quinta-feira, 20 de julho de 2023

INVESTIMENTO DO FUNDO DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA DA ONU NO BRASIL


Fundo de Desenvolvimento Agrícola da ONU anuncia novo investimento de US$ 900 milhões para melhorar a vida de mais de 600 mil pessoas no Brasil
Legenda: No último domingo (16), Alvaro Lario foi a Cabaceiras, na Paraíba, onde se encontrou com agricultores do Procase, um dos projetos apoiados pelo Fundo de Desenvolvimento Agrícola da ONU na cidade. Com o apoio do FIDA, as famílias que vivem no semiárido paraibano passaram a ter maior acesso à água potável e à assistência técnica para a melhoria dos rebanhos. Atualmente, agricultores familiares, como a Dona Telma, passaram a fornecer leite e iogurte para as escolas da região.
Foto: © Manuela Cavadas/FIDA.

 FONTE; ONU - BRASIL

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) anunciou nesta quarta (19) novo investimento de US$ 900 milhões no Brasil. 

Alvaro Lario, presidente do Fundo das Nações Unidas, está em missão oficial ao Brasil desde o último domingo (16). 

Com a cooperação dos principais cofinanciadores dos projetos, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Fundo Verde para o Clima e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os investimentos podem apoiar 600 mil famílias na região do semiárido nordestino.

A parceria entre o governo do Brasil e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas visa alcançar resultados inéditos nos próximos anos, transformando a vida  daqueles que vivem no meio rural.

Com a cooperação dos principais cofinanciadores dos projetos, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Fundo Verde para o Clima e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os investimentos podem ultrapassar US$ 900 milhões (aproximadamente R$ 4 bilhões), o suficiente para assistir 600 mil famílias da região Nordeste, contribuindo para o aumento da produtividade, a segurança alimentar, práticas agrícolas sustentáveis e a resiliência climática - contra longos períodos de estiagem, por exemplo.

“O Brasil mais uma vez colocou a luta contra a pobreza e a fome no topo da agenda política. Isso é essencial em um contexto global em que 2,4 bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar moderada ou grave”, afirmou o presidente do FIDA, Alvaro Lario.

Segundo ele, o Fundo está pronto para continuar seus esforços em parceria com o Brasil, a fim de trazer recursos e soluções adequadas de apoio às comunidades rurais, instituições, redes alimentares e de proteção ambiental. “Fico feliz em dizer que as prioridades do Brasil e do FIDA estão totalmente alinhadas”, concluiu.

Na última década, o FIDA e o Brasil financiaram seis grandes iniciativas, que representaram um total de investimentos de US$ 453 milhões. Cada projeto, de acordo com avaliação técnica de impactos diferenciados, representou melhorias reais na vida de mais de 252 mil famílias.

Cerca de 60% dos participantes dos projetos conseguiram sair da pobreza extrema; 33% aumentaram sua renda; 67% melhoraram o acesso à alimentação; e 59% diversificaram o que comiam. No âmbito da agricultura familiar, 61% aumentaram a produção e 33% ampliaram o acesso aos mercados.

Presidente do FIDA no Brasil

Nos próximos dias, em Brasília, o presidente Lario participa de várias reuniões de alto nível com os principais ministérios, como Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente, Fazenda e Desenvolvimento Social. Como primeiro compromisso oficial na capital federal, ele manteve um encontro com governadores do Consórcio Nordeste, com o objetivo de discutir novas parcerias para o desenvolvimento rural sustentável e inclusivo no País.

No início desta semana, o presidente Lario visitou a Paraíba, onde presenciou o impacto das iniciativas atuais e anteriores apoiadas pelo FIDA e ouviu os pequenos agricultores. Durante sua visita de campo, ele viu exemplos de sucesso na criação de caprinos, processamento de polpa de frutas nativas, dessalinização de água e saneamento básico, educação rural contextualizada e inclusão de gênero.

Fundo de Desenvolvimento Agrícola da ONU anuncia novo investimento de US$ 900 milhões para melhorar a vida de mais de 600 mil pessoas no Brasil
Legenda: No domingo (16), Alvaro Lario foi a Cabaceiras, na Paraíba, a cidade onde menos chove no Brasil. Com o apoio do FIDA, as famílias que vivem no semiárido paraibano passaram a ter maior acesso à água potável e à assistência técnica para a melhoria dos rebanhos. A caprino e ovinocultura do semiárido paraibano ganharam força.
Foto: © Manuela Cavadas/FIDA.

Investir na população rural

A forte parceria entre o FIDA e o Brasil é baseada em um compromisso conjunto de redução da pobreza e na busca de iniciativas inovadoras que possam ajudar as comunidades rurais. Desde a década de 1980, os investimentos do FIDA no País têm se concentrado especialmente no semiárido nordestino. Os participantes têm sido agricultores familiares e grupos vulneráveis, como comunidades indígenas e remanescentes quilombolas, além de assentados da reforma agrária, mulheres e jovens. Até hoje, 13 projetos foram implementados e 615,4 mil famílias beneficiadas, com um investimento total de US$ 1,18 bilhão, dos quais US$ 297 milhões financiados pelo FIDA.

As operações do FIDA em território nacional também incluem um centro regional de Cooperação Sul-Sul e Triangular (CSST), que constantemente compartilha as melhores práticas  Brasil para outros países do mundo.

O SER HUMANO E O MEIO AMBIENTE POR AILTON KRENAK


 

sábado, 15 de julho de 2023

CRISE CLIMÁTICA

FONTE: ONU - BRASIL

Tendência de aquecimento de longo prazo se acelera e o aumento do nível do mar está acima da média global.

Enchentes e deslizamentos de terra causam bilhões em danos enquanto a seca afeta a produção de alimentos e energia.

Esforços de adaptação e a mudança para energias renováveis precisam aumentar.

Nos últimos 30 anos, as temperaturas aqueceram em média 0,2° Celsius por década - a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.
Legenda: Os choques climáticos e meteorológicos extremos estão se tornando mais graves na América Latina e no Caribe, à medida que a tendência de aquecimento de longo prazo e a elevação do nível do mar se aceleram. Nos últimos 30 anos, as temperaturas aqueceram em média 0,2° Celsius por década na região - a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.
Foto: © OMM, Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.

Os choques climáticos e meteorológicos extremos estão se tornando mais graves na América Latina e no Caribe, à medida que a tendência de aquecimento de longo prazo e a elevação do nível do mar se aceleram. É o que aponta um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado nesta quarta-feira (5). O Brasil é mencionado no documento por conta da queda na produção agrícola no início de 2022, das chuvas que mataram 230 pessoas em Petrópolis (RJ) no mesmo período e dos incêndios no estado do Amazonas.

Nos últimos 30 anos, as temperaturas aqueceram em média 0,2° Celsius por década - a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022. O documento destaca um ciclo vicioso de impactos em espiral nos países e nas comunidades locais.

Assim, por exemplo, a seca prolongada levou a uma queda na produção de eletricidade a partir de hidrelétricas em grande parte da América do Sul, provocando um aumento na demanda por combustíveis fósseis em uma região com grande potencial inexplorado de energia renovável.

O calor extremo, combinado a solos secos, alimentou períodos de incêndios florestais recordes no auge do verão de 2022, fazendo com que as emissões de dióxido de carbono atingissem os níveis mais altos em 20 anos e, com isso, manteve temperaturas ainda mais altas.

O derretimento das geleiras piorou, ameaçando ecossistemas e a futura segurança hídrica de milhões de pessoas. Houve uma perda quase total da camada de neve no verão de 2022 nas geleiras centrais dos Andes, com geleiras sujas e escuras absorvendo mais radiação solar, o que, por sua vez, acelerou o derretimento.

"Ciclones tropicais, precipitação intensa e inundações e secas severas de vários anos resultaram em perda de vidas e bilhões em danos econômicos ao longo de 2022. O aumento da elevação do nível do mar e o aquecimento dos oceanos representam riscos crescentes para os meios de subsistência, ecossistemas e economias costeiras", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

"Muitos eventos extremos foram influenciados por uma duradoura La Niña, mas também foram marcados pela mudança climática induzida pelo homem. O recém-chegado El Niño aumentará o calor e trará mais condições climáticas extremas. Os Alertas Antecipados para Todos serão vitais para proteger vidas e meios de subsistência", ele disse.

"As áreas de maior prioridade para adaptação e mitigação das mudanças climáticas na região são agricultura e segurança alimentar e energia. O relatório aborda esses tópicos fundamentais, destacando os impactos das secas persistentes na região sobre a produção agrícola e o potencial inexplorado da energia renovável, especialmente os recursos solares e eólicos", disse o dirigente.

América Latina e Caribe têm uma grande participação no consumo final de modernas energias renováveis, principalmente por causa da energia hidrelétrica. No entanto, há também o potencial de explorar os recursos solares e eólicos da região, que representaram apenas 16% da geração renovável total em 2020.

A região desempenha um papel fundamental na produção de alimentos e serviços ecossistêmicos que beneficiam não apenas América Latina e Caribe, mas todo o planeta. Ela também é altamente vulnerável a riscos climáticos porque cerca de três quartos da população vivem em assentamentos urbanos informais e 8% da população está subnutrida.

relatório foi divulgado durante a Convenção Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada em Havana, Cuba, e antes da Conferência Iberoamericana de Diretores de Serviços Meteorológicos e Hidrológicos. Ele mostra a importância dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais e dos centros climáticos regionais no fornecimento de serviços aprimorados para apoiar adaptação e mitigação do clima.

Este é o terceiro relatório anual desse tipo para a região e fornece aos tomadores de decisão informações regionais e localizadas para subsidiar ações.

Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022
Legenda: Relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.
Foto: © Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023.

Principais mensagens

  • O período de 1991 a 2022 mostrou uma tendência de aquecimento médio de cerca de 0,2 °Celsius por década (e maior no México e no Caribe). Essa foi a mais forte já registrada desde o início dos períodos de medição de linha de base de 30 anos, em 1900. Como um todo, 2022 não foi tão quente quanto 2021 na região devido ao efeito de resfriamento da La Niña por um período de três anos.
  • O nível do mar continuou a subir a uma taxa maior no Atlântico Sul e no Atlântico Norte subtropical em comparação com a média global. O aumento do nível do mar ameaça uma grande parte da população da América Latina e do Caribe que vive em áreas costeiras, contaminando aquíferos de água doce, erodindo linhas costeiras, inundando áreas baixas e aumentando os riscos de inundações costeiras.
  • Os ciclones tropicais, em especial os furacões Fiona, Lisa e Ian, causaram danos graves na América Central e no Caribe. O furacão Fiona causou danos estimados em 2,5 bilhões de dólares em Porto Rico, que foi duramente atingido.
  • Inundações e deslizamentos de terra provocados por chuvas fortes causaram centenas de mortes e bilhões de dólares em perdas econômicas. Em apenas algumas semanas, em março e fevereiro, dois desastres relacionados às chuvas devastaram Petrópolis, no Rio de Janeiro, causando mais de 230 mortes.
  • A seca prolongada prejudicou setores econômicos importantes, como agricultura, energia, transporte e abastecimento de água.
  • No Brasil, o índice de produção agrícola caiu 5,2% no primeiro trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, devido a uma queda na produção de soja e milho.
  • A seca na Bacia do Paraná - Prata, no sudeste da América do Sul - um dos principais celeiros agrícolas do mundo - foi a pior desde 1944. A queda na produção de energia hidrelétrica devido aos baixos fluxos dos rios forçou a substituição das fontes de energia hidrelétrica por combustíveis fósseis, dificultando os esforços de transição energética para emissões líquidas zero.
  • Foi o quarto ano mais seco já registrado no Chile, que está passando por uma mega seca de 14 anos, a mais longa e mais grave seca da região em mais de mil anos.
  • Em janeiro, novembro e dezembro de 2022, o sul da América do Sul sofreu com ondas de calor longas e intensas.
Tendência de aquecimento de longo prazo se acelera e o aumento do nível do mar está acima da média global.
Legenda: Tendência de aquecimento de longo prazo se acelera e o aumento do nível do mar está acima da média global.
Foto: © OMM, Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.
  • As temperaturas excepcionalmente altas, a baixa umidade do ar e a seca severa levaram a períodos de incêndios florestais recordes em muitos países. Em janeiro e fevereiro, Argentina e Paraguai registraram um aumento de mais de 250% no número de focos de calor detectados em comparação com a média de 2001-2021. Entre janeiro e março, as emissões de CO2 de incêndios florestais foram as mais altas dos últimos 20 anos. Bolívia e Chile também registraram um aumento maciço de incêndios florestais durante as ondas de calor de novembro e dezembro de 2022.
  • As emissões gerais na Amazônia brasileira ficaram próximas à média de 2003-2021. No entanto, o estado do Amazonas registrou as maiores emissões totais da temporada de incêndios de julho a outubro dos últimos 20 anos, com pouco mais de 22 megatons, quase cinco megatons a mais do que o recorde anterior de 2021.
  • A capacidade de energia renovável aumentou em 33% entre 2015 e 2020. No entanto, o ritmo precisa ser acelerado, pois a demanda por eletricidade deve aumentar 48% entre 2020 e 2030. Além do significativo potencial hidrelétrico na América Latina e no Caribe, há recursos solares e eólicos inexplorados, que representaram 16% da geração total de energia renovável em 2020.

Principais fatores climáticos

América Latina e Caribe são cercados pelos oceanos Pacífico e Atlântico, e o clima é amplamente influenciado por temperaturas predominantes da superfície do mar e fenômenos associados entre atmosfera e oceano em grande escala, como o El Niño-Oscilação Sul.

2022 marcou o terceiro ano consecutivo de condições de La Niña. Isso foi associado a temperaturas do ar mais altas e déficits de precipitação no norte do México, a um período prolongado de condições de seca em grande parte do sudeste da América do Sul e ao aumento das chuvas em partes da América Central e do norte da América do Sul e na região amazônica.

Impactos e riscos relacionados ao clima

A população da América Latina e do Caribe deve ser mais conscientizada sobre os riscos relacionados ao clima e os sistemas de alerta precoce na região precisam ser fortalecidos e chegar às comunidades mais necessitadas. Apenas 60% das pessoas são cobertas por sistemas de alerta antecipado de múltiplos perigos, de acordo com dados de 2020.

Em 2022, 78 ameaças meteorológicas, hidrológicas e relacionadas ao clima foram relatadas na região, de acordo com o Banco de Dados de Eventos de Emergência do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres. Desses, 86% foram eventos relacionados a tempestades e inundações, responsáveis por 98% das 1.153 fatalidades documentadas no banco de dados.

Os danos econômicos de US$ 9 bilhões de dólares informados foram causados principalmente por secas (40%) e tempestades (32%). Presume-se que os números reais relacionados aos impactos de eventos extremos sejam piores devido à subnotificação e ao fato de não haver dados disponíveis sobre os impactos em alguns países. 

segunda-feira, 10 de julho de 2023

segunda-feira, 26 de junho de 2023

ARTIGO: INFRAESTRUTURA SUSTENTÁVEL

 

ARTIGO: Infraestrutura sustentável

Fonte: ONU-BRASIL

 Preparando o caminho para as gerações futuras na América Latina e Caribe

Jorge Moreira da Silva, Diretor Executivo do UNOPS

Por Jorge Moreira da Silva* 

A infraestrutura é a espinha dorsal de qualquer sociedade. Ela fornece a estrutura para que as comunidades funcionem, as economias prosperem e as nações evoluam. No entanto, a infraestrutura é frequentemente ignorada nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, apesar de seu papel fundamental. Isso é particularmente relevante tendo em vista as mudanças climáticas: regiões como a América Latina e o Caribe são cada vez mais afetadas por fortes chuvas, tempestades tropicais, furacões, secas, entre outros eventos extremos.

Uma pesquisa realizada pelo UNOPS, organismo das Nações Unidas especializado em infraestrutura, em colaboração com a Universidade de Oxford, mostrou que a infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Também constatou que a infraestrutura contribui com 79% de todas as emissões de gases de efeito estufa e é responsável por 88% de todos os custos de adaptação. Claramente, a infraestrutura é fundamental para os esforços de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, incluindo respostas a perdas e danos.

É urgente que entendamos e ajamos de acordo com o nexo entre a crise climática, a infraestrutura e o desenvolvimento sustentável. Especialmente neste momento de múltiplas crises: da instabilidade econômica ao conflito, das tensões geopolíticas às crescentes desigualdades, e enfrentando os efeitos devastadores da crise climática. Os países em desenvolvimento, inclusive os da região da América Latina e do Caribe, também foram afetados de forma desproporcional pelas consequências da pandemia de COVID-19, pela fragmentação das cadeias de suprimentos, pela inflação e pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos.

Essas questões, como sabemos, estão fortemente interligadas. Os impactos da mudança climática podem piorar as desigualdades, reduzir a renda, minar a resiliência e impedir o desenvolvimento das comunidades afetadas. Cada desastre induzido pelo clima pode criar novos ciclos de vulnerabilidade, tornando as comunidades menos capazes de enfrentar o próximo impacto.

Para lidar com as necessidades imensas e sem precedentes dos impactos de um clima em mudança, precisamos de uma infraestrutura que seja sustentável, resiliente e inclusiva.

As necessidades globais de infraestrutura são imensas, e as comunidades da América Latina e do Caribe, sem dúvida,sentem esse desafio. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) identificou que, até 2030, a região precisa investir US$ 2.220,736 bilhões em infraestrutura de água e saneamento, energia, transporte e telecomunicações para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Uma parte significativa desse financiamento deve ser destinada à nova infraestrutura, enquanto o restante é necessário para manter e substituir ativos existentes ou obsoletos. A infraestrutura exigirá pelo menos 3,12% do PIB da região a cada ano até 2030. Isso representa um aumento no investimento em infraestrutura de mais de 70% em comparação com a média entre os anos de 2008 e 2019. É um desafio significativo na esteira do estresse econômico e fiscal causado pela pandemia.

Mas, embora saibamos que é necessário um investimento significativo em infraestrutura, é importante trabalharmos juntos para garantir que isso seja feito de forma a criar resiliência, acelerar as transições de baixo carbono e, o mais importante, não deixar ninguém para trás. A disponibilidade de infraestrutura de qualidade em saúde, educação, água e saneamento, transporte, juntamente com transparência e a boa governança, são prioridades para os serviços públicos.

Também é importante considerar que o investimento em infraestrutura sustentável deve ir além das estruturas físicas. É necessário investir em um ambiente propício de recursos humanos, políticas e processos e tecnologia. É necessário investir nas operações e na manutenção da infraestrutura para que ela dure - e também na proteção das pessoas e do planeta para garantir que ela seja segura e adaptável às mudanças climáticas.

Ao trabalharmos juntos, podemos reunir o conhecimento especializado certo para garantir que a infraestrutura atenda a todos igualmente e seja compatível com o clima. Ao trabalharmos juntos, podemos encontrar soluções mais econômicas para necessidades imensas, como soluções de infraestrutura verde baseadas na natureza, que são ecologicamente corretas e de baixo custo.

O UNOPS tem anos de experiência na implementação de infraestrutura de qualidade em todo o mundo, inclusive na América Latina e no Caribe. No Panamá, por exemplo, ajudamos a conectar países e comunidades por meio da construção da nova Ponte Binacional. Ao conectar a Costa Rica e o Panamá, essa ponte ajuda a fortalecer o desenvolvimento econômico e comercial em duas cidades fronteiriças no rio Sixaola. A construção gerou empregos para pessoas de ambos os lados da fronteira, enquanto o dinheiro da venda de material da antiga ponte ferroviária foi usado para renovar o mercado municipal de Sixaola. A importância da ponte para o desenvolvimento vai além da Costa Rica e do Panamá, beneficiando a região como um todo.

Da mesma forma, no Caribe, trabalhamos em projetos destinados a melhorar o desenvolvimento sustentável em toda a região. Isso inclui a construção do prédio do parlamento em Granada, a reabilitação de estradas na Jamaica e a reabilitação de pontes e aterros de rios em São Vicente e Granadinas. Esses projetos servem para fortalecer a estrutura dessas comunidades e, ao mesmo tempo, aumentar a resistência às mudanças climáticas.

Também trabalhamos com governos para fornecer as evidências necessárias para planejar, entregar e gerenciar a infraestrutura essencial para o crescimento da economia, proteger o meio ambiente e melhorar a vida de suas populações. Em Curaçao e Santa Lúcia, por exemplo, fornecemos assistência técnica em relação ao planejamento de infraestrutura resistente ao clima.

O caminho para o desenvolvimento sustentável é coletivo. Ao continuarmos a defender a infraestrutura sustentável na América Latina e no Caribe, lembremo-nos: não estamos apenas construindo estruturas; estamos construindo o futuro.

Os riscos são altos, mas as oportunidades são enormes. A infraestrutura sustentável não é mais uma mera opção; é uma necessidade. É a pedra angular de um futuro mais resiliente, inclusivo e sustentável. Temos o compromisso de construir esse caminho, um projeto de cada vez, movidos pela crença de que o futuro não é algo que acontece conosco, mas algo que construímos juntos.

*Jorge Moreira da Silva, diretor executivo do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS).