FONTE: ONU - BRASIL
A COP 26 nesta semana, debateu a participação de mulheres e meninas nas políticas e ações climáticas. A participação feminina pode gerar efeitos em cascata e ajudar na adaptação climática. Entretanto, o seu potencial segue negligenciado.
Segundo o presidente da Conferência, Alok Sharma, clima e gênero estão intimamente interligados, afinal, o impacto da mudança climática afeta as mulheres e meninas de forma desproporcional, uma vez que elas correspondem a 80% dos deslocados por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo.
A diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen, ressaltou que o mundo ainda “não está fazendo o suficiente”. Ela destacou a atualização de um relatório do Programa, que revela que, com as atuais contribuições e promessas nacionais, o mundo está a caminho de reduzir cerca de 7,8% das emissões anuais de gases de efeito estufa em 2030, bem longe dos 55% necessários para conter o aquecimento global em 1,5º C.
As mulheres assumiram o palco na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP26) para mostrar que os impactos dessa crise não são neutros em termos de gênero e que as ações no campo precisam de participação feminina. O principal argumento defendido é que investir em mulheres e meninas cria efeitos em cascata que são sentidos em comunidades inteiras. A sua participação e conhecimento é mais necessária do que nunca.
Aquecimento - A atuação das mulheres é ainda mais importante considerando uma nova análise que mostra que os anúncios dos líderes mundiais na COP26 ainda deixam o planeta no caminho do aquecimento global catastrófico.
Após percorrer cerca de 13 mil quilômetros pela Europa, Little Amal, um fantoche gigante que representa uma jovem refugiada síria, chegou a Glasgow na hora certa para o “Dia da Mulher” na COP26.
A obra de arte com 3,5 metros de altura surpreendeu os participantes da plenária quando subiu as escadas e se juntou à ativista climática de Samoa Brianna Fruean em um abraço e uma troca de presentes. Brianna deu a ela uma flor, representando esperança e luz, e Amal retribuiu com um saco de sementes.
A ativista afirmou: “Nós embarcamos aqui para uma jornada, de dois lugares muito diferentes, mas estamos conectadas pelo fato de estarmos vivendo em um mundo quebrado que tem sistematicamente marginalizado mulheres e meninas. Especialmente mulheres e meninas de comunidades vulneráveis.”
Emergência Climática - Fruean lembrou aos participantes que o peso da emergência climática que amplifica as desigualdades existentes é frequentemente mais suportado pelas mulheres. Ela destacou que Amal trouxe sementes para compartilhar fisicamente, para inspirar, sementes representam esperança. A beleza delas é que “você precisa ser altruísta o suficiente para se contentar com o fato de não poder comer os frutos ou dar flores, mas sentir que vale a pena saber que seus filhos viverão com sua beleza”.
A ativista destacou ainda que essas unidades precisam ser regadas e nutridas para dar frutos e flores, convidando os delegados a continuarem seu trabalho após o término da conferência. “Vou plantar essas sementes quando nossos ministros estiverem prontos, mas espero que dentro das negociações e das salas você possa plantá-las e quando saímos da COP, você cuide delas para que cresçam em um mundo lindo que mereça garotas como Amal e que todas as garotas estejam seguras nele”, disse.
Equidade de gênero e crises climáticas - O presidente da COP26, Alok Sharma explicou “por que gênero e clima estão profundamente interligados”, e ressaltou que o impacto da mudança climática afeta as mulheres e meninas de forma desproporcional.
A pequena Amal e as meninas sírias que ela representa fazem parte dos 80% dos deslocados por desastres e mudanças climáticas em todo o mundo.
Recursos naturais e ecossistemas - Em países em desenvolvimento, elas são geralmente as primeiras a gerir o capital ambiental que as rodeia. Desde coletar água para cozinhar e limpar, usar a terra para o gado, buscar alimentos em rios e recifes e coletar lenha, as mulheres em todo o planeta usam e interagem com os recursos naturais e ecossistemas diariamente.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outras agências da ONU, elas também são as primeiras a sentir os efeitos da mudança climática ao percorrer distâncias cada vez maiores para encontrar o que necessitam para alimentar suas famílias.
Além disso, embora a degradação ambiental tenha graves consequências para todos os seres humanos, afeta em particular os setores mais vulneráveis da sociedade, principalmente as mulheres, cuja saúde é mais frágil durante a gravidez e a maternidade.
No entanto, o reconhecimento da contribuição real ou potencial feminino para a sobrevivência do planeta e para o desenvolvimento permanece limitado. A desigualdade de gênero e a exclusão social continuam a aumentar os efeitos negativos da gestão ambiental insustentável e destrutiva sobre mulheres e meninas.
Normas sociais e culturais discriminatórias persistentes, como acesso desigual à terra, água e outros recursos e a falta de participação nas decisões relativas ao planejamento e gestão da natureza, muitas vezes levam à ignorância das enormes contribuições que podem dar.
A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, disse aos delegados da COP26 que enfrentar a mudança do clima é uma questão de justiça e igualdade para os mais vulneráveis e afetados, incluindo comunidades indígenas e países menos desenvolvidos, reforçando o papel das mulheres.
Financiamento - Pelosi observou que ela trouxe 21 pessoas na maior delegação parlamentar americana até o momento para uma COP. Ela anunciou que, até o final do ano, o Congresso planeja aprovar uma legislação para dobrar o financiamento climático internacional.
A ideia é “reconstruir melhor com as mulheres”, disse para as integrantes de sua delegação. Uma delas foi a deputada Alexandra Ocasio Cortez, conhecida por ser a mulher mais jovem a servir no congresso dos Estados Unidos e por ser uma das mais ativas em ações e legislação climática.
Em entrevista à ONU News, ela disse que a liderança que as levou a Glasgow não será a liderança que as tirará daquele lugar, referindo-se ao motivo pelo qual era importante para as mulheres se envolverem na luta pelo clima.
Mulheres da América do Sul ao Ártico - Tendo esse aspecto em mente, a ativista indígena do povo Wapixana na Guiana, Immaculata Casimero, trabalha para ajudar a dar mais poder às mulheres em sua comunidade.
Em entrevista à ONU News, ela revelou que conduz sessões de capacitação porque gostaria de ver mais mulheres na liderança. Em grande parte do tempo, existem apenas homens exercendo liderança e o patriarcado “precisa ser quebrado”.
A ativista indígena disse que mulheres podem liderar melhor do que os homens como acontece em casa, cuidando dos filhos, e especialmente porque “toda a humanidade existe” por causa delas. Casimero também apontou que mulheres indígenas são veículos do conhecimento tradicional para as novas gerações, e têm um papel extremamente importante no combate às mudanças climáticas.
Insegurança alimentar - Nessa área, a crise atingiu sua comunidade natal este ano com a perda de “vários hectares de lavouras de mandioca, sua principal fonte de renda”. As chuvas foram fortes e inesperadas. A situação também gerou insegurança alimentar.
Ela contou que o “sol está muito mais quente do que antes”. Pelo clima que se faz sentir, o povo não sabe como realmente se adaptar “porque quando deveria haver chuva, há sol e quando deveria haver sol, há chuva”.
A ativista indígena relatou ainda que todo o sistema de cultivo agrícola é afetado pela mudança climática e “não há mais nada de que depender”. Em outra parte do mundo vivem os Sami, povos indígenas de língua fino-úgrica da região de Sápmi. Atualmente a área que abrange grande parte do norte da Noruega, Suécia e Finlândia, também está sentindo em primeira mão a crise climática.
Pavilhão indígena - Em declarações feitas no Pavilhão Indígena na COP26, a jovem ativista Maja Kristine Jama disse que a mudança climática no Ártico está acontecendo muito rápido. Ela destacou que o tempo está mudando com muita instabilidade. Onde os invernos são instáveis, o congelamento do gelo não ocorre como deveria. Todo o conhecimento tradicional para administrar a paisagem também está mudando.
Também no evento, a amiga de Jama, Elle Ravdna Nakkakajarvi, clamou aos líderes mundiais presentes na conferência que as "ouçam verdadeiramente".
Ela declarou: “Não façam promessas vazias, porque somos nós quem sentimos as mudanças climáticas em nossos corpos e temos conhecimento sobre as terras e águas em nossas áreas e podemos encontrar soluções. Nós merecemos ser ouvidas.”
Lacuna de Liderança - Na terça-feira (09) a COP26 teve ainda o Dia da Ciência. Na sessão temática, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA, apresentou uma atualização do último Relatório de Lacunas de Emissões. A nova versão inclui dados de promessas feitas desde o início da conferência.
A diretora executiva da agência, Inger Andersen, ressalta que o mundo ainda “não está fazendo o suficiente, não está onde precisa estar e precisa dar um passo à frente com muito mais ação, urgência e muito mais ambição”. Ela destaca haver ainda “uma lacuna de liderança”, que precisa ser endereçada antes do encerramento da COP26.
O relatório revela que com as atuais contribuições e promessas nacionais, o mundo está a caminho de reduzir cerca de 7,8% das emissões anuais de gases de efeito estufa em 2030, bem longe dos 55% necessários para conter o aquecimento global em 1,5º C.
Promessas - Inger Andersen destacou que considerava as promessas insuficientes. Segundo a oficial da ONU, é necessário se empenhar mais, incluindo os planos e promessas atualizados porque “o mundo só vai cortar 8% das emissões até o final da década”. Andersen disse ainda que considera positivo ver os países em diálogo, mas alertou que promessas vagas devem ser desencorajadas pela falta de transparência, uma vez que são difíceis de calcular e de exigir responsabilidades.