quinta-feira, 25 de novembro de 2021

MIGRAÇÃO INTERNACIONAL - A POBREZA E VIOLÊNCIA DESLOCAM 378 MIL CENTRO AMERICANOS TODOS OS ANOS


FONTE: ONU - BRASIL

  Novo relatório do Programa Mundial de Alimentos (WFP) divulgado nesta semana revela que nos últimos dois anos a porcentagem de pessoas que consideraram a migração internacional aumentou mais de cinco vezes, saltando de 8% em 2019 para 43% em 2021. A publicação se baseia em uma pesquisa com milhares de famílias centro-americanas em El Salvador, Guatemala e Honduras.

Para 89% dos consultados, os Estados Unidos eram o país de destino pretendido. Cerca de 378 mil centro-americanos são forçados anualmente a ir para os Estados Unidos devido à pobreza, à insegurança alimentar, aos choques climáticos e à violência.

Como solução, o WFP apresentou algumas recomendações, entre elas, iniciativas de desenvolvimento econômico e investimento adaptadas às necessidades da comunidade local. Também foram discutidos programas de treinamento profissional para jovens e mulheres em áreas rurais e urbanas. O relatório não se bastou aí, e fez recomendações a países de destino, como é o caso dos EUA, pedindo que expandam as vias legais de migração para os centro-americanos.

 

Legenda: Um migrante está sentado em uma caravana em Honduras, perto da fronteira de Corinto com a Guatemala
Foto: © Julian Frank/WFP

De acordo com um novo relatório lançado na terça-feira (23) pelo Programa Mundial de Alimentos (WFP), aproximadamente 378 mil centro-americanos foram forçados para os Estados Unidos devido à pobreza, insegurança alimentar, aos choques climáticos e à violência. O estudo é resultado de uma colaboração entre a agência alimentar da ONU, o Migration Policy Institute (MPI) e o Civic Data Design Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Aumento do fluxo migratório - A publicação se baseia em uma pesquisa exclusiva com milhares de famílias centro-americanas em El Salvador, Guatemala e Honduras. Estima-se que pelo menos 2,2 bilhões de dólares anuais foram gastos em viagens regulares e irregulares. 

O relatório revela também que em apenas dois anos a percentagem de pessoas que considerou a migração internacional aumentou mais de cinco vezes, saltando de 8% em 2019 para 43% em 2021. No entanto, apenas 3% haviam feito planos concretos. A separação da família e os altos custos associados à migração foram citados como obstáculos. 

A maioria dos migrantes, 55%, relatou contratar contrabandistas a um custo médio de 7.500 dólares por pessoa, enquanto a passagem pelos canais legais custa 4.500 dólares. Para 89% das pessoas, os Estados Unidos eram o país de destino pretendido. 

Como muitas famílias preferem ficar em casa, os programas do WFP estão apoiando meios de vida sustentáveis ​​e oferecendo esperança e oportunidade às pessoas em suas comunidades locais. 

“Precisamos de novos fundos para alcançar os milhões que planejam partir, caso não recebam ajuda em breve”, alertou o diretor-executivo do WFP, David Beasley.  

Legenda: Em Honduras, perto da fronteira de Corinto com a Guatemala, a polícia para os ônibus que transportava migrantes para verificar a documentação e os resultados dos testes COVID
Foto: © Julian Frank/WFP

Motivações - De acordo com o relatório, pessoas que vivem com insegurança alimentar têm três vezes mais chances de fazer planos concretos para migrar do que pessoas que não sofrem com esse tipo de conjuntura. A falta de segurança para a alimentação testemunhou um aumento dramático na América Central, à medida que as consequências econômicas da pandemia de COVID-19 e a pobreza continuam a dificultar a alimentação das famílias. 

No mês passado, o WFP estimou que o número de pessoas com insegurança alimentar em El Salvador, Guatemala e Honduras triplicou, de 2,2 milhões para 6,4 milhões em 2019. Os fluxos migratórios também foram impactados pela violência e insegurança, assim como por choques climáticos, como fortes secas no Corredor Seco da América Central e tempestades mais frequentes e mais fortes no Atlântico. 

Abordando a raíz do problema - O relatório também apresentou aos governos um plano para enfrentar o problema. A expansão dos programas nacionais de proteção social pode ajudar a aliviar a pobreza e erradicar a fome das populações em risco. 

As transferências baseadas em dinheiro, por exemplo, são uma tábua de salvação para as pessoas necessitadas, permitindo que as famílias atendam às necessidades essenciais. Os programas de alimentação escolar também apoiam a agricultura local e representam economia para famílias pobres. 

O relatório recomendou iniciativas de desenvolvimento econômico e investimento adaptadas às necessidades da comunidade, incluindo programas agrícolas para construir resiliência aos choques climáticos, diversificar plantações e aumentar a produção e programas de treinamento profissional para jovens e mulheres em áreas rurais e urbanas. 

Criar incentivos para que a diáspora investisse em obras públicas nas comunidades locais também foi uma das recomendações. Assim como que os Estados Unidos e outros países de destino de migrantes expandirem as vias legais para os centro-americanos, por exemplo, aumentando o acesso a vistos de trabalho temporários

ARTIGO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 

Mudança climática é uma emergência para todos, em todos os lugares

FONTE: ONU - BRASIL
POR:
Filippo Grandi,  

 Diplomata italiano que opera principalmente em operações humanitárias das Nações Unidas, atuou como comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Socorro e Trabalho para os Refugiados da Palestina no Próximo Oriente.
Legenda: Filippo Grandi é um diplomata italiano que opera principalmente em operações humanitárias das Nações Unidas
Foto: © OCHA

Confira abaixo o artigo de opinião do alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi:

Na preparação para a COP26, grande parte da conversa tratou de previsões sobre o futuro e promessas de ações mais decisivas: carbono neutro até 2030 e zero emissões até 2050.

Mas, para milhões de pessoas em todo o mundo, a mudança climática já é uma realidade diária.

90% dos refugiados sob mandato do ACNUR, e 70% das pessoas deslocadas dentro de seus países de origem por conflitos e violência, vêm de países na linha de frente da emergência climática.

Além de estarem vulneráveis às condições climáticas extremas, como inundações e ciclones, elas veem seus meios de subsistência desaparecem devido à seca e à desertificação.

De Burkina Faso a Bangladesh, e do Afeganistão a Moçambique, as mudanças climáticas estão aumentando a pobreza, a instabilidade e o movimento humano. Estão alimentando tensões e a competição por recursos cada vez mais difíceis de se encontrar.

Surtos de violência e condições climáticas extremas levam as pessoas que já fugiram uma vez a fugir novamente. Mas mesmo que a paz seja restaurada, os deslocados não podem voltar se suas áreas de origem se tornaram inabitáveis ​​por secas, enchentes ou aumento do nível do mar.

O que estamos vendo agora é uma convergência devastadora de conflito e mudança climática que está causando deslocamento e tornando a vida ainda mais precária para aqueles que já foram forçados a fugir.

Alguns dos países mais vulneráveis ​​ao clima estão atolados em conflitos que duram décadas e devastam gerações.

No Afeganistão – um dos países mais vulneráveis do mundo, sofrendo por quatro décadas de conflito – os impactos crescentes da mudança climática estão tendo profundas consequências para os menos capazes de lidar com a situação. O ACNUR trabalha no Afeganistão há mais de 40 anos. Servi pessoalmente no país por vários anos. O conflito prolongado teve um efeito irrevogável – forçando as pessoas a deixar o país, mas também causando deslocamentos internos.

Uma seca prolongada fez com que muitos afegãos lutassem para alimentar suas famílias antes mesmo dos acontecimentos recentes deixarem a economia à beira do colapso. Qualquer deterioração adicional da situação humanitária levará quase inevitavelmente a ainda mais deslocamentos em um país onde 665.000 pessoas já foram forçadas a deixar suas casas este ano.

Para muitos leitores em países mais ricos, isso pode parecer um problema distante em terras distantes. Mas o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou em agosto que mudanças irreversíveis no clima da Terra estão sendo observadas em todas as regiões. Só neste ano, enchentes catastróficas mataram mais de 200 pessoas na Europa, ondas de calor causaram mortes no Canadá e incêndios florestais ocorreram na Sibéria, ao longo do Mediterrâneo e da costa oeste dos Estados Unidos e Canadá.

O mundo está finalmente acordando para o fato de que a mudança climática é uma emergência para todos, em todos os lugares. A dura realidade, porém, é que aqueles que menos contribuíram para isso já estão sofrendo mais.

Se algumas das nações mais prósperas e avançadas têm lutado para ajudar suas populações a se recuperar e se adaptar a um clima cada vez mais imprevisível, o que isso significa para um país como Moçambique? Um dos países menos desenvolvidos do mundo está lutando contra ataques violentos que desabrigaram mais de 730.000 pessoas enquanto ainda lutava para se recuperar de uma série de ciclones, incluindo o ciclone Idai em março de 2019 – uma das piores tempestades já registradas no hemisfério sul.

Quanto mais atrasarmos a ação global e o apoio a países como Moçambique, para que possam mitigar os efeitos das mudanças climáticas, piores serão as consequências.

As estimativas preveem que, sem uma ação climática ambiciosa, o número de pessoas que precisam de assistência humanitária devido a desastres pode aumentar para 200 milhões anualmente até 2050 – o dobro do número atual.

O que podemos fazer e o que estamos fazendo?

O ACNUR tem operações em mais de 130 países e 70 anos de experiência protegendo pessoas deslocadas. Estamos usando essa experiência e conhecimento para ajudar os países com meios e recursos limitados a melhor prever e responder ao deslocamento causado por desastres. Em lugares onde as pessoas já estão deslocadas, estamos ajudando-as a se preparar e se adaptar às mudanças climáticas.

Em Bangladesh, por exemplo, o ACNUR e parceiros têm ajudado refugiados Rohingya a reduzir o risco de inundações e deslizamentos de terra durante a temporada de monções, plantando árvores de crescimento rápido para estabilizar encostas, fornecendo fontes alternativas de energia para cozinhar e treinando refugiados voluntários.

Estamos prontos para intensificar nossa resposta, mas precisamos de ajuda para fazê-lo. Algumas das soluções serão financeiras. Outras, técnicas. Mas a maioria terá de vir de comunidades na linha de frente da emergência climática. Suas vozes devem ser ouvidas na COP e além. Elas têm conhecimento geracional da terra e, portanto, soluções ancestrais que podem ser aplicadas.

Os custos humanos da mudança climática estão aqui e agora. Se nossos esforços coletivos para reduzir drasticamente as emissões e limitar o aquecimento global forem insuficientes, o cenário no qual o ACNUR opera hoje corre o risco de se tornar uma realidade universal.

As gerações mais jovens estão lutando legitimamente por seus futuros direitos humanos. Agora estamos além das promessas – precisamos de ação e responsabilidade

RELATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2021-2022 E A INCERTEZA NO ANTROPOCENO

 

   Compreendendo o Antropoceno:

"O Antropoceno representa um novo período da história do Planeta, em que o ser humano se tornou a força impulsionadora da degradação ambiental e o vetor de ações que são catalisadoras de uma provável catástrofe ecológica.

  O Antropoceno é uma era sincrônica à modernidade urbano-industrial. A Revolução Industrial e Energética que teve início na Europa no último quartel do século XVIII deu início ao uso generalizado de combustíveis fósseis e à produção em massa de mercadorias e meios de subsistência, possibilitando uma expansão exponencial das atividades antrópicas.

  Em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Mas todo o crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do encolhimento e empobrecimento do meio ambiente. O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de carga da Terra, e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do Planeta. A dívida do ser humano com a natureza cresce a cada dia e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana. 

  No Antropoceno, a humanidade danificou o equilíbrio homeostático existente em todas as áreas naturais. Alterou a química da atmosfera, promoveu a acidificação dos solos e das águas, poluiu rios, lagos e os oceanos, reduziu a disponibilidade de água potável, ultrapassou a capacidade de carga da Terra e está promovendo uma grande extinção em massa das espécies. ( Centro de Estudos Estratégicos - Fiocruz)


   FONTE: ONU - BRASIL

   Já ouviu falar no Antropoceno? É um termo criado por Paul Crutzen, que foi o Prêmio Nobel de Química de 1995, e usado para descrever o momento em que nos encontramos hoje, marcado por complexidade e incertezas. Focado nesse mundo em constante transformação, o PNUD desenvolve o Relatório do Desenvolvimento Humano (IDH) 2021/22, que deve ser publicado até o fim do segundo trimestre do próximo ano. 

O estudo examina como a incerteza se altera no Antropoceno, que fatores a determinam, o que isso significa para o desenvolvimento humano e como podemos continuar a prosperar apesar disso. A tese central do relatório é que, em última instância, é essencial redobrar nossos esforços no desenvolvimento humano se quisermos um futuro mais próspero para todas e todos.

Legenda: Um menino e um papagaio em Santarém, na região Amazônica, em janeiro de 1982
Foto: © Shelley Rotner/Nações Unidas

A COVID-19 tem causado um terrível prejuízo em termos de vidas e meios de subsistência em todo o planeta, e essa não é uma fase transitória. A pandemia abriu as portas para uma nova realidade – o Antropoceno –, um tempo definido pela complexidade e incerteza. Desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o  Relatório do Desenvolvimento Humano (IDH) 2021/22 deve ser publicado até o fim do segundo trimestre de 2022 e aborda as principais questões relacionadas a esse novo momento na história.

O estudo tem como título provisório “Tempos incertos, vidas instáveis: moldando nosso futuro em um mundo em transformação”. Ele examinará como a incerteza se altera no Antropoceno, que fatores a determinam, o que isso significa para o desenvolvimento humano e como podemos continuar a prosperar apesar disso.

“A pandemia de COVID-19 e a mudança global do clima são apenas dois exemplos das novas e perigosas mudanças que estão ocorrendo em escala planetária, e as incertezas que causam são uma das características do Antropoceno”, explica o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição. 

"O novo relatório explora as conexões entre essas mudanças e desigualdades no desenvolvimento humano e como ambas colocam nossas sociedades à prova."

Pedro Conceição, diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD

O IDH 2021/22 dá continuidade ao caminho iniciado com os IDHs de 2019 e 2020 e aprofunda a discussão focada nas desigualdades, ao mesmo tempo em que integra outros aspectos relacionados às incertezas do Antropoceno: transformações sociais, impactos na saúde mental e polarização política, mas também – e isso é essencial – nas oportunidades. 

A tese central do relatório é que, em última instância, é essencial redobrar nossos esforços no desenvolvimento humano se quisermos um futuro mais próspero para todas e todos.