EDITORIAL
Diante a crise de civilização
que o Brasil e o mundo enfrentam resta a nós seres humanos decidirmos se
realmente aceitaremos um Brasil e um mundo promotores do mito do
desenvolvimentismo, ancorados no consumo ilimitado, como saída para as crises ou se vamos
implantar a sustentabilidade. Há uma tentativa de colocar a população brasileira sem autoestima atualmente. Em todos os dias do meio ambiente propomos uma reflexão sobre nossas raízes
brasileiras. Quando se trata de
definir a civilização, os povos que
ainda são os mais sustentáveis, no caso brasileiro, continuam sendo os povos
indígenas, as populações tradicionais, quilombolas. Conversando com Adana
Kambeba que pertence ao povo Kambeba Omagua da Amazônia e que estuda medicina
na UFMG ela nos disse: “entre meu Povo quando pescamos além do que nossa família necessita,
dividimos com outras famílias os frutos da pesca”. Uma lição cultural para esta sociedade que vem
perdendo seu senso sadio comunitário. Marcos
Terena em debate com Edgar Morin em livro que continua atual, publicado pela Universidade de Brasília, “
Saberes globais e saberes locais” lembrava: “ Na chegada de Cabral ao Brasil
havia quase 1000 povos indígenas... hoje são 200 povos e 180 línguas faladas...
Na história do Brasil 4 milhões de índios morreram e mais de 700 povos desapareceram.”
Qualquer argumento de se implantar a sustentabilidade no Brasil sem se
respeitar os povos indígenas e populações tradicionais é ir contra o próprio
Brasil. Agitar bandeiras brasileiras em manifestações buscando-se constituir
uma ética, uma identidade moral sem se ouvir, respeitar e valorizar como estes
povos e populações estão milenarmente construindo a sustentabilidade de suas
comunidades, das florestas e do meio ambiente no Brasil é uma incoerência ética
em relação à construção de nossa sustentabilidade.
Na implantação da sustentabilidade brasileira
poderemos aprender a edificar relações humanas mais sadias, vencendo um dos
problemas socioambientais mais graves de nosso país que é o racismo. Todas as
etnias que estão presentes no Brasil podem aprender que a diferença é sadia e o
respeito à espécie humana e ao meio ambiente do qual fazemos parte é um valor
universal.
A sociedade atual elegeu o mito do consumo a
qualquer preço como uma verdade inconteste. Através de uma grande mídia
comprometida em instigar um consumo de inutilidades, os seres humanos estão
proibidos de pensar em coletividades. O valor qualitativo das relações humanas
e as inúmeras possibilidades criativas de construirmos um Brasil melhor para as
presentes e futuras gerações conflitam
com o conteúdo da grande mídia preocupada apenas no lucro em curto prazo e na
sede de consumo ilimitado.
É possível os seres humanos
aprenderem a planejar sua produção e aquisição de alimentos e bens de consumo, termos um consumo na “justa medida”. Daí o
aumento da violência transformada em espetáculo televisivo. Não é preciso fazer experimentos científicos para saber quais as consequências para uma sociedade
quando se excita um consumo além do que a maioria da população brasileira tem
condições de consumir. Afinal o salário necessário segundo os preceitos constitucionais
calculados pelo Dieese no Brasil em maio de 2016 deveria ser R$3.777,93 contra
os R$887,00 vigentes. Renda esta para uma família de quatro pessoas. Na verdade a maioria da população brasileira não tem hoje como consumir nem o necessário. Os que dizemos é que os problemas socioambientais atingem de forma distinta a população. Os que mais trabalham para sobreviver são os que mais sofrem as consequências da insustentabilidade. O stress pelo consumo ilimitado está instigado por uma minoria ávida em obter lucros a todo custo, que se expressam no parlamento e na grande mídia.
Distribuir renda, melhorar a qualidade da escola pública, a assistência pública de saúde, o meio ambiente onde estamos inseridos, deixa de ser prioritário. As famílias estão sendo destruídas pelo modo de produção insustentável. Em grande parte das famílias o diálogo entre pais e filhos está mediado pelo consumo sem limites, a aquisição de celulares, a disputa da internet móvel, dos planos de telefonia que lucram exorbitantemente e prestam um serviço de péssima qualidade no Brasil. É preciso resgatar o prazer de convivermos seja em família ou em comunidade.
Distribuir renda, melhorar a qualidade da escola pública, a assistência pública de saúde, o meio ambiente onde estamos inseridos, deixa de ser prioritário. As famílias estão sendo destruídas pelo modo de produção insustentável. Em grande parte das famílias o diálogo entre pais e filhos está mediado pelo consumo sem limites, a aquisição de celulares, a disputa da internet móvel, dos planos de telefonia que lucram exorbitantemente e prestam um serviço de péssima qualidade no Brasil. É preciso resgatar o prazer de convivermos seja em família ou em comunidade.
O caminho da sustentabilidade
no Brasil é singular. Não temos a mesma cultura dos países do norte. Neste lado
sul do Equador ainda existe recursos naturais, que mesmo ameaçados pela ação
predatória das grandes empresas e corporações, descrevem o Brasil como
megadiverso. Não precisamos contaminar nossa população com agrotóxicos, como
está ocorrendo. Temos condições de produzir alimentos de excelente qualidade
através da agricultura orgânica familiar. O que se precisa é disponibilizar as
tecnologias sustentáveis sem agrotóxicos.
A causa ambiental do século
XXI é integrar a razão e subjetividade humana. Hoje é preciso ter consciência que o ser
humano vem sendo destruído, desvalorizado, ridicularizado de forma caótica. A
grande causa ambientalista que temos a vencer é resgatar a valorização da
pessoa humana. O aprendizado constante que é convivermos com a diversidade
cultural de nosso País. O meio ambiente
sadio que todos temos direito previsto na Constituição brasileira é resultado
de nossa ação humana pessoal, social, ambiental. Dizemos: nossa ação
socioambiental.
Ocorre é que a alienação
ambiental está presente tanto em todos que só pensam em consumir sem limites,
quanto nas pessoas que acham que não há como vencer tantos problemas ambientais
e cruzam os braços. Quem desmata ilegalmente, quem polui rios, ar, solo, água, já
não percebe a si próprio. Na realidade não se percebe humano, mas um ser
irracional, como uma pessoa assim vai perceber a belezas naturais que nos
cercam? Pensar uma economia e um mundo para poucos é um atestado de ignorância
e limitação da inteligência de nossa espécie. Fomos presenteados em habitar o
Planeta Terra precisamos de uma tomada de consciência local e global de que
podemos conviver melhor entre nossa própria espécie, assim conseguiremos ver as
outras formas de vida com os olhos do valor que merecem.
Nossos átomos de carbono, água, minerais são
os mesmos que insistimos de forma insustentável em destruir em nome do mito do
desenvolvimento do consumo sem limites.
Como protelamos a resolução de conflitos socioambientais, a natureza
está agindo através das mudanças climáticas. Os recursos naturais são finitos.
A agressão humana ao Planeta Terra terá um limite ou acordado pelos seres humanos
através de uma ética socioambiental local ou global, ou amargamente vivenciada
através das mudanças bruscas de temperatura, como está ocorrendo, do clima sem
previsão, das epidemias que este desequilíbrio tem causado pelas atuais
sociedades insustentáveis. Precisamos nos unir para vencermos o stress e o
sofrimento causando a nossa espécie e ao Planeta.
O desafio para todos nós seres
humanos é conquistar o trabalho sustentável que não leva a destruição de nossa
espécie humana e o meio ambiente. Vencer nossos erros promovendo o valor da
vida, de nossa espécie e do meio ambiente conquistando qualidade de vida para
todos. A causa da construção da
sustentabilidade, da conquista do meio ambiente sadio é a causa definitiva para
nossa espécie. Não nascemos para viver de cabeça baixa, sem autoestima, porque
temos uma cultura singular e aqui no Brasil estamos construindo a civilização
sustentável. Como lembrou Marcos Terena, no debate mencionado: “Tudo que
construirmos hoje, recairá sobre os seres humanos futuros”. “Nós os índios,
gostamos do Brasil, amamos nossa terra de verdade. Porque aqui estão as
estrelas e podemos olhá-las... os pássaros cantam todas as manhãs. Aqui na
cidade não sei se você pode ouvi-los”... “O Grande Criador é tão inteligente e
sabido que se quiser olhar este quadro tão magnífico temos que levantar os olhos... Por que os pássaros cantam? Para que possamos
ouvi-los e levantar os olhos para vê-los e admira-los. Porque ( o Grande
Criador) não quer que andemos de cabeça
para baixo.”.
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