A mudança do clima global é o maior desafio à ação consertada da
humanidade neste início de século. A trajetória de desenvolvimento do Brasil e
dos demais países depende do grau de alteração das variáveis climáticas e de
sua distribuição no espaço. Há consenso em que, mesmo ante a incerteza relativa
a dimensão e distribuição dos fenômenos climáticos, é preciso avançar em ações
que aumentem a resiliência das estruturas que balizam a vida e a economia.
A Subsecretaria de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) encomendou a instituições de
reconhecida competência simulações a partir de modelos climáticos globais. O
objetivo é estimar como as mudanças climáticas afetariam os setores econômicos
em diferentes horizontes e sugerir estratégias de prevenção e de aumento de
resiliência de diferentes sistemas que poderiam ser afetados.
O estudo denominado “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à
mudança do clima” é constituído por quatro etapas. A primeira etapa consiste na
aplicação de dois dos mais de quarenta modelos de clima global disponíveis
para, a partir de suas projeções e com base em dois cenários distintos, derivar
hipóteses de comportamento climático para o território brasileiro em 2040.
A segunda etapa do estudo identificou os impactos de cada um dos
cenários climáticos sobre os recursos hídricos. Isso é crucial, pois quase
todos os setores econômicos e as concentrações humanas sofrem impactos, não
somente por variações de temperatura, mas, sobretudo, por variações na
disponibilidade hídrica.
A terceira etapa consistiu em analisar os impactos sobre a população,
sobre os recursos naturais e sobre alguns setores econômicos, considerando
variações climáticas e disponibilidade de recursos hídricos. Isso foi feito
relacionando as alterações das principais variáveis climáticas – temperatura e
pluviosidade – com produção dos setores econômicos, infraestrutura, saúde
humana, etc.
A quarta etapa do estudo consistiu na identificação de algumas medidas
de adaptação ao cenário associado às projeções. Tais medidas envolvem
estruturas caras (por exemplo: barragens para armazenar água ou construção de
diques em zonas costeiras), mas contemplam também medidas mais simples como,
por exemplo, sistemas de alerta de riscos, mudanças de práticas agrícolas,
organização de grupos sociais, etc.
As dificuldades e desafios para elaborar um estudo tão abrangente são
grandes e requerem o envolvimento de diversas áreas do conhecimento humano:
engenharias, agricultura, economia, recursos hídricos, climatologia e
sociologia. Os estudos foram desenvolvidos por instituições nacionais renomadas
com o objetivo primário de subsidiar processos relevantes no âmbito da Política
Nacional sobre Mudança do Clima, em particular, e no Plano Nacional de
Adaptação à Mudança do Clima, em fase de conclusão no governo federal.
De particular importância é a especificação dos diversos níveis de
incerteza associados às projeções. A modelagem climática global é um campo de
desenvolvimento recente, caracterizado tanto pelo elevado número de variáveis
naturais em processo de co-interação, quanto pela incerteza sobre o
comportamento futuro de variáveis antrópicas, a mais importante delas relativa
aos níveis de CO2 equivalente na atmosfera. A tradução da escala em que são
elaborados os modelos globais para uma escala menor do território brasileiro
também depende de metodologia desenvolvida recentemente e em processo de ajuste
e refinamentos. Da mesma forma, as variáveis de disponibilidade hídrica padecem
das mesmas restriçoes. Avaliar e expressar de forma clara e compreensível a
incerteza associada a tais modelagens é essencial para que os resultados das
simulações sejam vistos, compreendidos e utilizados na exata dimensão de sua
capacidade preditiva e para evitar a exploração sensacionalista de dimensões
seletivas das simulações. (Fonte: SAE)
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