DISTRITO DE BENTO RODRIGUES - MARIANA - MG - APÓS LAMA DE REJEITO
As crises
socioambientais que o Brasil e o mundo enfrentam ganham tristes manchetes nestes dias, com a avalanche de rejeito de minério a partir
de Mariana, que destrói vidas humanas, a fauna , flora e chegam até o Oceano Atlântico. É uma
realidade anunciada e cada vez mais presente nas sociedades neste
início de século XXI, com conseqüências
destrutivas para nossa espécie e todo o meio ambiente.
A gravidade da
crise socioambiental que vivenciamos alcança proporções de esgotamento das
sociedades atuais. Conseguimos visualizar a devastação ambiental através do
olhar, pelas redes sociais, TVs, em tempo real. A grande questão é como visualizar, analisar
e transformar a alienação e degradação
da própria condição ética. socioambiental da espécie humana. Como medir a degradação do próprio ser humano,
que através da grande mídia, é estimulado a ser cada vez mais individualista, predador e
consumista ao extremo. Os conflitos socioambientais estão aí visíveis,
previsíveis e atinge proporções de
devastação. Em poucos minutos risca-se
do mapa, vidas, comunidades inteiras, tragadas pela voracidade do capital.
Diante a
vulnerabilidade dos seres humanos ergue-se uma montanha de rejeitos que nos faz
pensar: quanto ouro, quanta riqueza é extraída diariamente das Minas Gerais, do
Brasil e do mundo e quão pouco ou nada valem: as vidas humanas para alguns, as águas limpas,
os outros seres vivos, a biodiversidade, o meio ambiente nas sociedades insustentáveis
atuais.
Uma avalanche de
lama é o que resta a algumas comunidades, ao meio ambiente. Muito importante é
a solidariedade humana, o que o sofrimento das vidas provoca ainda em algum
lugar do cérebro humano. Será que nossa
espécie é boa ? Podemos encontrar em cada um de nós algum lugar comum nesta harmonia de beleza, com este exuberante Planeta em que fomos
presenteados habitar ? A
grande questão é como despoluir as mentes, a irracionalidade de construir
sociedades insustentáveis em detrimento da dignidade humana, da felicidade e de
valorização da beleza da vida: da natureza agredida. Por que esta solidariedade em Mariana e para
com outras comunidades, não se estende para tirarmos todos os mendigos que
lotam as ruas do Brasil ? Por que não nos unimos para despoluir e
tirarmos os rejeitos, a sujeira, a poluição do Rio Tietê, da Lagoa da Pampulha
em MG e em tantas regiões do Brasil e do mundo
?
São tantos
conflitos e contradições socioambientais que a própria natureza está nos
devolvendo os “rejeitos” que represamos. O Tsunami da mineração expõe as
riquezas extraídas, do ouro exportado, que mantêm a contradição de poucos ricos
e bilhões de pobres, sem rumo, sem lenço, nem documento. Do Brasil que exporta minérios através dos
minerodutos com água e pede ao cidadão
para economizar água. Sim estamos buscando economizar a água. Que possamos
então limpar as águas e mantê-las potáveis para que nossa espécie sobreviva. O Brasil que diz estar numa crise e expõe ao
mundo suas chagas, o ouro de Minas que continua forjando poucos bilionários e condenando a maioria dos
humanos e do meio ambiente a degradação.
E pensar que o Brasil ainda ostenta o título de uma das piores distribuições
de renda do mundo. Fica a pergunta: para onde foi e vai todo este ouro, este
minério que condena há séculos nosso povo a miséria ? E as conseqüências da degradação
socioambiental continuam atingindo os mais pobres. Ou será que havia muitas
mansões nos distritos de Mariana encobertos pelo rejeito? Até quando vamos
aceitar este rejeito da exclusão?
Ser solidário ao
ser humano e ao meio ambiente que clama em Mariana e no percurso da devastação
de rejeitos é comprometermos com a construção da sustentabilidade. Temos que refazer a organização de nossas
sociedades. A sociedade civil é a grande
protagonista da construção da sustentabilidade.
Por isto, os movimentos socioambientais no Brasil e no mundo são
fundamentais. Embora quase sempre não sejamos ouvidos, ou mesmo ficamos horas,
dias, meses, anos lutando para sermos ouvidos e por respeito ao nosso
trabalho. Não se ouviu na maioria da
grande mídia a palavra dos movimentos
socioambientais de MG que lutam há anos
pela melhoria da qualidade de vida e meio ambiente sobre o caos da mineração em
Mariana e em MG. É importante ouvir sem dúvida a todos, inclusive que se
valorize e respeite quem trabalha como sociedade civil nos princípios da
precaução e prevenção.
Precisamos
acreditar na força de cada ser humano que busca encontrar em si mesmo o que há
de melhor. Unir o que há de melhor nas pessoas é o primeiro passo para a
construção de comunidades sustentáveis.
Temos que dizer um basta à degradação do consumo além da medida. Precisamos como diz a sabedoria de alguns
povos, descobrir o que é ser suficiente. O que significa manter, apoiar-se, ser sustentável. Unir as famílias não pelo consumo, seja de
bens, seja do consumo de crenças mercantilizadas. Precisamos nos unir porque se olharmos bem
para nossa essência, ainda possuímos algo de bom em cada um de nós. É preciso que vençamos o ódio
sobre nossa própria condição humana. Erramos sim, como pessoa e como sociedade, mas podemos e
temos condição de vencer nossos erros.
Com toda tecnologia
que nos leva a sonhar se há vida em Marte. Precisamos nos dar conta de que
ainda há água aqui na Terra. E que se estamos percebendo com tristes
acontecimentos, tsunamis forjados pelos seres humanos que erramos, precisamos
corrigir o caminho. Temos que nos unir não só às vésperas da Conferência do
Clima – Paris 21, que traz todos os estudos científicos e evidências cotidianas de que vamos enfrentar
períodos cada vez mais complicados com relação à atitude do ser humano frente
ao meio ambiente.
A ÁGUA COMO ELA É ... E COMO A QUEREMOS...
Precisamos nos unir porque acreditamos na
beleza da vida, no mistério de estarmos habitando este Planeta exuberante e
porque como parte do meio ambiente podemos cuidar melhor de nossa própria
espécie. Melhor que alimentar o ódio é
alimentar o ser humano de pão e da busca de mais felicidade para todos e não
apenas para poucos. Se aprendermos estas lições, vamos dar sentido a nossa
existência com a dignidade que possuímos e o respeito e a gratidão que todo o
meio ambiente e a Terra merecem.