CULTURA
INDÍGENA E A GRANDE MALOCA (MEIO AMBIENTE)
POR: Adana
Omágua Kambeba (Danielle Soprano)
Foto: Ruth Jucá |
Adana Omágua Kambeba – Daniele Soprano – pertence ao povo Omágua Kambeba
(Povo das Águas). Tem atuação na área cultural, participou como atriz do filme
Xingu e está cursando medicina pela UFMG.
Na Conferência das Nações Unidas em 1972,
aconteceu a discussão sobre o Meio Ambiente Humano de onde surgiram questões
relacionadas à degradação ambiental e a poluição. Seguidas do lançamento de ações e declarações
para a comunidade internacional (como a declaração de Estocolmo que foi a
precursora em definir princípios de preservação e melhorias do Meio Ambiente) sendo
posteriormente consagradas na ECO-92 e enfatizados na Rio+20, ambos, no Rio de
Janeiro. Desde o início os termos Sustentabilidade e Desenvolvimento vêm
acompanhando a discussão sobre o Meio Ambiente levando a reflexão sobre viver
uma vida sustentável, mas no Meio Ambiente saudável. Isso caracteriza uma
consciência ambiental, levando a criação de uma legislação de proteção ao Meio
Ambiente reconhecendo-o em seu valor e sua importância para o bem da
humanidade.
Porém muito antes de existir ECO, Estocolmo
e ONU ou qualquer outro momento de debate sobre o Meio Ambiente, as Populações
Indígenas no mundo já reconheciam e reconhecem até hoje a importância da
natureza, expressa no solo, na água, no ar atmosférico, na flora e na fauna.
Ainda há muitos Povos Indígenas que mantém íntima relação com a Mãe Natureza de
onde se eleva a sabedoria ancestral, deixada pelos antigos que se foram e ainda
retransmitida pelos anciãos que continuam vivenciando e compartilhando esses
conhecimentos tradicionais, as lendas e crenças, a mitologia, a relação de
mundo e ensinos de respeito para com a natureza e para com os demais seres
vivos. O modelo mental indígena é diferente, não significa que seja melhor, mas
diferente pela singularidade de sua origem quando se trata de se relacionar com
o mundo. Por exemplo, muitas pessoas quando olham para uma árvore vêem
simplesmente uma árvore, outros nem notam a presença dessa árvore e há outros
que desejam muito cortá-la, motivados, às vezes, pelo sentimento do incômodo.
Mas para o indígena quando ele olha para uma árvore, dentro da sua leitura de
mundo, ele não enxerga somente uma árvore, mas reconhece uma outra vida, que
também faz parte dele, como se fosse um parente. Dentro da crença de vários Povos
Indígenas, é possível sentir e escutar o que uma árvore tem a dizer. O indígena
reconhece que ela pode revelar alívio e cura de enfermidades do corpo e da alma
através de suas raízes, cascas, galhos, folhas, flores e sementes. Enquanto no
mundo há pessoas indiferentes frente à natureza e suas manifestações como o amanhecer
de um dia, um pôr-do-sol, ou indiferente aos ciclos climáticos e as estações do
ano. Na visão dos Povos Indígenas é onde ocorre à conexão de seus valores
ancestrais, o palco da manifestação da força da cultura e da tradição de um
povo. Também vêem como um sinal de orientação sobre o cultivo e a subsistência
da comunidade. A terra é vida como a Mãe que nutri com seus frutos,
alimenta-nos, abriga-nos dando assim vida aos seres humanos. Os Povos Indígenas
sabem exercitar a Sustentabilidade sem interferir na harmonia da Mãe Natureza
que implica em respeitar os espaços naturais e a presença de outras vidas. Até
hoje os Povos Indígenas são um dos grandes defensores do bem-estar do Meio
Ambiente, lutando com suas próprias vidas e também nas diversas esferas,
nacionais e internacionais, ao lado de organizações não governamentais sérias
para com a defesa das florestas, rios e a toda a vida que nela cerca e vive.
Foto:Janerini PH |
“Quando a última
árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for
pescado, eles verão que dinheiro não se come”.
Provérbio indígena
No Brasil muitas vezes os Povos Indígenas
foram e ainda são tidos pelo Governo Brasileiro como um entrave para o
progresso do país. Mas o Governo se esquece de ouvir de fato os primeiros
habitantes desse país, considerados por muitos brasileiros como os verdadeiros
donos da terra, hoje chamada Brasil. O governo não pergunta para as Populações Indígenas
o que nós pensamos a respeito de “Ordem e Progresso”, como consta na bandeira
do país. No planeta Terra, em especial no Brasil, tem sofrido contínuas
agressões que vão desde a degradação do Meio Ambiente, agressão à
biodiversidade, destruição da camada de ozônio e dos recursos naturais. Não sendo
pouca toda essa situação ainda há agricultores e até companhias agrícolas
reivindicando a terra e não respeitando as demarcações após acordos com o
Governo. Será que é dessa forma que o país chegará ao “Progresso”? Será que é
dessa forma desmedida e desenfreada de agressões com a natureza? Onde está a
“Ordem” disso?
Para nós, Povos Indígenas, acreditamos que
para chegar ao “Progresso” do país, ou seja, seu Desenvolvimento é necessário
praticar o processo da Sustentabilidade com “Ordem”! A Ordem é expressa pelo
respeito e equilíbrio com o Meio Ambiente. Os nossos antigos já ensinavam que o
que fazemos à Mãe Natureza a nós é retornado, não como vingança por parte da
natureza, mas como conseqüência dos nossos atos, podendo nos retornar como uma
colheita dolorosa e amarga ou como uma colheita alegre e doce.
Cabe a nós fazermos à escolha.