Moise Mugenyi kabamgabe Foto: Reprodução |
O Brasil e o mundo continuam perplexos de
indignação com o crime bárbaro que vitimou Moise Mugenyi Kabagambe, 24 anos, da
República Democrática do Congo, que remonta a crueldade da época de escravidão
sofrida pelos africanos. Ao que tudo indica, mais um triste
capítulo da violência do racismo e xenofobia, uma realidade que infelizmente
ainda perdura no Brasil.
Agências
ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) pediram esclarecimento das autoridades
brasileiras sobre o caso. O pedido partiu do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para migrações
(OIM), que manifestaram consternação pela morte de Moise. Ele chegou ao Brasil
com 14 anos juntamente com seus irmãos para fugir da guerra em seu país.
A família de Moise afirma que ele foi ao
local, da Barra da Tijuca região oeste do Rio de Janeiro, para cobrar dívidas de diárias atrasadas por serviços prestados a um
quiosque em que trabalhava como atendente. O proprietário do quiosque contesta
esta versão e relatou não conhecer os agressores.
Em todo o mundo o drama sofrido por
refugiados causa indignação para todos os que acreditam no valor da pessoa
humana. Seja por motivos de guerras ou
mudanças climáticas, os refugiados necessitam de melhor atenção e garantias de direitos
como cidadãos. No caso do Brasil, que
vem sofrendo com a crise sanitária e econômica que penaliza a maioria da
população brasileira, há que se avaliar em que condições vivem os refugiados.
A
perda de direitos trabalhistas agrava a situação econômica, a intolerância
étnica na maioria da população, principalmente os afrodescendentes e dos
africanos que aqui residem. Todos temos direito ao trabalho. De receber os frutos de nosso empenho de produzir para sobreviver com dignidade e contribuir para a construção de sociedades que sejam de fato sustentáveis.
Mais de 30 milhões de pessoas no Brasil deixaram de receber o “auxílio emergencial”. Se tomarmos como base o cálculo do custo de
vida no Brasil atual, já em dezembro de 2021 , segundo o Dieese, para uma
família sobreviver o salário necessário deveria ser R$5.800,98, muito aquém do
salário mínimo vigente em dezembro: de R$1.100,00 e do “auxílio emergencial”: de
R$150,00 e R$ 375,00 que a população vinha recebendo e parou de receber no
final de 2021.
O que é o salário
mínimo necessário:
O salário mínimo
necessário para atender as necessidades básicas de uma família de quatro pessoas, segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de
Alimentos, realizada mensalmente pelo Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos).
É
impressionante a falta de sensibilização da classe política brasileira sobre o
sofrimento que a maioria da população vem sofrendo desde o início da
pandemia. Haveria algo mais urgente além do controle e fim da pandemia, da intolerância étnica, para se
deliberar em todas as instâncias políticas do Brasil do que acabar com a fome e
a miséria da maioria da população?
Com
tamanha desigualdade, inúmeras cenas de violência e perda da dignidade humana continuam
acontecendo. Os noticiários de TVs estarrecem a quem suporta assistir tanta
degradação diária de seres humanos.
Os conflitos socioambientais que tem origem na
ação antrópica (ação realizada pelo ser humano sobre a natureza) trazem as consequências
das mudanças climáticas, causam às pandemias, epidemias, crises sanitárias, que
por sua vez agravam a péssima distribuição de renda no Brasil, as desigualdades
sociais, econômicas, os conflitos étnicos, xenofóbicos.
Que as inúmeras manifestações de repúdio a
mais esta violência étnica que acontecem no Brasil e no mundo, mobilizem nossa
solidariedade e nos faça refletir sobre nossa humanidade. Quais os valores de
educação, civilização que as sociedades estão edificando em pleno século XXI,
em um mundo que cada vez mais enaltece as novas tecnologias e, no entanto, regride a
barbárie.
Que possamos vencer o ódio acreditando na
nossa capacidade de valorizar a vida e a conquista de melhores condições
sanitárias, econômicas, de educação, de cultura, éticas e valores que de fato construam
sociedades melhores, socioambientalmente mais sadias, justas, fraternas, sustentáveis e com
melhor qualidade de vida para todos os seres humanos.
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