O Jornal
Oecoambiental, que trabalha na comunicação socioambiental, diante a crise que o
Brasil e o mundo enfrentam quanto à valorização da pessoa humana, do meio
ambiente, realizou uma entrevista exclusiva com Ludmila Yarasu-Kai. Uma mulher
de muita sensibilidade para com o ser humano. Psicóloga que faz jus a sua
profissão de atuar nas Ciências Humanas trabalhando com o nascimento – mães e
crianças que chegam ao mundo. Agradecemos a
generosidade e atenção de Ludmila desejando a ela e a todos que atuam nesta
área de partos naturais e cuidados de respeito à pessoa humana, muitas
felicidades e nosso muito obrigado pela entrevista.
“Se a gente muda a forma como que cada um chega a este mundo,
chegamos ao mundo sabendo que o mundo é bom. E se as pessoas que estão à volta
desta criança proporcionam isso, preocupam-se com isso é porque elas se sentem
merecedoras de respeito.” Ludmila Yarasu-Kai
Jornal Oecoambietal:
Ludmila fale um pouco sobre sua história, seu trabalho.
Ludmila: Sou Ludmila Yarasu-Kai. Sou mãe da Helena de seis anos. A minha
gestação foi um divisor de águas, tanto na minha vida pessoal, como na minha
vida profissional. A minha gestação tem tudo a ver com minhas decisões
profissionais. Houve este marco quando eu engravidei da Helena e durante a
minha gestação, eu fazia parte de alguns grupos. Tinha vários trabalhos e algumas posturas
profissionais já não estavam mais cabendo no meu jeito de ser. A minha gestação
foi como que uma oportunidade de sair destas coisas que não faziam mais sentido
para mim. Eu sempre gostei do que eu fiz, mas não da forma que eu estava
fazendo. Com o público que eu estava fazendo. Eu estava trabalhando em empresa.
Com executivos, com um pessoal de lideranças. Eu gosto dos conceitos, de trabalhar
com pessoas, mas não da forma que eu estava trabalhando. E aí como eu sou
psicóloga, formada em psicologia pela UFMG em 2003, concluí um estágio na área
social de grupos, que abriu as portas para trabalhar com mediação de conflitos.
Desde minha conclusão de curso trabalhei no campo social. "Mediação de Conflito"s. Depois me formei como Coach. Fiz uma formação em relação familiar.
Uma ferramenta de apoio a psicoterapia. Tive outras formações de cursos livres.
Dentro de minha área da psicologia da fenomenologia, na psicologia social,
humanista. Uma linha que eu sempre segui. Depois da minha gravidez eu foquei
todo meu trabalho com as mães e o trabalho com as mães e os bebês. Eu sempre gostei de dançar. Desde pequena
sempre fiz todos os estilos de dança. Quando adulta sempre dancei muito dança
de salão. E fiz uma formação com a professora Cris Menezes sobre danças circulares sagradas. O que me
ajudou a chegar à "Dança Materna" depois da minha gravidez.
Depois que a Helena
nasceu em 2014, quando ela estava com seis, sete meses, eu conheci a dança
materna, que é um projeto para integrar as mães e os bebês. Um projeto criado
por uma bailarina especialista em bebês de São Paulo Tatiana Tardioli. Nas redes
sociais tem dança materna, no youtube. Eu sou uma das professoras hoje no
Brasil que ajuda desenvolver este projeto. Ela começou com a sua primeira
gestação. Percebeu a importância e o vínculo que dançar grávida proporcionava
no vínculo mãe e bebê. E como era bom e ajudava no trabalho de parto. No puerpério
dela começou a escrever este projeto para trabalhar com mulheres. E depois de
alguns anos ela tinha coletado prática com as mães e com os bebês por volta de
até três anos de idade, da primeira infância. Ela fez este percurso de
acompanhamento do nascimento da filha dela. Escreveu e desenvolveu este projeto
e começou a capacitar outros professores. Em 2015 eu fiz esta formação. Eu me
capacitei como professora, primeiro para trabalhar com mães e bebês. Depois eu
fiz outro curso de gestantes. Para trabalhar com gestantes. Depois eu fiz o
curso para trabalhar com mães e bebês que já andam. Com bebês um pouco maiores. Vai mudando muito
este desenvolvimento dos bebês.
Além de trabalhar
com a dança materna eu sigo com a terapia. Com o atendimento às famílias e os
bebês, porque é um momento de pós-parto desafiante, de muita transformação.
Como eu senti na minha vida de mudança de carreira. Do social que não acolhe
uma mulher gestante no campo de trabalho. Muitas são despedidas logo depois da
licença maternidade. Ou a licença maternidade é tão pouca que ela acaba pedindo
demissão do trabalho. Ela não se enquadra mais ali. É um momento de muitos desafios.
Dentro da mediação de
conflitos eu trabalhava nas comunidades e fui me especializando na comunicação
não violenta. Uma ferramenta desenvolvida por Marshall Rosemberg, um americano
que tem este trabalho no mundo todo. Então eu fui desenvolvendo este trabalho
para famílias, para os bebês e com a comunicação mãe – bebê. O primeiro mês de
um bebê a gente fica muito atordoada, sem entender. Acho que são as
necessidades de um bebê porque ele não fala. Ele não se expressa de forma
verbal. O que a gente precisa diante tantas mudanças hormonais. O que nos apóia para poder lidar com este bebê
e com tudo que está a nossa volta. Meu trabalho é dentro deste âmbito: de
entender essa mulher, a rede social dela, onde ela pode buscar apoio. Como que
ela pode fazer isso. Como ela pode resolver seus conflitos. Ás vezes tem muitos
conflitos com seus familiares, com o marido.
Jornal Oecoambiental: Há
muita desinformação com relação à qualidade da gestação?
Ludmila: Estamos num mundo hoje do machismo, do patriarcado muito
forte. As mulheres, em sua maioria, não têm muita consciência, porque estamos
inseridos nesse machismo, neste patriarcado. Somos vítimas dele. As mulheres não têm muita noção do potencial
feminino. No potencial da mulher antes de engravidar. O que é ser mulher. O
feminino, o feminismo. Não estamos muito conectadas com isso. E a gestação vem
dar um choque de realidade. A natureza vem nos dar esta condição. Se a gente engravida
a gente vai tendo este trabalho natural que a natureza vem fazer com o nosso
corpo. O que eu percebo é que as mulheres não estão muito conectadas com isso.
Não procuram saber: ”olha quando eu engravidar, o que é natural acontecer?“ Muitas
vezes ao entrar em gestação ela vai descobrir estas informações ou ela vai
seguir desconectada e vai seguir no sistema patriarcal violento contra a
mulher. O que este sistema faz? O sistema olha para a mulher e diz:”você está
doente, você é culpada”. “Está grávida.”
“Você precisa fazer muitos exames para ver se está tudo bem, cuidar da sua
saúde. Cuidado, não faça esforços, tem atividades que você não pode fazer.”
Então na hora do nascimento – “pode deixar que eu vou te ajudar.” E o que
acontece? Uma cesária desnecessária. Então
a gente vai passando por um assistencialismo como se a gente fosse uma
coitadinha. Não tivesse o poder sobre nosso próprio corpo. Como se a gente não
tivesse esta consciência. Muitas mulheres não conseguem ter este resgate. Não
conseguem buscar assistência que valoriza isso. Uma informação de qualidade que
dá a liberdade e o poder para esta mulher parir. E a gente sabe que há muitos
interesses por trás disso. Interesses da indústria farmacêutica, de alguns
médicos, cirurgiões, anestesistas. Nas faculdades de medicina, no ensino de obstetrícia,
as pessoas entram para lidar com uma cirurgia. O meu obstetra, que me
acompanhou falava assim comigo: “Ludmila, segue com sua enfermeira obstetra. Na
hora de seu trabalho de parto, se você precisar eu apareço. Então eu não tenho
nada que fazer com você aqui agora. Quando você entrar em trabalho de parto a
gente vê o que vai acontecer.” E eu segui com a minha enfermeira obstetra. As
enfermeiras são diferentes. Como elas não têm uma formação cirúrgica, elas têm
uma formação de cuidar do processo natural, de desenvolvimento de uma gestação,
de um parto natural vaginal, como todos os outros animais. Assim como acontece com
a gente quando está inserida em um meio assistencialista do homem com a mulher.
Não deixa a gente tomar as decisões sobre o nosso próprio corpo. Dizem: “não
sua barriga está muito grande. Você não tem passagem para o bebê. A gente vai
ter que tirar.” Então a mulher vai sendo levada por muitos profissionais a ser
submetida a uma cesariana, que é uma cirurgia. Não é um parto. Com evidências
científicas de ser mais arriscada que o parto natural, vaginal. Só que a
maioria das mulheres está nesta desconfiança de seu próprio poder. Ficando nas
mãos da medicina, dos médicos jogando esta insegurança, de vida. Depois a
recuperação dessa mulher é mil vezes pior. No trabalho de parto se diz assim:
“há não senti nada depois da cesária, tudo passou rapidinho.” Só que esta
mulher recebeu muita substância medicamentosa para não sentir dor. Ontem mesmo
uma amiga minha acabou de parir. Mandou-me o vídeo do parto dela, já estava
conversando, andando. Isso não acontece
na cesária. Fora todos os outros riscos deste bebê nascer prematuro. Porque as
cesárias são agendadas muitas vezes. E muitas mulheres sentem medo do parto
normal. Então a desconexão é tamanha. A minha geração teve muitas cesárias. E
antes da minha é que os partos foram normais. A gente precisa se resgatar com
as nossas avós nestes partos. Só que aí é outra questão.
A outra questão é
como o sistema é violento com as mulheres, quem não se propõe a fazer o parto
natural, vaginal, muitas vezes o que a gente vê acontecendo é um parto que a
gente chama de anormal, pelo tamanho da violência obstétrica. Os profissionais
continuam sem saber que o parto é da mulher. Ninguém faz o parto. Então os
bebês sobem na barriga da mulher. Não tem necessidade. Basta à mulher estar
andando, estar em pé que a gravidade vai ajudar. A mulher não precisa estar
deitada. Então tem “pano pra manga”. Várias experiências obstétricas que podem
acontecer. Tem uma série de filmes sobre
o renascimento do parto, que fala muito sobre estas violências. Como que o
médico induz, vai levando a pessoa até em conchavo com a pessoa que faz ultra
som para levar a pessoa a cesária. Porque eles ganham mais. Na cirurgia eles
têm uma praticidade. Eles fazem ali em meia hora. O trabalho de parto, em geral,
dura cerca de três dias. A mulher sente dor, claro, mas é uma dor natural. Como
a mulher grita, incomoda, incomoda quem está perto. Então eles querem dar
anestesia para calar a boca dessa mulher. Dizem: “foi bom na hora que fez,
então pára de gritar.” E a gente está questionando até hoje. Será que foi bom
mesmo para a mulher? Será que ela gozou
mesmo na hora que foi fazer estes bebês?
A gente sabe que a maioria das mulheres não tem prazer. Quiçá ela não
foi estrupada. E não está com esta gestação
através de um estupro. Que as pessoas nem sabem e às vezes dizem
isso. Então é um absurdo o que esta
assistência hoje faz. As mulheres às vezes, não têm noção deste cenário. Meu
trabalho também passa por um ativismo. Formar
grupos de mulheres. E a gente indica estes livros, esses filmes. E
ensina mesmo a retomada deste poder da mulher ter o parto que ela quer. Ter uma
experiência de nascimento respeitoso, humanizado. E principalmente o que a
gente tem falado de respeitoso. Que é o que as pessoas merecem. Que as pessoas
cheguem no mundo de forma respeitosa.
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Foto: Fabiana Cândido
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Jornal Oecoambiental: É
possível conquistar uma boa qualidade de vida desde o nascimento?
Ludmila: Então esta qualidade de vida desde o nascimento passa pela
informação dessa mulher, deste estudo por uma escolha de uma boa assistência.
Aí a gente tem uma luta hoje conquistada que os convênios têm obrigação de
indicar as taxas de cesárias dos médicos. Se ela for mais de 10, 15% ela é
alta. Se este médico tem muita cesária, a não ser que ele trabalhe apenas com
risco. Mas se ele não é um obstetra que está ali atendendo partos todos os
dias, que tem risco habitual. Se ele tem muita cesária, a gente já desconfia
dele. Não indico. A gente trabalha muito com as mulheres puerperais, esqueci de
falar disso. De preparação do parto. A gente vai observando o que estes
profissionais estão falando. Quando falam assim: “não vamos conversar sobre o
parto. Está muito longe.” Já pode desconfiar. A gente vai vendo estas dicas
para não cair numa cesária desnecessária. Cair na mão de um desrespeito. Com
muita informação as mulheres têm seus partos. Elas relatam. A gente estuda
sobre o trabalho de parto, sobre as fases do trabalho de parto. É uma luta. É
um absurdo mais a gente ainda têm isso de “eu vou ter meu filho e pronto”. “Eu vou pra maternidade e pronto.” Não, tem
que escolher uma maternidade. Quem são os plantonistas, quem vai ser seu médico
que te acompanha. Como é que você faz. Em Belo Horizonte a única Maternidade
que eu confio para indicar para ir de plantão é o Sofia Feldman. Atende pelo
SUS. Eu tive a minha filha lá. E as outras a gente não consegue confiar no
plantonista. A não ser que você vá com sua equipe paga. Este é um acesso que
não é para todos. E aí no Sofia têm alguns preconceitos que as pessoas chegam e
falam: “Ah... eu cheguei lá com muita dor e me mandaram andar.” Andar é a
melhor coisa que uma gestante pode fazer. Ela anda, anda, pára a cada contração
e isso vai fazer melhorar o processo de dilatação. Falta informação e as
pessoas acham que isto é um descaso da Maternidade e não é. Com muita rede de apoio, com estudo, com um
grupo de mulheres, a gente tem uma boa chance de estas mulheres terem esses
bebês e ‘terem seus direitos garantidos.
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Foto: Arquivo do Gestação Legal
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Jornal Oecoambiental:
Como você avalia os principais problemas socioambientais que afetam os seres
humanos desde o nascimento?
Ludmila: As coisas estão todas interligadas. Uma coisa que eu tenho
pensado muito freqüentemente é sobre a indústria alimentícia. Eu me tornei
vegana já tem algum tempo. É uma alimentação saudável. E fui descobrindo com o
veganismo como é a indústria agropecuária. Como que para manter uma pecuária se
gasta muito mais com alimentos que poderiam alimentar o mundo. Como é absurdo o
desmatamento que causa para ter carne. Para matar animais. O impacto social,
ambiental principalmente. Então isto é um impacto que a gente está vendo hoje
nas terras indígenas.
Estes interesses
capitalistas eles vão ficar claros quando se nasce dentro da Maternidade. As
pessoas já estão treinadas achando que o melhor que se faz para o bebê é dar
uma fórmula. Que estão dentro desta fórmula, grandes indústrias. Esta
desigualdade social, um baixo nível de informação, de renda, isso vai também
afetar diretamente até o desenvolvimento destas crianças, a gestação. Depois
vai afetar o crescimento. O desenvolvimento mental, físico, das crianças. A
pessoa de baixa renda ou de risco social está convencida pela mídia que o leite
dela é fraco. Que ela precisa comprar uma latinha de leite artificial para o
seu bebê. Tem um filme “Tigers” que retrata isso. Percebemos muito agora em
Agosto, que é o mês da amamentação. Ele mostra exatamente isto que estou
falando. Como é que a indústria alimentícia para bebês está enganando as
mulheres quanto ao potencial delas de alimentar com o leite materno. Está tudo muito
interligado. Os interesses e como que chegam para a gente desde a gravidez e o
nascimento deste bebê. Depois acaba que por estas indústrias, por um consumo de
industrializados, estes bebês tomam iogurtes, já comem muito açúcar antes mesmo
de um ano. Isso vai lá à frente reproduzir diabetes, hipertensão, câncer. Então
é muito complexo. É uma luta muito grande. Dá até uma tristeza, como se a gente
não tivesse uma saída para estas questões todas. É um trabalho mesmo de
formiguinha, quando a gente vai olhando para esta realidade,
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Foto: Fabiana Cândido
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Jornal Oecoambiental: Quais
são os resultados de seu trabalho com as crianças e as mães?
Ludmila: Atualmente eu tenho tido muitos bons resultados com a
formação. Não há garantia que todas estas mulheres tenham o parto respeitoso.
Mas esta mulher ela sabe o que ela quer. Ela escolhe e ela vai para sua
experiência e é também o direito dela e desse bebê. Nem tudo é perfeito. Nem
tudo é como a gente gostaria, mas ela escolhe. E é isso que importa. Desde que
ela tenha informação e possa escolher dentro de sua realidade. Dentro da rede que ela tem. Dos espaços que
ela tem. Temos conseguido indicar pessoas ao SUS na Maternidade Sofia. As pessoas tem tido assistência. A
amamentação é desafiante. Também indicamos como procurar ajuda depois que o
bebê nasce. Antes temos a informação sobre o preparo ‘. Mas não tem nada mais o que fazer de passar bucha no peito,
nada. Vai ter a informação do que precisa fazer e com o bebê. Depois tem a
ajuda se precisar. Esta rede de mulheres que vai se formando, construindo cada
uma sua experiência.
Tem seis anos que trabalho com isso. Então as
mulheres têm um segundo filho, às vezes um terceiro. As realidades vão mudando.
As experiências vão mudando. Esta minha amiga com o segundo filho dela se
curou. A primeira violência do parto que ela vivenciou e agora no do seu
segundo filho natural. Então é muito especial poder ver este trabalho. Eu ainda
acho que está pouco. Eu quero poder atingir mais e mais mulheres. Mas ainda com
criança pequena não tem como. Faltam pernas para poder estar atuando em outras
frentes. O principal é ter informação. É fazer estas mulheres terem este
resgate com a natureza. Tenho conseguido. Eu trabalho com parceiras, com as
profissionais, com médicos, pediatras que estão alinhados. Com médicos obstetras
com consultoria em aleitamento. A gente vai trabalhando juntas e tendo muita
luta ainda pela frente. Muitas vezes a gente consegue tirar aquela mulher de
médico cesarista. Não é a gente que vai lá e fala. A gente vai munindo a mulher
destas informações e ela mesmo percebe pelo que ela está vendo como positivo no
parir dentro daquela assistência que ela tem.
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Foto: Fabiana Cândido
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Jornal Oecoambiental: Qual
sua mensagem para que as futuras mães, as que estão cuidando de seus recém
nascidos, os pais de uma maneira geral?
Ludmila:O que eu penso é numa frase de um médico ginecologista
obstetra Michel Odent. Ele diz que “para mudar o mundo é preciso mudar a forma
de nascer.” Se a gente muda a forma como que cada um chega a este mundo,
chegamos ao mundo sabendo que o mundo é bom. E se as pessoas que estão à volta
desta criança proporcionam isso, preocupam com isso é porque elas se sentem
merecedoras de respeito. Elas já se conectaram com a importância delas como
pessoas e que por isso é importante ela ser respeitada. E por isso é importante
uma criança, um bebê vir ao mundo de forma respeitosa. Então isso possivelmente vai atentar a estes
cuidadores, a estes pais, a mãe, a buscar também formas respeitosas de criar
esta criança. De respeitar desde uma
troca de fralda até tirar o bebê de uma brincadeira para poder dar um banho. A
se comunicar com essa criança maior não é fácil. Eu tenho uma criança aqui em
casa de seis anos com esta pandemia, sem poder sair para brincar com as outras
crianças. Sem ir à escola. Sem escape de energia direito. Então a gente vai
vivenciando muitos conflitos e situações que vai colocando a gente em cheque.
Eu vou me sentindo colocada em cheque se eu consigo mesmo colocar em prática o
trabalho que eu proponho, que eu apoio as pessoas a buscarem que é esta relação
respeitosa, o diálogo, a conversa, a escuta, a empatia, compaixão. E é
desafiante porque talvez a gente precise de algumas gerações para a gente poder
virar. É trabalhar muito agora para a gente poder virar estas gerações. Mais
pessoas tendo educações respeitosas. Sem palmadas, com diálogo. A gente tem
ainda muito padrão da punição. Nosso sistema prisional, político, policial ele
é punitivo. É necessário que tenha punição para muitos momentos, mas a gente
precisa avançar muito mais ainda na forma de resolução dos conflitos. E estes
conflitos começam em casa quando as pessoas que a gente ama de repente deixam
de amar. Muitas separações, muitos desentendimentos familiares. Muita violência
doméstica e por aí vai. Hoje eu vi uma
reportagem dizendo que o Ministro da Saúde está preocupado com a saúde mental e
está oferecendo subsídio financeiro para as farmácias. E aí eu fiz um
comentário: “mas será que os remédios são soluções para a saúde mental?” A
volta das escolas, a educação, o apoio às mães, as mulheres, para mim tem muito
mais efeito do que um remedinho ali, do que um remédio para a pessoa ficar
feliz. Claro que eles são importantes em alguma medida e funcionam. Claro que
eu falei da cesária. Uma intervenção médica também naquela situação que é
necessária. Assim eu vejo que para tudo é bom sentar, conversar, fortalecer
psicólogos, profissionais psiquiatras, as redes de saúde mental. Fazer grupos
de apoios. Fortalecer estes canais que as pessoas consigam pedir socorro e
conversar com alguém em uma escuta empática. Ao invés disso a solução é uma
droga né? E aí a gente vê o quanto o uso
das drogas “legais” são permitidas. É uma complicação. É muito complicado,
muito complexo. Então onde eu dou conta de trabalhar hoje. Porque já trabalhei
com a prevenção à criminalidade eu consigo cercar um pouco de cuidados a vida.
Para proteger um pouco esses resultados que poderiam vir à frente.
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Foto: Gabriela Borba
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Jornal Oecoambiental: Quais
os cuidados para saúde que podemos tomar para os nascimentos diante pandemias
ou crises sanitárias na rede pública de saúde?
Ludmila: Diante da pandemia da Covid 19, este ano entrando
quase para o sétimo mês de isolamento, de muitas mortes de muitas dúvidas, logo
no início uma equipe brasileira liderada pela Melania Amorini, elas por conta
própria começaram a fazer uma pesquisa e os resultados com as gestantes e as puérperas
foram classificadas como grupo de risco. Então este grupo tem que ficar com os
cuidados redobrados em um isolamento melhor porque as gestantes têm uma mudança
corporal, hormonal muito grande e o organismo fica suceptível a virose e não só
isso. Se ela tem contato com o vírus que tem causando tantas mortes e deixando
seqüelas. Também foi estudado que o
organismo da gestante, que está todo ali dedicado mesmo a uma geração de uma
vida, não só por riscos para uma vida e para ela, por isso o funcionamento do
corpo já está numa forma bem alterada. E essa forma fica bem pelos quarenta e
dois, quarenta e quatro dias que eles estão contanto. O isolamento, os cuidados
assistência quando necessário pelo telefone de assistência que acompanha pelo
posto de saúde. As determinações até na hora do parto não pode ser negado a
esta mulher um acompanhante. Seja quem ela quiser pelo menos um acompanhante de
direito dessa mulher. No início da pandemia alguns locais tiraram até este
direito. Isso não pode ser permitido. A gente não vai, por exemplo, como
trabalho como doula (assistente de parto) eu já tive acompanhando partos com o
marido, com uma irmã, com uma mãe e eu lá como doula. Então isso não vai ser
permitido entrar um maior número de pessoas porque para esta mulher isso às
vezes é importante e as maternidades não aceitam isso. Mas um acompanhante pelo
menos, tudo bem que este acompanhante não reveze com ninguém, esteja lá. Que
seja doula, que seja o companheiro, que seja quem esta mulher quiser. E claro
quem estiver acompanhando, tomar seus cuidados no isolamento, uso de máscaras.
Seguir as ordens de segurança da OMS.
Jornal Oecoambiental: Como as mães e
familiares podem ter acesso a este importante trabalho que você realiza?
Ludmila: Eu tenho estas redes digitais mais conhecidas como
instagram, facebook, um canal no youtube tudo com o meu nome: Ludmila
Yarasu-Kai. É fácil de me encontrar. Também através do nome da Dança Materna
que também tem nestas redes todas. Também tem o site: www.dancamaterna.com.br , quando você vai em Belo Horizonte eu estou lá como professora. Estou disponível para atendimento,
consultoria, grupo. Hoje estou disponível para atendimento individual, com
grupos. Atualmente tudo de forma on line. As aulas de Dança Materna também
estão virtuais. Se precisarem tem meu celular, internet. Está mais tranqüilo
hoje em dia. As pessoas têm este acesso. Posso também, para quem precisar e
participa de nossa equipe estiver grávida ou quer engravidar pode fazer
contato. Só dizer: “Lud quero participar de um grupo com você, como eu faço?”
aí eu adiciono a pessoa nos grupos que eu já tenho com outras profissionais. Ou
o bebê nasceu, “quero aprender sobre a amamentação, onde eu busco apoio?”.
Então a gente vai fortalecendo esta rede. As pessoas podem me procurar por aí
nestes canais sem problema. Pode me chamar para qualquer dúvida. A pessoa pode também me chamar: “Lud está
lembrando de mim?” O whatsApp e instagram é mais fácil. E no canal do youtube
tem vídeos sobre o assunto. As pessoas me acham fácil assim: Ludmila Yarasu-Kai.
Jornal Oecoambiental: Você acredita que a participação das pessoas e
comunidades na busca de solução dos problemas socioambientais é importante?
Ludmila: É urgente que as pessoas participem. Que busquem
soluções. Que busquem dentro do que elas podem fazer. Porque às vezes a pessoa
pode dar uma chamada ali no vizinho que está na rua com uma mangueira
desperdiçando água. Ela pode cuidar do seu lixo. Ela pode cuidar de uma árvore.
Um dia eu passei perto de algumas árvores e a Cemig estava podando umas
árvores. Eu não sei se eles fazem isso com conhecimento. Porque depois a gente
vê as árvores caindo. Porque elas acabam morrendo com estas podas. Mas enfim,
vi uma mulher passando eu comentei que estava precisando podar uma árvore no
fundo da minha casa. Ela disse para ligar para a prefeitura: “eles vêem se
estiver incomodando.” Ela disse:” a árvore que está incomodando, quebrando
nosso passeio eles não tiram não. Mas tiram estas”. Então assim, eu vejo várias
pessoas vendo apenas o seu umbigo, o seu passeio, que a raiz está estragando e
as soluções são sempre mais drásticas. Então corta-se a árvore. Simples né? Mas
que repercussão que isso tem? Tem tanta coisa que a gente pode fazer e de
repente têm outras pessoas com maior potencial
que a sua ação pode atingir mais pessoas. Aí que estas mesmas têm que
fazer mais campanhas. Mas é urgente. A gente está correndo sérios riscos porque
realmente a Mãe Natureza não está sendo olhada. E está tudo interligado. A Mãe
Terra, esta natureza que é a mulher, tudo que eu falei aqui que também não está
sendo cuidada. Então é uma mudança mesmo global, geral, mas que começa no micro
para ir aumentando. Que é obrigação do macro – Governos fazerem. Aí é que
está. Estão chegando às eleições, nossa responsabilidade de ir lá votar. Como é
que isso pode ser mudado.
Jornal Oecoambiental: Nosso muito obrigado pela
entrevista Ludmila Yarasu-Kai.