FONTE: ONU BRASIL
A Organização para a Alimentação e Ag ricultura (FAO), por meio do programa “Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial” (SIPAM), ajuda a preservar o patrimônio agrícola que protege a biodiversidade.
Veja quatro exemplos desta convivência harmoniosa entre agricultura e biodiversidade apoiados pela FAO no Brasil, Portugal, Sri Lanka e Egito.
A biodiversidade constitui um elemento essencial em nossos ecossistemas globais e fornece a base para práticas agrícolas e produção de alimentos. É essencial para o nosso bem-estar e segurança alimentar, mas muitas vezes é ameaçado pelas nossas atividades.
Em alguns lugares, no entanto, os agricultores aprenderam a trabalhar em harmonia com o meio ambiente e usar o conhecimento transmitido ao longo dos séculos para implementar práticas sustentáveis e proteger a biodiversidade em seus ecossistemas circundantes. Esses agricultores e comunidades rurais imaginaram e implementaram maneiras engenhosas de conservar, preservar e usar de forma sustentável a biodiversidade, ao mesmo tempo em que protegem seus meios de subsistência e as paisagens únicas em que vivem.
Por meio do programa “Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial” (SIPAM), a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) ajuda a preservar o patrimônio agrícola que protege a biodiversidade essencial ao nosso meio ambiente, proporcionando meios de subsistência para as comunidades rurais. A transmissão de conhecimento nessas comunidades tem sido essencial para garantir a subsistência e conservar e preservar a biodiversidade essencial para o planeta como um todo.
Aqui estão quatro exemplos mundiais de sítios SIPAM que estão ajudando a conservar e preservar a biodiversidade:
Brasil - A Serra do Espinhaço no Brasil é uma das savanas mais biodiversas do planeta. As comunidades apanhadoras, conhecidas como “Apanhadoras de flores Sempre-vivas”, estabeleceram um sistema agrícola complexo que co-evoluiu com o meio ambiente. Através de uma profunda compreensão dos ciclos naturais e ecossistemas, bem como do conhecimento do manejo da flora nativa, essas comunidades têm conseguido conservar a biodiversidade e a agrobiodiversidade para viver em harmonia com o meio ambiente.
As coletoras e coletores de flores Sempre-vivas dependem do ambiente ao redor para sua segurança alimentar e meios de subsistência. Cerca de 90 espécies de culturas como hortaliças, frutas e tubérculos são cultivadas para suas necessidades diárias em hortas agroflorestais. Elas também cultivam milho e arroz em grandes fazendas, coletam produtos cultivados naturalmente, criam animais em pastagens comuns e colhem flores nas terras altas. Essas comunidades incorporaram a preservação do ecossistema e da biodiversidade em sua cultura. Por exemplo, a comunidade garante o acesso sustentável à flora nativa por meio de regras tradicionais baseadas em seu conhecimento dos ciclos naturais e da intensidade da colheita para salvaguardar a reprodução das espécies.
Portugal - Localizado no norte de Portugal, Barroso é uma região agrícola que inclui uma mistura de pastagens, florestas naturais, gado, aldeias e hortas. Este sistema harmonioso abriga uma abundância de agrobiodiversidade que vai desde raças de gado únicas e variedades de batata a florestas de carvalhos com flora e fauna raras.
A gestão social das terras comuns e dos animais pelas comunidades é uma característica única desse sistema que preservou o meio ambiente ao mesmo tempo em que proporciona meios de subsistência. As pastagens comuns são de propriedade coletiva onde os pastores agrupam seus rebanhos e se revezam para pastoreá-los com base no número de gado que possuem. O papel dos rebanhos domésticos é significativo na manutenção dos ecossistemas, pois o pastoreio combinado de ovinos e caprinos contribui diretamente para o controle de arbustos e vegetação, reduzindo os riscos de incêndio – principal ameaça à produção agroflorestal e à biodiversidade regional.
O conhecimento adaptado das comunidades sobre a terra tem garantido práticas de subsistência que preservam a biodiversidade e não prejudicam o ecossistema existente.
Sri Lanka - Na parte mais alta do Sri Lanka, a produção agrícola pode ser severamente limitada por chuvas muito baixas, especialmente na estação seca. No entanto, as comunidades dessa área adotaram estratégias ao longo do tempo para se adaptar às condições climáticas e garantir o abastecimento de água por meio da construção de cisternas.
O sistema é composto por cisternas, arrozais, matas e hortas, que estão interligados por um único sistema de gestão de água que contém as inundações e distribui e retém água ao longo do ano. Essa adaptação, além da piscicultura e práticas agrícolas sustentáveis, preservou a biodiversidade que ali se desenvolveu.
Existem 226 espécies de plantas nessa área. Além disso, são cultivadas variedades endêmicas de arroz, que também são resistentes à seca. Nesse sistema específico, que evoluiu ao longo de quase dois mil anos, as comunidades do sistema cisterna-aldeia aprenderam a conviver com animais selvagens, garantindo que suas práticas de subsistência preservem os ecossistemas naturais.
Egito - O Siwa Oasis é um exemplo da capacidade dos agricultores de adaptar a agricultura a condições climáticas adversas. O oásis, localizado em um deserto com características especiais, é composto por uma estrutura de telhado de três camadas, que oferece uma forma eficiente de produzir alimentos e animais e preservar a vida selvagem, ao mesmo tempo em que maximiza o uso de um recurso escasso: a água.
Neste sistema predomina o cultivo de tamareiras, que são consorciadas com outras culturas, como oliveiras e alfafa. No total, existem 46 espécies diferentes de culturas. Siwa Oasis também fornece um habitat e água para a vida selvagem, como anfíbios, répteis e muitas variedades de pássaros. Este sistema adaptado criou um microclima para a produção agrícola, que é vital para a subsistência e segurança alimentar da comunidade, e também um refúgio para a vida selvagem do deserto quente. A gestão hídrica do sistema também permitiu a preservação do recurso e facilita as práticas de cultivo ao longo do ano.