quarta-feira, 11 de novembro de 2020

EDUCAÇÃO E A COVID-19

COVID-19: mais de 97% dos estudantes ainda estão fora das salas de aula na América Latina e no Caribe  

FONTE: ONU - BRASIL
  • A COVID-19 continua colocando em pausa a educação de mais de 137 milhões de crianças e adolescentes na América Latina e no Caribe. Isto é o que aponta um novo relatório do UNICEF sobre os impactos devastadores da COVID-19 na educação.
  • Desde o início da pandemia, as crianças e os adolescentes da América Latina e do Caribe já perderam em média quatro vezes mais dias letivos (174) em comparação com o resto do mundo. Em uma região com mais de 11 milhões de casos de COVID-19 até o momento, milhões de estudantes correm o risco de perder um ano letivo inteiro.
  • No Brasil, segundo a PNAD COVID, 4 milhões de estudantes do ensino fundamental (14,4%) estavam sem acesso a nenhuma atividade escolar em agosto de 2020.
Relatório do UNICEF aponta que milhões de crianças e adolescentes podem perder o ano letivo na América Latina e no Caribe por conta da pandemia

Mais de sete meses depois de declarada a pandemia, a COVID-19 continua colocando em pausa a educação de mais de 137 milhões de crianças e adolescentes na América Latina e no Caribe. Isto é o que aponta um novo relatório do UNICEF sobre os impactos devastadores da COVID-19 na educação.

Desde o início da pandemia, as crianças e os adolescentes da América Latina e do Caribe já perderam em média quatro vezes mais dias letivos (174) em comparação com o resto do mundo. Em uma região com mais de 11 milhões de casos de COVID-19 até o momento, milhões de estudantes correm o risco de perder um ano letivo inteiro. Enquanto as escolas estão gradualmente reabrindo em várias partes do mundo, a grande maioria das salas de aula ainda está fechada em toda esta região: mais de um terço de todos os países da América Latina e do Caribe ainda não definiu uma data para reabrir as escolas.

O relatório conclui que a COVID-19 aumentou ainda mais as lacunas de educação entre famílias ricas e pobres na América Latina e no Caribe. Os novos dados do UNICEF mostram que a porcentagem de crianças e adolescentes que não recebem nenhuma forma de educação na região aumentou drasticamente, de 4% para 18% nos últimos meses. As projeções da ONU revelam que a COVID-19 pode tirar até 3 milhões de meninas e meninos a mais da escola na região. 

“Na América Latina e no Caribe, milhões dos estudantes mais vulneráveis podem não retornar à escola”, disse Bernt Aasen, diretor regional a.i. do UNICEF para a região. “Para quem não tem computador, internet ou até mesmo um lugar para estudar, aprender em casa se tornou um grande desafio”.

Os ganhos educacionais obtidos pela América Latina e pelo Caribe nas últimas décadas correm o risco de ser revertidos. O impacto econômico desta crise educacional será sentido nos próximos anos.

Juntamente com seus parceiros, as equipes do UNICEF estão trabalhando para proteger o direito das crianças e dos adolescentes de aprender em todos os países da América Latina e do Caribe. Desde o início período de fechamento das escolas, cerca de 42 milhões de estudantes na região têm recebido atividades educacionais a distância e em casa com o apoio do UNICEF, fornecido por rádio, TV, internet e outras plataformas.

No entanto, novas estimativas do UNICEF sugerem que, apesar dos esforços governamentais, apenas um em cada dois estudantes de escola pública está tendo acesso a um ensino a distância de qualidade em casa, em comparação com três em cada quatro estudantes de escola privada. Programas educacionais de rádio, TV e internet devem ser fortalecidos para alcançar os estudantes que não estão conectados à internet. Antes e depois da reabertura das escolas, preencher a lacuna digital atual, junto com o setor privado, ajuda a construir sistemas de educação mais resilientes para resistir a potenciais crises futuras.

Crianças e adolescentes com maior risco de abandono escolar – como migrantes, de comunidades indígenas e com deficiência – devem receber apoio educacional especial. Incentivos econômicos, como auxílio para mensalidades, merenda escolar ou custos de transporte, devem ser implementados para encorajar pais e mães a mandar seus filhos e filhas para a escola.

 “Na América Latina e no Caribe, a COVID-19 empurrou milhões de famílias para a pobreza”, enfatizou Bernt Aasen. “Sem ajuda, muitos pais e mães não terão escolha a não ser sacrificar a educação de seus filhos e filhas. Não é tarde demais para construir sistemas de educação melhores, mais resilientes e mais inclusivos do que antes da pandemia. No momento, é urgente que crianças e adolescentes voltem à escola”.

Uma em cada seis escolas não tem acesso a água na América Latina e no Caribe. O UNICEF apela aos governos para que acelerem urgentemente a preparação para a reabertura segura das escolas, instalando infraestrutura de água, saneamento e higiene, capacitando professoras e professores e adotando abordagens de aprendizagem mais inclusivas.

Embora a situação epidemiológica seja diversa entre os países e dentro deles, a reabertura de escolas deve ser uma prioridade para os governos. O UNICEF insta os países em toda a região para que protejam e aumentem os orçamentos de educação, com atenção especial às necessidades das crianças e dos adolescentes vulneráveis com maior risco de abandono escolar.

No Brasil - O fechamento das escolas – embora necessário para conter a COVID-19 – teve e ainda tem impactos profundos na vida de crianças e adolescentes. Considerando as desigualdades brasileiras, as opções de continuidade das aprendizagens em casa não se deram da mesma forma.

Antes da pandemia, 4,8 milhões de estudantes viviam em casas sem acesso à internet – o que teve forte impacto nas oportunidades de acesso ao ensino online na pandemia. Em agosto de 2020, segundo a PNAD COVID, 4 milhões de estudantes do ensino fundamental (14,4%) estavam sem acesso a nenhuma atividade escolar. A maioria negros, vivendo em famílias com renda domiciliar inferior a ½ salário mínimo.

Escolas fechadas tiveram também outros impactos. O tempo prolongado de isolamento prejudicou a saúde mental. Sem acesso à merenda, a alimentação dos mais vulneráveis piorou. E longe da rede de proteção provida pela escola, crianças e adolescentes ficaram ainda mais suscetíveis a diversas formas de violência, entre elas, o trabalho infantil.

Retomar o ensino presencial e garantir o direito de crianças e adolescentes à educação são ações essenciais e urgentes no país. Essa reabertura deve ocorrer com toda a segurança, preservando a saúde de crianças, adolescentes, profissionais da educação e das famílias de todos. Além de reabrir as escolas, é essencial ir atrás de quem não conseguiu se manter aprendendo na pandemia – ou quem já estava fora da escola ou em atraso escolar antes da COVID-19. Essas crianças e esses adolescentes precisam de iniciativas e propostas específicas para que consigam retomar a aprendizagem.

Acesse o relatório Educação em Pausa, disponível somente em inglês e espanhol.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A CONTRIBUIÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NAS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS

 As sociedades estão enfrentando neste século XXI diversos conflitos socioambientais pela ação antrópica (ação realizada pelo ser humano com relação ao meio ambiente).  Com o surgimento da pandemia causada pela Covid-19 estes conflitos crescem de proporção, na medida em que os seres humanos estão tendo que lidar com a busca de vacinas e soluções sanitárias para enfrentar esta crise socioambiental e os efeitos do isolamento social na sociedade.  As relações sociais estão tendo que lidar com situações e conflitos que necessitam de diálogo, reflexões e saídas.  A Justiça Restaurativa pode contribuir na busca deste diálogo e soluções aos conflitos socioambientais. O Jornal Oecoambiental realizou uma entrevista exclusiva com  uma especialista na área da Justiça Restaurativa Flávia Resende.  Consideramos que a implantação da Justiça Restaurativa nas escolas, pode contribuir para que a educação possa ir retomando suas atividades diante esta crise sanitária no Brasil e no mundo.  E mesmo pós pandemia, poderá auxiliar na conquista de uma melhoria da qualidade de vida na área da educação e na sociedade como um todo.

Entrevista exclusiva com Flavia Resende

Foto: Matheus Soriedem - /Flávia /Resende

Flávia  Resende é Mediadora de Conflitos, tendo iniciado este trabalho como mediadora em comunidades vítimas de violência, pela Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS). É pesquisadora e facilitadora de diálogo em Justiça Restaurativa no Projeto Ciranda, na Faculdade de Direito da UFMG (2016). É também Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito de Família da PUC/MINAS (2018) e Tutora no Projeto Nós, do Ministério Público de Minas Gerais, que ensina Justiça Restaurativa nas escolas públicas do estado de Minas Gerais. Realiza formação de mediadores em órgãos como a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, Ministério Público, Secretarias de Direitos Humanos e de Educação, entre outros órgãos desde 2011. Graduada em Direito (1999) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMINAS); em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo (1999) e Filosofia (2008) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Sua formação inclui, ainda, um Mestrado em Filosofia, área em que pesquisou a ideia de justiça como diálogo. Mediadora pelo Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil - IMAB (2009). Possui formação na Mediação Circular Narrativa e os sistemas familiares pelo Programa Internacional Sara Cobb e Carlos Sluzki, PISC, Argentina (2011). É Mediadora Judicial pelo TJMG (2016) e vice-presidente da Comissão de Mediação e Conciliação da OAB/MG.

Jornal Oecoambiental:  Qual sua origem Flávia. Fale um pouco sobre sua história de vida.

 Flávia:   Quando li a sua pergunta eu pensei... Questão profunda: “Qual minha origem?” Daí a pouco isso já me levou pra outro ponto (mesmo que você não me tenha perguntado!) “quem sou”? E logo nesse jeito meu de ver as coisas, veio à resposta. Sou uma pessoa muito questionadora. Minha origem vem então disso. De uma família de pessoas que falam muito sobre ancestralidade. Até porque a história da minha família é muito rica e contraditória, como nosso país, no sentido de termos uma mistura muito grande dos imigrantes que vieram para o Brasil. Uma tataravó africana que veio num navio negreiro, muitos portugueses, espanhóis, e um tataravô alemão. Acredito que essa miscigenação me faz pensar e encarar a vida por uma série de pontos de vista. Você poderia dizer, mas todo brasileiro é assim! Verdade. Mas nós sempre tivemos muita consciência disso, minha tia contando histórias da minha avó sobre a escravidão de uma maneira concreta e viva. E minha mãe falando dos bisavós fugindo da gripe espanhola; meu pai que sempre gostou de falar de história, uma vez que ele é filho de um pai que quase foi pra guerra como pracinha nos anos 30, mas se apaixonou pela minha avó paterna e desistiu do intento pra se casar com ela. Na minha casa então, sempre nos contamos muitas histórias e questionamos muito a vida de modo geral em seus encontros, desencontros. Acho que então essa é a minha origem, perguntar pelas origens.

   Por causa disso, na adolescência eu pensava muito em ser professora de história, mas dada à dificuldade de muitos professores na minha família, eu desisti pra estudar jornalismo e pouco tempo depois, fiz o curso de direito. Achava que um curso completaria o outro e ser repórter me daria oportunidade pra fazer muitas perguntas. Durante esse percurso, no entanto, acabei me interessando pela questão da justiça, pois, quanto mais eu estudava, mais eu estranhava o modo como ela funcionava, na prática. Trabalhei como advogada por alguns anos, até achar que a pergunta que mais me perpassava no dia a dia, era: “o que é a justiça’?

   Nunca pensei que essa fosse uma questão “séria”, até que um dia fazendo tarefas jurídicas no escritório, um amigo, na época, me disse que as indagações que eu fazia eram bastante filosóficas. Não imaginava, mas acabei compreendendo que a pergunta sobre “o que a justiça?”, era uma coisa que me incomodava e que tinha um peso muito grande em minha vida. Fui atrás disso.

    Parecia inacreditável voltar à faculdade àquela altura – até hoje eu não acredito! Ingressei numa graduação em filosofia pra pesquisar o sentido da justiça. Uma conversa com o saudoso professor Marcelo Pimenta Marques foi muito importante. Ele dizia que, em Platão, o filósofo que eu tinha decidido estudar, o conceito não estava 7pronto, mas que a justiça era algo que construíamos a partir dos impasses, com o outro. Tive a impressão de ter encontrado o meu caminho. Considero essa a minha origem.

Jornal Oecoambiental: Você considera que as relações humanas e a forma como nos organizamos em sociedade fazem parte do meio ambiente?

 Flávia:    Sim, claro. Não somos os dominadores da natureza, embora muitos de nós, seres humanos, nos portemos como. Não estamos acima, somos parte da natureza. Conversava isso com um amigo hoje. Vivemos uma pandemia de SARS-CoV-2, a Covid – 19, e corremos o risco de entrarmos em muitas outras nesse século que se inicia se não mudarmos a forma como nós nos relacionamos com o meio ambiente, especialmente com os animais.

   Temos presenciado no Brasil o desmatamento sem controle pelos órgãos de fiscalização, para dar lugar a pastos e a plantações para alimentar os seres humanos e a tantos animais confinados. A forma como isso é feito destrói a biodiversidade e rompe as distâncias saudáveis entre as espécies. Ao que parece, a biodiversidade é o controle de pragas mais efetivo que existe. Coisas assim já advertiu a bióloga Rachel Carson nos anos 60 em seu livro A primavera silenciosa, que eu tive a oportunidade de tomar conhecimento há pouco. Na época, parecia um exagero a preocupação dessa estudiosa com a natureza. E ainda hoje, muitos acham. No entanto, colhemos as consequências dos nossos descasos.

   Para mim, tudo está conectado. Como nos importaremos com o meio ambiente, se nós seres humanos negamos a natureza não somente fora, mas principalmente e especialmente, em nossa condição humana? Temos uma educação que vê com maus olhos nossas necessidades, desejos, como se eles (e não a nossa falta de conhecimento sobre o sentido dos mesmos) causassem a crueldade no mundo.

   Seres humanos são vistos pelos sistemas de crenças e de pensamento hegemônicos, como possuidores de uma racionalidade superior a todas as outras dimensões humanas (como se a razão não fizesse parte de um todo).  Nossa educação não tem espaço para a compreensão das emoções e para os inúmeros alertas que elas nos dão. Somos ensinados a negligenciar e não a compreender o que sentimos. Nosso corpo é tratado como se ele não tivesse nenhuma inteligência. Escutar o corpo, os seus cansaços, limites, previne doenças. Ser capaz de ouvir e acolher as nossas diversas vozes pode nos fazer mais felizes e criativos. A angústia dói, mas se formos corajosos de ir atrás do seu significado, sentido, ela pode nos dar inúmeras respostas. Às vezes penso se não é o caso de fazermos as pazes não só com o meio ambiente, mas inclusive e, principalmente, com a nossa condição humana.

Jornal Oecoambiental: Qual trabalho você realiza na sua área profissional?

Flávia:  Sou mediadora de conflitos e facilitadora de diálogo em justiça restaurativa. Basicamente, ajudo as pessoas a conversarem para que elas escutem a si mesmas, e depois se escutem mutuamente, para construírem soluções criativas para as suas controvérsias.

Jornal Oecoambiental: O que é a Justiça Restaurativa? Quais são seus fundamentos? Ela pode ser aplicada na educação?

 Flávia: Gosto da definição da estudiosa Petronella Boonem, que é coordenadora do Centro de Direitos Humanos e Educação Popularde Campo Limpo, CDHEP, importante pólo disseminador da Justiça Restaurativa (JR) em São Paulo. Ela diz que a JR é “um meio de gestão de situações problemáticas (podem ser crimes) em que um facilitador auxilia os envolvidos,  junto com membros de suas famílias/comunidades por eles indicados, a fazerem um processo dialógico capaz de transformar uma relação marcada pela oposição e violência, em relação cooperativa, partindo das pessoas concretas, de suas dores, necessidades e do dano causado”.

   A justiça restaurativa é, pois, um método de resolução de conflitos, não adversarial, que trabalha com pessoas sentadas em círculos, numa posição não hierárquica, ou seja, em igualdade, através do diálogo. No círculo, facilitadores e participantes têm a oportunidade de contar as suas histórias pessoais e perceber que o conflito é uma coisa natural da vida e que podemos lidar com ele com menos culpa e vergonha e muito mais responsabilidade. É uma oportunidade para ofensores assumirem seus erros, apoiados por pessoas, numa postura de não julgamento, ajudando na transformação de sua conduta. E do outro lado, as vítimas têm a chance de serem cuidadas emocionalmente e reparadas pelos danos que sofreram. Os atendimentos dependem da vontade das partes e é feito com um trabalhoso preparo.

  A JRé inspirada em formas de resolução de conflitos de sociedades tradicionais, indígenas, negras. Isso porque nas suas filosofias, ou seja, no modo de muitas dessas sociedades enxergarem a realidade, nós seres humanosnão somos um ser à parte dos outros seres. Nós somos todos conectados. Daí a conduta de um afetar muitos. Na visão restaurativa, quando uma pessoa comete um dano, ela não só prejudica a vítima, mas seu entorno, a si mesma e às pessoas de sua comunidade, como seus pais, seus filhos, entre outros. Daí nos círculos restaurativos convidarmos pessoas de ambos os lados para que estas também possam expressar suas emoções com aquele fato, e amparar vítima e ofensor, no que for necessário. O objetivo é transformar aquele conflito numa oportunidade de reparação, cuidado e de aprendizado.

   Essa visão, diferente da nossa, em que os conflitos não são suprimidos e sim compreendidos, fazem parte da filosofia Ubuntu, originada na África, da filosofia de índios Maoris na Nova Zelândia, dentre muitas outras. Eu penso que a filosofia ocidental, na sua origem, fala de algo muito parecido. Tanto a natureza, como o ser humano, na sua interioridade, para alguns pensadores, são vistos como conflituosos. Será que é necessário suprimir essa característica em nós mesmos e na vida? Ou podemos empreender esforços para lidarmos melhor com ela?

 Jornal Oecoambiental: A educação é uma área das mais afetadas pela crise da pandemia da Covid-19. Já presenciamos em escolas públicas antes da pandemia, muitos conflitos socioambientais em relação à convivência da comunidade escolar. Agora o desafio da educação é ainda maior, pois o fato das aulas estarem interrompidas por longos períodos agravam estes conflitos. Como este problema socioambiental pode ser vencido através da implantação da Justiça Restaurativa nas escolas?

 Flávia:   As escolas municipais da cidade de Belo Horizonte, através do Programa Nós, uma parceria interinstitucional do Ministério Público, juntamente com as Secretarias Estadual e Municipal de Educação, têm apostado na formação em JR de professores e funcionários, inclusive durante essa pandemia. O objetivo é abrir mais espaços para diálogos nas escolas para o enfrentamento dos conflitos de uma forma mais horizontal. Essas formações já estavam acontecendo antes em todo o Estado de Minas Gerais, na esfera municipal e estadual, mas foram interrompidas.

   Eu considero esse, um trabalho de muito fôlego. Dentre as atividades que hoje eufaço, nesse programa eu atuo como tutora, desde o seu início, em 2018. A função é fomentar ainda mais o diálogo na educação. Com a pandemia, percebo que a jornada do professor ficou ainda mais complicada. Tenho trabalhado nesta pandemia, nas escolas que conseguiram abrir espaço, com o acolhimento dos professores e também com a sua formação a fim de que eles possam melhor receber os estudantes, quando isso for possível.

   É uma época em que muitas pessoas enfrentam perdas e sofrem traumas. Isso precisa ser dito, falado, significado, pensado. E a escola pode ser um desses espaços de acolhimento dos sentimentos dos estudantes e suas comunidades. A dor não transformada é transferida. Acreditamos que espaços de escuta, podem, quem sabe, ajudar a significar o que temos vivido transformando dor em aprendizado.

   Além do mais, acreditamos que o diálogo previne a violência. O psicólogo Marshall Rosemberg, teórico com o qual trabalhamos na JR, diz que por trás de todo ato danoso, sempre há sentimentos intensos das pessoas que os cometem, sendo esta uma forma trágica que muitos seres humanos se utilizam para terem acessos às suas necessidades. Essas necessidades, segundo ele, são universais, tais como o reconhecimento, a autoestima, a liberdade, a conexão, o respeito, a cooperação, a autenticidade, a contemplação, a eficiência, a ordem, a beleza, a segurança emocional, a econômica, a proteção como formas ameaçadoras de vida.

   Nossa sociedade, com suas imensas desigualdades, não é hábil em fornecer um ambiente minimamente digno a todos. Muitos recorrem à violência para conquistarem o que for necessário, por causa de sentimentos de indignação, raiva, baixa estima, ou crenças mal analisadas; tal como a visão simplista, por exemplo, que diz que o sucesso é sinônimo de ausência de conflitos, muito dinheiro, dentre outras coisas. Quando dialogamos, temos acessos não só aos pensamentos, mas aos sentimentos das pessoas. Tentamos conscientizá-las a desenvolverem estratégias mais saudáveis para terem acesso ao que precisam.

Não é um trabalho fácil, como se tudo mudasse só porque uma pessoa quer fazer diferente. Há toda uma estrutura social a ser enfrentada. Também há as histórias de vida e os nossos comportamentos inconscientes. Temos a noção de toda a complexidade. Mas dificuldades e conflitos fazem parte da nossa condição nesse planeta. A verdadeira segurança só existe se os enfrentarmos e procurarmos formas saudáveis de se fazer isso.

Jornal Oecoambiental: A educação pode ser desenvolvida apenas com aulas remotas? Como você avalia a importância da convivência comunitária na formação e educação do ser humano para a vida em sociedade?

 Flávia: Eu não sou especialista em educação, ajudo as pessoas a conversarem, nada mais que isso. Mas eupessoalmente acredito que não, por vários motivos. Primeiro, por causa da falta de acesso de muitos estudantes a computadores e à internet. Segundo, porque somos seres sociais. Precisamos nos conectar com os outros. A educação não se faz só com a técnica, mas com o que a justiça restaurativa muito nos mostra: com o senso de coletividade; com o aprendizado frente às histórias e experiências dos outros; apoio mútuo, diferentes pontos de vista e olhares sobre um mesmo fato; pensamento crítico; oportunidades para que nossos sentimentos sejam acolhidos, compreendidos, nomeados por nós e por nossos pares.

  A convivência comunitária é o lugar de muitos conflitos, mas também um lugar de aprendizado, esforços comuns, troca. Em si, vida e educação só são possíveis com os outros. Eu penso que o ambiente virtual não tem todas as dimensões que precisamos para nos tornarmos seres humanos desenvolvidos em todas as nossas potencialidades.

Jornal Oecoambiental: Como você avalia os desafios que a sociedade brasileira e mundial está tendo que enfrentar diante o agravamento dos conflitos socioambientais?

Flávia:   Acho que a pandemia mostrou as grandes fragilidades da nossa sociedade. As dos sistemas de saúde mesmo nos países ricos; a importância de um meio ambiente equilibrado; o papel fundamental da ciência que não pode ser feito de acordo com interesses de grandes conglomerados econômicos, mas precisa de investimentos públicos e liberdade. O confinamento decorrente da Covid-19 mostrou a importância do papel da educação no funcionamento da sociedade. Escuto relato de muitos pais, sentindo-se desamparados sem o espaço e os cuidados das escolas. Há também as inúmeras doenças emocionais que chegam por causa do isolamento e falta de encontro, contato, mostrando o quanto somos seres sociais. Enfim, evidenciou que o progresso tecnológico é só uma parte. Há muito a ser feito em sociedade para que o nosso planeta seja um lugar habitável para todos; inclusive para os seres não humanos, pois é muito sério o modo como tratamos e confinamos, por exemplo, os animais.

 Jornal Oecoambiental: Você considera que é importante a participação da sociedade civil na busca de melhores condições de vida e meio ambiente?

Flávia: Claro! Nada avança sem mobilização social. A declaração dos direitos humanos nos ordenamentos não diz da sua efetividade. Diz o artigo 225, da nossa Constituição Federal, que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

  No entanto, vemos a questão dos agrotóxicos avançarem com pouco controle no Brasil; os rompimentos das barragens em Minas Gerais, como foi a de Mariana em 2005; a de Brumadinho em 2019, sabendo que estas não foram as únicas; o derramamento de óleo do nordeste, que eu pude inclusive presenciar no ano passado por ocasião de uma viagem, e verde perto as praias e animais tingidos de preto, lutando pela vida, e o desespero das pessoas perdendo seus paraísos e fontes de renda. 

   Há uma definição da ONU que diz que a paz é ausência de violência direta, incluindo a ausência de violência estrutural. Nesse sentido, não vivemos num mundo que fomenta o progresso pela via da paz. Também diz a ONU: “a paz passa agora a supor uma cooperação e uma troca social não violenta orientada para a criação em uma sociedade de estruturas mais equitativas e mais justas”. Precisamos então, nos conscientizar, nos organizar e construir soluções.

Jornal Oecoambiental: Qual mensagem você mulher, advogada e filósofa tem a dizer para a população com relação à construção de um mundo melhor e um meio ambiente mais saudável?

 Flávia Se eu posso dizer alguma coisa, é que nós não somos seres divididos, separados. Pertencemos a um todo e há um todo em nós mesmos. Através da minha experiência pessoal, eu diria: conectem consigo mesmos, prestem atenção nos seus chamados pessoais. E a partir de seus chamados e ou silêncios conecte-se aos outros. Peçam ajuda se mobilizem; precisamos transformar o mundo pensando também em visões mais coletivas e não somente as individuais. 







COMO DESPOLUIR AS ÁGUAS




SINDAGUA - MG

COMO DESPOLUIR AS ÁGUAS

      Em tempos de pandemia, os recursos naturais são cada vez mais foco de atenção por parte da sociedade. A água além de fundamental para a sobrevivência humana é um recurso natural essencial para a defesa da população diante a crise sanitária que o Brasil e o mundo vivenciam. Despoluir as águas é um desafio e uma exigência para que haja um combate eficaz à crise sanitária. Diante tantos problemas socioambientais é preciso que aconteçam atitudes locais de valorização dos recursos naturais.

    O Jornal Oecoambiental realizou uma entrevista com o presidente do sindicato dos trabalhadores que cuidam das águas e saneamento básico de Minas Gerais – Sindagua-MG.- Eduardo Pereira

   Esta entrevista faz parte de uma série de reportagens que estamos realizando sobre como despoluir as águas, rios, lagos e oceanos. Eduardo Pereira argumenta sobre sua experiência de trabalho na área de saneamento básico.

Jornal Oecoambiental: Eduardo, você é do interior de Minas Gerais? Fale um pouco sobre sua história.


 Eduardo: Meu nome é Eduardo Pereira de Oliveira, sou natural de Salinas, terra da cachaça, norte de Minas. Estou hoje presidente do Sindagua- MG.

Jornal Oecoambiental: Como está a situação da oferta de água durante a pandemia?

  Eduardo: No isolamento social durante a pandemia o consumo de água aumenta. As pessoas tomam mais banhos, lavam mais roupas. A água é o recurso natural principal para se evitar a contaminação. Não chegamos a sofrer uma crise hídrica. Nós passamos por uma crise em 2015. O que está ocorrendo são eventos pontuais. Em Cristália, norte de Minas, faltou água em 2015. Atualmente não está faltando água. Em Divisa Alegre, há falta água, mas não em decorrência da pandemia. O caso lá é porque a cidade não tem água. A cidade é abastecida via poços artesianos. Lá existem 26 poços artesianos. É uma característica da região.

 

  Jornal Oecoambiental: Os dados de Saneamento no Brasil quais são?

Eduardo: Segundo o Sistema Nacional sobre o Saneamento, com base em 2009 – 95,2% da população brasileira são atendidas com água, 52% com coleta de esgoto. Só que vale observar que apenas 37,9% dos esgotos gerados são tratados. Há certo déficit de abastecimento de água que ainda representa uma boa parte da população que é esquecida pelas iniciativas privadas. Nos grandes centros não falta água. Este percentual é onde as empresas, mesmo as públicas, têm dificuldade de chegar que é na zona rural. Onde há um distanciamento entre uma casa e outra. Há uma dificuldade muito grande do alto custo que é colocar uma tubulação de água para levá-la a estas comunidades. Este déficit é muito pelo distanciamento das pessoas que se localizam na zona rural. Com relação ao tratamento de esgoto, vale lembrar que no Brasil o tratamento de esgoto ainda é uma coisa muito nova. O Brasil tem 37,9% dos esgotos que são coletados, mais ainda com uma deficiência questionável, vamos dizer assim. A legislação pede 60% de eficiência mínima. As empresas tendem a atingir esta pequena eficiência. É uma situação que tem que aprofundar muito. Tem que haver um aprofundamento melhor com relação à coleta, tratamento de esgotos e as eficiências.

Jornal Oecoambiental: E aqui em Minas Gerais, como está a situação?

  Eduardo: Em Minas Gerais, nós que somos mineiros, temos muitas experiências a passar para o resto do Brasil. Isto porque Minas é um estado muito grande, 853 municípios com diversas desigualdades entre si. Você pega aí Nova Lima, uma cidade que tem um IDH próximo a oito, altíssimo. Com um índice de atendimento à população muito grande. Aí você vai para outras regiões de Minas, por exemplo, Jequitinhonha, onde encontramos a zona rural, o índice de atendimento, o alcance de água tratada diminui.  As desigualdades de nosso estado acabam afetando a oferta do abastecimento de água da população. Então isto não é culpa da empresa, de uma empresa pública, da Copasa. Isto é um problema do estado. O nosso estado é muito desigual. Você pega, por exemplo, a cidade de Divisa Alegre. É uma cidade muito pequena, deficitária, que dá prejuízo para a Copasa e lá não tem água. Lá o abastecimento é feito através de poços artesianos. Lá hoje há 26 poços artesianos e só seis funcionam. Então a Copasa tem um sacrifício, levando prejuízo em termos de custos ao levar água para a população e com a mesma qualidade daqui de Belo Horizonte. Isso porque a Copasa trabalha com subsídio cruzado. Ou seja, ela tem que pegar o investimento daquelas cidades onde há lucro e subsidiar aquelas cidades que dão prejuízo, como o caso de Divisa Alegre que é uma cidade totalmente deficitária. Lá uma empresa privada não vai querer ficar. Não tem mágica. Quando uma empresa privada levar em conta a arrecadação de uma cidade como Divisa Alegre, vai ter que custear a despesa operacional. Eles vão ter que rever na tarifa, a conta entre o gasto e a receita e teria que aumentar a tarifa. O que aumentaria ainda mais a desigualdade entre muitas cidades de Minas e as cidades maiores. Por isto que a gente defende aqui a Copasa como uma empresa pública. Ela não leva em consideração as cidades que dão prejuízo.  Melhor dizendo, estas cidades são subsidiadas pelas cidades maiores. 

   Com relação ao tratamento de esgoto, Minas Gerais tem uma grande deficiência em relação ao tratamento de esgoto. Isto não é uma coisa do estado de Minas, mas do Brasil. Diversas cidades em Minas já tem seu tratamento de esgoto, sua coleta, mas a grande dificuldade é que devido às desigualdades em Minas, os clientes não conseguem pagar água e esgoto. Em algumas prefeituras por questão de cautela e proteção política, algumas acabam não repassando a concessão de esgoto para uma empresa pública e nem para uma empresa privada. Porque senão a população vai pagar o que hoje é de graça. O administrador da prefeitura, mesmo que o esgoto é jogado no rio, mesmo sabendo desta deficiência, alguns prefeitos, municípios, eles não querem passar a concessão porque eles sabem que a população vai ter que pagar. Isso é normal.  Seja uma empresa pública ou privada ela vai cobrar por este serviço. Então não é um serviço gratuito. Quando a gente fala nesta questão de déficit que Minas Gerais possui na coleta e tratamento de esgoto é complexo. Porque não é um déficit por culpa da Copasa que é uma empresa pública. Mas sim pela desigualdade que tem nosso estado.  Nós somos sabedores que a concessão de tratamento de esgoto gera um custo para a população. É muito bom ter ciência disso.

Temos aqui experiência onde a Copasa não operava o esgoto, vale lembrar que operar a concessão de esgoto não é uma questão impositiva da Copasa. O município tem que passar para a Copasa, se for o caso.  A Copasa está querendo pegar todas as concessões de esgoto de Minas Gerais. Ela não pega é porque as concessões não chegaram para ela ainda. Estes lugares, principalmente cidades pequenas, onde o pessoal pagava vinte, vinte e cinco reais de água. Quando a Copasa passou a operar a questão da coleta e tratamento, o cliente passou a pagar cinqüenta. Começaram a pagar o tratamento e a coleta de esgoto. Este que é o grande problema. A população pede o tratamento de esgoto, mas ela não quer pagar.  Uma empresa privada não dá esta liberdade da população pagar ou não. Simplesmente quando pegar esta concessão isto é impositivo, vai pegar e vai ter que pagar.  É uma ocorrência muito injusta quando se fala da questão da concessão de água e de esgoto, comparando uma empresa pública com a privada.  A empresa pública chega à cidade e ela tem que ter “um jogo de cintura”, vai dizer assim, uma política local para que o cliente não fique insatisfeito com a cobrança que vai gerar. Uma empresa privada não está nem aí.  Colocou hoje ali e vai começar a cobrar amanhã. No mês que vem não pagou cortou.  Então estas coisas têm que ser bem avaliadas, bem aprofundadas para que a gente possa mostrar para a população o que é de fato importante neste contexto na luta contra a privatização.

Jornal Oecoambiental: Como avaliar a situação das águas com relação ao meio ambiente?

Eduardo: Esta questão do meio ambiente me preocupa muito. Nós vimos aí o desastre ambiental que a mineradoras causaram em Mariana, em Brumadinho, no Fundão. Não vimos até agora um culpado. Você não vê a população falar da mineradora. Agora você vê alguns políticos quererem detonar a Copasa porque é uma empresa pública. A ação da mineradora, porque é uma empresa privada é como se tivesse sido normal. Aconteceu lá a tragédia. Mataram várias pessoas. Causaram um crime ambiental que nós estamos pagando até hoje por isso.  A qualidade da água onde aquela lama correu vai demorar anos para ser a mesma. E ficou por isso: um desastre ambiental muito grande sem uma repercussão adequada para o tamanho do desastre. Isso me preocupa muito. Vimos também à questão das queimadas que estão acontecendo na Amazônia.  Aqui em Minas Gerais você vê algumas queimadas e aí você fica preocupado aqui.  O que acontece na Amazônia essa sensação de “normalidade” reflete no Brasil inteiro. Não é normal.

  A Copasa por ser uma empresa pública, ela é muito parceira do meio ambiente. Isso aí a mídia não divulga as ações socioambientais que a Copasa faz.  A Copasa tem um programa socioambiental de recuperação de águas coordenado pela administração da empresa que é um programa muito bonito. E que dá um retorno muito grande para os municípios, principalmente os municípios pequenos.  É o “Pró-mananciais”. É um programa socioambiental de recuperação e preservação de águas coordenadas pela Copasa. Vou dar um exemplo: Salinas é uma cidade de quarenta e dois mil habitantes. É a minha terra. Uma cidade onde a Copasa opera a água e esgoto. Tem uma  eficiência de 90% em termos de tratamento de esgoto e mesmo assim com uma concessão deficitária, a Copasa investe muito naquela região. Matrona é um distrito de Salinas. Não é uma cidade, é um vilarejo de Salinas, uma comunidade, só em 2019 a Copasa executou ali 61 bacias de contenção de águas de chuva, 25 lombadas e quatro mil metros de cerca. Isso aí só no ano de 2019. No Vale do Bananal na região de Salinas a Copasa colocou lá 6500 metros de elevação de estradas, 188 bacias de contenção e 2332 metros de cerca, tudo isso aí na região de Salinas. Não bastasse isso na região de Taiobeiras, a Copasa conseguiu colocar através do “Programa Pró- mananciais” e pelo “Colmeia” – que é o coletivo local de meio ambiente criado pela Copasa, colocou 49 bacias de contenção de águas de chuvas, 20 lombadas na barraginha que tem lá, 3576 metros de cercamento, 70 bacias de contenção de águas de chuvas. Isso só na cidade de Taiobeiras.  Na cidade de Rio Pardo de Minas, 122 bacias de contenção de águas de chuvas, 19840 metros de adequação de estradas, ou seja, estradas ecológicas, 43 lombadas e 1140 metros de ATP, na região de Rio Pardo de Minas. Em Divisa Alegre, uma cidade bem pequena, na divisa com a Bahia, totalmente deficitária, a Copasa construiu 179 bacias de contenção de águas de chuvas, 22 mil metros de adequação de estradas, estradas ecológicas que têm ali bacias de contenção. Na região de São João do Paraíso, 10376 metros de cerca, 10 mil metros de adequação de estradas.  Em Vargem Grande do Rio Pardo, 250 bacias de contenção, 20 metros de adequação de estradas, 54 lombadas, 9.407 metros de cercamento na barragem de Olhos D’água. São ações que a imprensa não divulga.   Isso aí a mídia não divulga as ações socioambientais que a Copasa faz. A Copasa é muito parceira do meio ambiente. Ela através do “Programa Pró-mananciais”, com a parceria com os municípios, vem protegendo e recuperando várias nascentes que fazem parte do manancial de águas operado por esta empresa. Claro que não citei todas as ações que a Copasa faz aqui no norte de Minas, como Curral de Dentro, Coronel Murta, Águas Vermelhas, são diversas ações.

Jornal Oecoambiental: Por que, em sua opinião, há tanta poluição das águas ainda com o esgotamento sanitário, como na região da Pampulha em Belo Horizonte?

Eduardo: Ótima pergunta. Pense na Copasa como se fosse um mascate, ela passa em frente a sua casa oferecendo uma rede de esgoto para coleta e tratamento, mas para isso ela te cobrará 90% de sua fatura de água. O problema é que a empresa não pode obrigar o cliente a ligar o esgoto em sua rede. E muitas vezes o cliente não liga para não pagar. O que gera lançamento clandestino em alguns lagos e rios. Não posso afirmar se isso ocorre na região da Pampulha, pois não conheço a situação “in loco”, mas no geral é assim. Outro fator que devemos considerar é o percentual de tratamento. Hoje a legislação pede uma eficiência mínima de tratamento de 60% e este percentual quando lançado em um rio com pouca vazão deixará a água com um aspecto de esgoto. Vale lembrar que o efluente tratado com 60% ou 90% continua sendo esgoto, porém tratado. O nome correto para este líquido é efluente tratado. Às vezes a população questiona sobre o cheiro ou aspecto, mas muitas vezes a empresa está bem acima do que a legislação pede.

   Vou te dar um exemplo: Salinas trata o esgoto com uma eficiência de 90% e lança no rio com pouca vazão e a população sempre fala que a Copasa está jogando esgoto no rio.

Jornal Oecoambiental: Há solução para despoluir as águas? Por que isso não é priorizado?

 Eduardo: Primeiro precisamos de saneamento, o que significa água tratada, esgoto tratado e drenagem de água pluvial e coleta e tratamento adequado do lixo. A água é retirada dos mananciais para, no nosso caso, abastecimento humano. A água passa por diversos processos que a transforma em esgoto e este deve ser tratado, conforme disse antes e ser devolvido aos rios ou lagos. As drenagens de água pluvial são muito importantes neste processo, pois, se bem planejadas para escoamento com destino aos rios, evitam junto com ela levar lixos e vários tipos de impurezas. Por último, temos o lixo que aqui no Brasil 99% são jogados de qualquer jeito em aterros controlados (para mim são aterros descontrolados) que afetam diretamente o lençol freático, nossa caixa d”água natural. O ciclo hidrológico é muito bonito e tudo tem que ser devolvido. O homem usa a água e tem que a devolver de alguma forma. A solução que vejo é o uso sustentável dos recursos hídricos sem deixar o viés econômico sobrepor o social e o ambiental, sendo que a privatização provoca grande desequilíbrio.

  Ainda sobre a prioridade de despoluição das águas, tudo tem um preço, seja pequeno ou grande.  Infelizmente os políticos não gostam de investir onde não tem visibilidade e não traz retorno de voto, deixando de lado e jogando sua responsabilidade para o setor privado. Enfim, falta educação ambiental para todos nós brasileiros para que coloquemos o meio ambiente em primeiro lugar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

VINHOS ORGÂNICOS - VINÍCOLA EMILIANA

 OS VINHOS ORGÂNICOS ESTÃO EM SEU MELHOR MOMENTO DEVIDO AO SURGIMENTO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS

    Estes tipos de vinhos detêm atualmente 3,5% do mercado vitivinícola. Espera-se que 1 bilhão de garrafas sejam vendidas em 2023



   Uma das tendências de consumo que vem se consolidando fortemente, há alguns anos, é a de produtos orgânicos, e o vinho não foge à regra.



  Embora esta categoria detenha apenas 3,5% do mercado mundial de vinhos, o seu consumo tem vindo a aumentar, e a prova disso é que, em 2013, foram comercializadas 441 milhões de garrafas de vinhos biológicos, mas prevê-se que em 2023 o número aumente para um trilhão.

    Embora tenha começado na Europa, onde os consumidores são mais exigentes em relação às condições de produção e às práticas de sustentabilidade das empresas, essa tendência vem ganhando força nos países da América Latina.

“Começamos na Europa, que ainda é o nosso mercado mais consolidado, mas a Ásia e a América Latina têm crescido 20% ao ano, a ponto de a América Latina ser o continente com maior crescimento para nós”, explica Alejandro Smith, gerente de exportação para Latam da Emiliana Organic Vineyards, a maior vinha orgânica do mundo.

  E é que apesar de existirem muitas falsas crenças que associam orgânico ao hippie ou a uma moda da elite urbana, esses produtos são sinônimos de processos de fabricação rigorosos, exigidos pelos requisitos de acesso às certificações de produtos , e o mito de que os vinhos, por serem orgânicos, são mais caros ou de qualidade inferior que os tradicionais, desmoronou.

“Começamos a migração para o orgânico em 1998 por preocupação com a saúde de nossos trabalhadores, estaria mentindo se dissesse que havia uma visão empresarial naquela época. Porém, quando vimos que ganhamos o prêmio de melhor vinho chileno em uma degustação às cegas com nossa primeira safra, entendemos que era possível fazer um produto orgânico de excelente qualidade, e o próximo desafio era diminuir os custos de produção. Hoje conseguimos equilibrar o campo e competir em igualdade de preços em todas as categorias e nossa linha Adobe, com a qual queremos democratizar o vinho orgânico, já possui 11 variedades e representa 80% da nossa produção ”, disse Smith. Isto representa um volume importante, considerando que a vinha tem 1.200 hectares plantados e produz entre 10.000 e 12.

OS CONTRASTES

“O mercado de vinhos orgânicos vem crescendo a uma taxa anual de 20% na América Latina, é o continente que mais cresce no mundo.” Alejandro Smith Gerente de Exportação Latam de Emiliana.

Agora, com a pandemia, a demanda por produtos saudáveis, limpos e certificados, feitos sob as mais rígidas práticas de sustentabilidade ambiental, está aumentando, então os produtores de vinho orgânico esperam que a demanda por seus produtos continue a crescer de forma constante.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

EXECUTIVOS LANÇAM PRINCÍPIOS PARA INTEGRAR OBJETIVOS GLOBAIS ÀS FINANÇAS

 Executivos lançam lista de princípios
 para integrar objetivos globais às finanças

Fonte: ONU - Brasil
  • A Força-Tarefa de CFOs do Pacto Global das Nações Unidas lançou em setembro os princípios para finanças e investimentos integrados aos ODS.
  • Os princípios buscam orientar as empresas no alinhamento de seus compromissos de sustentabilidade com estratégias de finanças corporativas confiáveis para criar impacto relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Foto: EBC

Força-Tarefa de CFOs do Pacto Global lançou em setembro os princípios para finanças e investimentos integrados aos ODS. Os princípios buscam orientar as empresas no alinhamento de seus compromissos de sustentabilidade com estratégias de finanças corporativas confiáveis para criar impacto relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Lançado paralelamente à histórica 75ª sessão da Assembleia Geral da ONU, 34 Diretores Financeiros e Executivos C-level - membros da Força-Tarefa de CFOs do Pacto Global - apontaram quatro áreas principais que são relativamente mal atendidas, mas essenciais para os investimentos alinhados aos ODS: impacto e medição; estratégias e investimentos; finanças corporativas; comunicação e relatórios dos ODS integrados.

O objetivo é trabalhar com a cadeia de valor de investimento, incluindo investidores, bancos, instituições financeiras de desenvolvimento, agências de classificação de crédito e empresas de avaliação de sustentabilidade para criar um mercado amplo, líquido e eficiente para investimentos de ODS e fluxos de capital.

“Os Princípios para Finanças Corporativas alinhados aos ODS permitem que o ecossistema financeiro amplie o financiamento e os investimentos em relação aos ODS para garantir que não deixemos ninguém para trás", disse Sanda Ojiambo, CEO e diretora-executiva do Pacto Global da ONU.

"Essa é a coisa certa e oportuna a se fazer, já que o sucesso de longo prazo dos negócios está intimamente ligado a um futuro sustentável para todos."

Conheça os Princípios:

1 - Impacto nos ODS e mensuração

2 - Estratégia e investimentos integrados aos ODS 

3 - Finanças corporativas integradas aos ODS

4 - Comunicações e relatórios integrados aos ODS

Clique aqui para acessar o texto completo.

Lista de empresas participantes da força-tarefa de CEOs: China Development Bank; Federated Hermes; Iberdrola; Moody’s Corporation; Sinopec; Sompo Asset Management; Vieira De Almeida Legal Partners; AB InBev; BASF; Braskem; Danone; Enel; Engie Impact; Eni; FCC Construcción; Ford; Givewith; Global Impact Initiative; Grupo Nueva Pescanova; IDB; Jacobs; Leonardo; PIMCO; Pirelli; RWE; SkyPower Global; SNAM; Societe Generale; Stantec; Terna; Tesco; Turkcell; Unilever; Verizon

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

PROFESSORA DO RIO DE JANEIRO CRIA "KIT ABRAÇO" VISITANDO ALUNOS DURANTE A PANDEMIA

 

Professora cria 'kit abraço' para visitar 
alunos da rede municipal do Rio durante 
a pandemia

  • Sentindo saudades e cansada de ver os alunos somente por meio da tela de um computador, a professora do ensino fundamental Maura Silva, de 47 anos, decidiu agir. Comprou e confeccionou dezenas de capas de chuva, máscaras e luvas descartáveis para visitar, pessoalmente, 55 alunos da rede municipal de ensino da Prefeitura do Rio de Janeiro (RJ).
  • Em dois dias do mês de julho, abraçou dezenas de estudantes que vivem nos bairros periféricos de Padre Miguel, Realengo e Bangu - sempre protegendo a si mesma e as crianças para evitar infecção por COVID-19. A atitude deixou alunos, pais e mães emocionados.
  • "Foram sete horas de carreata. Só não visitei mais alunos (no mesmo dia), porque muitos não estavam em casa", contou a professora em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).
FONTE: ONU - Brasil

A professora carioca Maura Silva, de 47 anos, visitou seus alunos no Rio de Janeiro usando equipamentos de proteção. Foto: Acervo Pessoal

Sentindo saudades e cansada de ver os alunos somente por meio da tela de um computador, a professora do ensino fundamental Maura Silva, de 47 anos, decidiu agir. Comprou e confeccionou dezenas de capas de chuva, máscaras e luvas descartáveis para visitar, pessoalmente, 55 alunos da rede municipal de ensino da Prefeitura do Rio de Janeiro (RJ).

Em dois dias do mês de julho, abraçou dezenas de estudantes que vivem nos bairros periféricos de Padre Miguel, Realengo e Bangu - sempre protegendo a si mesma e as crianças para evitar infecção por COVID-19. A atitude deixou alunos, pais e mães emocionados.

"Foram sete horas de carreata. Só não visitei mais alunos (no mesmo dia), porque muitos não estavam em casa", contou a professora em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Em dois dias do mês de julho, abraçou dezenas de estudantes que vivem nos bairros periféricos de Padre Miguel, Realengo e Bangu - sempre protegendo a si mesma e as crianças para evitar infecção por COVID-19. Foto: Acervo Pessoal

O evento surpresa foi combinado com antecedência com os pais dos alunos, que concordaram em proteger as crianças com as máscaras e as capas de chuva. Quando chegava às residências, a professora tocava músicas usadas em sala de aula. Era a dica para os pais levarem as crianças ao portão de casa.

"É impossível lembrar disso e não chorar", contou a professora ao detalhar a experiência. "Tive vontade de não soltar mais, de continuar abraçando. Consegui me lembrar do cheiro de cada um, do cabelo, da mãozinha", disse.

"Não acredito em uma pedagogia sem afeto. Não é possível fazer uma criança querer descobrir o mundo ou descobrir suas potencialidades se ela não for envolvida pelo coração."

Com a intensificação da pandemia de COVID-19 no Brasil, em março, as escolas do país precisaram ser fechadas, deixando cerca de 35 milhões de crianças e adolescentes longe das salas de aula.

Foram criadas opções para a continuidade da aprendizagem em casa, mas nem todos estão conseguindo manter o processo de aprendizagem – em especial os mais vulneráveis.

A professora relatou algumas das dificuldades do ensino a distância, agravadas pela dificuldade de acesso à Internet. "Tenho 57 alunos nas duas turmas. Nem todos conseguem se conectar", declarou.

"Há mães que não têm Internet, mas colocam crédito (no celular) para usar os dados móveis na hora da aula. Algumas pedem a senha da Internet dos vizinhos", contou. "Também há aquelas que trabalham. Essas eu atendo à noite."

A jornada de trabalho de Maura Silva também está mais intensa, uma vez que ela se esforça para atender as necessidades de pais e alunos. "Tenho pais semianalfabetos, analfabetos funcionais, que não sabem muito bem como explicar, como chegar à criança, como falar com ela para fazer aquele trabalho."

"O tempo todo eles me solicitam porque não entendem alguma coisa. A dificuldade é essa. O pai não está preparado para o contato via computador e a criança também não."

O evento surpresa foi combinado com antecedência com os pais dos alunos, que concordaram em proteger as crianças com as máscaras e as capas de chuva. Foto: Acervo Pessoal

A pandemia de COVID-19 criou a maior perturbação educacional da história e o fechamento prolongado de escolas pode consolidar ainda mais as desigualdades no acesso à aprendizagem, alertou no início deste mês o secretário-geral da ONU, António Guterres.

A ONU estima que a pandemia tenha afetado mais de 1 bilhão de estudantes em todo o mundo. Apesar dos esforços para continuar aprendendo durante a crise, inclusive por meio de aulas por rádio, televisão e online, muitos ainda não estão sendo alcançados.

Maura Silva dedica a maior parte de seu dia a tornar a experiência do ensino a distância menos desgastante. Para isso, transformou a sala de estar de sua casa em uma sala de aula. Além disso, investe em atividades que os alunos possam realizar em família.

"Peço que assistam a filmes, mando um livro por Whatsapp que eles possam ler juntos e me mandar um retorno. (...) Peço coisas que sejam possíveis, porque esse aprendizado agora é da família também, não só da criança", contou.

Na opinião da professora, a escola deve se abrir para as famílias dos alunos, mesmo após o fim da pandemia. "A função do professor é tirar aquela cortina do mundo e fazer com que as crianças percebam que têm um mundo imenso lá fora do portão de casa e da escola, e que está dentro dela (a possibilidade) de descobrir o que fazer. E a família tem que fazer parte desse processo."

Apesar de prever realizar novas visitas às residências dos estudantes, Maura Silva diz desejar revê-los em breve em sala de aula, quando for possível fazê-lo. "Porque é ali que as coisas mágicas acontecem, é ali o nosso mundo", concluiu.

UNICEF: é urgente buscar cada criança e adolescente que não conseguiu se manter aprendendo

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou no fim do mês passado (24), em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Busca Ativa Escolar em Crises e Emergência.

Trata-se de um guia para apoiar estados e municípios na garantia do direito à educação de crianças e adolescentes em situações de calamidade pública e emergências, como a pandemia da COVID-19.

“Não há como definir uma data única de volta às aulas presenciais no país, que tem de ser decidida de acordo com a situação epidemiológica de cada estado e município", explicou Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

“Mas a preparação das redes escolares para a reabertura de maneira segura deve ser prioridade absoluta em todo o país, assim como a busca ativa de quem não está conseguindo aprender com as escolas fechadas”, defendeu.

Além de encontrar meninas e meninos que estão fora da escola, ou em risco de evadir, é fundamental preparar as escolas para receber os estudantes em segurança, mitigando os riscos de infecção pelo novo coronavírus, alertou o UNICEF.