Visando estimular a produção de conhecimentos na área de sociologia e meio ambiente, postamos a terceira parte do artigo de Elena Steinhorst Damasceno. Nossos agradecimentos a Elena Steinhorst.
SOCIOLOGIA AMBIENTAL: um campo de pesquisa em consolidação - parte 3
Elena Steinhorst Damasceno
Elena Steinhorst Damasceno
Epistemologia na sociologia Ambiental
Moraes (2005, p.
46-47) alerta para a importância da epistemologia no trabalho científico,
principalmente devido ao fato da problemática ambiental “ser arredia aos
paradigmas tradicionais” e delimita três aspectos que devem ser observados para
a pesquisa na temática ambiental: a identificação clara e precisa do universo
de análise, ou seja, uma localização filosófica dos fenômenos e relações que
buscamos na investigação empírica; a delimitação metodológica, ou escolha do
método mais apropriado no universo das ciências sociais; e a procura de uma
linguagem comunicante, tendo em vista as diferentes áreas disciplinares que
podem estar contempladas na temática ambiental.
O autor refere-se
ainda à necessária anterioridade da reflexão metodológica ante a investigação
empírica, tendo em vista que no trato da questão ambiental as barreiras
metodológicas podem ser um empecilho tão significativo como a transposição
disciplinar4 . A problematização de cunho ético é colocada como situação limite
do campo epistemológico, tendo em vista a emergência das políticas ambientais e
conseqüente demanda direcionada as universidades brasileiras, no sentido de
elaboração de peças técnicas para os grandes projetos de desenvolvimento
(MORAES, 2005). Dentre algumas das posturas éticas possíveis, como o chamado
naturalismo, tecnicismo e romantismo5 , observa-se a postura crítica6 em
relação à pesquisa e diante da problemática ambiental.
Segundo Hannigan
(2009) a dicotomia homem-natureza deve ser superada e qualquer tentativa nova
na perspectiva da sociologia ambiental necessita confrontar a “divisão
sociedade-natureza”. Destaca a emergência de novos esforços para as relações de
análise socioambiental e percebe o desafio de reconciliar o macro com os dados
mais particularizados de análise. O autor sugere a “teoria da emergência” como
moldura para as análises dos problemas ambientais futuros (HANNIGAN, 2009, p.
216). Moraes também dá destaque a isso e enfatiza “a natureza para o homem” em
Marx, como opção filosófica de romper tal dicotomia (MORAES, 2005, p. 72-73).
Hannigan (2009)
relaciona a Ciência, cientistas e problemas ambientais e mostra a ligação entre
problema ambiental e pesquisa científica, problematizando o papel dos
pesquisadores na formulação de argumentos para a questão ambiental, porém, por
outro lado, afirma que há um grande campo de incertezas na ciência. O autor
discute esse tema e sua relevância para a construção de novos problemas
ambientais e seu anúncio para o mundo, exemplificando o problema da chuva-ácida
e da perda de biodiversidade, e a importância da ciência na formulação de
políticas públicas ambientais, afirmando que: “Finalmente, é a estrutura de
apoio científico destes problemas ambientais que os sustentam acima dos outros
problemas sociais que são mais dependentes de argumentos de bases morais”
(HANNIGAN, 2009 p.141 apud YAERLEY, 1992, p. 117).
Pesquisas atuais em
Sociologia Ambiental
Segundo Herculano,
no âmbito acadêmico, a Associação Internacional de Sociologia (ISA) fundou, em
1990, um novo comitê de pesquisa, o RC/24 (Meio Ambiente e Sociedade),
constituído por egressos de estudos da Ecologia Humana, da Sociologia Urbana,
da Sociologia Rural, entre outras. No Brasil, a Associação Nacional de Pesquisadores em Ciências Sociais (ANPOCS)
criou, igualmente, um grupo específico para a temática ambiental, o GT/04
(Ecologia e Sociedade). Assim, diversos programas de pós-graduação no Brasil
passaram a se dedicar à temática ambiental, “alguns deles com uma ambição multi
ou transdisciplinar” (HERCULANO, 2000, p.4).
No ano de 2002 foi criada a ANPPAS, Associação
Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, com a
participação de diversas instituições7 brasileiras de ensino e pesquisa, com
formação strictu sensu de pessoal especializado em nível de pós-graduação, de
caráter interdisciplinar e que focalizam a interação Ambiente e Sociedade em
suas múltiplas dimensões. A ANPPAS
promove reuniões científicas, objetivando o intercâmbio de informações entre
seus associados e de associações similares brasileiras, estrangeiras ou
internacionais, promovendo a divulgação de estudos em Ambiente e Sociedade,
publicações, concursos e premiações (ANPPAS).
Percebemos, assim, o avanço monumental da
Sociologia Ambiental de forma geral e a diversidade de abordagens que nela
cabem. Após a leitura dos autores citados neste texto, percebe-se certa
tendência “modernizadora” nos trabalhos em Sociologia Ambiental no Brasil, por
um lado, com inspiração nos grupos de pesquisa da Holanda, Canadá e Estados
Unidos, verificado principalmente os grupos de pesquisa em Sociologia Ambiental
da UFSC e Unicamp. De outro lado, nota-se que outros grupos seguem perspectiva
divergente, apoiando-se mais nos estudos de Conflitos Ambientais, Movimentos
Sociais e Ecologia Política, ainda com uma forte interface Antropológica, como
é o caso do GEDMMA (UFMA)8 , que mantém afinidade com o IPPUR9 (UFRJ) e GESTA10
(UFMG).
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Participaram da criação, na sede do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo - PROCAM/USP o Núcleo de
Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas -
NEPAM/UNICAMP; o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos- Universidade Federal do
Pará - NAEA/UFPa; o Centro de Desenvolvimento Sustentável - Universidade de
Brasília - CDS/UnB; o CPDA/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; o
Programa de Pós - Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas/Universidade
Federal de Santa Catarina; o Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento/Universidade Federal do Paraná; o Programa de Mestrado em
Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo - PROCAM/USP e o Programa
Regional de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. (fonte:
sítio ANPPAS na internet, ver ref.). 8 Grupo de Estudos Desenvolvimento
Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA/UFMA). Sítio eletrônico:
http://www.gedmma.ufma.br/ 9 Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
Regional (IPPUR/UFRJ) 10 Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA/UFMG)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, a
Sociologia Ambiental pode ser vista como um campo de pesquisa em expansão, no
qual a emergência da crise ambiental permite uma grande variedade de abordagens
teórico-metodológicas e um crescente volume em produção acadêmica11 . Porém,
são observados muitos trabalhos recentes com a característica de simples junção
de dados biológicos com análises sociológicas, como tentativa de fazer uma
Sociologia Ambiental. Tal postura deveria ser revista, tendo em conta as
análises sobre a “divisão homem-natureza”, que são refletidas na “transposição
disciplinar”. Ou seja, superar a esta dicotomia não significaria “colar uma
coisa na outra” e sim procurar um método menos antropocêntrico possível. Sempre
que necessário, a percepção biológica da natureza deveria ser acionada, porém,
participando do contexto da “entre ajuda” transdisciplinar, tão cara à questão
ambiental.
REFERÊNCIAS:
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Ambiente e Sociedade. http://www.anppas.org.br/novosite/index.php?p=oque Acesso
dia 12/03/2013.
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Idéias para uma sociologia da questão ambiental teoria social, sociologia
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FERREIRA, Lúcia da Costa. Conflitos sociais e uso de recursos
naturais: breves comentários sobre modelos teóricos e linhas de pesquisa.
Política e Sociedade Nº 7 outubro de 2005, p. 105-118. 11Para mais referências:
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GUIVANT, Julia S.
Apresentação do Dossiê Mapeando os caminhos da Sociologia Ambiental. Política e
Sociedade Nº 7 outubro de 2005, p. 9-25.
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Sociologia ambiental. Tradução de Annahid Burnett. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
270p.
HERCULANO, Selene. Sociologia Ambiental: Origens, Enfoques
Metodológicos e Objetos. Revista Mundo e Vida: alternativas em estudos
ambientais, ano I, nº 1, UFF/PGCA - Riocor, 2000, pp. 45 – Acesso
em 11/03/2013. http://www.professores.uff.br/seleneherculano/images/stories/SOCIOLOGIA_AMBIENTAL_ORGENS_ENFOQUES_METODOLGICOS.pdf
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YAERLEY, S. The green case: a sociology of
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4 Como exemplo as
diferentes atribuições ao sentido da palavra ecologia (MORAES, 2005 p. 71-72).
11
5 O naturalismo se refere à postura filosófica perante a relação
homem-natureza na qual a interferência do ser humano na natureza é resumida
pelo termo “ação antrópica” neutralizando a dimensão social da temática
ambiental. O tecnicismo “dilui as implicações políticas de seu manejo como se a
soluções técnicas não envolvesse decisões políticas” e o romantismo que se
manifesta pelo “preservacionismo radical” e “perspectivas anti-humanísticas” (MORAES,
2005, p. 53-55). 6 A teoria crítica se refere à Escola de Frankfurt,
representadas por Adorno, Horkheim e Habermas, mas nos referimos, também, à
crítica marxista feita ao modelo capitalista de produção e consumo, como sendo
principal responsável pela crise ambiental atual.
Este artigo é referente ao trabalho final da
disciplina Ambiente e Sociedade, ministrada pelo Professor. Doutor. Horácio
Antunes de Sant’Ana Júnior, a qual cursei como aluna especial, no curso de
doutorado em Ciências Sociais (PPGSoc/ UFMA).
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