segunda-feira, 5 de outubro de 2020

ENTREVISTA COM LUDMILA YARASU-KAI - DANÇA MATERNA

 


  O Jornal Oecoambiental, que trabalha na comunicação socioambiental, diante a crise que o Brasil e o mundo enfrentam quanto à valorização da pessoa humana, do meio ambiente, realizou uma entrevista exclusiva com Ludmila Yarasu-Kai. Uma mulher de muita sensibilidade para com o ser humano. Psicóloga que faz jus a sua profissão de atuar nas Ciências Humanas trabalhando com o nascimento – mães e crianças que chegam ao mundo.   Agradecemos a generosidade e atenção de Ludmila desejando a ela e a todos que atuam nesta área de partos naturais e cuidados de respeito à pessoa humana, muitas felicidades e nosso muito obrigado pela entrevista. 

“Se a gente muda a forma como que cada um chega a este mundo, chegamos ao mundo sabendo que o mundo é bom. E se as pessoas que estão à volta desta criança proporcionam isso, preocupam-se com isso é porque elas se sentem merecedoras de respeito.” Ludmila Yarasu-Kai

Jornal Oecoambietal: Ludmila fale um pouco sobre sua história, seu trabalho.

 Ludmila: Sou Ludmila Yarasu-Kai.  Sou mãe da Helena de seis anos. A minha gestação foi um divisor de águas, tanto na minha vida pessoal, como na minha vida profissional. A minha gestação tem tudo a ver com minhas decisões profissionais. Houve este marco quando eu engravidei da Helena e durante a minha gestação, eu fazia parte de alguns grupos.  Tinha vários trabalhos e algumas posturas profissionais já não estavam mais cabendo no meu jeito de ser. A minha gestação foi como que uma oportunidade de sair destas coisas que não faziam mais sentido para mim. Eu sempre gostei do que eu fiz, mas não da forma que eu estava fazendo. Com o público que eu estava fazendo. Eu estava trabalhando em empresa. Com executivos, com um pessoal de lideranças. Eu gosto dos conceitos, de trabalhar com pessoas, mas não da forma que eu estava trabalhando. E aí como eu sou psicóloga, formada em psicologia pela UFMG em 2003, concluí um estágio na área social de grupos, que abriu as portas para trabalhar com mediação de conflitos. Desde minha conclusão de curso trabalhei no campo social. "Mediação de Conflito"s. Depois me formei como Coach. Fiz uma formação em relação familiar. Uma ferramenta de apoio a psicoterapia. Tive outras formações de cursos livres. Dentro de minha área da psicologia da fenomenologia, na psicologia social, humanista. Uma linha que eu sempre segui. Depois da minha gravidez eu foquei todo meu trabalho com as mães e o trabalho com as mães e os bebês.  Eu sempre gostei de dançar. Desde pequena sempre fiz todos os estilos de dança. Quando adulta sempre dancei muito dança de salão. E fiz uma formação com a professora Cris Menezes sobre danças circulares sagradas. O que me ajudou a chegar à "Dança Materna" depois da minha gravidez.

   Depois que a Helena nasceu em 2014, quando ela estava com seis, sete meses, eu conheci a dança materna, que é um projeto para integrar as mães e os bebês. Um projeto criado por uma bailarina especialista em bebês de São Paulo Tatiana Tardioli. Nas redes sociais tem dança materna, no youtube. Eu sou uma das professoras hoje no Brasil que ajuda desenvolver este projeto. Ela começou com a sua primeira gestação. Percebeu a importância e o vínculo que dançar grávida proporcionava no vínculo mãe e bebê. E como era bom e ajudava no trabalho de parto. No puerpério dela começou a escrever este projeto para trabalhar com mulheres. E depois de alguns anos ela tinha coletado prática com as mães e com os bebês por volta de até três anos de idade, da primeira infância. Ela fez este percurso de acompanhamento do nascimento da filha dela. Escreveu e desenvolveu este projeto e começou a capacitar outros professores. Em 2015 eu fiz esta formação. Eu me capacitei como professora, primeiro para trabalhar com mães e bebês. Depois eu fiz outro curso de gestantes. Para trabalhar com gestantes. Depois eu fiz o curso para trabalhar com mães e bebês que já andam.  Com bebês um pouco maiores. Vai mudando muito este desenvolvimento dos bebês.

    Além de trabalhar com a dança materna eu sigo com a terapia. Com o atendimento às famílias e os bebês, porque é um momento de pós-parto desafiante, de muita transformação. Como eu senti na minha vida de mudança de carreira. Do social que não acolhe uma mulher gestante no campo de trabalho. Muitas são despedidas logo depois da licença maternidade. Ou a licença maternidade é tão pouca que ela acaba pedindo demissão do trabalho. Ela não se enquadra mais ali.  É um momento de muitos desafios.

  Dentro da mediação de conflitos eu trabalhava nas comunidades e fui me especializando na comunicação não violenta. Uma ferramenta desenvolvida por Marshall Rosemberg, um americano que tem este trabalho no mundo todo. Então eu fui desenvolvendo este trabalho para famílias, para os bebês e com a comunicação mãe – bebê. O primeiro mês de um bebê a gente fica muito atordoada, sem entender. Acho que são as necessidades de um bebê porque ele não fala. Ele não se expressa de forma verbal. O que a gente precisa diante tantas mudanças hormonais.  O que nos apóia para poder lidar com este bebê e com tudo que está a nossa volta. Meu trabalho é dentro deste âmbito: de entender essa mulher, a rede social dela, onde ela pode buscar apoio. Como que ela pode fazer isso. Como ela pode resolver seus conflitos. Ás vezes tem muitos conflitos com seus familiares, com o marido.


Jornal Oecoambiental: Há muita desinformação com relação à qualidade da gestação?

 Ludmila: Estamos num mundo hoje do machismo, do patriarcado muito forte. As mulheres, em sua maioria, não têm muita consciência, porque estamos inseridos nesse machismo, neste patriarcado. Somos vítimas dele.  As mulheres não têm muita noção do potencial feminino. No potencial da mulher antes de engravidar. O que é ser mulher. O feminino, o feminismo. Não estamos muito conectadas com isso. E a gestação vem dar um choque de realidade. A natureza vem nos dar esta condição. Se a gente engravida a gente vai tendo este trabalho natural que a natureza vem fazer com o nosso corpo. O que eu percebo é que as mulheres não estão muito conectadas com isso. Não procuram saber: ”olha quando eu engravidar, o que é natural acontecer?“ Muitas vezes ao entrar em gestação ela vai descobrir estas informações ou ela vai seguir desconectada e vai seguir no sistema patriarcal violento contra a mulher. O que este sistema faz? O sistema olha para a mulher e diz:”você está doente, você é culpada”.  “Está grávida.” “Você precisa fazer muitos exames para ver se está tudo bem, cuidar da sua saúde. Cuidado, não faça esforços, tem atividades que você não pode fazer.” Então na hora do nascimento – “pode deixar que eu vou te ajudar.” E o que acontece?  Uma cesária desnecessária. Então a gente vai passando por um assistencialismo como se a gente fosse uma coitadinha. Não tivesse o poder sobre nosso próprio corpo. Como se a gente não tivesse esta consciência. Muitas mulheres não conseguem ter este resgate. Não conseguem buscar assistência que valoriza isso. Uma informação de qualidade que dá a liberdade e o poder para esta mulher parir. E a gente sabe que há muitos interesses por trás disso. Interesses da indústria farmacêutica, de alguns médicos, cirurgiões, anestesistas. Nas faculdades de medicina, no ensino de obstetrícia, as pessoas entram para lidar com uma cirurgia. O meu obstetra, que me acompanhou falava assim comigo: “Ludmila, segue com sua enfermeira obstetra. Na hora de seu trabalho de parto, se você precisar eu apareço. Então eu não tenho nada que fazer com você aqui agora. Quando você entrar em trabalho de parto a gente vê o que vai acontecer.” E eu segui com a minha enfermeira obstetra. As enfermeiras são diferentes. Como elas não têm uma formação cirúrgica, elas têm uma formação de cuidar do processo natural, de desenvolvimento de uma gestação, de um parto natural vaginal, como todos os outros animais. Assim como acontece com a gente quando está inserida em um meio assistencialista do homem com a mulher. Não deixa a gente tomar as decisões sobre o nosso próprio corpo. Dizem: “não sua barriga está muito grande. Você não tem passagem para o bebê. A gente vai ter que tirar.” Então a mulher vai sendo levada por muitos profissionais a ser submetida a uma cesariana, que é uma cirurgia. Não é um parto. Com evidências científicas de ser mais arriscada que o parto natural, vaginal. Só que a maioria das mulheres está nesta desconfiança de seu próprio poder. Ficando nas mãos da medicina, dos médicos jogando esta insegurança, de vida. Depois a recuperação dessa mulher é mil vezes pior. No trabalho de parto se diz assim: “há não senti nada depois da cesária, tudo passou rapidinho.” Só que esta mulher recebeu muita substância medicamentosa para não sentir dor. Ontem mesmo uma amiga minha acabou de parir. Mandou-me o vídeo do parto dela, já estava conversando, andando.  Isso não acontece na cesária. Fora todos os outros riscos deste bebê nascer prematuro. Porque as cesárias são agendadas muitas vezes. E muitas mulheres sentem medo do parto normal. Então a desconexão é tamanha. A minha geração teve muitas cesárias. E antes da minha é que os partos foram normais. A gente precisa se resgatar com as nossas avós nestes partos. Só que aí é outra questão.

   A outra questão é como o sistema é violento com as mulheres, quem não se propõe a fazer o parto natural, vaginal, muitas vezes o que a gente vê acontecendo é um parto que a gente chama de anormal, pelo tamanho da violência obstétrica. Os profissionais continuam sem saber que o parto é da mulher. Ninguém faz o parto. Então os bebês sobem na barriga da mulher. Não tem necessidade. Basta à mulher estar andando, estar em pé que a gravidade vai ajudar. A mulher não precisa estar deitada. Então tem “pano pra manga”. Várias experiências obstétricas que podem acontecer.  Tem uma série de filmes sobre o renascimento do parto, que fala muito sobre estas violências. Como que o médico induz, vai levando a pessoa até em conchavo com a pessoa que faz ultra som para levar a pessoa a cesária. Porque eles ganham mais. Na cirurgia eles têm uma praticidade. Eles fazem ali em meia hora. O trabalho de parto, em geral, dura cerca de três dias. A mulher sente dor, claro, mas é uma dor natural. Como a mulher grita, incomoda, incomoda quem está perto. Então eles querem dar anestesia para calar a boca dessa mulher. Dizem: “foi bom na hora que fez, então pára de gritar.” E a gente está questionando até hoje. Será que foi bom mesmo para a mulher?  Será que ela gozou mesmo na hora que foi fazer estes bebês?  A gente sabe que a maioria das mulheres não tem prazer. Quiçá ela não foi estrupada. E não está com esta gestação  através de um estupro. Que as pessoas nem sabem e às vezes dizem isso.  Então é um absurdo o que esta assistência hoje faz. As mulheres às vezes, não têm noção deste cenário. Meu trabalho também passa por um ativismo. Formar  grupos de mulheres. E a gente indica estes livros, esses filmes. E ensina mesmo a retomada deste poder da mulher ter o parto que ela quer. Ter uma experiência de nascimento respeitoso, humanizado. E principalmente o que a gente tem falado de respeitoso. Que é o que as pessoas merecem. Que as pessoas cheguem no mundo de forma respeitosa.

Foto: Fabiana Cândido

Jornal Oecoambiental: É possível conquistar uma boa qualidade de vida desde o nascimento?

  Ludmila: Então esta qualidade de vida desde o nascimento passa pela informação dessa mulher, deste estudo por uma escolha de uma boa assistência. Aí a gente tem uma luta hoje conquistada que os convênios têm obrigação de indicar as taxas de cesárias dos médicos. Se ela for mais de 10, 15% ela é alta. Se este médico tem muita cesária, a não ser que ele trabalhe apenas com risco. Mas se ele não é um obstetra que está ali atendendo partos todos os dias, que tem risco habitual. Se ele tem muita cesária, a gente já desconfia dele. Não indico. A gente trabalha muito com as mulheres puerperais, esqueci de falar disso. De preparação do parto. A gente vai observando o que estes profissionais estão falando. Quando falam assim: “não vamos conversar sobre o parto. Está muito longe.” Já pode desconfiar. A gente vai vendo estas dicas para não cair numa cesária desnecessária. Cair na mão de um desrespeito. Com muita informação as mulheres têm seus partos. Elas relatam. A gente estuda sobre o trabalho de parto, sobre as fases do trabalho de parto. É uma luta. É um absurdo mais a gente ainda têm isso de “eu vou ter meu filho e pronto”.   “Eu vou pra maternidade e pronto.” Não, tem que escolher uma maternidade. Quem são os plantonistas, quem vai ser seu médico que te acompanha. Como é que você faz. Em Belo Horizonte a única Maternidade que eu confio para indicar para ir de plantão é o Sofia Feldman. Atende pelo SUS. Eu tive a minha filha lá. E as outras a gente não consegue confiar no plantonista. A não ser que você vá com sua equipe paga. Este é um acesso que não é para todos. E aí no Sofia têm alguns preconceitos que as pessoas chegam e falam: “Ah... eu cheguei lá com muita dor e me mandaram andar.” Andar é a melhor coisa que uma gestante pode fazer. Ela anda, anda, pára a cada contração e isso vai fazer melhorar o processo de dilatação. Falta informação e as pessoas acham que isto é um descaso da Maternidade e não é.  Com muita rede de apoio, com estudo, com um grupo de mulheres, a gente tem uma boa chance de estas mulheres terem esses bebês e ‘terem seus direitos garantidos.

Foto: Arquivo do Gestação Legal

Jornal Oecoambiental: Como você avalia os principais problemas socioambientais que afetam os seres humanos desde o nascimento?

   Ludmila: As coisas estão todas interligadas. Uma coisa que eu tenho pensado muito freqüentemente é sobre a indústria alimentícia. Eu me tornei vegana já tem algum tempo. É uma alimentação saudável. E fui descobrindo com o veganismo como é a indústria agropecuária. Como que para manter uma pecuária se gasta muito mais com alimentos que poderiam alimentar o mundo. Como é absurdo o desmatamento que causa para ter carne. Para matar animais. O impacto social, ambiental principalmente. Então isto é um impacto que a gente está vendo hoje nas terras indígenas.

   Estes interesses capitalistas eles vão ficar claros quando se nasce dentro da Maternidade. As pessoas já estão treinadas achando que o melhor que se faz para o bebê é dar uma fórmula. Que estão dentro desta fórmula, grandes indústrias. Esta desigualdade social, um baixo nível de informação, de renda, isso vai também afetar diretamente até o desenvolvimento destas crianças, a gestação. Depois vai afetar o crescimento. O desenvolvimento mental, físico, das crianças. A pessoa de baixa renda ou de risco social está convencida pela mídia que o leite dela é fraco. Que ela precisa comprar uma latinha de leite artificial para o seu bebê. Tem um filme “Tigers” que retrata isso. Percebemos muito agora em Agosto, que é o mês da amamentação. Ele mostra exatamente isto que estou falando. Como é que a indústria alimentícia para bebês está enganando as mulheres quanto ao potencial delas de alimentar com o leite materno. Está tudo muito interligado. Os interesses e como que chegam para a gente desde a gravidez e o nascimento deste bebê. Depois acaba que por estas indústrias, por um consumo de industrializados, estes bebês tomam iogurtes, já comem muito açúcar antes mesmo de um ano. Isso vai lá à frente reproduzir diabetes, hipertensão, câncer. Então é muito complexo. É uma luta muito grande. Dá até uma tristeza, como se a gente não tivesse uma saída para estas questões todas. É um trabalho mesmo de formiguinha, quando a gente vai olhando para esta realidade,

Foto: Fabiana Cândido

Jornal Oecoambiental: Quais são os resultados de seu trabalho com as crianças e as mães?

 Ludmila: Atualmente eu tenho tido muitos bons resultados com a formação. Não há garantia que todas estas mulheres tenham o parto respeitoso. Mas esta mulher ela sabe o que ela quer. Ela escolhe e ela vai para sua experiência e é também o direito dela e desse bebê. Nem tudo é perfeito. Nem tudo é como a gente gostaria, mas ela escolhe. E é isso que importa. Desde que ela tenha informação e possa escolher dentro de sua realidade.  Dentro da rede que ela tem. Dos espaços que ela tem. Temos conseguido indicar pessoas ao SUS na Maternidade Sofia.  As pessoas tem tido assistência. A amamentação é desafiante. Também indicamos como procurar ajuda depois que o bebê nasce. Antes temos a informação sobre o preparo   ‘. Mas não tem nada mais o que fazer de passar bucha no peito, nada. Vai ter a informação do que precisa fazer e com o bebê. Depois tem a ajuda se precisar. Esta rede de mulheres que vai se formando, construindo cada uma sua experiência.

   Tem seis anos que trabalho com isso. Então as mulheres têm um segundo filho, às vezes um terceiro. As realidades vão mudando. As experiências vão mudando. Esta minha amiga com o segundo filho dela se curou. A primeira violência do parto que ela vivenciou e agora no do seu segundo filho natural. Então é muito especial poder ver este trabalho. Eu ainda acho que está pouco. Eu quero poder atingir mais e mais mulheres. Mas ainda com criança pequena não tem como. Faltam pernas para poder estar atuando em outras frentes. O principal é ter informação. É fazer estas mulheres terem este resgate com a natureza. Tenho conseguido. Eu trabalho com parceiras, com as profissionais, com médicos, pediatras que estão alinhados. Com médicos obstetras com consultoria em aleitamento. A gente vai trabalhando juntas e tendo muita luta ainda pela frente. Muitas vezes a gente consegue tirar aquela mulher de médico cesarista. Não é a gente que vai lá e fala. A gente vai munindo a mulher destas informações e ela mesmo percebe pelo que ela está vendo como positivo no parir dentro daquela assistência que ela tem.

Foto: Fabiana Cândido

Jornal Oecoambiental: Qual sua mensagem para que as futuras mães, as que estão cuidando de seus recém nascidos, os pais de uma maneira geral?

 Ludmila:O que eu penso é numa frase de um médico ginecologista obstetra Michel Odent. Ele diz que “para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer.” Se a gente muda a forma como que cada um chega a este mundo, chegamos ao mundo sabendo que o mundo é bom. E se as pessoas que estão à volta desta criança proporcionam isso, preocupam com isso é porque elas se sentem merecedoras de respeito. Elas já se conectaram com a importância delas como pessoas e que por isso é importante ela ser respeitada. E por isso é importante uma criança, um bebê vir ao mundo de forma respeitosa.  Então isso possivelmente vai atentar a estes cuidadores, a estes pais, a mãe, a buscar também formas respeitosas de criar esta criança.  De respeitar desde uma troca de fralda até tirar o bebê de uma brincadeira para poder dar um banho. A se comunicar com essa criança maior não é fácil. Eu tenho uma criança aqui em casa de seis anos com esta pandemia, sem poder sair para brincar com as outras crianças. Sem ir à escola. Sem escape de energia direito. Então a gente vai vivenciando muitos conflitos e situações que vai colocando a gente em cheque. Eu vou me sentindo colocada em cheque se eu consigo mesmo colocar em prática o trabalho que eu proponho, que eu apoio as pessoas a buscarem que é esta relação respeitosa, o diálogo, a conversa, a escuta, a empatia, compaixão. E é desafiante porque talvez a gente precise de algumas gerações para a gente poder virar. É trabalhar muito agora para a gente poder virar estas gerações. Mais pessoas tendo educações respeitosas. Sem palmadas, com diálogo. A gente tem ainda muito padrão da punição. Nosso sistema prisional, político, policial ele é punitivo. É necessário que tenha punição para muitos momentos, mas a gente precisa avançar muito mais ainda na forma de resolução dos conflitos. E estes conflitos começam em casa quando as pessoas que a gente ama de repente deixam de amar. Muitas separações, muitos desentendimentos familiares. Muita violência doméstica e por aí vai.  Hoje eu vi uma reportagem dizendo que o Ministro da Saúde está preocupado com a saúde mental e está oferecendo subsídio financeiro para as farmácias. E aí eu fiz um comentário: “mas será que os remédios são soluções para a saúde mental?” A volta das escolas, a educação, o apoio às mães, as mulheres, para mim tem muito mais efeito do que um remedinho ali, do que um remédio para a pessoa ficar feliz. Claro que eles são importantes em alguma medida e funcionam. Claro que eu falei da cesária. Uma intervenção médica também naquela situação que é necessária. Assim eu vejo que para tudo é bom sentar, conversar, fortalecer psicólogos, profissionais psiquiatras, as redes de saúde mental. Fazer grupos de apoios. Fortalecer estes canais que as pessoas consigam pedir socorro e conversar com alguém em uma escuta empática. Ao invés disso a solução é uma droga né?  E aí a gente vê o quanto o uso das drogas “legais” são permitidas. É uma complicação. É muito complicado, muito complexo. Então onde eu dou conta de trabalhar hoje. Porque já trabalhei com a prevenção à criminalidade eu consigo cercar um pouco de cuidados a vida. Para proteger um pouco esses resultados que poderiam vir à frente.

Foto: Gabriela Borba

Jornal Oecoambiental: Quais os cuidados para saúde que podemos tomar para os nascimentos diante pandemias ou crises sanitárias na rede pública de saúde?

 Ludmila: Diante da pandemia da Covid 19, este ano entrando quase para o sétimo mês de isolamento, de muitas mortes de muitas dúvidas, logo no início uma equipe brasileira liderada pela Melania Amorini, elas por conta própria começaram a fazer uma pesquisa e os resultados com as gestantes e as puérperas foram classificadas como grupo de risco. Então este grupo tem que ficar com os cuidados redobrados em um isolamento melhor porque as gestantes têm uma mudança corporal, hormonal muito grande e o organismo fica suceptível a virose e não só isso. Se ela tem contato com o vírus que tem causando tantas mortes e deixando seqüelas.  Também foi estudado que o organismo da gestante, que está todo ali dedicado mesmo a uma geração de uma vida, não só por riscos para uma vida e para ela, por isso o funcionamento do corpo já está numa forma bem alterada. E essa forma fica bem pelos quarenta e dois, quarenta e quatro dias que eles estão contanto. O isolamento, os cuidados assistência quando necessário pelo telefone de assistência que acompanha pelo posto de saúde. As determinações até na hora do parto não pode ser negado a esta mulher um acompanhante. Seja quem ela quiser pelo menos um acompanhante de direito dessa mulher. No início da pandemia alguns locais tiraram até este direito. Isso não pode ser permitido. A gente não vai, por exemplo, como trabalho como doula (assistente de parto) eu já tive acompanhando partos com o marido, com uma irmã, com uma mãe e eu lá como doula. Então isso não vai ser permitido entrar um maior número de pessoas porque para esta mulher isso às vezes é importante e as maternidades não aceitam isso. Mas um acompanhante pelo menos, tudo bem que este acompanhante não reveze com ninguém, esteja lá. Que seja doula, que seja o companheiro, que seja quem esta mulher quiser. E claro quem estiver acompanhando, tomar seus cuidados no isolamento, uso de máscaras. Seguir as ordens de segurança da OMS.

 Jornal Oecoambiental: Como as mães e familiares podem ter acesso a este importante trabalho que você realiza?

  Ludmila: Eu tenho estas redes digitais mais conhecidas como instagram, facebook, um canal no youtube tudo com o meu nome: Ludmila Yarasu-Kai. É fácil de me encontrar. Também através do nome da Dança Materna que também tem nestas redes todas. Também tem o site: www.dancamaterna.com.br , quando você vai em Belo Horizonte eu estou lá como professora.  Estou disponível para atendimento, consultoria, grupo. Hoje estou disponível para atendimento individual, com grupos. Atualmente tudo de forma on line. As aulas de Dança Materna também estão virtuais. Se precisarem tem meu celular, internet. Está mais tranqüilo hoje em dia. As pessoas têm este acesso. Posso também, para quem precisar e participa de nossa equipe estiver grávida ou quer engravidar pode fazer contato. Só dizer: “Lud quero participar de um grupo com você, como eu faço?” aí eu adiciono a pessoa nos grupos que eu já tenho com outras profissionais. Ou o bebê nasceu, “quero aprender sobre a amamentação, onde eu busco apoio?”. Então a gente vai fortalecendo esta rede. As pessoas podem me procurar por aí nestes canais sem problema. Pode me chamar para qualquer dúvida.  A pessoa pode também me chamar: “Lud está lembrando de mim?” O whatsApp e instagram é mais fácil. E no canal do youtube tem vídeos sobre o assunto. As pessoas me acham fácil assim: Ludmila  Yarasu-Kai.

Jornal Oecoambiental:  Você acredita que a participação das pessoas e comunidades na busca de solução dos problemas socioambientais é importante?

  Ludmila: É urgente que as pessoas participem. Que busquem soluções. Que busquem dentro do que elas podem fazer. Porque às vezes a pessoa pode dar uma chamada ali no vizinho que está na rua com uma mangueira desperdiçando água. Ela pode cuidar do seu lixo. Ela pode cuidar de uma árvore. Um dia eu passei perto de algumas árvores e a Cemig estava podando umas árvores. Eu não sei se eles fazem isso com conhecimento. Porque depois a gente vê as árvores caindo. Porque elas acabam morrendo com estas podas. Mas enfim, vi uma mulher passando eu comentei que estava precisando podar uma árvore no fundo da minha casa. Ela disse para ligar para a prefeitura: “eles vêem se estiver incomodando.” Ela disse:” a árvore que está incomodando, quebrando nosso passeio eles não tiram não. Mas tiram estas”. Então assim, eu vejo várias pessoas vendo apenas o seu umbigo, o seu passeio, que a raiz está estragando e as soluções são sempre mais drásticas. Então corta-se a árvore. Simples né? Mas que repercussão que isso tem? Tem tanta coisa que a gente pode fazer e de repente têm outras pessoas com maior potencial  que a sua ação pode atingir mais pessoas. Aí que estas mesmas têm que fazer mais campanhas. Mas é urgente. A gente está correndo sérios riscos porque realmente a Mãe Natureza não está sendo olhada. E está tudo interligado. A Mãe Terra, esta natureza que é a mulher, tudo que eu falei aqui que também não está sendo cuidada. Então é uma mudança mesmo global, geral, mas que começa no micro para ir aumentando. Que é obrigação do macro – Governos ­ fazerem. Aí é que está. Estão chegando às eleições, nossa responsabilidade de ir lá votar. Como é que isso pode ser mudado.

Jornal Oecoambiental: Nosso muito obrigado pela entrevista Ludmila Yarasu-Kai.  

Foto: Gabriela Borba


Nenhum comentário:

Postar um comentário