No lugar de cimento ou barro, amido de milho, vinagre, água, restos de colheita e glicerina. Misture, aqueça e, em aproximadamente uma hora e meia, está pronto. Em seguida, coloque na fôrma, deixe secar ao sol e pronto: surge um tijolo que, além de não agredir o meio ambiente, tem a proposta de substituir os tradicionais blocos de concreto e criar uma nova era no saneamento básico.
Um projeto simples, barato, prático e ecologicamente correto que fez o professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Ávila, 49 anos, tornar-se o segundo brasileiro da história a ser agraciado pela Grand Challenge Exploration, da Fundação Bill e Melinda Gates, que distribui, duas vezes por ano, US$ 100 mil a cada iniciativa que apresente soluções inéditas para problemas mundiais de saúde.
De 2.500 trabalhos inscritos, foram premiados 88 cientistas de 25 países. Eles desenvolveram pesquisas em vários temas. A do professor mineiro, na área de saneamento básico, propõe um sistema de fossas sépticas usando material 100% biodegradável. Os tijolos que vão compor a latrina, em vez de serem feitos de cimento ou barro, levam na fórmula ingredientes triviais e que são descartados, como o resto de plantações e colheitas. Para facilitar na hora de construir a fossa, os blocos têm o formato de um brinquedo infantil de encaixar muito conhecido, o Lego. “É um material simples, fácil de ser fabricado, manuseado e montado por qualquer comunidade, por isso tem essa técnica em que um vai se encaixando no outro. Além disso, os ingredientes são encontrados em qualquer lugar e não custam caro”, comenta Ávila, que vai desenvolver a proposta com mais cinco alunos.
O projeto vai ser implantado no Quênia, país do continente africano, por ser uma região de extrema pobreza e com sérios problemas de saneamento básico. Entretanto, o professor acredita que sua solução possa ser aplicada em vários lugares, inclusive, no Brasil. “Eu, como brasileiro, pretendo entrar em contato com o governo, seja estadual ou federal, para apresentar essa minha proposta. Temos vários lugares por aí que ainda usam o sistema de fossas e seria bem interessante que isso fosse aproveitado. O projeto é viável economicamente, rápido e tranquilo para quem vai executá-lo”, frisa o pesquisador, que é engenheiro mecânico de formação e tem doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos em mecânica de compósitos. “Compósitos são o resultado da mistura de vários materiais para obter um produto com propriedades melhores. Trabalho com isso desde 1997, então foi uma consequência natural chegar à fórmula que resultou nesses tijolos”, acrescenta.
Vantagens
As fossas são um recurso utilizado em locais desprovidos de rede de esgoto. O tamanho padrão costuma ser de 1m de diâmetro por três de profundidade. Quando o buraco é totalmente tomado pelas fezes — geralmente isso ocorre em um ano, caso a fossa seja usada por uma família de seis pessoas — fica inutilizado. Sendo assim, é necessário construir uma nova fossa. “E aquele terreno vai ficando sem função. Porque sempre vai se fazer mais uma fossa. Assim que ela fica cheia, as pessoas a abandonam e constroem outra. As fezes viram adubo natural, mas o concreto fica debaixo da terra. Ele não pode ser incorporado ao terreno”, explica.
Seu projeto de tijolos ecológicos propõe justamente aproveitar tudo. Como os blocos que compõem a parede da fossa são feitos de material biodegradável, em dois anos, eles vão se transformar em adubo e também podem ser reaproveitados. “O tijolo se degrada e não gera nenhum tipo de resíduo. Em dois anos, esse material já vai estar incorporado às fezes para virar um adubo no local onde estiver. Se a pessoa quiser, ela pode usar aquele espaço onde ela construiu a fossa, para um novo emprego, como uma horta ou um pomar. É um ciclo. Sai da natureza e volta para a natureza”, resume.
Inscrições abertas
Duas vezes ao ano, a Fundação Bill e Melinda Gates distribui apoios no valor de US$ 100 mil para financiar a fase inicial dos projetos escolhidos e entre aqueles que obtêm maior sucesso são selecionados alguns para receber recursos de US$ 1 milhão ou mais. “Nessa etapa, teremos que passar de um a dois anos na África para implantar o projeto, acompanhar tudo”, adianta o pesquisador mineiro.
A organização está com processo seletivo até o próximo dia 19 para cientistas enviarem propostas inovadoras na área de saúde e desenvolvimento. Entre os tópicos que devem ser estudados estão a erradicação da poliomelite, tecnologias sanitárias de última geração, formas de erradicação dos reservatórios do HIV no organismo, soluções de baixo custo para uso de telefones celulares nas questões de saúde global e criação de tecnologias para melhorar a saúde de mulheres e recém nascidos. Para se inscrever, é preciso preencher o formulário na internet (www.gatesfoundation.org) e apresentar o projeto em duas páginas, não sendo necessários dados preliminares.
Aprenda a fazer o tijolo sustentável
1 - Pegue os ingredientes: amido de milho, vinagre, água e glicerina, e misture
2 - Aqueça a uma temperatura de 90ºC
3 - Mexa novamente e espere por cerca de uma hora e meia até ganhar uma consistência fluida
4 - Pegue restos de colheita de milho, mandioca ou outro vegetal, triture até virar um pó
5 - Misture o pó com a consistência fluida e coloque na fôrma
6 - Deixe secar durante um dia sob o sol até o material ficar rígido
Um projeto simples, barato, prático e ecologicamente correto que fez o professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Ávila, 49 anos, tornar-se o segundo brasileiro da história a ser agraciado pela Grand Challenge Exploration, da Fundação Bill e Melinda Gates, que distribui, duas vezes por ano, US$ 100 mil a cada iniciativa que apresente soluções inéditas para problemas mundiais de saúde.
De 2.500 trabalhos inscritos, foram premiados 88 cientistas de 25 países. Eles desenvolveram pesquisas em vários temas. A do professor mineiro, na área de saneamento básico, propõe um sistema de fossas sépticas usando material 100% biodegradável. Os tijolos que vão compor a latrina, em vez de serem feitos de cimento ou barro, levam na fórmula ingredientes triviais e que são descartados, como o resto de plantações e colheitas. Para facilitar na hora de construir a fossa, os blocos têm o formato de um brinquedo infantil de encaixar muito conhecido, o Lego. “É um material simples, fácil de ser fabricado, manuseado e montado por qualquer comunidade, por isso tem essa técnica em que um vai se encaixando no outro. Além disso, os ingredientes são encontrados em qualquer lugar e não custam caro”, comenta Ávila, que vai desenvolver a proposta com mais cinco alunos.
O projeto vai ser implantado no Quênia, país do continente africano, por ser uma região de extrema pobreza e com sérios problemas de saneamento básico. Entretanto, o professor acredita que sua solução possa ser aplicada em vários lugares, inclusive, no Brasil. “Eu, como brasileiro, pretendo entrar em contato com o governo, seja estadual ou federal, para apresentar essa minha proposta. Temos vários lugares por aí que ainda usam o sistema de fossas e seria bem interessante que isso fosse aproveitado. O projeto é viável economicamente, rápido e tranquilo para quem vai executá-lo”, frisa o pesquisador, que é engenheiro mecânico de formação e tem doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos em mecânica de compósitos. “Compósitos são o resultado da mistura de vários materiais para obter um produto com propriedades melhores. Trabalho com isso desde 1997, então foi uma consequência natural chegar à fórmula que resultou nesses tijolos”, acrescenta.
Vantagens
As fossas são um recurso utilizado em locais desprovidos de rede de esgoto. O tamanho padrão costuma ser de 1m de diâmetro por três de profundidade. Quando o buraco é totalmente tomado pelas fezes — geralmente isso ocorre em um ano, caso a fossa seja usada por uma família de seis pessoas — fica inutilizado. Sendo assim, é necessário construir uma nova fossa. “E aquele terreno vai ficando sem função. Porque sempre vai se fazer mais uma fossa. Assim que ela fica cheia, as pessoas a abandonam e constroem outra. As fezes viram adubo natural, mas o concreto fica debaixo da terra. Ele não pode ser incorporado ao terreno”, explica.
Seu projeto de tijolos ecológicos propõe justamente aproveitar tudo. Como os blocos que compõem a parede da fossa são feitos de material biodegradável, em dois anos, eles vão se transformar em adubo e também podem ser reaproveitados. “O tijolo se degrada e não gera nenhum tipo de resíduo. Em dois anos, esse material já vai estar incorporado às fezes para virar um adubo no local onde estiver. Se a pessoa quiser, ela pode usar aquele espaço onde ela construiu a fossa, para um novo emprego, como uma horta ou um pomar. É um ciclo. Sai da natureza e volta para a natureza”, resume.
Inscrições abertas
Duas vezes ao ano, a Fundação Bill e Melinda Gates distribui apoios no valor de US$ 100 mil para financiar a fase inicial dos projetos escolhidos e entre aqueles que obtêm maior sucesso são selecionados alguns para receber recursos de US$ 1 milhão ou mais. “Nessa etapa, teremos que passar de um a dois anos na África para implantar o projeto, acompanhar tudo”, adianta o pesquisador mineiro.
A organização está com processo seletivo até o próximo dia 19 para cientistas enviarem propostas inovadoras na área de saúde e desenvolvimento. Entre os tópicos que devem ser estudados estão a erradicação da poliomelite, tecnologias sanitárias de última geração, formas de erradicação dos reservatórios do HIV no organismo, soluções de baixo custo para uso de telefones celulares nas questões de saúde global e criação de tecnologias para melhorar a saúde de mulheres e recém nascidos. Para se inscrever, é preciso preencher o formulário na internet (www.gatesfoundation.org) e apresentar o projeto em duas páginas, não sendo necessários dados preliminares.
Aprenda a fazer o tijolo sustentável
1 - Pegue os ingredientes: amido de milho, vinagre, água e glicerina, e misture
2 - Aqueça a uma temperatura de 90ºC
3 - Mexa novamente e espere por cerca de uma hora e meia até ganhar uma consistência fluida
4 - Pegue restos de colheita de milho, mandioca ou outro vegetal, triture até virar um pó
5 - Misture o pó com a consistência fluida e coloque na fôrma
6 - Deixe secar durante um dia sob o sol até o material ficar rígido