Setor gastronômico é importante aliado
contra a perda e desperdício de alimentos
- Celebrado pela primeira vez em todo o mundo, Dia de Conscientização sobre a perda e o desperdício de alimentos, 29 de setembro, foi marcado no país por webinar com o tema “Sensibilização para a Gastronomia Sustentável”, iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em parceria com a Prefeitura de São Paulo e apoio da Fundação Ellen MacArthur.
- Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos. Isso equivale a 220 milhões de toneladas de alimentos, com uma perda econômica estimada em 150 bilhões de dólares.
Em 29 de setembro de 2020, celebra-se pela primeira vez em todo o mundo, o Dia de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos. Para marcar esta data, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, e apoio da Fundação Ellen MacArthur, realizaram na manhã da terça-feira (29), um webinar internacional com o tema “Sensibilização para a Gastronomia Sustentável”.
Neste ano, as perdas e desperdícios de alimentos aconteceram em um contexto de aumento da fome global e das mudanças climáticas, da ameaça contínua da crise causada pela COVID-19 à segurança alimentar e nutricional de milhões de pessoas e do aumento da perda e desperdício de alimentos – resultado de restrições de movimento e transporte devido à pandemia.
“Eu não tenho dúvidas de que se tem uma lição que a pandemia nos deixa, é melhorar os sistemas de saúde e os sistemas alimentares”, destacou o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, durante a abertura do evento. “Temos que imaginar novas maneira de nos alimentar, e a gastronomia junto à cultura alimentar, estão no coração destas mudanças”.
Segundo o secretário de relações internacionais da cidade da prefeitura de São Paulo, Luiz Álvaro, é essencial promover o diálogo com atores da cadeia gastronômica. “São eles que fazem a ponte da produção rural com o consumidor final dos alimentos, e precisamos dialogar com quem está pensando na sustentabilidade e em como transformar essa relação do território com a comunidade”.
A secretária adjunta de desenvolvimento econômico e trabalho da prefeitura de São Paulo, Ana Carolina Lafemina, complementou que a cidade de São Paulo já vem realizando trabalhos de longa data contra o desperdício, entre eles um projeto premiado pelo Pacto de Milão em 2019.
Segundo dados da FAO, em toda a América Latina e Caribe, 11,6% dos alimentos são perdidos todos os anos. Isso equivale a 220 milhões de toneladas de alimentos, com uma perda econômica estimada em 150 bilhões de dólares. Essa pode parecer uma situação contraditória em uma região onde quase 47 milhões de pessoas passaram fome em 2019, e que irá enfrentar um aumento nos números em decorrência da pandemia da COVID-19.
“A perda e o desperdício de alimentos é um grande tema, e somente com mecanismos de governança audaciosos, conseguiremos reverter os efeitos da pandemia e o impacto que virá a partir de uma perspectiva de crise alimentar e sanitária”, reforçou O oficial regional da FAO para políticas e sistemas alimentares, João Intini.
Conscientização sobre a perda e desperdício de alimentos
Alguns fatores que contribuem para o aumento das perdas são: época de colheita inadequada, condições climáticas, dificuldades na comercialização dos produtos, condições inadequadas de armazenamento, assim como as decisões tomadas no início da cadeia de abastecimento, que predispõem os produtos a uma vida útil mais curta.
A agricultora familiar Lia Góes, da Fazendinha Pedaço do Céu e Cooperapas, lembrou que produzir e cozinhar é um ato de amor, e que é preciso se planejar para evitar a perda e o desperdício de alimentos. “Precisamos ser conscientes do que vamos fazer, saber para onde e para quem vai. Se eu não sei tudo isso, todo o trabalho feito na roça é em vão”.
A coordenadora da coordenadoria de segurança alimentar e nutricional de São Paulo (COSAN/SP), Celia Alas, apresentou a experiência da cidade na redução do desperdício de alimentos. Desde o final de 2017, quando o programa começou, 8,7 toneladas de alimentos foram doadas para instituições parceiras. Em 2020, mesmo com os desafios da pandemia, mais de 130 toneladas de alimentos já foram doadas. Ao todo, são mais de 1 milhão de pessoas impactadas.
Durante o transporte, uma boa infraestrutura física e uma logística comercial eficiente são de extrema importância para evitar perdas de alimentos. O processamento e a embalagem dos alimentos também podem desempenhar um papel importante na preservação dos alimentos. Neste contexto, três chefs de cozinha participaram da transmissão compartilhando experiências gastronômicas sustentáveis do Brasil, Argentina e Colômbia.
A chef Telma Shiraishi, do Aizomê de São Paulo, contou que um dos conceitos mais importantes na gastronomia japonesa é o não desperdício de alimentos. Além disso, durante a adaptação da culinária para a realidade brasileira, estudou a fundo a questão da sazonalidade e do locavorismo. “Quem dita meu cardápio são os meus fornecedores. Em quase 14 anos de existência do meu restaurante, priorizo a riqueza da nossa costa. Felizmente tenho muitos fornecedores que trabalham com pesa responsável e sustentável”.
Representando o Bio Restaurant, de Buenos Aires na Argentina, a chef Alejandra Pais lembrou que sua experiência com a agroecologia veio desde pequena, cozinhando em casa com seus pais. Ela destaca que culturalmente, ainda há uma grande dificuldade de entendimento sobre a sazonalidade dos alimentos. “Era muita difícil o entendimento do porquê em determinados momentos do ano, não tínhamos no cardápio determinado produto ou verdura. Estamos desacostumados a comer os produtos da estação, e como trabalhamos apenas com orgânicos, precisamos adaptar para o que temos no momento”. O Bio também não produz nenhum tipo de resíduos.
Por fim, o chef colombiano Juan Manuel Barrientos, do El Cielo, restaurante com unidades em Medelín, Bogotá, Miami e Washington DC, compartilhou a experiência de sua fundação, desde a capacitação de soldados feridos em combate, vítimas de violência e indígenas, para que tenham na gastronomia uma alternativa de vida, como aulas de culinária criativa para o aproveitamento de alimentos. “Nós trabalhamos adaptação de pratos e substituições como o uso de hortaliças, para uma alternativa ao consumo de proteína animal. Isso também é uma forma de gerar menos impacto ao meio ambiente”.
O evento foi transmitido pelo Twitter da FAO Brasil (@FAOBrasil) e pode ser visto aqui.
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