sexta-feira, 16 de outubro de 2009

CONFERÊNCIA DE SAÚDE AMBIENTAL DO RIO DE JANEIRO




                    AS CORES DA NATUREZA 10 
               Série de fotos enviadas por Tereza. Um grande abraço.

 1ª Conferência de Saúde
Ambiental do Rio de Janeiro
Evento será realizado de 16 a 18 de outubro, na UERJ

     Para definir diretrizes para a política pública integrada no campo da saúde ambiental, de 16 a 18 de outubro, será realizada a 1ª Conferência Estadual de Saúde Ambiental do Rio de Janeiro. Os ministros José Gomes Temporão (Ministério da Saúde), Carlos Minc (Ministério do Meio Ambiente) e Marcio Fortes (Ministério das Cidades) participarão da abertura do evento, prevista para as 18h, no Teatro Odylo Costa Filho da na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
   A realização da Conferência é resultado da parceria entre os ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Cidades, estados, municípios, movimentos sociais, organizações não governamentais e sociedade civil.
   O Rio de Janeiro realizou 15 conferências regionais preparatórias para a etapa estadual. As conferências são norteadas por três eixos: desenvolvimento e sustentabilidade socioambiental; o trabalho, ambiente e saúde, além da educação; e construção de políticas e territórios sustentáveis.
Os delegados eleitos na etapa estadual representarão o estado na 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambiental, que será realizada de 9 a 12 de dezembro, em Brasília. (CNMA - MMA)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CONFERENCIA SAÙDE AMBIENTAL

I CONFERÊNCIA  NACIONAL

DE SAÚDE AMBIENTAL

I CNSA


          A ação humana sobre a natureza tem causado impactos cada vez mais graves sobre a saúde humana e os ecossistemas do planeta. Associada a um panorama de desigualdades sociais e econômicas, a degradação ambiental aponta para conseqüências que já vivemos no presente: o esgotamento dos recursos naturais; os processos acelerados de desertificação; a intensificação de eventos climáticos extremos; a crise urbana relacionada à carência de serviços de saneamento básico, habitação, transporte e segurança pública; poluição química de ambientes urbanos e rurais; e a emergência e reemergência de doenças.
         Estes problemas são interdependentes, seus impactos vão além das fronteiras locais e seus efeitos são produzidos e sentidos pelas populações. A busca de soluções para este quadro diversificado requer a formulação e gestão de políticas públicas interdisciplinares, integradas, intersetoriais, participativas e territorializadas. Neste sentido, surge a 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambiental, a ser realizada em três etapas (municipais, estaduais e nacional), tendo como tema “A saúde ambiental na cidade, no campo e na floresta: construindo cidadania, qualidade de vida e territórios sustentáveis”.
         A 1ª Conferência em Saúde Ambiental é uma iniciativa dos Conselhos Nacionais de Saúde, Cidades e Meio Ambiente atendendo às deliberações das Conferencias Nacional de Saúde (13ª), Cidades (3ª) e de Meio Ambiente (3ª). Instituída por meio de Decreto Presidencial, tem como lema: “Saúde e Ambiente: vamos cuidar da gente! e como tema “A saúde ambiental na cidade, no campo e na floresta: construindo cidadania, qualidade de vida e territórios sustentáveis”.
 A etapa nacional da 1ª CNSA ocorrerá em Brasília-DF, de 9 a 12 de dezembro de 2009.

MEIO AMBIENTE E CONSUMO


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ENTREVISTA DE FREI BETTO SOBRE MEIO AMBIENTE, O BRASIL E MARINA SILVA


                                            Foto: Frei Betto

FREI BETTO FALA COM EXCLUSIVIDADE  AO JORNAL OECOAMBIENTAL SOBRE O BRASIL E SOBRE MARINA SILVA


FB: Marina Silva, se candidata, fará com que as eleições de 2010 não fiquem de olho no passado, avaliando os 8 anos de governo Lula, e sim de olho no futuro, debatendo o projeto Brasil e o desenvolvimento sustentável. Penso que ela é a melhor candidata.

Jornal Oecoambiental:  Frei Betto, qual avaliação que você faz sobre a conjuntura atual do Brasil ?

Frei Betto: O Brasil avançou em muitos aspectos com o governo Lula: política externa, redução da miséria absoluta, integração e soberania da América Latina, equilíbrio fiscal etc. Porém, este governo nos deve as reformas de estruturas tão prometidas historicamente pelo PT: agrária, tributária, política, educacional, sanitária etc. Ainda convivemos com 30 milhões de miseráveis; 15 milhões de analfabetos; alto índice de mortalidade infantil; e violência urbana.

  
J. Oecoambiental: Como você vê a participação da sociedade civil na política brasileira hoje ?

FB: A sociedade civil parece se indignar cada vez mais com os desconcertos éticos de nossa classe política, mas reage pouco em se tratando de mobilização e pressão


 J. Oecoambiental : Qual sua opinião sobre a situação socioambiental no Brasil e no mundo ?



FB: Trágica. A Terra já perdeu 25% de sua capacidade de autoregeneração. Urge a intervenção da ação humana. Espero que, na Conferência de Conpenhague, em dezembro, os chefes de Estado do mundo se comprometam a tomar medidas efetivas para reduzir o aquecimento global.
 
J. Oecoambiental : Sobre sua atividade como escritor, quais foram seus últimos livros publicados ?



FB: Este ano publiquei, pela Rocco, “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” e, pela Agir, o livro de contos “Aquário Negro”. Ainda em novembro a Rocco lança a nova edição de meu romance sobre Jesus, agora com novo título: “Um homem chamado Jesus”. E é possível que, pela Mercuryo Jovem, seja editado um livro infanto-juvenil, “Maricota e o Alfabeto”.

J. Oecoambiental:  De suas reflexões sobre o poder, retratadas nos livros  "A Mosca Azul" e "Calendário do Poder," como você avalia a formação política do povo brasileiro, dos parlamentares, representantes do executivo. Como exercer o poder sem corrupção ?


FB: O único modo de se evitar a corrupção é através do controle efetivo da sociedade e de uma profunda reforma política. Nesse sentido, a ONG Transparência Brasil presta um excelente serviço ao acompanhar com lupa o procedimento de nossos políticos.

J. Oecoambiental:  Uma novidade no cenário político brasileiro é o movimento pela candidatura de Marina Silva a Presidência da República. Como você avalia a candidatura de Marina Silva Presidente ? 


FB: Marina Silva, se candidata, fará com que as eleições de 2010 não fiquem de olho no passado, avaliando os 8 anos de governo Lula, e sim de olho no futuro, debatendo o projeto Brasil e o desenvolvimento sustentável. Penso que ela é a melhor candidata.

 J. Oecoambiental: A história de Marina Silva está ligada a teologia da libertação. Como você avalia a Senadora Marina Silva no exercício do poder, sua passagem pelo  Ministério do Meio Ambiente e agora  no Senado Federal ? 


FB: Marina Silva prima pela ética e pela competência. Infelizmente, como ministra do Meio Ambiente, faltou-lhe o devido apoio dentro do próprio governo. A depender dela teria cessado o desmatamento da Amazônia e os transgênicos não seriam aprovados.

J. Oecoambiental: O que uma eleição da Senadora Marina Silva significa para o Brasil e para o mundo ?


FB: A continuidade de tudo que há de positivo no governo Lula e a viabilidade de reformas de estruturas pelas vias pacífica e democrática.

J. Oecoambiental: O que o Frei Betto diria hoje numa conversa com Marina Silva e com o Brasil ?

FB: Coragem, muita fé e fidelidade às suas origens.


O Jornal Oecoambiental agradece ao Frei Betto esta entrevista exclusiva: nosso muito obrigado.

AS CORES DA NATUREZA 9


   
             FOTO:  Recebemos de Tereza "As Cores da Natureza" , saudações Tereza. Obrigado.
 

DESERTIFICAÇÃO


                                    Foto: Paraíba - região mais desertificada do país
 
    "A desertificação é a degradação do solo em áreas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variações climáticas e de atividades humanas. A desertificação afeta cerca de um sexto da população da terra, 70 por cento de todas as terras secas, atingindo 3,6 bilhões de hectares, e um quarto da área terrestre total do mundo." ( Agenda 21 - Cap. 12 " Manejo de Ecossistemas Frágeis: A luta contra a Desertificação e a Seca").


 
Conferência da ONU alerta que 70% do planeta pode sofrer com seca em 2025



da France Presse
     Quase 70% do planeta será afetado pela seca em 2025 se não forem aplicadas políticas para frear este flagelo, advertiu  em Buenos Aires Luc Gnacadja, secretário da Convenção da ONU de Combate à Desertificação.
"Se não conseguirmos solucionar este problema da Terra, em 2025 quase 70% dela estará muito afetada", destacou Gnacadja, falando em uma conferência. Jarbas Oliveira
    Atualmente, a seca afeta pelo menos 41% do planeta, e o processo de degradação aumentou entre 15% e 25% desde 1990, segundo um relatório sobre a situação climática mundial apresentado à imprensa durante o encontro.
     Gnacadja ressaltou a gravidade do panorama a longo prazo no encerramento da 9ª Conferência das Partes da Convenção da ONU de Combate à Desertificação, que aconteceu entre 22 de setembro e 2 de outubro na capital argentina.
    O secretário afirmou ainda que houve um consenso no encontro sobre a necessidade de monitorar e determinar os indicadores para compreender a situação atual em detalhes, o ritmo do avanço da desertificação e maneiras de lutar contra ela.
    Além disso, indicou que "não há segurança mundial sem segurança alimentar" nas zonas secas e que "é preciso um acordo verde" por parte dos países desenvolvidos para trabalhar nesses lugares, referindo-se à necessidade de um compromisso político das potências. ( SOS Clima da Terra)



domingo, 11 de outubro de 2009

ARTIGO FREI BETTO

 
  EDUCAÇÃO E NEOLIBERALISMO

   Frei Betto

    Estamos todos imersos numa mudança de época. Essa é uma viagem sem volta, embora muitos insistam em colocar a cabeça para fora da janela do trem e fixar os olhos no que ficou para trás. A última vez que algo parecido ocorreu na história do Ocidente foi quando se passou do regime feudal, medieval, para o moderno. Deslocou-se do paradigma teocêntrico para o antropocêntrico; da cosmologia geocêntrica para a heliocêntrica; da fé à razão.
    Hoje, vivemos não apenas numa época de mudanças, como nossos avós. Somos contemporâneos de uma mudança de época. Estamos em trânsito da modernidade à pós-modernidade, da razão cartesiana à inteligência holística. E na paisagem circundante vemos em crise as quatro instituições modernas produtoras de sentido: família, escola, igreja e Estado.
    Na transição da modernidade à pós-modernidade, a hegemonia capitalista sobre o planeta substitui o liberalismo pelo neoliberalismo. A concorrência cede lugar aos oligopólios; as nações à globalização; a cultura ao entretenimento; o humanismo à mercantilização; a marginalidade à exclusão. Fragmenta-se o vitral e, agora, só se percebem os cacos. A fragmentação ocupa os espaços outrora reservados às sínteses cognitivas.

Ameaças à educação

    Nessa onda neoliberal que assola o planeta, a educação, tida até agora como um dever do Estado e um direito social, corre o risco de ser considerada, pela OMC, mera mercadoria. Como tal, acessível a quem por ela pode pagar, como qualquer outra mercadoria.
    O efeito mais nefasto do neoliberalismo nos processos pedagógicos é a desistorização do tempo. Os persas captaram o caráter histórico do tempo, cultura que nos foi legada pela tradição judaico-cristã. Toda a narrativa bíblica está impregnada de historicidade, dos seis dias da Criação ao conceito javista de um Deus que, num mundo politeísta, se apresenta com curriculum vitae: o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
    Francis Fukuyama, arauto do neoliberalismo, tenta nos convencer de que “a história acabou.” Tudo o que é sólido se desmancha no bar... como o gelo num coquetel. Resta nos adequar ao paradigma da pós-modernidade: o mercado. Voltamos à idéia grega de um tempo cíclico, o que induz as novas gerações à perda do horizonte histórico, da utopia, do idealismo, disseminando um niilismo necrófilo, pois quem não sonha com a utopia corre o risco de recorrer às drogas, já que o ser humano é movido a sonhos.
    A mercantilização da educação induz a um processo análogo ao dos processos produtivos e de serviço: a privatização. Sucateada a escola pública, resta a particular como recurso a quem dispõe de renda suficiente para custear seus estudos.
Para que serve a educação escolar? Para muitos estudantes, é o túnel pelo qual se tem acesso ao mercado de trabalho. A luz no fim do túnel é a capacitação profissional, um bom salário, uma identidade social, graças a conhecimentos e habilidades adquiridos nos bancos escolares.
Seria a escola mera estufa de adestramento para o mercado de trabalho? Como me disse um adolescente de 16 anos, “na academia eu malho o corpo; na escola, o cérebro”. De fato, essa “malhação” cerebral tem seus efeitos positivos. As diferenças de salários são menores em sociedades que apresentam melhor resultado educativo.
Porém, o caráter mercantilista faz a qualidade do ensino transferir-se da escola pública para a particular. A progressiva demissão do Estado frente a seus deveres sociais – e direitos da cidadania, como educação e saúde -, fruto amargo do neoliberalismo que, em nome do capital, apregoa a privatização do patrimônio público, permite que muitas escolas particulares funcionem como meras empresas que ofertam educação como mercadoria de luxo.
Educar deveria ser muito mais que propiciar ao educando conhecimentos e habilidades para que venha a obter melhores salários que seus pais e avós. Mais importante do que formar um profissional, é formar uma pessoa capaz de atuar como cidadã; inserir-se sem preconceitos nessa realidade multicultural; associar significados e construir sínteses cognitivas; superar a mera percepção da vida como fenômeno biológico para encará-la como fenômeno biográfico, processo histórico.
Outrora, a pedagogia não diferia muito do regime dos quartéis, e onde o aprendizado dependia do esforço memorial. Tratava-se de assimilar conhecimentos. Hoje, o aprendizado é um processo interativo e criativo. E o conhecimento é determinante no novo paradigma produtivo.
Não basta assimilar informações. É preciso saber selecioná-las, relacioná-las e fazê-las convergir para processos criativos. Deve a escola dotar o educando de capacidade para enfrentar os novos desafios, lidar com as múltiplas racionalidades vigentes, aprofundar seu espírito crítico. Enfim, saber converter informação em cultura e cultura em sentido de vida.
Uma boa pedagogia induz o educando a evoluir da memorização à compreensão, da assimilação de informações à seleção crítica, do mero aprendizado à criatividade. Instiga-o a analisar criticamente a realidade; conviver dialogicamente nesse mundo de pluralidade cultural; transformar idéias e sonhos em projetos sociais e políticos.
O mundo encolheu. Vivemos agora na aldeia global. Em tempo real, o que ocorre do outro lado do planeta entra em nossa casa através da janela eletrônica. Sente-se muito ameaçado quem não sabe relacionar conteúdos globais e realidades locais. Sua identidade cultural fica abalada frente ao rolo compressor da hegemonização televisiva da cultura de entretenimento como isca hipnótica de atração ao consumismo.
Educar é saber lidar com a diferença e o diferente. O educando que não se sente nem se sabe diferente corre o risco de ceder à massificação midiática.  Buscará na imagem desse espelho retorcido uma face que não é a sua e, no entanto, o fascina pela ilusão de que, ao negar as suas raízes, haverá de alcançar aquele outro ser que só existe em sua fantasia.
Um dos grandes desafios da educação é como incutir vivências comunitárias como expressão de singularidades, jamais de despersonalização. Esse situar-se no lugar do outro, procurar ver o mundo com olhos do outro, é o que provoca mudanças de lugares social e epistêmico, e funda as condições de convivência democrática. Em suma, verbalizando uma expressão em moda, é preciso aprender a desterritorializar-se para saber ressignificar os sentidos.

Novas tecnologias

    Numa dimensão holística, o desafio que se coloca à educação é superar o cartesianismo e abarcar todas a dimensões da vida do educando, razão e emoção, inteligência e corporalidade, sentimentos e estética. Despertar nele o senso crítico perante a realidade, bem como a capacidade, nesse mundo internáutico, de saber lidar com as múltiplas racionalidades vigentes.
    Um dos fatores mais influentes, hoje, no processo pedagógico é a TV, a janela eletrônica que nos permite observar o mundo em tempo real, assim como o computador. Segundo as regras do mercado, o objetivo dessas ferramentas não é propriamente formar cidadãos e contribuir para um civilização mais humanizada, e sim formar consumistas e favorecer a acumulação do capital em mãos privadas. Portanto, assim como a escola trabalha com textos, deve agora trabalhar também com imagens, ensinando ao aluno relacionar conteúdos globais e realidade locais.
À massificação midiática se apresenta o desafio de saber lidar com a diferença e o diferente. Incutir vivências comunitárias como expressão de singularidades, e não de despersonalização.
    Agoniza, felizmente, o modelo escolar baseado em programas centralizados e de longa vigência; o conceito europeizado de cultura; a unificação nacional/cultural através da educação. Agora, há que aprender a lidar com a diversidade cultural, o pluralismo de opiniões e crenças, a integração midiática.
    A educação não deveria ser reflexo da racionalidade sistêmica que apregoa a supremacia do capital sobre os recursos humanos e ambientais, e da propriedade privada sobre os direitos da comunidade. Cabe-lhe subverter a racionalidade de uma sociedade canibalizada pelo império do mercado.
    Há que buscar reduzir a contradição entre os paradigmas neoliberais vigentes na sociedade e o conteúdo escolar. Enquanto o sistema procurar multiplicar consumistas, a educação empenha-se em formar cidadãos. Para o primeiro, o indivíduo é tanto mais capaz quanto mais competitivo e centrado nos próprios interesses. Para a educação, trata-se de formar pessoas solidárias altruístas, generosas. O sistema é auto-referente e se apóia numa lógica implacável: a educação infunde o espírito de tolerância num mundo caracterizado pela diversidade cultural.

Impactos da globalização

    A globocolonização exerce impactos contraditórios nas culturas locais. De um lado, reforça relações de dominação, dissemina a hegemonia cultural e intensifica o mimetismo. Cria o retraimento das expressões artísticas e culturais à margem dos recursos midiáticos; corrói utopias e projetos a longo prazo; favorece o fundamentalismo como forma de compensar a  exclusão.
    Por outro lado, estimula o diálogo planetário, sinaliza a diversidade cultural, instiga a prática dos direitos humanos e da proteção  ambiental, faz com que saberes universais sejam relidos segundo singularidades locais.
    É preciso pôr fim à “simultaneidade sistêmica”. Nem todos os educandos têm a mesma capacidade de aprender as mesmas coisas. O que interessa ao aluno do interior do Amazonas certamente não é o que atrai o do centro de São Paulo.
Aos currículos transversais devem-se acrescentar os currículos regionais, adaptados à realidade dos alunos.
    Não há ferramenta mais apropriada para inserir as novas gerações nesse mundo globocolonizado e conflitivo do que a educação. Desde que a escola não considere cultura apenas um verniz de informações em arte e noções de estética. Cultura são ações humanas sobre a natureza e a história, visões de mundo, produções simbólicas, metarrelatos, dinâmicas de comunicação e interação.
    Uma escola humanizadora é a de alunos que, sujeitos do processo educativo, assimilam práticas de defesa de direitos humanos e ambientais, e se tornam agentes transformadores da realidade. Essa pedagogia subversiva – no sentido etimológico de inverter de baixo para cima - promove a autonomia do educando, vincula aprendizado e experiência, contextualiza o saber. Enfim, educa, não apenas para o vestibular ou a obtenção do diploma, mas para a vida.
    Num mundo tão desigual, no qual os mais requintados avanços tecnocientíficos convivem com seres humanos condenados à fome e à miséria, não há opção de neutralidade para a educação. Portanto, a questão é escolher conteúdos pertinentes aos valores éticos. Pode-se ensinar História destacando os triunfos militares de um país sobre outro ou a cooperação entre nações, os intercâmbios culturais, os gestos de solidariedade e amizade.
    Educar para a vida é tornar o educando capaz de lidar com sexo, drogas e violência; reagir à insegurança urbana e à incerteza diante do futuro; vivenciar valores éticos; desenvolver espírito crítico para interagir com a mídia; reconhecer a importância da política como atividade privilegiada de realização do bem comum. A educação multicultural é tanto mais importante quanto mais temos sociedades complexas quanto à diferenciação de identidades, interesses, aspirações e demandas. É preciso estar aberto às distintas mundividências, sempre com espírito crítico.
    Os rivais da escola são a TV e o uso indiscriminado do computador como mero recurso de entretenimento individual. A TV deslocaliza saberes, mescla-os, utiliza-os contínua e convulsivamente em prol do entretenimento, subtraindo-os do contexto em que brotam. Ver pessoas famosas dançar flamengo num programa dominical não é suficiente para conhecer-lhe a origem mourisca e a influência cigana.
    A TV quebra a fronteira entre o real e o imaginário; saber e informação; arte e ciência. Frente ao “êxtase comunicacional” (Baudrillard) é preciso educar o espírito crítico e seletivo. Aprender a ver o mundo é tão importante quanto aprender a ler e a escutar. É preciso saber ler, não apenas letras, mas também imagens, sons, cores e formas.
    As novas gerações vão da oralidade à visualidade sem passar pela escrita. Daí a dificuldade com a hermenêutica dos textos e o raciocínio abstrato. Ver para crer, eis o princípio de São Tomé levado às raias da penúria intelectual. O que, a longo prazo, pode induzir um povo a confundir densidade cultural com densidade tecnológica, relevando esta em detrimento daquela.
    Sem se afirmar como espaço de subversão desses paradigmas do mercado, cada vez mais concentrador e excludente, a escola estará fadada a se tornar mero apêndice de reprodução de cordeiros de uma sociedade-rebanho que faz de shopping centers áreas de lazer.
     Unidade dos educadores, diversidade da educação. Nem todos os alunos tem capacidade e interesse em aprender as mesmas coisas. A escolaridade em São Paulo não pode ser a mesma na região amazônica. Há que lutar pela autonomia do educando, associar aprendizado e vivência, contextualizar o saber. Não há neutralidade para a educação neste mundo desigual.
    Nossos estudantes devem saber lidar com temas candentes como sexualidade e afetividade, drogas e violência, degradação ambiental e fetichismo do mercado. Só assim poderão vivenciar valores éticos, ter visão crítica perante a mídia, aprender a ler, não só letras, mas também sons, core, imagens. Há que evitar que passem da oralidade à visualidade sem passar pela escrita, pois correriam o risco de perder a capacidade hermenêutica e o raciocínio abstrato.
    Enfim, a escola deve ser um espaço de formação política, ecológica e espiritual; um laboratório estratégico de projetos sociais.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Paulo Freire e Ricardo Kotscho, de “Essa escola chamada vida” (Ática), entre outros livros.