quinta-feira, 1 de outubro de 2020

ARTIGO DE ADANA OMÁGUA KAMBEBA - CULTURA INDÍGENA E A GRANDE MALOCA (MEIO AMBIENTE)


CULTURA INDÍGENA E A GRANDE MALOCA (MEIO AMBIENTE)

POR: Adana Omágua Kambeba (Danielle Soprano)

 

Foto: Ruth Jucá


Adana Omágua Kambeba – Daniele Soprano – pertence ao povo Omágua Kambeba (Povo das Águas). Tem atuação na área cultural, participou como atriz do filme Xingu e está cursando medicina pela UFMG.

    Na Conferência das Nações Unidas em 1972, aconteceu a discussão sobre o Meio Ambiente Humano de onde surgiram questões relacionadas à degradação ambiental e a poluição.  Seguidas do lançamento de ações e declarações para a comunidade internacional (como a declaração de Estocolmo que foi a precursora em definir princípios de preservação e melhorias do Meio Ambiente) sendo posteriormente consagradas na ECO-92 e enfatizados na Rio+20, ambos, no Rio de Janeiro. Desde o início os termos Sustentabilidade e Desenvolvimento vêm acompanhando a discussão sobre o Meio Ambiente levando a reflexão sobre viver uma vida sustentável, mas no Meio Ambiente saudável. Isso caracteriza uma consciência ambiental, levando a criação de uma legislação de proteção ao Meio Ambiente reconhecendo-o em seu valor e sua importância para o bem da humanidade.

   Porém muito antes de existir ECO, Estocolmo e ONU ou qualquer outro momento de debate sobre o Meio Ambiente, as Populações Indígenas no mundo já reconheciam e reconhecem até hoje a importância da natureza, expressa no solo, na água, no ar atmosférico, na flora e na fauna. Ainda há muitos Povos Indígenas que mantém íntima relação com a Mãe Natureza de onde se eleva a sabedoria ancestral, deixada pelos antigos que se foram e ainda retransmitida pelos anciãos que continuam vivenciando e compartilhando esses conhecimentos tradicionais, as lendas e crenças, a mitologia, a relação de mundo e ensinos de respeito para com a natureza e para com os demais seres vivos. O modelo mental indígena é diferente, não significa que seja melhor, mas diferente pela singularidade de sua origem quando se trata de se relacionar com o mundo. Por exemplo, muitas pessoas quando olham para uma árvore vêem simplesmente uma árvore, outros nem notam a presença dessa árvore e há outros que desejam muito cortá-la, motivados, às vezes, pelo sentimento do incômodo. Mas para o indígena quando ele olha para uma árvore, dentro da sua leitura de mundo, ele não enxerga somente uma árvore, mas reconhece uma outra vida, que também faz parte dele, como se fosse um parente. Dentro da crença de vários Povos Indígenas, é possível sentir e escutar o que uma árvore tem a dizer. O indígena reconhece que ela pode revelar alívio e cura de enfermidades do corpo e da alma através de suas raízes, cascas, galhos, folhas, flores e sementes. Enquanto no mundo há pessoas indiferentes frente à natureza e suas manifestações como o amanhecer de um dia, um pôr-do-sol, ou indiferente aos ciclos climáticos e as estações do ano. Na visão dos Povos Indígenas é onde ocorre à conexão de seus valores ancestrais, o palco da manifestação da força da cultura e da tradição de um povo. Também vêem como um sinal de orientação sobre o cultivo e a subsistência da comunidade. A terra é vida como a Mãe que nutri com seus frutos, alimenta-nos, abriga-nos dando assim vida aos seres humanos. Os Povos Indígenas sabem exercitar a Sustentabilidade sem interferir na harmonia da Mãe Natureza que implica em respeitar os espaços naturais e a presença de outras vidas. Até hoje os Povos Indígenas são um dos grandes defensores do bem-estar do Meio Ambiente, lutando com suas próprias vidas e também nas diversas esferas, nacionais e internacionais, ao lado de organizações não governamentais sérias para com a defesa das florestas, rios e a toda a vida que nela cerca e vive.

Foto:Janerini PH

 









“Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, eles verão que dinheiro não se come”.  Provérbio indígena


   

    No Brasil muitas vezes os Povos Indígenas foram e ainda são tidos pelo Governo Brasileiro como um entrave para o progresso do país. Mas o Governo se esquece de ouvir de fato os primeiros habitantes desse país, considerados por muitos brasileiros como os verdadeiros donos da terra, hoje chamada Brasil. O governo não pergunta para as Populações Indígenas o que nós pensamos a respeito de “Ordem e Progresso”, como consta na bandeira do país. No planeta Terra, em especial no Brasil, tem sofrido contínuas agressões que vão desde a degradação do Meio Ambiente, agressão à biodiversidade, destruição da camada de ozônio e dos recursos naturais. Não sendo pouca toda essa situação ainda há agricultores e até companhias agrícolas reivindicando a terra e não respeitando as demarcações após acordos com o Governo. Será que é dessa forma que o país chegará ao “Progresso”? Será que é dessa forma desmedida e desenfreada de agressões com a natureza? Onde está a “Ordem” disso?

   Para nós, Povos Indígenas, acreditamos que para chegar ao “Progresso” do país, ou seja, seu Desenvolvimento é necessário praticar o processo da Sustentabilidade com “Ordem”! A Ordem é expressa pelo respeito e equilíbrio com o Meio Ambiente. Os nossos antigos já ensinavam que o que fazemos à Mãe Natureza a nós é retornado, não como vingança por parte da natureza, mas como conseqüência dos nossos atos, podendo nos retornar como uma colheita dolorosa e amarga ou como uma colheita alegre e doce.

    Cabe a nós fazermos à escolha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário