quinta-feira, 1 de outubro de 2020

ARTIGO DE ADANA OMÁGUA KAMBEBA - CULTURA INDÍGENA E A GRANDE MALOCA (MEIO AMBIENTE)


CULTURA INDÍGENA E A GRANDE MALOCA (MEIO AMBIENTE)

POR: Adana Omágua Kambeba (Danielle Soprano)

 

Foto: Ruth Jucá


Adana Omágua Kambeba – Daniele Soprano – pertence ao povo Omágua Kambeba (Povo das Águas). Tem atuação na área cultural, participou como atriz do filme Xingu e está cursando medicina pela UFMG.

    Na Conferência das Nações Unidas em 1972, aconteceu a discussão sobre o Meio Ambiente Humano de onde surgiram questões relacionadas à degradação ambiental e a poluição.  Seguidas do lançamento de ações e declarações para a comunidade internacional (como a declaração de Estocolmo que foi a precursora em definir princípios de preservação e melhorias do Meio Ambiente) sendo posteriormente consagradas na ECO-92 e enfatizados na Rio+20, ambos, no Rio de Janeiro. Desde o início os termos Sustentabilidade e Desenvolvimento vêm acompanhando a discussão sobre o Meio Ambiente levando a reflexão sobre viver uma vida sustentável, mas no Meio Ambiente saudável. Isso caracteriza uma consciência ambiental, levando a criação de uma legislação de proteção ao Meio Ambiente reconhecendo-o em seu valor e sua importância para o bem da humanidade.

   Porém muito antes de existir ECO, Estocolmo e ONU ou qualquer outro momento de debate sobre o Meio Ambiente, as Populações Indígenas no mundo já reconheciam e reconhecem até hoje a importância da natureza, expressa no solo, na água, no ar atmosférico, na flora e na fauna. Ainda há muitos Povos Indígenas que mantém íntima relação com a Mãe Natureza de onde se eleva a sabedoria ancestral, deixada pelos antigos que se foram e ainda retransmitida pelos anciãos que continuam vivenciando e compartilhando esses conhecimentos tradicionais, as lendas e crenças, a mitologia, a relação de mundo e ensinos de respeito para com a natureza e para com os demais seres vivos. O modelo mental indígena é diferente, não significa que seja melhor, mas diferente pela singularidade de sua origem quando se trata de se relacionar com o mundo. Por exemplo, muitas pessoas quando olham para uma árvore vêem simplesmente uma árvore, outros nem notam a presença dessa árvore e há outros que desejam muito cortá-la, motivados, às vezes, pelo sentimento do incômodo. Mas para o indígena quando ele olha para uma árvore, dentro da sua leitura de mundo, ele não enxerga somente uma árvore, mas reconhece uma outra vida, que também faz parte dele, como se fosse um parente. Dentro da crença de vários Povos Indígenas, é possível sentir e escutar o que uma árvore tem a dizer. O indígena reconhece que ela pode revelar alívio e cura de enfermidades do corpo e da alma através de suas raízes, cascas, galhos, folhas, flores e sementes. Enquanto no mundo há pessoas indiferentes frente à natureza e suas manifestações como o amanhecer de um dia, um pôr-do-sol, ou indiferente aos ciclos climáticos e as estações do ano. Na visão dos Povos Indígenas é onde ocorre à conexão de seus valores ancestrais, o palco da manifestação da força da cultura e da tradição de um povo. Também vêem como um sinal de orientação sobre o cultivo e a subsistência da comunidade. A terra é vida como a Mãe que nutri com seus frutos, alimenta-nos, abriga-nos dando assim vida aos seres humanos. Os Povos Indígenas sabem exercitar a Sustentabilidade sem interferir na harmonia da Mãe Natureza que implica em respeitar os espaços naturais e a presença de outras vidas. Até hoje os Povos Indígenas são um dos grandes defensores do bem-estar do Meio Ambiente, lutando com suas próprias vidas e também nas diversas esferas, nacionais e internacionais, ao lado de organizações não governamentais sérias para com a defesa das florestas, rios e a toda a vida que nela cerca e vive.

Foto:Janerini PH

 









“Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, eles verão que dinheiro não se come”.  Provérbio indígena


   

    No Brasil muitas vezes os Povos Indígenas foram e ainda são tidos pelo Governo Brasileiro como um entrave para o progresso do país. Mas o Governo se esquece de ouvir de fato os primeiros habitantes desse país, considerados por muitos brasileiros como os verdadeiros donos da terra, hoje chamada Brasil. O governo não pergunta para as Populações Indígenas o que nós pensamos a respeito de “Ordem e Progresso”, como consta na bandeira do país. No planeta Terra, em especial no Brasil, tem sofrido contínuas agressões que vão desde a degradação do Meio Ambiente, agressão à biodiversidade, destruição da camada de ozônio e dos recursos naturais. Não sendo pouca toda essa situação ainda há agricultores e até companhias agrícolas reivindicando a terra e não respeitando as demarcações após acordos com o Governo. Será que é dessa forma que o país chegará ao “Progresso”? Será que é dessa forma desmedida e desenfreada de agressões com a natureza? Onde está a “Ordem” disso?

   Para nós, Povos Indígenas, acreditamos que para chegar ao “Progresso” do país, ou seja, seu Desenvolvimento é necessário praticar o processo da Sustentabilidade com “Ordem”! A Ordem é expressa pelo respeito e equilíbrio com o Meio Ambiente. Os nossos antigos já ensinavam que o que fazemos à Mãe Natureza a nós é retornado, não como vingança por parte da natureza, mas como conseqüência dos nossos atos, podendo nos retornar como uma colheita dolorosa e amarga ou como uma colheita alegre e doce.

    Cabe a nós fazermos à escolha.

GASTRONOMIA CONTRA A PERDA DE ALIMENTOS

Setor gastronômico é importante aliado

 contra a perda e desperdício de alimentos

  • Celebrado pela primeira vez em todo o mundo, Dia de Conscientização sobre a perda e o desperdício de alimentos, 29 de setembro, foi marcado no país por webinar com o tema “Sensibilização para a Gastronomia Sustentável”, iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em parceria com a Prefeitura de São Paulo e apoio da Fundação Ellen MacArthur.
  • Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos. Isso equivale a 220 milhões de toneladas de alimentos, com uma perda econômica estimada em 150 bilhões de dólares. 
Fonte: ONU  - Brasil
Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos.
Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos.

Em 29 de setembro de 2020, celebra-se pela primeira vez em todo o mundo, o Dia de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos. Para marcar esta data, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, e apoio da Fundação Ellen MacArthur, realizaram na manhã da terça-feira (29), um webinar internacional com o tema “Sensibilização para a Gastronomia Sustentável”.

Neste ano, as perdas e desperdícios de alimentos aconteceram em um contexto de aumento da fome global e das mudanças climáticas, da ameaça contínua da crise causada pela COVID-19 à segurança alimentar e nutricional de milhões de pessoas e do aumento da perda e desperdício de alimentos – resultado de restrições de movimento e transporte devido à pandemia.

“Eu não tenho dúvidas de que se tem uma lição que a pandemia nos deixa, é melhorar os sistemas de saúde e os sistemas alimentares”, destacou o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, durante a abertura do evento. “Temos que imaginar novas maneira de nos alimentar, e a gastronomia junto à cultura alimentar, estão no coração destas mudanças”.

Segundo o secretário de relações internacionais da cidade da prefeitura de São Paulo, Luiz Álvaro, é essencial promover o diálogo com atores da cadeia gastronômica. “São eles que fazem a ponte da produção rural com o consumidor final dos alimentos, e precisamos dialogar com quem está pensando na sustentabilidade e em como transformar essa relação do território com a comunidade”.

A secretária adjunta de desenvolvimento econômico e trabalho da prefeitura de São Paulo, Ana Carolina Lafemina, complementou que a cidade de São Paulo já vem realizando trabalhos de longa data contra o desperdício, entre eles um projeto premiado pelo Pacto de Milão em 2019.

Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos. Isso equivale a 220 milhões de toneladas de alimentos, com uma perda econômica estimada em 150 bilhões de dólares. Essa pode parecer uma situação contraditória em uma região onde quase 47 milhões de pessoas passaram fome em 2019, e que irá enfrentar um aumento nos números em decorrência da pandemia da COVID-19.

“A perda e o desperdício de alimentos é um grande tema, e somente com mecanismos de governança audaciosos, conseguiremos reverter os efeitos da pandemia e o impacto que virá a partir de uma perspectiva de crise alimentar e sanitária”, reforçou O oficial regional da FAO para políticas e sistemas alimentares, João Intini.

Conscientização sobre a perda e desperdício de alimentos

Alguns fatores que contribuem para o aumento das perdas são: época de colheita inadequada, condições climáticas, dificuldades na comercialização dos produtos, condições inadequadas de armazenamento, assim como as decisões tomadas no início da cadeia de abastecimento, que predispõem os produtos a uma vida útil mais curta.

A agricultora familiar Lia Góes, da Fazendinha Pedaço do Céu e Cooperapas, lembrou que produzir e cozinhar é um ato de amor, e que é preciso se planejar para evitar a perda e o desperdício de alimentos. “Precisamos ser conscientes do que vamos fazer, saber para onde e para quem vai. Se eu não sei tudo isso, todo o trabalho feito na roça é em vão”.

A coordenadora da coordenadoria de segurança alimentar e nutricional de São Paulo (COSAN/SP), Celia Alas, apresentou a experiência da cidade na redução do desperdício de alimentos. Desde o final de 2017, quando o programa começou, 8,7 toneladas de alimentos foram doadas para instituições parceiras. Em 2020, mesmo com os desafios da pandemia, mais de 130 toneladas de alimentos já foram doadas. Ao todo, são mais de 1 milhão de pessoas impactadas.

Durante o transporte, uma boa infraestrutura física e uma logística comercial eficiente são de extrema importância para evitar perdas de alimentos. O processamento e a embalagem dos alimentos também podem desempenhar um papel importante na preservação dos alimentos. Neste contexto, três chefs de cozinha participaram da transmissão compartilhando experiências gastronômicas sustentáveis do Brasil, Argentina e Colômbia.

A chef Telma Shiraishi, do Aizomê de São Paulo, contou que um dos conceitos mais importantes na gastronomia japonesa é o não desperdício de alimentos. Além disso, durante a adaptação da culinária para a realidade brasileira, estudou a fundo a questão da sazonalidade e do locavorismo. “Quem dita meu cardápio são os meus fornecedores. Em quase 14 anos de existência do meu restaurante, priorizo a riqueza da nossa costa. Felizmente tenho muitos fornecedores que trabalham com pesa responsável e sustentável”.

Representando o Bio Restaurant, de Buenos Aires na Argentina, a chef Alejandra Pais lembrou que sua experiência com a agroecologia veio desde pequena, cozinhando em casa com seus pais. Ela destaca que culturalmente, ainda há uma grande dificuldade de entendimento sobre a sazonalidade dos alimentos. “Era muita difícil o entendimento do porquê em determinados momentos do ano, não tínhamos no cardápio determinado produto ou verdura. Estamos desacostumados a comer os produtos da estação, e como trabalhamos apenas com orgânicos, precisamos adaptar para o que temos no momento”. O Bio também não produz nenhum tipo de resíduos.

Por fim, o chef colombiano Juan Manuel Barrientos, do El Cielo, restaurante com unidades em Medelín, Bogotá, Miami e Washington DC, compartilhou a experiência de sua fundação, desde a capacitação de soldados feridos em combate, vítimas de violência e indígenas, para que tenham na gastronomia uma alternativa de vida, como aulas de culinária criativa para o aproveitamento de alimentos. “Nós trabalhamos adaptação de pratos e substituições como o uso de hortaliças, para uma alternativa ao consumo de proteína animal. Isso também é uma forma de gerar menos impacto ao meio ambiente”.

O evento foi transmitido pelo Twitter da FAO Brasil (@FAOBrasil) e pode ser visto aqui.

SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE AÇAÍ

 Projeto estimula sustentabilidade

 e biodiversidade nos processos 

de produção do açaí

Fonte:  ONU - Brasil
  • O Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos do Marajó (MANEJAÍ) passou a apoiar o Projeto Bem Diverso, no Pará, com o objetivo de estimular a sustentabilidade e a biodiversidade nos processos de produção do açaí, assegurando os modos de vida das comunidades tradicionais e agricultores familiares, além de gerar renda e melhorar a qualidade de vida dos povos das florestas.
  • O Centro MANEJAÍ é fruto de uma articulação institucional entre Projeto Bem Diverso — Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Fundo Global para o Meio Ambiente e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) — e parceiros.
Para a capacitação, os técnicos e pesquisadores viajam até as comunidades, levando informações sobre o manejo de mínimo impacto aos líderes comunitários e agroextrativistas da região. Foto: Embrapa/Ronaldo Rosa

O manejo sustentável de açaí nativo ganhou novo parceiro há um ano. O Centro de Referência em Manejo de Açaizais Nativos do Marajó, o MANEJAÍ, passou a apoiar o Projeto Bem Diverso, no Pará, com o objetivo de estimular a sustentabilidade e a biodiversidade nos processos de produção do fruto, assegurando os modos de vida das comunidades tradicionais e agricultores familiares, além de gerar renda e melhorar a qualidade de vida dos povos das florestas.

De lá pra cá, mais de 404 produtores foram capacitados para realizar a socialização do manejo de mínimo impacto de açaizais nativos no Marajó e difundir o uso da prática sustentável para produção de açaí. Do total de extrativistas treinados, 80% já fazem uso da prática de manejo para produção em pequenas áreas e alguns já realizam a capacitação de outros membros da comunidade.

A Técnica do MANEJAÍ, Tecnologia de Manejo de Mínimo Impacto, foi desenvolvida pelos técnicos da Embrapa José Antônio Leite e Silas Mochiutti e já possibilitou o aumento de 30% na produção do fruto. Antes dela, com a valorização açaí, os produtores passaram a ignorar a biodiversidade local e dar atenção apenas à produção da espécie. Com isso, as outras árvores e plantas foram sumindo, e os açaizeiros diminuíram a produção.

Leite explica que o açaizeiro precisa de biodiversidade para produzir: “Especialmente das árvores folhosas e madeireiras para trazer nutrientes do fundo do solo para a superfície, onde o açaizeiro tende a se alimentar”. Segundo ele, com o aumento da biodiversidade por meio da técnica de manejo sustentável, a capacidade de produção das comunidades pode passar de uma para seis toneladas de açaí.

O técnico da Embrapa vê a Tecnologia que desenvolveu como um legado. “Não queríamos que os benefícios fossem só durante o tempo de vigência do Projeto Bem Diverso e, com o MANEJAÍ, eles podem continuar prosperando. Hoje, os facilitadores que treinamos já conseguem treinar outras pessoas da comunidade. O projeto pode acabar, mas eles seguem trabalhando”, explicou Leite.

Para a capacitação, os técnicos e pesquisadores viajam até as comunidades, levando informações sobre o manejo de mínimo impacto aos líderes comunitários e agroextrativistas da região. Os membros do MANEJAÍ recebem um kit com mochila, ferramentas e uma cartilha com todas as orientações sobre práticas sustentáveis de condução do manejo e de distribuição das espécies nativas que são consorciadas com o Açaí, uma das espécies nativas prioritárias do Bem Diverso..

“Na Comunidade Santo Ezequiel Moreno, onde trabalho, posso falar com propriedade que este projeto veio contribuir e continua fazendo a diferença na vida do povo”, ressalta a professora Sueli Tavares, uma das lideranças do Centro de Referência, localizado na Comunidade Santo Ezequiel Moreno, município de Portel (PA).

A professora explica que hoje as famílias têm uma produção melhor e mais facilidade em extrair o açaí, aumentando assim a produção e a renda. A professora conta que a partir dele é possível perceber grande diferença na garantia de produção e no prolongamento da safra.

Os resultados do MANEJAÍ refletem-se em outras ações na comunidade. Ele foi inserido no currículo escolar e envolve todas as famílias. Segundo Sueli, os alunos, crianças e jovens, passaram a fazer parte do projeto ao participar das palestras e formações e se interessar em cuidar das áreas manejadas.

“Do envolvimento deles no MANEJAÍ, surgiu a ideia de elaborar um projeto de manejo sustentável na escola. Escolhemos a área, e eles já fizeram todo processo de preparação no espaço. Hoje, alguns desses jovens já sabem como fazer um manejo de forma adequada e administram seus trabalhos”, conta a professora Sueli Tavares. “O MANEJAÍ está sendo muito importante na vida do povo das comunidades”, relatou.

A viabilização de crédito aos extrativistas também é uma preocupação do Projeto Bem Diverso que se uniu ao Banco da Amazônia e ao Instituto Conexsus para oferecer formação de ativadores de crédito socioambiental. As pessoas que participam dos cursos passam a ter a responsabilidade de levar o crédito rural do Banco da Amazônia para cadeias de valor da sociobiodiversidade da região por meio dos Ativadores de Crédito Sustentável.

No âmbito do MANEJAÍ, também é realizado um trabalho de pesquisa que estimula os alunos do Programa de Educação Tutorial de Engenharia Florestal (PET Florestal) da Universidade Federal Rural da Amazônia a trabalharem como pesquisadores na busca de soluções que façam a diferença na vida de quem produz açaí.

Outra parceira nesse trabalho é a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). A a seção paraense da instituição trabalha com o projeto desde a sua fundação. “Levamos conhecimento para a comunidade, e ela avança na ideia de manejo florestal com excelência”, explica o supervisor da Emater regional do Marajó, Alcir Borges.

O supervisor é muito orgulhoso do trabalho que a comunidade consegue fazer sozinha a partir dos conhecimentos adquiridos. “O protagonismo dos extrativista é muito importante e motivo de alegria para nós. Pois não queremos ser tutores, queremos que cada comunidade tenha independência”, explica Alcir.

Ele explica que o MANEJAÍ aborda o Marajó a partir do grande potencial que ele tem e mostra que, quando as políticas públicas chegam ao local e são desenvolvidas de forma séria, os resultados aparecem. “Com o MANEJAÍ, a comunidade desenvolve a metodologia do manejo, otimiza a produtividade do açaizais, a produção de renda e faz a política acontecer”, conclui.

Bons resultados

Os resultados alcançados no primeiro ano do MANEJAÍ são motivo de comemoração para o Projeto Bem Diverso, realizador da iniciativa junto aos ribeirinhos e lideranças do arquipélago do Marajó. “Hoje, com o MANEJAÍ, temos centenas de agroextrativistas que geram renda para suas famílias e comunidades ao mesmo tempo em que nos ajudam no trabalho de restauração e conservação da biodiversidade. Isso é gratificante”, comemorou o coordenador técnico do Bem Diverso e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Anderson Sevilha.

O pesquisador conta que o MANEJAÍ trabalha o desenvolvimento das pessoas e que, nas visitas de campo, ouvem das lideranças locais que elas tinham ciência da riqueza do Marajó, mas faltava valorização. “O retorno que recebemos é de que o MANEJAÍ chegou para que todos possam viver melhor e para garantir o desenvolvimento dos territórios”, ressaltou.

As atividades do MANEJAÍ se desenvolvem no Território da Cidadania Marajó do Bem Diverso, que compreende os municípios de Breves, Curralinho, Melgaço, São Sebastião da Boa Vista, Cachoeira do Arari, Muaná, Ponta de Pedras, Bagre e Portel.

Pandemia

Para o ano de 2020, estava programada nova etapa do MANEJAÍ. Entretanto, a pandemia do novo coronavírus alterou o curso das atividades, sem perder o foco principal do projeto.

“Neste ano, devido ao sucesso das ações do MANEJAÍ, a intenção era ampliar as atividades e estendê-las a outras regiões do Marajó no Estado do Pará. Entretanto, com a pandemia, nossa prioridade passou a ser a saúde e o bem estar dos nossos parceiros e colaboradores e os planos precisaram ser adaptados. As pesquisas seguiram de forma remota, e nosso foco passou a ser a divulgação de informações sobre combate e prevenção à doença. Estivemos a disposição da comunidade e produzimos máscaras de tecido por meio de multirões nas comunidades, que foram distribuídas aos ribeirinhos do Marajó. Mesmo com a pandemia, o MANEJAÍ não parou e ainda tem muito a realizar”, contou o assessor técnico do PNUD no Projeto Bem Diverso, Fernando Moretti.

O Centro MANEJAÍ é fruto de uma articulação institucional entre o Projeto Bem Diverso (PNUD/GEF/EMBRAPA), por meio da Embrapa Amazônia, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), das Associações do PEAEx Acuti Pereira (ATAA e ASMOGA), do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Portel e da EMATER.

O MANEJAÍ conta com uma estrutura física com centro de capacitação, agroindústria, cozinha comunitária, e  Unidades Demonstrativas de Aprendizado de Manejo de Impacto Mínimo de Açaí Nativo, Viveiro, Apicultura etc.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

CAMINHO DAS ÁGUAS


 

ONU PEDE COMBATE A NOTÍCIAS FALSAS E DESINFORMAÇÃO SOBRE A COVID-19

 

ONU pede que países combatam notícias falsas e desinformação sobre COVID-19

  • Evento à margem da Assembleia Geral debateu perigos da ‘infodemia’ e como combater problema; secretário-geral da ONU destacou importância de comunicação para construir confiança sobre vacinas; declaração conjunta de seis agências das Nações Unidas e parceiros afirma que as “fake news” ameaçam resposta global à pandemia.
Informação errada sobre uso de máscaras, por exemplo, pode prejudicar combate à pandemia. Foto: UNICEF/Alessio Romenzi

A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou na quarta-feira (23) um evento com o tema “Gestão da infodemia: promovendo comportamentos saudáveis em tempos de COVID-19 e mitigando os danos da desinformação”. 

O secretário-geral da ONU afirmou por mensagem de vídeo que “a COVID-19 não é apenas uma emergência de saúde pública, é também uma emergência de comunicação.” 

Segundo António Guterres, “assim que o vírus se espalhou pelo globo, mensagens imprecisas e até perigosas proliferaram descontroladamente nas redes sociais, deixando as pessoas confusas, enganadas e imprudentes.” 

Para ele, “o antídoto é garantir que fatos científicos e orientações sobre saúde circulem ainda mais rápido e alcancem as pessoas onde quer que elas acessem informações.” 

Segundo Guterres, isso será especialmente importante para construir a confiança do público na segurança e eficácia de futuras vacinas.  

Guterres mencionou a iniciativa das Nações Unidas “Verificado”, que coopera com parceiros de mídia, influenciadores e redes sociais para divulgar conteúdos científicos, oferecer soluções e inspirar solidariedade. 

Para o chefe da ONU, “só juntos e solidários, com um público bem informado, é possível sair desta pandemia seguros e melhores.” 

No final do evento, uma declaração conjunta de seis agências da ONU e parceiros pediu que os Estados-membros combatam o problema, distribuindo informações precisas, com base na ciência, para todas as comunidades e, em particular, grupos de alto risco. 

Segundo as agências, a COVID-19 é a primeira pandemia na história em que a tecnologia e as redes sociais estão sendo usadas em grande escala para manter as pessoas seguras, informadas, produtivas e conectadas. 

Ao mesmo tempo, essa tecnologia está permitindo uma "infodemia" que prejudica a resposta global e compromete as medidas de controle. 

Diagnóstico 

A declaração menciona tentativas de espalhar informações erradas para promover agendas alternativas de grupos ou indivíduos, o que acaba custando vidas. 

As agências afirmam que “sem confiança e informações corretas, os testes de diagnóstico não serão usados, as campanhas de imunização não cumprirão suas metas e o vírus continuará prosperando.” 

Além disso, o debate público continua sendo polarizado, amplificando o discurso de ódio, o risco de conflito, violência e violações dos direitos humanos. Perspectivas de longo prazo para o avanço da democracia, direitos humanos e coesão social também estão sendo ameaçadas. 

Foi neste contexto que o secretário-geral da ONU lançou a iniciativa de Resposta às Comunicações das Nações Unidas, em abril desse ano.

A organização também publicou uma Nota de Orientação sobre como Abordar e Combater o Discurso de Ódio relacionado à COVID-19.  

Na Assembleia Mundial da Saúde, em maio, os Estados-membros da OMS também aprovaram uma resolução sobre o tema. 

Agora, as agências e parceiros pedem que os líderes cooperem e ouçam suas comunidades. Também apelam a outras partes interessadas, como jornalistas e redes sociais e pesquisadores, para desenvolverem estratégias eficazes contra o problema.

DESIGUALDADE SALARIAL ENTRE HOMENS E MULHERES NO MUNDO

 

No ritmo atual, desigualdade salarial entre homens e mulheres só acabará em 257 anos

FONTE:  ONU Brasil

Mesmo após décadas de ativismo e das dezenas de leis sobre igualdade salarial, as mulheres ainda ganham menos de 80 centavos para cada dólar recebido por homens. E, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, o mundo precisará de 257 anos para superar esta desigualdade de gênero no trabalho.

alerta é do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que marcou em uma mensagem em vídeo nesta sexta-feira (18) o primeiro Dia Internacional da Igualdade Salarial, declarado pela Assembleia Geral em 2019.

Para mulheres com filhos, mulheres negras, refugiadas e migrantes, bem como mulheres com deficiência, esse número é ainda mais baixo, acrescentou o secretário-geral.

A ONU destacou ainda que os primeiros sinais mostram que o impacto econômico da pandemia da COVID-19 tornará a disparidade salarial de gênero ainda maior, em parte porque muitas mulheres trabalham nas indústrias de serviços, hotelaria e no setor informal, que foram os mais atingidos.

“O estatuto desigual das mulheres no trabalho alimenta a desigualdade em outras áreas das suas vidas. Os empregos delas têm menos probabilidade de incluir benefícios como seguro-saúde e folgas remuneradas. Mesmo quando as mulheres têm direito a uma pensão, salários mais baixos se traduzem em pagamentos mais baixos quando se tornam idosas”, alertou Guterres.

Segundo a ONU, as atuais leis de igualdade salarial, quando existentes, não conseguiram corrigir esse quadro. “Precisamos ir mais além e trabalhar mais para encontrar soluções”, disse.

Ele destacou que o Dia Internacional da Igualdade Salarial é um “passo importante” para dar visibilidade às disparidades salariais entre homens e mulheres.

“Precisamos perguntar por que são as mulheres relegadas a empregos com salários baixos; por que as profissões dominadas por mulheres têm salários mais baixos, incluindo empregos no setor da prestação de cuidados; por que tantas mulheres trabalham a meio tempo; por que as mulheres veem os seus salários diminuir com a maternidade, enquanto os homens com filhos muitas vezes desfrutam de um aumento salarial; e, finalmente, por que as mulheres esbarram no acesso a profissões com salários mais elevados.”

António Guterres destacou algumas das soluções: acabar com os estereótipos de gênero prejudiciais; remover barreiras institucionais; e compartilhar responsabilidades familiares de forma igual.

“Precisamos reconhecer, redistribuir e valorizar o trabalho de prestação de cuidados não remunerado que é feito de forma desproporcional pelas mulheres”, acrescentou.

A ONU destacou que a pandemia de COVID-19 expôs desigualdades de todos os tipos, incluindo a desigualdade de gênero. “Ao investirmos na recuperação, devemos aproveitar a oportunidade para acabar com a discriminação salarial contra as mulheres. A igualdade salarial é essencial não apenas para as mulheres, mas para construir um mundo de dignidade e de justiça para todos”, concluiu.