Comunidades
Religiosas e Mudanças Climáticas
Introdução
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Reunidos a convite do
Instituto de Estudos da Religião (ISER), em parceria com Gestão de Interesse
Público (GIP), no Encontro
Internacional Fé no Clima, ocorrido em 25 de agosto de 2015 no Rio
de Janeiro, enquanto representantes de diversas comunidades religiosas
regionais, nacionais, internacionais e transnacionais, vimos compartilhar
nossas convergências de percepções e aspirações em torno do tema das mudanças
climáticas.
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Consideramos que
essas percepções e aspirações, na medida em que sejam conhecidas e disseminadas
no interior das nossas comunidades religiosas, contribuirão de maneira
substantiva para promover na esfera local mudanças comportamentais e éticas —
individuais e coletivas —, que se somarão aos compromissos sociais, econômicos
e políticos a serem assumidos pelos governos em suas esferas regionais,
nacionais e nos fóruns internacionais.
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O debate sobre as
mudanças climáticas não pode se dar descontextualizado das questões sociais,
econômicas e ambientais. O risco que se corre com isso é o de que este
importante desafio de lidar com a mudança do clima se torne apenas mais uma
“bandeira”, sem uma reflexão mais profunda sobre seus impactos no
aprofundamento das desigualdades e na geração de disputas de política econômica
global. Esse debate deve ser apreciado à luz da justiça social, das questões
ambientais mais amplas e da busca de equidade econômica.
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O grupo de lideranças
comunitárias e religiosas, comprometido com a agenda ambiental, reunido na
iniciativa Fé
no Clima espera dar
um testemunho vivo da possibilidade de comunhão de percepções, aspirações e
ações concretas para a construção de um mundo mais saudável e respeitoso, mesmo
em face da mais ampla diversidade de crenças e pertenças e inclusive de não
crenças.
Percepções comungadas
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A Ciência vem
demonstrando que o estado de dilapidação do planeta Terra e o agravamento das
mudanças climáticas foram provocados pela ação humana recente (Antropoceno). O
conjunto de ações que conduziram o planeta à situação presente foi baseado em
uma mentalidade dominante que acreditava e agia como se o ser humano fosse algo
isolado das complexas relações que possibilitam a vida. Nossos fundamentos
sagrados, no entanto, encontram uma forte convergência na percepção de que o
ser humano é tão importante no planeta Terra (Mamapacha, Irê, Casa Comum)
quanto os outros entes animados e não animados que aqui vivem. A interdependência entre todos os
seres é a consciência que devemos promover em nossas comunidades, se
quisermos propiciar uma transformação ética e comportamental sistemática e
planetária.
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Consideramos que
enquanto a lógica da competição dominar a vida humana em sociedade e prevalecer
na base das razões dos Estados e nos campos de negociação da diplomacia global,
pouco ou nenhum avanço conseguiremos no sentido de tornar a vida planetária
mais justa e segura. Baseados em nossos fundamentos sagrados comungamos a ideia
de que o espírito de colaboração e cooperação pavimentam o caminho de uma vida
em sociedade mais saudável e digna para todos e cada um dos nós, em harmonia
com o ambiente e nossas diferenças intrínsecas. O espírito de colaboração e
responsabilidade compartilhada é o que devemos promover em nossas comunidades,
se quisermos propiciar a sustentabilidade da comunidade e do planeta, onde cada
pessoa conhece e defende os seus direitos, aceita e se compromete com as suas
responsabilidades.
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Entendemos que para a
mobilização das nossas comunidades em torno do tema das mudanças climáticas
devamos nos aproximar da Ciência e dos Saberes Tradicionais com igualdade de
respeito e valoração. Cada uma destas formas de produção de conhecimento, à sua
maneira, nos oferece evidências do estado atual do planeta e os horizontes
possíveis para ações transformadoras. Nossas experiências com ações sociais e
educativas desenvolvidas em nossas comunidades demonstram que percepções e
conceitos são melhor compreendidos e assimilados quando apresentados a partir
de experiências vividas. Assumimos
o compromisso de expressar as discussões sobre mudanças climáticas em uma
linguagem que faça sentido para nossas comunidades e que nos permita refletir
sobre como podemos transformar nossos modos de vida, promovendo
sensibilização e mobilização efetiva sobre o tema.
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Consideramos a
juventude o grande ator potencial da transformação de que necessitamos. As
gerações passadas, incluindo-se a nossa, agiram equivocada e
inconsequentemente, e disto estamos conscientes. Os jovens das nossas
comunidades são os principais agentes da transformação desejada e aqueles que
construirão — assim o esperamos — um planeta mais saudável para acolher os
sonhos e as aspirações humanas. Devemos
agir imediatamente, veiculando esta mensagem de confiança na juventude e em sua
capacidade de transformação de uma forma abrangente e eficaz, utilizando
todos os meios de comunicação ao nosso alcance e uma linguagem positiva, se
desejarmos que as chances de um futuro saudável e seguro estejam garantidas
para as gerações atuais e futuras.
Aspirações compartilhadas
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Sem negar nossa
preocupação com as tristes perspectivas que se apresentam sobre o futuro da
vida humana no planeta Terra, acreditamos na potência transformadora que reside
na comunhão de aspirações das diversas comunidades religiosas do mundo.
Congregados na intenção de transformar o paradigma de desenvolvimento vigente,
pautado equivocadamente na visão de que a proteção ao meio ambiente é um
obstáculo ao crescimento econômico e à promoção do bem-estar de nossas
sociedades — e sua correlata mentalidade predadora — desejamos contribuir com a
promoção de importantes transformações éticas e comportamentais — individuais e
coletivas — na direção de uma Criação que reflita esforços de cuidado, conexão
espiritual e justiça social, econômica e ambiental.
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Entendemos como
fundamental que a sociedade, por intermédio também das suas comunidades
religiosas, envolva-se assertivamente na discussão sobre as mudanças
climáticas, a responsabilidade que temos sobre elas e o que podemos fazer,
individual e coletivamente, para mudar nosso estilo de vida, interagindo com
seus governos e instituições especializadas no processo de construção de uma
agenda global de enfrentamento da crise climática, anunciadas pela Ciência e
que só vem agravando, decorrentes das ações humanas predatórias.
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Convocamos as
comunidades religiosas a demandarem que seus governos nacionais assumam metas
ambiciosas na Conferência do Clima (COP 21), que ocorrerá em Paris em dezembro
de 2015, para promover: 1) a redução substancial das emissões de gases com
efeito de estufa compatível com a necessidade de limitar o aumento da
temperatura global a 2 graus Celsius até 2100; 2) a preservação da
biodiversidade em todos os biomas; 3) o controle do desmatamento; 4) ações de
adaptação em benefício das populações mais vulneráveis aos impactos das
mudanças climáticas; 5) a garantia de preservação de tradições culturais e
modos de vida; 6) o combate à fome e à indignidade, e 7) a adoção preferencial
de fontes de energia renováveis e de tecnologias limpas.
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Que a presente
declaração seja nosso compromisso coletivo para um clima ambiental e relacional
mais saudável entre todos os seres da Terra.
Rio de Janeiro, 25 de
agosto de 2015.
André Trigueiro
Pastor Ariovaldo
Ramos
Mãe Beata de Yemonjá
Dolores (Inkaruna)
Ayay Chilón
Mãe Flávia Pinto
Reverendo Fletcher
Harper
Padre Josafá Carlos
de Siqueira SJ
Baba Kola Abimbola
Léo Yawabane
Lama Padma Samten
Rabino Nilton Bonder
Pastor Timóteo
Carriker
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