema criando outros.”
O clima como bem comum
“25. As mudanças climáticas são um problema
global com graves implicações ambientais, sociais, económicas, distributivas e
políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a
humanidade. Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas
décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em
lugares particularmente afetados por fenómenos relacionados com o aquecimento,
e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos
chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos
florestais. Não possuem outras disponibilidades económicas nem outros recursos
que lhes permitam adaptar-se aos impactos climáticos ou enfrentar situações
catastróficas, e gozam de reduzido acesso a serviços sociais e de proteção. Por
exemplo, as mudanças climáticas dão origem a migrações de animais e vegetais
que nem sempre conseguem adaptar-se; e isto, por sua vez, afeta os recursos
produtivos dos mais pobres, que são forçados também a emigrar com grande
incerteza quanto ao futuro da sua vida e dos seus filhos. É trágico o aumento
de emigrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental, que, não
sendo reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais, carregam o
peso da sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. Infelizmente,
verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão
acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo. A falta de reações
diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido
de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a
sociedade civil.”
“26. Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder económico ou
político parecem concentrar-se, sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar
os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de
mudanças climáticas. Mas muitos sintomas indicam que tais efeitos poderão ser
cada vez piores, se continuarmos com os modelos atuais de produção e consumo.
Por isso, tornou-se urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes
de fazer com que, nos próximos anos, a emissão de anidrido carbónico e outros
gases altamente poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os
combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável. No mundo, é
exíguo o nível de acesso a energias limpas e renováveis. Mas ainda é necessário
desenvolver adequadas tecnologias de acumulação. Entretanto, nalguns países,
registaram-se avanços que começam a ser significativos, embora estejam longe de
atingir uma proporção importante. Houve também alguns investimentos em
modalidades de produção e transporte que consomem menos energia exigindo menor
quantidade de matérias-primas, bem como em modalidades de construção ou
restruturação de edifícios para se melhorar a sua eficiência energética. Mas
estas práticas promissoras estão longe de se tornar omnipresentes.”
2. A questão da água
“27. Outros
indicadores da situação atual têm a ver com o esgotamento dos recursos
naturais. É bem conhecida a impossibilidade de sustentar o nível atual de
consumo dos países mais desenvolvidos e dos sectores mais ricos da sociedade,
onde o hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis inauditos. Já se
ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta, sem termos
resolvido o problema da pobreza.”
“28. A água potável e
limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável
para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. As
fontes de água doce fornecem os sectores sanitários, agropecuários e
industriais. A disponibilidade de água manteve-se relativamente constante
durante muito tempo, mas agora, em muitos lugares, a procura excede a oferta
sustentável, com graves consequências a curto e longo prazo. Grandes cidades,
que dependem de importantes reservas hídricas, sofrem períodos de carência do
recurso, que, nos momentos críticos, nem sempre se administra com uma gestão
adequada e com imparcialidade. A pobreza da água pública verifica-se
especialmente na África, onde grandes sectores da população não têm acesso à
água potável segura, ou sofrem secas que tornam difícil a produção de alimento.
Nalguns países, há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem de
grave escassez.”
“29. Um problema
particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que
diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres, são frequentes as doenças relacionadas
com a água, incluindo as causadas por microorganismos e substâncias químicas. A
diarreia e a cólera, devidas a serviços de higiene e reservas de água
inadequados, constituem um fator significativo de sofrimento e mortalidade
infantil. Em muitos lugares, os lençóis freáticos estão ameaçados pela poluição
produzida por algumas atividades extrativas, agrícolas e industriais, sobretudo
em países desprovidos de regulamentação e controles suficientes. Não pensamos
apenas nas descargas provenientes das fábricas; os detergentes e produtos
químicos que a população utiliza em muitas partes do mundo continuam a ser
derramados em rios, lagos e mares.”
“30. Enquanto a
qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a
tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria
sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e
segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina
a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros
direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres
que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à
vida radicado na sua dignidade inalienável. Esta dívida é parcialmente
saldada com maiores contribuições económicas para prover de água limpa e
saneamento as populações mais pobres. Entretanto nota-se um desperdício de água
não só nos países desenvolvidos, mas também naqueles em vias de desenvolvimento
que possuem grandes reservas. Isto mostra que o problema da água é, em parte,
uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade destes
comportamentos num contexto de grande desigualdade.”
“31. Uma maior
escassez de água provocará o aumento do custo dos alimentos e de vários
produtos que dependem do seu uso. Alguns estudos assinalaram o risco de sofrer
uma aguda escassez de água dentro de poucas décadas, se não forem tomadas
medidas urgentes. Os impactos ambientais poderiam afectar milhares de milhões
de pessoas, sendo previsível que o controle da água por grandes empresas
mundiais se transforme numa das principais fontes de conflitos deste século.[23]”
Perda de biodiversidade
“42. É preciso investir muito mais na pesquisa para se entender melhor o
comportamento dos ecossistemas e analisar adequadamente as diferentes variáveis
de impacto de qualquer modificação importante do meio ambiente. Visto que todas
as criaturas estão interligadas, deve ser reconhecido com carinho e admiração o
valor de cada uma, e todos nós, seres criados, precisamos uns dos outros. Cada
território detém uma parte de responsabilidade no cuidado desta família, pelo
que deve fazer um inventário cuidadoso das espécies que alberga a fim de
desenvolver programas e estratégias de proteção, cuidando com particular
solicitude das espécies em vias de extinção.”
4.
Deterioração da qualidade de vida humana e degradação social
“43. Tendo em conta que o ser humano também é uma criatura deste
mundo, que tem direito a viver e ser feliz e, além disso, possui uma dignidade
especial, não podemos deixar de considerar os efeitos da degradação ambiental,
do modelo atual de desenvolvimento e da cultura do descarte sobre a vida das
pessoas.”
Desigualdade planetária
“48. O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em
conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não
prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. De
facto, a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial
os mais frágeis do planeta: «Tanto a experiência comum da vida quotidiana como
a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as
agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres».[26] Por exemplo, o esgotamento das reservas
ictíicas prejudica especialmente as pessoas que vivem da pesca artesanal e não
possuem qualquer maneira de a substituir, a poluição da água afeta
particularmente os mais pobres que não têm possibilidades de comprar água
engarrafada, e a elevação do nível do mar afeta principalmente as populações
costeiras mais pobres que não têm para onde se transferir. O impacto dos
desequilíbrios atuais manifesta-se também na morte prematura de muitos pobres,
nos conflitos gerados pela falta de recursos e em muitos outros problemas que
não têm espaço suficiente nas agendas mundiais.[27]”
LINK DA ÍNTEGRA DA ENCÍCLICA :